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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

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Academic year: 2018

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RAIMUNDO WILLIAM TAVARES JÚNIOR

UM VIVEIRO DE MESTRES:

A Escola Normal e a Cidade de Belém do Pará em

Tempos de Modernização (1890-1920)

DOUTORADO EM HISTÓRIA SOCIAL

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UM VIVEIRO DE MESTRES:

A Escola Normal e a Cidade de Belém do Pará em

Tempos de Modernização (1890-1920)

Tese apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em História Social, sob a orientação da Professora Drª Estefânia Knotz Canguçu Fraga.

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BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________ DRª ESTEFÂNIA KNOTZ CANGUÇU FRAGA – PUC-SP

(Orientadora)

_______________________________________________ DRª OLGA BRITES – PUC-SP

(Examinadora Interna)

_____________________________________________ DR. ANTÔNIO CHIZZOTTI – PUC-SP

(Examinador Interno)

_______________________________________________ DRª ROSA FÁTIMA DE SOUZA – UNESP

(Examinadora Externa)

_______________________________________________ DR. AGENOR SARRAF PACHECO – UFPA

(Examinador Externo)

_______________________________________________ DRª HELOISA DE FARIA CRUZ – PUC-SP

(Examinadora Suplente)

________________________________________________ DR. MÁRIO MÉDICE COSTA BARBOSA – IFPA

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Meus efusivos agradecimentos aqueles, sem os quais esse trabalho seria impossível de realização:

À Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC), Universidade da Amazônia (UNAMA), especialmente na pessoa da professora Núbia Maciel. Ao Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia (FIDESA) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Ensino Superior (CAPES), pelo financiamento da pesquisa;

Ao Instituto de Educação Estadual do Pará (IEEP), representado pela professora Maria Ferreira e sua equipe de trabalho pelo suporte material, incentivo e carinho;

Ao Arquivo Público do Estado do Pará, nas pessoas de Rosa Maria de Lima Silva Correa e Roseana Pinheiro da Silva, que mostraram nesses quatro anos serem exemplo de profissionalismo, paciência e atenção;

À minha orientadora Estefânia Canguçu Knotz Fraga e professores do Programa de Pós-Graduação em História da PUC/SP, especialmente à Heloísa de Farias Cruz, exemplo de calor humano e coerência profissional;

Um agradecimento muito especial à Marcinha, amiga de várias décadas, Ribamar e Mônica que me proporcionaram hospitalidade, carinho e amizade nesse São Paulo a quem aprendi a amar;

Aos meus colegas de doutorado, Aninha, Nataniel, especialmente Leandra e André, que se transformaram em grandes e inestimáveis amigos;

Aos meus familiares, minha torcida organizada, especialmente a minha querida mãe Maria Lúcia, Raimundo, meu pai, meus irmãos Luiz, Lilian e Sérgio, esses dois últimos imprescindíveis nos cuidados dos pequenos Stuart e Kharin, quando precisei inúmeras vezes me ausentar;

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que dificilmente poderá ser traduzido em palavras;

Ao se tratar nesse trabalho de um tema relacionado à educação, aproveito para agradecer a todos os professores que ao longo desses anos foram responsáveis pela minha formação acadêmica. Dentre eles, Maria Ruth Guimarães, minha primeira professora, normalista e a quem devo a minha alfabetização. Maria Leocila Callado do Valle, pelo carinho que me proporcionou nos primeiros passos do curso primário.

Wilton Moreira, que ajudou a despertar minha paixão pela História, Catarina, Regina Conceição e, especialmente, Fernando Tocantins Penna, que me fez descobrir os encantos do idioma francês. Dentro desse seleto grupo, com professor Leão, dei os primeiros passos na Biologia e com Selma Santa Alice, enfrentei e ultrapassei as dificuldades da Matemática. Todos eles foram referência durante o meu curso ginasial;

Aos professores do Ensino Médio, antigo Segundo Grau, agradeço nas pessoas de Marize, que quase me fez cursar Sociologia, e Mergulhão, que me mostrou uma maneira menos dolorosa de estudar Matemática.

Aos professores do Curso de História da Universidade Federal do Pará, agradeço minha formação, especialmente a Benedito Nunes, Anaíza Vergolino e Silva, Ruth Bulamarqui de Moraes e Maria de Nazaré Sarges, que me fizeram compreender o sentido da vida acadêmica;

Não poderia deixar de agradecer, especialmente, ao meu orientador de mestrado, Ciro Flamarion Santana Cardoso, da Universidade Federal Fluminense, pela brilhante erudição e uma prática pedagógica raramente encontrada;

Enfim, a todos os meus colegas do Curso de Comunicação Social da Universidade da Amazônia, que formaram uma expressiva e alegre torcida para a conclusão dessa tese, entre ela(e)s, merecem destaque: Neuza Pressler, Manuela, Alda, Ana Prado, Ivana e Ivânia, Vera, Stela Pojuci, Vânia, Arlene, Marcus Vinícius Leite e Rogério e demais professores.

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Em fevereiro de 1890 era criada em Belém, no Estado do Pará, através de um decreto da República, a Escola Normal (EN). Embora os republicanos tenham ressaltado o fato como uma grande novidade, ela já tinha sido criada e extinta outras vezes, durante o regime monárquico desde 1871. Difícil foi não se espantar entre a grandiloquência do decreto e a tentativa de fato de sua instalação sem prédio próprio, equipamentos e, até mesmo, sem professores. No entanto, apesar dessa improvisação, ela foi se estabelecendo, criando raízes e rizomas, infiltrando-se na vida da cidade e de sua gente, gestando longa tradição. Este trabalho, no desejo de compreender esses diferentes e tensos movimentos políticos, educacionais e socioculturais urdidos no Pará, discute o fazer-se da Escola Normal na cidade de Belém, entre 1890 a 1920, período em que discursos e práticas de modernização atingiram e se confrontaram com modos de vida tradicionais paraenses. A partir de documentos legislativos, educacionais e jornais paraenses, rastreados no Arquivo Público do Estado, no Centur e no Arquivo do IEEP, interpretados sob a lente teórica de intelectuais dos Estudos Culturais, a pesquisa revela os imbricamentos, dependências, influências e conflitos das experiências construídas na EN por seus diferentes sujeitos históricos com ações e intervenções dos poderes públicos constituídos no Estado. Considerando que a escola assentou-se sob as bases de uma cidade em transformação, os diálogos e tensões ali foram contínuos e recíprocos. Portanto, para interpretar razões, motivações e sentidos do (re)nascimento da Escola Normal nos finais do século XIX e duas primeiras décadas do século XX, igualmente sondar desenvolvimentos e contradições vivenciados em torno da infraestrutura, organização curricular, constituição do corpo funcional, critérios de ingresso da(o)s aluna(o)s e professores, origem social e étnica da(o)s aluna(o)s, além de símbolos e rituais, foi preciso inseri-la nos intercâmbios com a vida urbana.

