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O papel da formação de professores, no ocidente, segundo Villela, confunde-se com o fortalecimento dos Estados Nacionais a partir da denominada Idade Moderna. Inspirado pelo papel das ordens religiosas que se dedicavam a esse tipo de ensino, o Estado tomou para si o recrutamento e vigilância de professores, constituindo-se assim um corpo de profissionais ou de funcionários, mas não uma concepção de ofício. 1

A laicização desse novo corpo de funcionários implicaria uma adesão, pois possibilitaria uma autonomia administrativa frente aos poderes locais, embora o Estado buscasse o controle da instituição escolar. A criação das escolas normais representou um controle estatal mais restrito da profissão e, por outro lado, a melhoria do estatuto sócio- profissional. 2

As Escolas Normais foram criadas para formar professores, estabelecendo padrões e normas de ensino, daí o seu nome trazer à baila uma de suas principais orientações. Essa nomeclatura passou a ser usada desde o final do século XVIII. A primeira escola normal foi fundada em Reims, na França, por João Batista La Salle em 1684. O modelo logo se espalhou pela Europa. A École Normale Supérieure, fundada na França em 1794, sob inspiração prussiana, surgiu com a Primeira República francesa para fornecer um corpo de professores formado dentro dos referenciais iluministas. Nos Estados Unidos da América, a primeira escola normal foi criada no ano de 1823, em Concord, Vermont. 3

No Brasil, as escolas normais estão relacionadas ao processo de seleção e recrutamento de professores para o ensino primário e uma das condições para o melhoramento do ensino. A partir da reação conservadora ou saquarema de 1836 a 1852 e do Ato Adicional de 1834, que estabelecia a educação secundária às províncias, o desejo de educar populações potencialmente insurgentes, em busca de uma hegemonia na nação por parte das camadas ascendentes com a exportação do café, emergiu pela primeira com a criação das escolas normais no Brasil. 4

1 VILLELA, Heloisa de O. S. “O Mestre Escola e a Professora”. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira et al. (Orgs.)

500 anos de educação no Brasil. 4ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010, pp. 95-134.

2 Idem.

3 Disponível em: <http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Normal_school;http://www.britannica.com/

EBchecked/topic/178233/Ecole-Normale-Superieure> Acesso em 8 de abril de 2011.

Durante todo o século XIX, observou-se a defesa de sua importância nos Relatórios dos Presidentes de Província e do Ministério do Império. A primeira escola normal do Brasil foi a da Província do Rio de Janeiro, que surgiu em 1835 na cidade de Niterói, considerada referência para as de outras províncias, fundadas a partir das décadas de 30 e 40 dos Oitocentos. A escola de Niterói, por mais de uma década, funcionou com um único professor e um número reduzido de alunos. 5

A partir da segunda metade do século XIX, os lucros antes investidos na compra de escravos, com a proibição do tráfico a partir da Lei Euzébio de Queirós de 1850, passaram a ser aplicados em melhoramentos urbanos e, indiretamente, demandavam maior necessidade de instrução. Além do mais, o movimento abolicionista, principalmente após a Lei do Ventre Livre de 1871 e o incentivo à imigração e o consequente enfraquecimento da monarquia, a partir da década de 70 do século XIX, também implicavam em discussões a respeito do papel da educação.

A própria ocupação do espaço público pelas mulheres, em função do aparecimento de novos utensílios domésticos, acabou por demandar maiores necessidades de escolas para as meninas e moças. Finalmente, a necessidade de discutir a inclusão do liberto, após a Lei do Ventre Livre de 1871, e a própria questão de ampliar o voto ao alfabetizado6 estão ligadas à expansão da escolaridade e, consequentemente, das escolas normais. 7

No entanto, salvo a exceção da Escola Normal da Bahia, todas tiveram uma história marcada por extinções e reaberturas. O que teria levado uma autoridade do império a afirmar: “plantas exóticas: nascem e morrem quase no mesmo dia” 8. Os motivos para a inexpressiva procura por essas escolas e, por extensão, sua pequena duração podem ser apontados pelo desinteresse do público alvo, no caso os professores, já atuando ou ainda para se tornarem profissionais, em função dos baixos salários e dos métodos não atraentes. Além do mais, o recrutamento paralelo de professores que permaneceu durante todo o império através de