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In February 1890 it was established in Belém, Pará State, through a Republic decree, the Normal School (EN). Even though the republicans have highlighted this as a great novelty, it had already been created and extinguished at other times during the monarchy since 1871. Difficult was not to be surprised with the grandiloquence of the decree and the attempt to actually install it without a proper building, equipment and even without teachers. However, despite this improvisation, it was settling down, putting down roots and rhizomes, infiltrating in the life of the city and its people, gestating long tradition. This work, with the desire to understand these different movements and tense political, educational and social movements done in Pará, discusses the make up of the Normal School in Belém, from 1890 to 1920, period in which discourses and practices of modernization reached and clashed with traditional lifestyles from Pará. Through legal, newspapers and educational documents from Pará, surveyed in the Public Archives of the State, at Centur and at the IEEP Files, interpreted through the theoretical lens of Cultural Studies, the research reveals the connections, dependencies, influences and conflicts of experiences that were built at EN by its different historical subjects with actions and interventions of government. Whereas the school sat on the foundations of a city in flux, the dialogues and tensions there were continuous and reciprocal. Therefore, to interpret the reasons, motivations and meanings of (re) birth of the Normal School in the late nineteenth century and first decades of the twentieth century, and equally to understand its developments and also contradictions experienced around the infrastructure, curriculum organization, constitution of the functional body, the entry criteria of the student and teachers, social and ethnic origin of the student, as well as symbols and rituals, it was necessary to insert it in exchanges with urban life.

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INTRODUÇÃO...12

CAPÍTULO – I: A ESCOLA NA CIDADE...25

1.1. Algumas Palavras para Começar...25

1.2. (Re)nasce a Escola Normal: percepções do primeiro diretor...28

1.3. A Cidade em Modernização...31

1.3.1. As Transformações do Espaço Urbano...32

1.3.2. Diversidades e Relações de Sujeitos Sociais na Cidade...41

a) Encontros...43

b) Desencontros e Submissões: Entre Polícia e Higiene...47

1.4. Entre o Trono e a “Ordem e Progresso”...57

CAPÍTULO – II: A ESCOLA NORMAL: Histórias e Trajetórias...76

2.1. As Escolas Normais...76

2.2. A Escola Normal Republicana:“Viveiro de Mestres”...84

2.2.1. As Instalações...85

2.2.2. Organização e Currículo...94

2.3. Agentes Escolares e seus Perfis...109

a) Diretores e Funcionários...109

b) Os Professores: “raio de luz que esclareça as consciências”...116

CAPÍTULO III: A(O)S ALUNA(O)S EM CONFLITOS...127

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3.4. Origem Social e Étnica da(o)s Normalistas...138

3.5. Conflitos e Acomodações...152

CAPÍTULO IV: REPRESENTAÇÕES DA ESCOLA NAS LENTES DA CIDADE...177

4.1. Relações entre Escola e Instituições...177

4.2. A Escola entre Símbolos e Ritos...193

4.3. A Escola nos Olhares da Cidade...202

a) Autoridades Públicas... 202

b) Opinião Pública...204

4.4. Futuro do Pretérito...223

CONSIDERAÇÕES FINAIS...225

DESCRIÇÃO DAS FONTES...236

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INTRODUÇÃO

Este trabalho procura relacionar a Escola Normal do Estado do Pará1, entre 1890 e 1920, com o processo de modernização da cidade de Belém do Pará. Pretende-se ultrapassar a narrativa de uma história institucional e dialogar com as modificações ocorridas na cidade e as adaptações e conflitos internos, que os diversos sujeitos sociais da instituição vivenciaram, em função das mudanças atravessadas pelo modo de viver urbano na virada do século passado.

As balizas cronológicas explicam-se porque o ano de 1890, quando se inicia esta pesquisa, é um divisor de águas em relação à importância que a escola Normal passa adquirir. Esse estabelecimento de ensino, que tinha sido anunciado desde 1839, criado em 1871 para ser extinto logo no ano seguinte, recriado em 1874, anexado ao Liceu em 1885, a partir de 1890, ganhar um prédio próprio em 1893, passando a ser prestigiada pelas autoridades e sofrendo significativo aumento nas matrículas, principalmente por parte das mulheres.

Analisar os trinta anos seguintes a sua refundação pelos republicanos, é fundamental para comparar a escola durante o intenso processo de modificações urbanas e o refluxo dessa modernização,2 a partir de 1911, com a queda do preço da borracha e a consequente diminuição de receitas sobre a exportação da administração pública. Como as instituições juntamente com os sujeitos que a compõem nem sempre respondem imediatamente aos fatores externos, os nove anos após a derrocada da exportação do látex em 1911, condição de sustentação das mudanças dentro do espaço urbano, servirão como objeto de análise das modificações dentro da escola.

O título: “Um viveiro de Mestres” faz referencia a uma expressão usada pelo governador Lauro Sodré sobre a EN em sua mensagem dirigida em 1º de agosto de 1917 ao

1 A partir de agora se utilizará em alguns momentos a expressão abreviada – EN.

2 Entende-se modernização enquanto um conjunto de processos sociais gestado por descobertas científicas,

revoluções industriais, transformações demográficas, urbanização acelerada, os movimentos de massa impulsionados pelo mercado mundial. Algo sempre em movimento, a partir dos séculos XV e XVI, cuja intensidade manifesta-se em tempos presentes. Processo esse altamente polimorfo e excludente capaz de conviver com temporalidades culturais distintas e sofrer, portanto, resistências, enfrentamentos e negociações por parte de uma ampla gama de sujeitos sociais. A modernidade seria a experiência histórica dessas modificações. Ver CASTRO, Fábio Fonseca de. A cidade Sebastiana: era da borracha, memória e melancolia numa capital da periferia da modernidade. Belém: Edições do Autor, 2010. BERMAN, Marshall. Tudo que é

sólido se desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. ANDERSON,

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Congresso Legislativo do Pará3. Acredita-se que essa expressão resuma em poucas palavras como a escola foi vista pelas autoridades e, não necessariamente pelo público externo ao longo dos trinta anos de funcionamento abordados por essa pesquisa.

Dito isso, tentar-se-á responder algumas questões principais, entre outras, ao longo desta pesquisa como, por exemplo: Quais as relações entre os agentes de modernização da cidade de Belém e os diversos sujeitos sociais que constituíram a Escola Normal entre 1890 e 1920? De que maneira os grandes traços da modernização afetaram os sujeitos sociais que habitavam a cidade e a escola? Como reagiram os sujeitos envolvidos nesse processo com as relações de negociação, conflito e assentimento entre eles? Quais as representações que os sujeitos sociais fizeram da modernização e da educação?

A inquietação que levou a este tema partiu da necessidade de se formular um projeto de pesquisa que contemplasse a história regional e/ou paraense para ser apresentado como parte das exigências ao concurso para professor visitante de História no Departamento de História da Universidade Federal do Pará em 1996. Assim, se tentou aproveitar a experiência vivida como professor inicialmente de francês e posteriormente de história do Instituto Estadual de Educação do Estado do Pará, nome atual da antiga Escola Normal, entre 1982 e 1989 e depois na segunda metade dos anos 1990 e relacioná-la com a questão de gênero, assunto muito discutido naquele momento.

O projeto foi aprovado pela UFPA e quando surgiu a oportunidade de se participar da seleção de doutorado para a Pontifícia Universidade Católica em 2007, foi reformulado com a ajuda inestimável da Profª Drª Estefânia Canguçu Fraga e, principalmente, do Prof. Dr. Agenor Sarraf Pacheco, tendo sido posteriormente aprovado no processo seletivo para doutorado no programa de Pós Graduação em História Social, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 2007.

No decorrer do ano de 2008, à luz das discussões realizadas nos Seminários e Tópicos Temáticos no Doutorado na PUC/SP, especificamente com o Seminário Avançado II, ministrado pela Profª Drª Heloisa de Farias Cruz, que abordava as relações entre História e Cultura, evidenciou-se a possibilidade de estreitar diálogos com os Estudos Culturais4 para

3 Mensagem dirigida em 1º de agosto de 1917 ao Congresso Legislativo do Pará pelo Dr. Lauro Sodré,

Governador do Estado, p. 64.

4 De acordo com Hall, entendem-se como Estudos Culturais uma série de trabalhos realizados ou uma formação

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entender a cidade de Belém5 como território de múltiplas expressões culturais e as relações estabelecidas com a Escola Normal, mediadas pelo processo de modernização que atravessou o tecido urbano, especialmente entre os anos de 1897 e 1911.

A temática da modernização, então, traspassava o entendimento do fazer-se da cidade e da escola. Sobre a dimensão desses tempos idos, García Canclini faz entender que a modernização na América Latina não seria apenas um processo de mudanças ocorridas num território ligadas à industrialização, tecnificação da produção agrária, uma organização sociopolítica baseada na racionalidade formal e material. Não seria também:

“um simulacro urdido pelas elites e pelos aparelhos estatais. As oligarquias liberais do final do século XIX e início do XX teriam feito de conta que constituíam Estados, mas apenas organizaram algumas áreas da sociedade para promover um desenvolvimento subordinado e inconsistente... deixando de fora enormes populações indígenas e camponesasuma mestiçagem interclassista gerou formações híbridas em todos os estratos sociais. Os impulsos secularizadores e renovadores foram mais eficazes nos grupos ‘cultos’, mas certas elites preservam seu enraizamento nas tradições hispânico-católicas e, em zonas agrárias, também em tradições indígenas (...)”. 6

Dessa forma longe de negar a exclusão de amplas camadas da população das benesses do processo de modernização altamente concentrado como em toda sociedade de classes, enfatiza-se também o caráter híbrido e, portanto contendo elementos de um modelo alienígena com práticas culturais específicas de cada localidade onde se efetivou. Algumas práticas modernizadoras são apropriadas por diversos grupos sociais em Belém como a

uma introdução” In: JOHSON, Richard et al. O que é, afinal, Estudos Culturais? 3ª ed. 1ª reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. Os principais autores nesse campo, trabalhados nessa pesquisa, são: Raymond Williams, E. P. Thompson, Richard Hoggart e mais recentemente, na América Latina: Jesus Martín-Barbero, e Néstor García Canclini, Ainda, segundo Hall, os Estudos Culturais surgem após uma discussão a respeito do marxismo ortodoxo nos anos 50, na Grã Bretanha. São fundamentais nesse grupo os conceitos de cultura e hegemonia utilizados ao longo desse trabalho.

5 Trabalha-se aqui a cidade como: “(...) territórios que condicionam múltiplas experiências pessoais e coletivas.”

MATOS, Maria Izilda Santos de. A Cidade, a noite e o cronista: São Paulo e Adoniran Barbosa. Bauru: SP:

EDUSC, 2007. Aproveitou-se também, nessa obra, de uma discussão a respeito de uma historiografia sobre o estudo das cidades. Ver também: Revista de Estudos Regionais e Urbanos: Cidade e História do Núcleo de estudos Regionais e Urbanos n. 34. São Paulo : Brasiliense.1991 e ainda, FENELON, Dea Ribeiro. “Introdução” In: FENELON, Dea Ribeiro (org.) Cidades. Programa de Estudos Pós-Graduados em História São Paulo: Olho d’Água, nov.1999. Para a autora “a cidade nunca deve surgir como um conceito urbanístico ou político, mas sempre encarada como lugar da pluralidade e da diferença, e por isto constitui muito mais do que o simples espaço de manipulação do poder (...)”. Pode-se acrescentar que os traços culturais comuns ou mesmo de hibridação também são múltiplos e responsáveis pela coesão social. Ver: GARCIA CANCLINI, Néstor. Op. Cit.. Para reformas em outras cidades do Brasil no período como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Santos, Recife, Salvador, Manaus, Fortaleza, Belém, ver o Capítulo 1: Efemérides da Modernidade no rastreamento do processo de modernização em algumas cidades do Brasil de PANTOJA, Letícia Souto. Au Jour le Jour – cotidiano, moradia e trabalho em Belém (1890 a 1910).Dissertação (Mestrado em História Social) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005. Muito útil também à compreensão da cidade em tempos de modernidade, nos seus aspectos comunicacionais e de memórias foi CASTRO, Fábio Fonseca de. Op. Cit.

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higienização de corpos e habitações, mas por outro lado, mesmo as elites acabam impondo certa resistência como no cuidado do lixo nas vias públicas, por exemplo.

No Pará republicano, as modificações ocorridas no espaço urbano e educacional foram atreladas à visão de progresso dos chamados positivistas, divulgada principalmente, no meio militar, através da pregação do professor Benjamin Constant Botelho de Magalhães e do desejo de grandes frações das elites locais – leitores também de Conte, Spencer, Gobineau etc. Pretendia-se uma adequação do Brasil a um modelo do que seria considerado civilizado como a Europa Ocidental e nos EUA, especialmente seguir orientações da França, Inglaterra e Alemanha. É preciso lembrar, contudo, que na constituição desse modelo havia um intenso diálogo com a cultura local.

Nestes termos, o processo modernizador, ocorrido no território urbano, consistiu basicamente de reformas de embelezamento e de erradicação das inúmeras doenças, algumas de importação europeia como a peste e a varíola e outras mais de caráter tropical, como a febre amarela e o sarampo. No corolário/palimpsesto dessas mudanças encontros entre diversos modos de vida tanto da região como alhures fizeram-se sentir, alterando projetos, discursos e práticas.

Para essa modernização, que deixava de fora amplos setores da população mais pobre, era necessária que a hegemonia7 se efetuasse de forma persuasiva, embora sem esquecer também seu caráter repressivo. Como fator de persuasão, além de práticas culturais8 comuns entre elites e camadas populares, o aparato educacional era fundamental, principalmente numa escola de formação de professores.

Assim, a proposta desse trabalho que, inicialmente enfatizava a questão de gênero, modificava-se para a inserção da instituição educacional dentro da cidade de Belém e suas várias interfaces. Manteve-se então, o estudo de gênero9 agora como algo tangencial e, mais especificamente, dentro de um capítulo.

7 Entende-se hegemonia como “um processo no qual uma classe hegemoniza, na medida em que representa

interesses que também reconhecem de alguma maneira como seus as classes subalternas” e que “(...) não há hegemonia, mas sim que ela se faz e desfaz, se refaz permanentemente num ‘processo vivido’, feito não só de força, mas também de sentido, de apropriação do sentido pelo poder, de sedução e de cumplicidade”. IN: MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008. p.112.

8 Entende-se cultura: “como um processo social constitutivo, que cria ‘modos de vida’ específicos e diferentes,

que poderiam ter sido aprofundados (...) foram (...) com freqüência... substituídas na prática por um universalismo abstrato” In: WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979, pp. 21-24.

9 Para a discussão de gênero enquanto conceito relacional e que não prescinde da interação com classe, etnias e

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Acredita-se que esse é um estudo pioneiro, pois embora fique situado no campo da História da Educação, ao dialogar com os Estudos Culturais e acompanhar as modificações da instituição e os diálogos e conflitos entre ela e a cidade, amplia o campo da história institucional.

Em relação ao levantamento das obras a respeito do Ensino Médio e das Escolas Normais no Brasil é fundamental reportar-se a Villela e Gondra & Schueler.10 Entre os trabalhos mais recentes que se aproximam desse tema pode-se apontar a tese de doutorado de Carlos Fernando Ferreira da Cunha Jr, publicada em 2008 com o título de O Imperial Collegio de Pedro II e o ensino secundário da boa sociedade brasileira, entre 1837 e 188911. Embora a tese defenda que o Colégio Pedro II fazia parte de um projeto maior do grupo político conservador denominado de Saquarema de sustentação hegemônica, e, portanto, de preparo educacional de sua elite dirigente, servindo de modelo para o resto do Brasil, Cunha Júnior centra a maior parte do seu trabalho nos aspectos internos institucionais do colégio.