5 GONDRA. Op. Cit., pp. 186-187; VILLELA. Op. Cit., p. 105-106.

6 No Jornal A Instrucção Publica, que circulou no Rio de Janeiro de 1872 a 1875, na sua primeira edição de 19

de abril de 1872, a primeira folha anunciava: “(...) um povo sem instrucção chamado para nomear os seus mandatarios ou escolhe a quem linsongea as suas paixões grosseiras, ou curva-se às argúcias despóticas de seus pretensos mentores. As urnas populares nas mãos da ignorância transforma-se em verdadeiras bocetas de Pandora quando deviam ser os sagrados instrumentos da felicidade nacional”. Informações extraídas de VILLELA, Heloisa de O. S. “O Mestre Escola e a Professora”. Op. Cit., p. 127 em faccímile da primeira página do jornal.

7 VILLELA, Heloísa. Op. Cit., pp., 106-107.

8 Essa citação do Presidente da Província do Paraná encontra-se em NEVES & MACHADO. O Império do

Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999 apud VILLELA, Op. Cit., p. 109 e também em MOACYR,

Primitivo. A instrução e as Províncias: subsídios para a história da educação no Brasil (1834-1889). V. 03. São Paulo: Editora Nacional, 1940 apud TANURI, Op. Cit. p. 64.

exames públicos em que prevaleciam as relações de clientelismo e a baixa escolaridade da população, desestimulava a profissionalização. 9

Ilustrativo a esse respeito é essa afirmação do Relatório do diretor da Escola Normal de Niterói, José Carlos de Alambary, ao diretor de Instrução Pública, em 8 de setembro de 1870:

“Enquanto a sorte do aluno da Escola Normal não for ao menos equiparada às condições desses que vão aventurar-se nos exames semestrais para o provimento das cadeiras vagas não creio que possa haver concorrência de bons alunos para a escola (...)”. 10

O que remete ao Pará é a Portaria de 3 de janeiro de 1879. Nesse documento, concedia-se o título de normalista aos professores vitalícios do ensino primário.

“ (...) Considerando que, continuando os suplicantes [8 no total, 7 da capital e 1 de Óbidos] no exercício não interrompido do magistério de 1874, até hoje [portanto apenas 4 anos], tem dado mais que suficientes provas de suas habilitações pedagógicas (...) resolve conceder-lhes o título de normalistas, para que desta data em diante gozem de todos os direitos que derivam desse título”.11

Ora, ironicamente, em 1874 quando os referidos professores foram efetivados, a Escola Normal paraense estava em funcionamento e nada impediria que os referidos suplicantes a tivessem cursado, uma vez que o curso era inclusive gratuito e com duração de apenas três anos. Qual poderia ser então o estímulo para a frequência à escola se através da política poderia encontrar-se uma “estrada real” 12 para conseguir um diploma?

Uma outra possibilidade da formação de professores consistia também no aprendizado prático em sala de aula. Nesse caso esses professores aprendizes eram denominados de adjuntos. Esse tipo de formação foi utilizado em todo o Sáculo XIX e concorria com a formação realizada nas escolas normais sob a supervisão do Estado, mesmo no caso das particulares.

No Pará, antes mesmo de sua efetiva instalação como instituição, já se apontava a necessidade da criação de uma escola normal. O Presidente da Província Francisco José de Souza Soares D’Andrea em 1839, considerado o algoz do movimento cabano, apresenta na sua exposição claramente a questão:

9 Ver a respeito dos concursos e clientelismo: VILLELA Op. Cit. 10 Idem, p.122.

11 Portaria de 3 de Janeiro de 1879 apud SOUZA, Altamir. Op. Cit., p. 20.

12 Euclides, considerado pai da geometria, teria sido inquirido pelo faraó do Egito, um dos inúmeros ptolomeus,

se haveria uma forma mais fácil de aprender essa disciplina. Ao que Euclides teria respondido: – Não majestade, não existem estradas reais para a geometria.