Apenas no capítulo 4: “Os conhecimentos no Imperial Collegio de Pedro Segundo”, o autor estabelece conexões entre esses conhecimentos e sua aplicação num contexto de ocupação de espaços políticos dentro do regime imperial. O curso do Colégio Pedro II serviria como vestíbulo ou bilhete de entrada para os diversos cargos políticos, sejam do legislativo, judiciário, executivo e, até mesmo, do moderador, argumento utilizado por Cunha Júnior que segue perspectiva já formulada por José Murilo de Carvalho.

contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003. SCOTT. Joan. História das mulheres. In: BURKE, Peter. (org.). A escrita da história: novas perspectivas. S. Paulo: Unesp, 1992. ROSEMBERG, Fúlvia. “Educação formal em mulher: balanço parcial da bibliografia” In COSTA, Albertina & BRUCHINI, Cristina.

Uma questão de Gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992. MELO, Clarice Nascimento em:

representações do Feminino, disponível em:

http://www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/125ClariceNascimentoMelo: Acesso em: 11/11/2010. Neste texto, a autora emite uma análise das questões de gênero no mesmo período deste trabalho. Importantes também para dialogar com a questão são alguns dos inúmeros grupos de pesquisa que se debruçam sobre a questão gênero e educação como: o Núcleo de Estudos Culturais: histórias, memórias e perspectivas do presente do Programa de Pós Graduação de História da PUC/SP; Núcleo de Estudos da Mulher PUC/SP; Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Federal do Paraná; Núcleo de Pesquisas e História Cultural da Universidade Federal Fluminense- Nupehc-; Linha de Pesquisa Gênero, Subjetividades e Cultura Material da área de História Cultural do Programa de Pós-Graduação em História do IFCH da UNICAMP; sem esquecer as inestimáveis contribuições de Rachel Soihet, Izilda Matos, Joana Pedro, Margareth Rago entre inúmeras outras pesquisadoras nacionais e internacionais.

10VILLELLA, Heloísa de Oliveira Santos. “Do Artesanato à Profissão: representações sobre a

institucionalização da formação docente no século XIX. IN: STEPHANOU, Maria. & BASTOS, Maria Helena (organizadoras) Histórias e Memórias da Educação no Brasil: século XIX. Vol. II. Petrópolis: Vozes, 2005. GONDRA, José Gonçalves. & SCHUELER, Alessandra. Educação, poder e sociedade no Império brasileiro.

São Paulo: Cortez, 2008. (Biblioteca básica da história da educação brasileira).

11 CUNHA JR. Carlos Fernando Ferreira da, O Imperial Collegio de Pedro I e o ensino secundário da boa

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Outro trabalho, também recente é: A Escola Normal da Província do Amazonas (1880-1890) de Assislene Barros da Mota12, resultado de sua Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Sorocaba (UNISO-SP). No capítulo 1º: “Contexto Sócio-Histórico da Organização do Ensino na Província do Amazonas no Período Imperial”, Mota analisa as modificações do ensino no Amazonas, mas sem fazer a instituição escolar dialogar com as práticas culturais da cidade de Manaus. O trabalho, no entanto foi importante, pois apontou sugestões para a capitulação desta tese.

O estado do Pará esteve entre 1897 e 1912 dividido em dois grandes grupos políticos.13 O primeiro, formando o Partido Republicano do Pará que se cindiu em 24 de agosto de 1897 em função das disputas envolvendo o governo federal e local. A partir daí se constituiu o Partido Republicano Federal sob a égide de Lauro Sodré, um dos fundadores do Club Republicano e primeiro governador eleito do Pará (1891-1897). Já o Partido Republicano Paraense esteve sob o comando do todo poderoso senador e intendente de Belém, Antonio José de Lemos, proprietário do jornal A Província do Pará, intimamente associado com o governo federal dentro da chamada política dos governadores inaugurada pelo presidente Campos Sales.

A Província do Pará foi o órgão extraoficial do Partido Republicano e mais tarde do grupo lemista. Encontraram-se aí várias notícias referentes à EN como chamada para exames, notas e comunicado de início de matrícula.

Quanto aos integrantes dos antigos partidos Conservador e Liberal acabaram por se juntar ao Partido Democrático e, posteriormente, incorporarem-se no Partido Federal. O Partido Republicano Paraense representava o grupo lemista, e o Partido Federal do Pará, o laurista. Esses grupos usarão de todos os meios para se atacarem mutuamente, em torno de espaços de poder e possivelmente visões diferenciadas a respeito do projeto de modernização. Os lauristas encontraram na Folha do Norte um jornal que defendia os seus ideais e utilizou

12 MOTA, Assislene Barros da. A Escola Normal da Província do Amazonas (1880-1890) . Manaus: Editora

Valer, 2010.

13 Segundo Fábio Castro, os aliados do intendente Antonio Lemos, os lemistas, representariam os grupos sociais

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de uma virulenta oposição aos lemistas, inclusive explorando a educação e a própria EN como alvo estratégico.

Essa oposição terá papel de destaque na queda da oligarquia chefiada por Antonio Lemos, após os motins no final de 1910 e início de 1911 contra as concessões propostas pela intendência municipal. No ano seguinte, um levante popular culminou com o incêndio da sede da Província do Pará, e da residência do velho Lemos e o seu quase linchamento.

Em 1911, com o seu afastamento da política partidária,14o grupo do então governador, João Coelho (1909-1913), rompeu com os lemistas que fundaram o Partido Conservador Paraense com o apoio do governo federal e de Pinheiro Machado. Agora se evidenciavam três facções oligárquicas: o Partido Republicano Conservador do Pará do grupo lemista, o Partido Republicano do Pará, liderado pelo governador João Coelho, e o Partido Federal, sob a liderança de Lauro Sodré. Com a sucessão tumultuada pelo embate entre aessas três correntes políticas, o governo federal acabou impondo como sucessor do governador um

tercius, que não estava diretamente comprometido com nenhum desses partidos, Eneas Martins. No entanto, a situação política continuou extremamente instável. Finalmente, houve uma relativa acomodação com a volta de Lauro Sodré (1917-1920) para o seu segundo mandato governamental.

Articulando esse contexto com a temática da pesquisa, procurou-se rastrear se esses embates influenciaram na organização, na escolha de diretores da Escola Normal, assim como na contratação de professores substitutos e principalmente nos ataques por parte da imprensa oposicionista no que tange às relações internas da EN. 15

14 As manifestações contra Lemos ocorreram em finais de dezembro de 1910 e início de 1911 em torno das

concessões municipais a particulares que implicavam em novas taxas aos munícipes. Acredita-se que o racha dentro do partido republicano entre a facção do governador João Coelho e do senador Antônio Lemos acabaram por estimular essas manifestações. Sobre o início do movimento assim se pronunciava João Coelho: “Nos últimos dias do anno passado e nos princípios deste, a capital do estado foi theatro de sérias agitações, resultantes de vehementes protestos populares contra concessões municipais”. Essas quatro linhas e mais dez, dentro da mensagem não dimensionam , propositalmente, ou não, a crise política instalada que culminanou com os levantes de agosto de 1912. Mensagem do Governador João Luiz Coelho ao Congresso Estadual em 7 de setembro de 1911, p. 63.

15

Utilizou-se para essa breve exposição as seguintes obras em ordem de importância: ROCQUE, Carlos.

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Tão importante como a luta entre as facções políticas serão as modificações no espaço urbano em função de um projeto modernista e de um processo de modernização. As suas principais bandeiras foram higienização, civilização e progresso, cuja culminância se deu durante a gestão do intendente Antonio José de Lemos entre 1897-1911 e do governador do Estado, Augusto Montenegro, (1901-1909) aliado de Lemos e seu homem de confiança na manutenção de sua liderança dentro do Partido Republicano Paraense.

O principal sustentáculo dessas transformações foram as rendas provenientes do imposto de exportação do látex, produto de forte demanda nos mercados internacionais, utilizado, principalmente, na indústria automobilística, que terá um avanço surpreendente com a criação da indústria de montagem, através do processo denominado de fordismo. Para Fábio de Castro, “a renda interna da Amazônia cresceu (...), [entre 1860 e 1920] em torno de 2.800%. A renda per capta da região, que em 1910 fora calculada 323 dólares, para decair, na década seguinte, a 74 dólares (...) superior, na última década do século XIX, aos valores estimados para diversas cidades da América Latina”. 16

Grandes casas aviadoras adiantaram mercadorias aos seringueiros, extratores de borracha que, por sua vez, entregariam a crédito mercadorias essenciais para a extração do látex ao seringueiro. Este trabalhador da floresta, obrigado a comprar mercadorias no barracão geralmente do seringalista, acabava por cair numa dependência nesse sistema conhecido como aviamento.

Seringueiros eram inicialmente os índios da região e, mais tarde foram aos poucos sendo substituídos pelo chamado “brabo” 17, imigrante nordestino, principalmente do Ceará premido pelas inúmeras secas da região, ou pela busca do eldorado. As casas aviadoras situadas em Belém e Manaus por sua vez ficavam na dependência de bancos estrangeiros, que eram responsáveis também pela exportação da borracha, principalmente junto a mercados

16 CASTRO, Fábio Fonseca de. Op. Cit., p.16

17O termo é encontrado para caracterizar o imigrante nordestino, principalmente cearense mais fácil de

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norte-americanos e londrinos, monopolizando, portanto, os preços do produto em detrimento do fornecedor local.

A queda rápida do preço da goma aconteceu a partir de 1911 devido, entre outros fatores, a concorrência das plantações de seringueira do Oriente. A fragilidade das elites locais em propor um projeto alternativo de investimentos de capitais em outras atividades, causou grande repercussão nas finanças públicas, mas não necessariamente, na economia regional. Essas mudanças influíram nos modos de vida dos diversos sujeitos sociais que conformavam a complexidade do cotidiano urbano belemense. O aparato educacional e, entre eles, principalmente, a Escola Normal, terá um papel importante na tentativa de legitimar práticas e representações das elites.

Ver-se-á, dentro da Escola Normal, como em algumas ocasiões a sua organização interna foi modificada, − como transformação de dois turnos em um, diminuição de disciplinas e anos, facilidade ou dificuldades de ingresso −, para adequar-se aos interesses das elites e do alunado, o que evidencia a hegemonia como um campo de forças sempre tenso e mutável. 18

Em relação ao alunado, observa-se sua intensa feminilização, pois com baixos salários afastavam-se os homens da carreira e estimulava-se às mulheres a ocupar a profissão docente no ensino primário que era vista como uma continuação da maternidade. O interesse feminino também na carreira como uma das poucas possibilidades de atuação pública feminina legitimada é outro desses fatores.19 Interessante não perder de vista a argumentação de Almeida ao afirmar que o propalado prestígio da profissão de normalista seria um mito. Para corroborar essa afirmação cita Ana Maria Bandeira de M. Magaldi que mostra que um estudo realizado sobre as representações femininas nas obras de Machado de Assis e Aluísio de Azevedo que:

18 Dentro do cotidiano escolar, pode-se dialogar com a obra de Foucault principalmente em Vigiar e Punir,

quando assinala que: “‘disciplina’ não pode se identificar com uma instituição nem com um aparelho; ela é um tipo de poder, uma modalidade para exercê-lo, que comporta todo um conjunto de instrumentos, de técnicas, de procedimentos, de níveis de aplicação, de alvos; ela é uma ‘física’ ou uma ‘anatomia’ do poder, uma tecnologia”. Todavia, percebe-se que a concepção do poder fragmentado, capilar, em Foucault, acaba por não dar conta de reações e táticas que se mostram no espaço onde se organiza a educação formal. Para esses jogos de resistências ou astúcias trabalha-se com Michel de Certeau quando aponta caminhos para se enfrentar as estratégias do poder. Segundo ele, as pessoas burlam formas de dominação, utilizando-se de táticas, pequenas ações astuciosas que acabam por driblar os mecanismos de poder. Ora, isso pode ser perfeitamente rastreado dentro do cotidiano escolar. Nestes termos vale conferir: “A tática não tem por lugar senão o outro. Não tem meios para se manter em si mesma, à distância, numa posição recuada, de previsão e convocação própria: a tática é movimento ‘dentro do campo da visão do inimigo’. Aproveita as ocasiões e delas depende, sem bases para estocar benefícios, aumentar a propriedade e prever saídas. O que ela ganha não se conserva. É astúcia”.

19 Chamon propõe que a convocação das mulheres ao Magistério na primeira metade do século XIX em Minas

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“a profissionalização da mulher proveniente dos segmentos sociais médios e dominantes, representada principalmente pela função de professora, era, naquele contexto social uma hipótese remota, apenas admitida como solução em caso de extrema necessidade muito imperiosa e, mesmo assim significando quase uma vergonha para a mulher ou a família que a adotasse.” 20

A documentação utilizada foi inicialmente encontrada no endereço eletrônico: www.crledu/content/provopgn: Brasilian Government Documents Digitization Project-ProvincialPresidencial Reports, onde estão disponíveis relatórios de governadores e presidentes provinciais do Brasil e dos presidentes da república de 1830 a 1930. Foram feitos alguns levantamentos no Arquivo Público do Estado de São Paulo onde se encontrou apenas um relatório da diretoria de instrução do Pará do período imperial.

No Pará, investiu-se na consulta ao arquivo existente na sede do Instituto de Educação do Estado do Pará, nome atual da antiga Escola Normal. Interessante enfatizar que documentos citados em obras anteriores a respeito da história da escola já tinham desaparecido, sucumbidos por traças, humidade ou, até mesmo dissídio de funcionários.

Após dois anos apenas, ao se voltar para checar alguns dados no IEEP, a situação da documentação tinha ficado ainda pior, se isso fosse possível. Acredita-se que mais uns cinco a dez anos, ou menos, terão desaparecido. Pensar que pesquisadores que queiram dialogar com esse trabalho e necessitem dessas fontes, venham no futuro a encontrar algumas apenas aqui, como informação de segunda mão, é absolutamente deplorável.

Havia uma tradição que perdurou por décadas, de colocar em fotografias os alunos e autoridades da escola como registro de formatura, e depois emoldurá-las. Havia dezenas desses quadros pelos corredores e salas da instituição. Após a última reforma, sobraram poucos retratos quase nada, esmaecidos, jogados num depósito. Pôde-se, a duras penas, literalmente catar como se fosse num enorme lixão, um desses quadros referentes à turma de 1911.