“Entende-se geralmente, que em se pagando muitos Mestres por conta do Governo, se tem dado todas as providencias que se podem para a instrucção Publica; mas não vejo sempre grande escrupulo na escolha dos Professores, e fico sem entender o que se espera que ensine um Mestre que nada sabe(...)outro inconveniente, e He a falta de(...) huma escolla central, ou de Norma, aonde se preparem os Mestres por hum só systema (...). 13

Num argumento que se tornou repetitivo ao longo do século, o presidente D’Andrea, acabava centrando a culpa pela má instrução pública, na figura do professor, esquecendo as outras variantes que também eram importantes. Entre essas, destacam-se: a inadequação entre a efetivação dessa escolarização por parte das autoridades e a demanda da população a quem se pretendia atingir com práticas culturais resistentes a escolarização. Como o problema era limitado ao papel do professor dava-se então importância a uma boa formação através das escolas normais.

O mesmo raciocínio encontra-se em 1839, na afirmação de Bernardo de Sousa Franco, sucessor de D’Andrea, ao defender a melhoria da educação na província a partir de medidas tomadas em relação aos professores, as quais “possibilitem e criem para o fucturo Professores habeis para se encarregar do ensino da mocidade”. E, para viabilizar essa preparação: “(...) eu vos lembro a instituição de huma escolla normal nesta Cidade para cuja direcção poderia authorizar o Governo para engajar no Rio de Janeiro algum alumno hábil da escolla normal creada na cidade de Nictheroy”.14 Essa ultima afirmativa reforça a argumentação de que a Escola Normal de Niterói serviria de modelo às outras províncias .

O discurso e d’Andrea e Bernardo de Souza evidenciavam a preocupação de disciplinar a população paraense recém-saída do movimento cabano (1835-1840) através da escolarização , coincidindo com o projeto nacional dos saquaremas de legitimar seu projeto político em toda a nação.15

Nos idos de 1850, o Pará passou por uma expansão acelerada da exportação da borracha, em função da demanda externa, principalmente a partir do processo de vulcanização o que passaria a dar uma maior utilização ao produto após a invenção do pneumático. Embora, já em 1841, pelo artigo 13 da Lei n. 97 de 28 de junho do mesmo ano, tenha sido criada uma aula de ensino normal, a primeira Escola Normal em Belém foi fundada em 13 de abril de 1871 através da Lei N.º 669, pelo presidente Joaquim Pires Machado Portela ,

13 Esposição do Estado e andamento dos negócios da Provincia do Pará no acto da entrega que fez da Prezidencia

o Exm.º Marechal Francisco Jozé de Souza Soares D’Andrea ao Exm.º Doutor Bernardo de Souza Franco no dia 08 de abril de 1839.

14 Discurso recitado pelo Exmº. Snr. doutor Bernardo de Souza Franco, prezidente da província do Pará quando

abrio a Assemblea Legislativa Provincial no dia 15 de agosto de 1839, p. 05.

regulamentada em abril e instalada em 3 de maio do mesmo ano. As aulas efetivamente iniciaram em 5 de junho. Essa mesma lei criava a Biblioteca, Arquivo Público e o Museu Paraense. 16

Além dos fatores para a criação das escolas normais no Brasil, apontados por Villela, Maria de Fátima Souza, ajudando o debate, afirma que a partir da década de 1870 houve uma discussão muito forte no País a respeito da educação:

“Nas últimas décadas do século XIX, intelectuais, políticos, homens de letras e grandes proprietários rurais enfrentaram e debateram intensamente os problemas do crescimento econômico do país, a transição para o trabalho livre, a construção de uma identidade nacional, a modernização da sociedade e o progresso da nação”. 17

Assim, em função do contexto econômico específico da província, há uma discussão mais geral a respeito da modernização pelo qual o país deveria passar. Sob o impacto da substituição do trabalho escravo pelo livre, pode-se acreditar que isso explicaria, em parte, a fundação da Escola Normal no Pará em 1871.

Para Villela,18 além da questão da educação dos libertos a partir da Lei do Ventre Livre de 1871, era importante também a questão da representatividade eleitoral do voto do alfabetizado. O medo de um eleitor não identificado com o projeto hegemônico capaz de comprometer o processo de modernização acelerado a partir dessa década no País, também explicava a retomada das discussões acerca da educação desde 1860, e, consequentemente, da formação dos professores e das escolas normais.