A pesquisa na escola durou mais ou menos sete meses e o material foi classificado por temas. No Arquivo Público do Estado do Pará foi realizado o trabalho com a documentação substancial a respeito do cotidiano escolar. A arrumação das caixas foi modificada no decorrer desse trabalho. Muitos documentos foram encontrados com o título de Educação: Escola Normal, agora permanecem com o título Secretaria de Governo, o que atrapalhou um pouco a investigação. Partiu-se em seguida para os jornais microfilmados no Centro Cultural Tancredo Neves (CENTUR). Esse material do jornal serviu para confrontar as

20 MAGALDI, A. M. B. p.68 Apud. Jane Soares de. Mulher e educação: a paixão pelo possível. São Paulo:

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falas oficiais dos relatórios, ou mensagens de governadores, e rastrear práticas que estariam contrariando as expectativas de práticas e discursos das elites no poder.

Assim, as fontes documentais com as quais a pesquisa afunilou diálogo foram: a) relatórios de presidentes de província, diretores e mensagens de governadores; b) relatórios de diretores de instrução; c)legislação; d) ofícios, correspondência, requerimentos, etc. e) periódicos; e f) iconográficas como fotos e mapas.

Os diferentes sujeitos sociais da Escola Normal no período, sejam suas alunas e alunos, sejam funcionários, professores e direção, mostraram na documentação suas posições entre os diversos grupos dentro da instituição e entre a instituição e a administração do Estado do Pará. Esse último, muitas vezes, apesar de tentar traduzir o projeto modernizador de suas facções hegemônicas, era obrigado a recuar, negociar ou em outras ocasiões a enfrentar e impor-se.

A pesquisa foi estruturada da seguinte forma: Capítulo 1: A Escola na Cidade; 1.1. Algumas palavras para começar. Uma breve apresentação sobre o tema; 1.2. (Re) nasce a Escola Normal: percepções do primeiro diretor. Nesta parte trabalha-se o documento de fundação da Escola Normal de 1890, logo em seguida a descrição do processo de fundação utilizando o relatório de seu primeiro diretor. Em seguida, tendo com subtítulo 1.3. A Modernização da Cidade em Modernização se discutiu o processo de modernização pelo qual passou a capital paraense, principalmente entre 1897 e 1911, identificando modificações culturais, resistências e composições urdidas entre os diversos sujeitos sociais, frente ao projeto urbanístico em expansão. Utilizam-se aqui principalmente as mensagens governamentais, geralmente anuais, entre 1891 e 1913 encaminhadas aos congressos estaduais, bem como alguns jornais. No item 1.4. Entre o trono e a “Ordem e o Progresso”,

procura-se apresentar as diferenças ou continuidades entre a educação imperial e a do período republicano e o papel atribuído à Escola Normal. De grande utilidade foi o Relatório de José Veríssimo, apresentado ao governador do estado em 1890, alguns meses depois da instalação do novo governo republicano no Pará e os relatórios e mensagens de presidentes e governadores. Outras fontes utilizadas foram: o Censo de 1890, os relatórios de presidentes, mensagens de governadores jornais como O Diário de Notícias, O Democrata, A Província do Pará, todos situados em datas importantes relacionadas à Escola Normal.

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explorando/dialogando com as diversas grades curriculares, horários, as diversas leis que modificaram a estrutura e organização da Escola Normal e os diários oficiais. Conta-se ainda com a análise da construção de seu primeiro prédio e de sua profunda reforma, ocorrida durante o governo de Augusto Montenegro. Importante para essas discussões é o livro de Souza, Templos de Civilização, para a análise da estrutura do prédio e sua dimensão simbólica21. Os relatórios de presidentes, mensagens de governadores, jornais como O Diário de Notícias, O Democrata, A Província do Pará foram fundamentais no que se refere às notícias e editoriais também imprescindíveis. Analisam-se ainda fotos de formatura. O capítulo está subdividido em 2.1. As Escolas Normais. 2.2 A Escola Normal Republicana: viveiro de mestres”; 2.3. Agentes Escolares e seus perfis; Nesse último item procura-se rastrear os critérios de nomeação dos diretores, professores, sua condição social e as prováveis relações com as elites políticas locais . Aqui, a análise da documentação interna da antiga Escola Normal, como correspondências, diários oficiais, mensagens de governadores, fotos de alguns diretores de Instrução e de diretores foi fundamental.

O terceiro capítulo tem a seguinte constituição: A (o) s Alunas (o) s em Conflitos internos, subdividido em: 3.1. Os critérios de ingresso e exames; 3.2. As alunas predominam. 3.4. Origem social e étnica da(o)s normalistas. 3.5. Conflitos e acomodações. Neste capítulo foi particularmente importante a contribuição de Certeau para o estudo e percepção das estratégias e táticas no cotidiano escolar.22 A documentação explorada foi a existente na própria escola, como O Livro Negro, registro de punições do alunado entre 1895 e 1914, jornais onde foram noticiadas, além da documentação que consta no arquivo público: correspondência e ofícios da antiga Escola Normal, Entrada de Papéis: 1912-1917, entre outros. A pesquisa nessa documentação permitiu encontrar os critérios de ingresso dos alunos, a razão da predominância de mulheres, o processo de elitização da escola, a origem étnica e social do alunado e as tensões e negociações internas.

Como capítulo final: Representações da Escola nas Lentes da Cidade , subdividido

em: 4.1. Relações entre a Escola e instituições externas; 4.2. A Escola entre Símbolos e Ritos e 4.3. A Escola nos Olhares da Cidade e 4.4. Futuro do Pretérito. Nessa parte, procurou-se rastrear as tensões entre os interesses corporativos da instituição e outras estâncias externas de poder, o significado e a importância do prédio, o papel das festas de formatura, do anel de grau e do uniforme, e a avaliação da opinião pública sobre a instituição.

21 SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de Civilização: a implantação da escola primária graduada no estado de

São Paulo (1890-1910). São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.

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As discussões ampliam-se com o exame da representação da escola e das alunas no cotidiano da cidade e os rumos tomados pela escola a partir de 1920. As fontes que serviram de aporte empírico para a compreensão das questões norteadoras desse capítulo foram ofícios, correspondências, encontrados nos arquivos públicos e da escola além de jornais, principalmente a Folha do Norte, revistas encontrados no Arquivo público e no Centur e suplemento literário.

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CAPÍTULO I: A ESCOLA NA CIDADE

1.1 Algumas Palavras para Começar1

(...) considerando o estado em que se acha a Instrução Publica entre nós, que é de verdadeira miséria intelectual e material;

Considerando que o primeiro dever de um Governo republicano é providenciar sobre esse ramo da administração de primeira necessidade, em qualquer estado civilizado, dotando o ensino público com reformas práticas, adequadas ao aperfeiçoamento moral, intelectual e material da população;

(...) Considerando que a preparação dos mestres acha-se reconhecida por toda a parte como condição essencial de toda boa educação popular que a historia da instrução considera incapaz todo o sistema de ensino público, que não estabeleça pelo menos uma escola normal para a instrução de todos os mestres empregados, que ensine a ensinar e eduque no método de educar, ─ e como a primeira medida do plano geral da reforma e reorganização o ensino publico d’este Estado, resolve decretar:

Art. 1º ─São criadas n’esta capital duas Escolas Normais para o ensino primário, sendo uma para professores e outra para professoras.

Art.2º ─Essas escolas serão regidas pelo Regulamento n’esta data aprovado.2

Era fevereiro de 1890, o Governo Provisório republicano acabava de tomar posse e decretava a criação da Escola Normal. No decreto está contida a ideia de um recomeço ou de um verdadeiro início para a educação pública no estado, dada as condições calamitosas que os republicanos a teriam encontrado. Era evidente também a associação que os denominados positivistas faziam entre progresso e educação. No final, a equação melhoria da educação e o aprimoramento da formação de professores repetia uma velha ladainha enunciada por várias autoridades públicas desde os tempos imperiais.

1 EN. Sobre aquestão da fundação ou refundação da EN é preciso assinalar que: Em 1839, pelo Decreto de n. 33

era autorizada a criação de uma EN no Pará. Este decreto levou GONDRA. Op. Cit. pp.188-189, a respeito das datas de criação e desenvolvimento das escolas normais no Brasil, na época imperial, a afirmar sua fundação no ano de 1839, tendo confundido autorização com inauguração. Na verdade, em 13 de abril de 1871 foi criada a EN no Pará, instalada em 3 de maio de 1871 e iniciado seus trabalhos em 05 de junho do mesmo ano. Em 19 de outubro de 1872 foi extinta, pelo decreto de n. 557. Em portaria de 09 de junho de 1874, foi recriada e novamente extinta pelo decreto de n.1224 de 3 de dezembro de 1885, quando foi anexada ao Liceu. No entanto, a Escola Normal é vista por uma tradição, mesmo tendo mudado de denominação e extinta em dois momentos, como uma única instituição que tem como marco fundador o ano de 1871. Daí os festejos do seu centenário em 1971. O carimbo, hoje utilizado, se reporta a esse momento inaugural. No entanto até 1968 tinha se perdido a data do início da primeira escola. Nas comemorações dos festejos da escola nesse ano, o professor Altamir Souza teria comunicado ao diretor da escola, Dionísio Hage que a data de fundação seria a de 1871. A partir daí é que começou a contagem desde esse ano. Ver SOUZA, Altamir. Op. Cit. Da mesma forma como o Brasil é visto na condição de já existente desde a chegada dos portugueses e não como uma construção que se vai fazendo e refazendo permanentemente, está-se diante de uma construção de memória ancorada em documentos oficiais. Para o levantamento de documentos reporta-se a GONDRA. Op. Cit. e REGO, Orlando L. M.de Moraes. Síntese Histórica do Instituto de Educação do Estado do Pará. Belém: Gráfica Sagrada Família, 1972 e SOUZA, Altamir. Apontamentos para a História do Instituto de Educação do Pará. Belém, 1972. Obras aparecidas por ocasião do centenário da EN de cunho fortemente “positivista”, mas as únicas com uma visão de conjunto.

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O documento também se reporta a um estado de “miséria intelectual e material”. Como se verá adiante, esse tipo de afirmação também aparece como uma tônica em quase todos os relatórios dos presidentes provinciais relacionados à educação, pelo menos desde 1840 quando foi apresentada uma avaliação extremamente pessimista a respeito do quadro educacional da então província do Pará. 3Nesse caso, os republicanos em seu entusiasmo de novo-crentes e ou de fundadores de um novo tempo, não estavam inovando em suas críticas. Evidenciava também, como condição de civilização, reformas educacionais para o ensino, visando o aperfeiçoamento moral, intelectual e material da população.

A partir desse ponto de vista pode-se perceber como a educação é representada pelo novo grupo político que acaba de chegar ao governo no Pará. O aperfeiçoamento da moralidade4 é a condição fundamental para o surgimento de cidadãos comprometidos com o progresso e a civilização, em seguida, a melhoria das condições intelectuais, imbuídas de uma moral. Finalmente, a melhoria das condições materiais, traduzida em prédios, praças, monumentos, espaços para a elite se ver e ser vista como teatros, praças, sempre como referência a sociedade da Europa Ocidental, principalmente a francesa e a inglesa.

Nesse universo, aparece implícita, uma visão de progresso, de tempo linear e de um otimismo da razão que alcançaria sua maior manifestação, através de uma prática educativa e, como corolário disso tudo, a melhoria das condições materiais da população e da pátria. Finalmente, para uma boa educação era necessária a preparação adequada de profissionais e aí a criação da Escola Normal justificava-se. É claro que se trata de um discurso que não é compartilhado por todos os sujeitos sociais da cidade e que é ressignificado e readaptado de acordo com as conveniências tanto das elites quanto das camadas populares.

É importante lembrar também que uma educação que juntasse homens e mulheres no mesmo espaço iria de encontro às concepções de moral mais recorrentes. Assim, embora a quantidade de alunos em relação às alunas da EN fosse irrisória e a coeducação já fosse

3Interessante observar que as mesmas jeremíadas são encontradas nos relatórios provinciais do Amazonas entre

1850 e 1890, segundo rastreamento efetuado por MOTA, Assislene Mota. Op. Cit.

4Conceito bastante recorrente em toda a documentação do período, embora com o mesmo significado em termos

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prática comum nas escolas brasileiras de moldes americanos, pelo menos nos primeiros meses serão duas as escolas normais: uma para homens e outra para as mulheres.

1.2. (Re)nasce a Escola Normal: Percepções do Primeiro Diretor

Paulino de Almeida Brito5 foi nomeado primeiro diretor da EN criada pelo decreto acima. Logo em seguida ele procurou os vestígios do que ele afetivamente chama de nossa escola: “Quando, por occasião da promulgação do Decreto n.29, de 4 de Fevereiro d’este anno, me encarregastes da organisação das Escolas Normaes por elle criadas, tratei (...) de verificar o que restava da nossa antiga Escola”.6 O diretor está se referindo aí a escolas normais em alusão a uma escola para homens e outra para mulheres.

Em seguida, conta o que teria acontecido com a escola anterior: “Como sabeis, esta [a antiga escola] tinha sido fundida com o Lyceu”.7 Mais adiante ele avalia que a incorporação da antiga EN ao liceu equivalia de fato à sua extinção. Ele prossegue com o levantamento do que restaria da antiga escola. “(...) reconheci que nada havia, a não ser o archivo, e esse mesmo todo lacunoso, com falta de muitos livros; assim mesmo os recolhi, dilligenciando reconstruil-o o melhor que era possível”. 8

Fica difícil relacionar a justificativa da criação da escola contida no decreto acima, de forma solene, com a improvisação de sua criação sem que houvesse nem ideia de onde deveria funcionar. Para ilustrar isso, Paulino de Brito afirma que:

“(...) procurei o local para as duas escolas, e voz propuz que provisoriamente funccionassem – a de professoras nos salões da frente do Collegio do Amparo, e a de professores nos compartimentos do edifício do Lyceuoccupados antigamente pela Biblioteca e museu, e que estavam soffrendo importantes reparos”. 9

5 Paulino de Brito, primeiro diretor da EN, em 1890, e também professor de português, recém-ingresso do

Partido Conservador, aproximou-se dos republicanos, tendo inclusive proferido uma conferência em que critica o ex-imperador Pedro II, o que foi motivo de ironia no jornal Democrata. Candidato derrotado da União Patriótica (união de democratas e antigos conservadores para disputar as eleições para o Congresso do Pará em 1891). Se tornará diretor interino em 1897, 1901, 1902, 1907 e 1911. Ver SOUZA, Altamir. Op. Cit.

6 BRITO, Paulino de. Relatório apresentado ao Governador do Estado pelo Director da Escola Normal, em

cumprimento do art.66°,§ 9º do Regulamento expedido para a execução do Decreto de 4 de Fevereiro de 1890 por Paulino de Almeida Brito, em 27 de novembro de 1890. In: VERÍSSIMO, José. A Instrucção Pública do Estado do Pará em 1890. Relatório apresentado ao Exmº Sr. Dr. Justo Leite Chermont governador do

Estado por José Veríssimo Director Geral. Belém: Tipografia Tavares Cardoso, 1890,p.179.