A partir daí, segundo essa autora, as inovações pedagógicas estrangeiras, principalmente de inspiração norte-americana, chegavam com frequência junto com as exposições e conferências pedagógicas, novidades metodológicas como a lição de coisas, novo conceito de espaço escolar, materiais pedagógicos, nova forma de organização escolar. Essas discussões só se intensificam a partir dos anos de 1870.

Seja como for, a Escola Normal passou por vários percalços. Instalada em 13 de maio de 1871, nas dependências do Colégio Nossa Senhora do Amparo, que funcionava, por sua vez, no edifício do Lyceu Paraense, fundado em 1841, foi extinta em 19 de outubro de 1872. A partir dessa data, haveria um curso normal ligado ao Liceu. Garantia-se, no entanto, o término dos estudos aos alunos matriculados. Pedro Vicente de Azevedo, presidente provincial, a esse respeito dizia que: “Escola Normal – Esta escola creada pelo art.107 do

16 A respeito da formação e ainda o recrutamento de professores, ver: GONDRA, Op. Cit., pp. 190-193. 17 SOUZA, Maria de Fátima. Op. Cit., p. 27.

regulamento de 20 de abril de 1871, e installada no dia 13 de maio do mesmo anno, foi convertida em um curso anexo aos do lyceo paraense, pela lei n. 757. de 19 de dezembro de 1872”.19 O total de alunos da escola durante o ano de 1873 foi de 8 alunos e 11 alunas do Colégio N. S. do Amparo. 20

Isso mostra a pouquíssima procura por essa instituição de ensino e talvez um dos motivos de sua extinção. Já se evidenciava também a maior procura pelas mulheres dentro de um processo conhecido em todo o Brasil como feminização do magistério como se falou acima. Significando com isso, a ocupação paulatina de espaços públicos pela população feminina.

A desativação da escola ganha maiores esclarecimentos quando o Dr. Francisco Pereira de Souza, diretor de instrução pública, apresentou outros motivos: “as aulas [da Escola Normal] funcionavam apenas duas vezes por semana (...)” 21. Este diretor apontou a carência de professores habilitados a trabalhar na escola que tinham de se dividir entre o Liceu e a o Colégio Nossa Senhora do Amparo de meninas órfãs. As aulas acabavam durando apenas uma hora, atrapalhando o aproveitamento principalmente das alunas, pois “(...) as que freqüentaram o 3º ano em 1873 e que deviam concluir o curso (...) deixaram de o fazer, por não estarem habilitadas em uma das matérias”.22

Sem prédio próprio, funcionando nas dependências do Colégio Nossa Senhora do Amparo, ou no Liceu, quando não incorporada a esse último, parece que a EN estava longe de ter a importância que ganhou paulatinamente com a República. Apesar disso, a discussão a seu respeito, seja pela sua manutenção, incorporação ou extinção, foi sempre tema de debate por parte das autoridades que ocupavam o executivo provincial, talvez trazendo ressonância de interesses de intelectuais e jornalistas.

Em 9 de junho de 1874, a EN foi recriada, através de uma portaria, para ser anexada novamente ao Liceu em 1885. Segundo Vianna, com a recriação da Escola Normal feminina no Colégio Nossa Senhora do Amparo, o presidente Pedro Vicente de Azevedo afirmou que: “as educandas, até então com futuro incerto podiam habilitar-se à vida do magistério em que teriam uma profissão honrosa”.23 Menos do que a ação de apenas um indivíduo, acredita-se

19 Relatório apresentado a Assembléa Legislativa Provincial na primeira sessão da 19ª Legislatura pelo

Presidente da Província do Pará o Excelentíssimo Senhor Doutor Pedro Vicente de Azevedo em 15 de fevereiro de 1874, p. 19.

20 Idem.

21 Arquivo Público do Estado (São Paulo). Op. Cit. 22 Idem.

que as condições culturais eram também responsáveis pelas mudanças sociais e, portanto, pela recriação dessa instituição.

É ilustrativo o diagnóstico sobre a educação do estado feito pelo presidente provincial, Francisco de Sá e Benevides de 1874. Ele afirmou que neste ano havia 226 escolas com 10576 alunos matriculados, cuja taxa cresceu progressivamente e ainda comparou com a quantidade de 3.719 alunos em 1867. Reconhecia ainda que, apesar disso, um quarto dos alunos em idade escolar se encontrava fora das escolas. E propunha então: “procuremos remover o mal, diffundindo a instrcção á todos (...) [embora] o recenceamento ultimamente feito lisongea vossa província, porquanto demonstra que é uma das que melhores resultados apresenta.” 24

Mais uma prova do desejo expressado por uma autoridade pública em agir para tentar melhorar a educação na província. Também mostra um conjunto significativo de alunos ausente da escola. Nesse caso, mais uma vez o problema não é a quantidade de vagas, mas a falta de alunos, motivado possivelmente por práticas culturais distintas. Os conteúdos e métodos de ensino eram menos importantes do que a tentativa de disciplinar, higienizar, inculcar o tempo dos relógios em detrimento do tempo da natureza e das tradições orais.

Francisco de Sá e Benevides continuava a dizer que houve aumento das despesas com a instrução, passando de 167 em 1866 para 400 mil contos de réis. Com esse aumento, esperava-se que: “Assim correspondam os resultados práticos ao sacrifício do thesouro no dispêndio de tão enorme somma”! Continuava falando a respeito da criação de um maior número de escolas e o aumento de vantagens aos professores e enfatizava a importância do mestre “habilitado, moralisado e dedicado”. 25 Foi um programa que pelo menos, nas intenções, procurou provar o interesse desse representante do executivo provincial com a instrução pública. E não parece ser exceção.

O discurso acima deixa claro que o ingresso para a preparação profissional e a própria carreira do magistério deveria demonstrar, do postulante, uma boa conduta moral. A profissão deveria ser vista como um sacerdócio. Segundo essa concepção questões como salários e boas condições de trabalho seriam secundárias à nobre e elevada missão de ensinar. A EN seria estratégica na formação de um quadro de profissionais habilitados para retirar da ignorância a população e torná-la ciente de seus direitos e deveres. Lembrava ainda em

24 Relatório apresentado pelo Exm. Sr. Dr. Francisco Maria Correa de Sá e Benevides, Presidente da Provincia

do Pará á Assembléa Legislativa Provincial na sua sessão solmne de installação da 20ª Legislatura no dia 15 de fevereiro de 1876, p. 18.

relação ao salário que: “Não são [ruins?] os actuaes vencimentos, nem consta que os haja maís elevados em outra província”.26

O projeto educacional inscrito nessa fala dialoga com o iluminismo e a sua concepção de povo abstrato como sujeito das revoluções e reformas, mas ao mesmo tempo necessitando de ser educado para conter os excessos, inclusive revolucionários. O povo idealizado deveria enquadrar-se dentro dos parâmetros culturais das elites e voltado aos interesses delas. A categoria de povo passa a ser valorizada no momento que deve negar-se enquanto sujeito mais próximo dos modos de vida populares. O discurso da generalização em seu nome escondia interesses bem localizados. “A invocação do povo legitima o poder da burguesia na medida exata em que essa invocação articula sua exclusão da cultura”. 27

A EN teve um funcionamento regular até 1885. Nesse ano 3 de dezembro foi anexada ao Lyceu. O argumento utilizado para esse desaparecimento parece ser de ordem financeira, pois segundo Alencar Araripe:

“Reunidas as precizas aulas no Liceu, poder-se-hia dispensar a Escola Normal com economia dos cofres provinciaes e com vantagem do ensino, tornando-se este(...) para ambos os sexos nas mesmas aulas, e regularizando-se as suas matérias por via da mais acertada e methodica distribuição das cadeiras”.28

Na verdade, a respeito dessa medida seria dito um pouco mais tarde que: “tal fusão valia por uma verdadeira extincção”. 29 José Veríssimo mencionou que a escola sofreu “diversas vicissitudes, até que desapareceu com a sua fusão absurda, sinão maleovola, no Lyceu paraense”.30 Para ele o estado de desmoralização em que a Escola Normal se encontrava junto à opinião pública, melhor seria sua extinção e o diploma de normalista passaria a ser dado a alunos que se dispunham a cursar apenas algumas matérias do Liceu.

A população teria ficado indiferente à fusão. Veríssimo atribuiu ainda a problemática às questões político-partidárias, pois com a mudança de partido político propuseram a sua reabertura. Teria se chegado mesmo, na presidência do Dr. Fernando Braga, penúltimo