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É interessante observar que o Colégio Nossa Senhora do Amparo, localizado no bairro da Campina10, perto do porto em uma área cada vez mais comercial, era uma escola para órfãs e que mais de uma vez, no passado, tinha abrigado a sessão feminina da EN. Quanto ao prédio do Liceu, uma escola secundária pública, fundada em 1841, também foi utilizado para a sessão masculina da EN. Nesse mesmo espaço, havia ainda um curso equivalente ao normal.

Na verdade, pouco se inovava a respeito da formação de professores no início do governo republicano. A respeito do material para a nova instituição, por exemplo, Paulino de Brito expõe suas ações: “(...) tratei da acquisição do material indispensável, mandando abrir concurrencia publica para o fornecimento de mobilia e mais objetos necessários para o serviço das aulas, das escolas annexas, e da secretaria.11 Mas, em função de não ter aparecido concorrentes para o fornecimento de material: “(...) comecei por voz autorizado [o governador] a fazer acquisição desses objetos nas casas que mereciam-me (sic) maior confiança”.12

Resta saber o que o diretor entendia por confiança. Relações de amizade? Estabelecimentos comerciais considerados os melhores a oferecer em termos de preço e qualidade dos materiais e avaliados por pessoas tecnicamente capacitadas? Ou, o pouco número de casas comerciais que dispunham de mercadorias adequadas, facilitaria a escolha? É preciso adotar uma atitude de cautela, uma vez que as obras públicas do estado até então estavam eventualmente suspeitas de superfaturamento. 13

A seguir, Paulino de Brito, relata o início efetivo das aulas. “Sendo de toda conveniência inaugurar quanto antes as duas escolas, começou a funccionar no dia 20 de Maio [portanto três meses depois do decreto] a de professoras, na parte do Collegio do Amparo que lhe estava destinada”.14Quanto a dos meninos: “Não foi possível inaugurar-se na mesma data a Escola de professores em razão de continuar em obras a parte acima referida do Lyceu

10 O segundo distrito da capital compreendia o bairro da Campina, subdividido em duas áreas: Comércio, à beira

do porto e Campina propriamente dita a partir do aterramento do igarapé do Piri.Desde o século XVII, ambos os setores fortemente comerciais e mais o bairro do Reduto, fortemente operário. A EN republicana situava-se no bairro da Campina, às proximidades do Reduto. Em relação ao bairro da Campina: “(...) cujas construções antigas iam, aos poucos, sendo substituídas por novos e imponentes prédios modernos”. CASTRO, Fábio. Op. Cit., p.139.

11 BRITO, Paulino de. Op. Cit., p.180. 12Idem.

13 Está-se reportando aqui a SILVEIRA, Rose. Histórias Invisíveis do Theatro da Paz: da construção à

primeira reforma do Grão Pará (1869-1890). Belém: Paka-Tatu, 2010. Este livro nasceu de sua dissertação de Mestrado em História Social, apresentada ao Programa de Pós-Graduação de História na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 2009, sob a orientação da Profª Drª Estefânia Knotz Canguçu Fraga. Nesta obra, a autora se refere que houve suspeitas de superfaturamento do Teatro da Paz de quase 100%.

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Paraense”.15 Mas “Já a este tempo a secretaria das escolas Normaes estava installada convenientemente, e funccionava n’um dos salões antigamente occupados pelo Museu”. [dentro do prédio do Liceu].16 Referia-se, ainda, a imprensa oposicionista por denunciar que os professores da EN estavam recebendo sem trabalhar o que o levou a afirmar: “a demora que houve na installação das aulas não pode ser prevista, (...) si não funccionavam as aulas, funccionava a congregação, o que era indispensável para os trabalhos preliminares”.17

No entanto, em 23 de julho de 1890, segundo o decreto de nº 165, alegava-se que a quantidade de alunos era muito inferior a das alunas e que não haveria impedimento pedagógico em uni-las, “as escolas normaes(...) ficam constituidas em uma só, comum a ambos os sexos (...)” Artigo I.18 Assim, Paulino de Brito diante das implicações desse decreto:

“Não offerecendo espaço conveniente a parte do Collegio do Amparo em que funccionava a Escola Normal das professsoras, nem convindo de modo algum os compartimentos do Lyceu ás Escolas d’este modo fundidas em uma só para ambos os sexos, tratei de procurar casa para esse fim”.19

Mais uma vez fica evidente o caráter de improvisação. Longe, portanto, de corresponder ao grandiloquente decreto de fundação. A casa arrendada sem que fosse explicado o critério de localização, “(...) precisava de asseio e reparos, e feitos estes, á custa do Estado, passei imediatamente para ali a Escola Normal”.

Quanto à questão da unificação da escola entre meninos e meninas o diretor tentou dirimir quaisquer dúvidas a respeito de sua moralidade numa escola normal, que se não foi a primeira, foi uma das pioneiras do Brasil a reunir meninos e meninas.20

“Tomei todas as providencias que me pareceram acertadas para a manutenção da disciplina, ordem e moralidade. Os alumnos foram conservados inteiramente separados das alumnas, em compartimentos distinctos, e só estando em comum com ellas nas aulas, sob a vigilância dos professores e inspectores”. 21

Interessante constatar, diante dessa afirmação, os depoimentos em Ordem e Progresso de Gilberto Freire, a respeito dos atos considerados de “safadeza” praticados nas escolas primárias públicas no Brasil entre meninos, segundo Astrojildo Pereira da Silva, nascido em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro em 1890. “O primeiro [colégio] ‘público’, com

15 BRITO, Paulino de. Op. Cit., pp.180-181 16 Idem, p.181.

17Idem,Ibidem.

18 A EN do Amazonas, fundada pelo regulamento de n.º 42, de 14 de dezembro de 1881, já era para ambos os

sexos. Ver MOTA, Assislene. Op. Cit.,p. 77.

19 BRITO, Paulino de. Op. Cit., 183-184.

20Isso pode ter acontecido possivelmente pela influencia de José Veríssimo, diretor de Instrução Pública, que

tinha sido diretor proprietário de uma escola em estilo americano que já utilizava o ensino misto.

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professor ‘austero’. Brincadeiras ‘vulgares’. ‘Bastante safadeza’. No colégio particular onde continuou os estudos primários(...) havia ‘mais camaradagem e menos safadeza nas brincadeiras’”. 22

O diretor enumerava as punições disciplinares que não teriam sido muitas, aplicadas pela Congregação, a seu pedido. Afirmava ainda que o encerramento das aulas teria ocorrido no dia 14 de novembro, seguido de exames “salutarmente rigorosos”. Elogiava a instituição, mas também apontava a necessidade de um gabinete de física e um de química, livros para a biblioteca principalmente, e terminava: “Das necessidades actuaes da Escola a mais palpitante é, certamente a de um edifício sufficientemente vasto onde ela possa funccionar com todas as suas dependências”. 23

Mas em que território se inseria essa escola? Em que contexto político cultural? Quais os diálogos entre essa instituição e a cidade na qual estava inserida? São questões como essas que se procurará responder a seguir.

22 FREYRE, Gilberto. “Ordem e Progresso: introdução à História da Sociedade Patriarcal no Brasil”. In:

SANTIAGO, Silviano. (coordenador) Intérpretes do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Aguilar S/A. 2002, pp. 314-315.

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1.3. A Cidade em Modernização

O processo de modernização da cidade de Belém, na época da intensa exportação do látex, segundo Fábio Castro, teria sido periférico.

“(...)três temas fundamentais(...)da experência moderna ressurgem alegoricamente, na intersubjetividade de Belém. O elogio do impulso criador e inovador e a percepção do plano social em sua totalidade... decodificados em diversas atitudes da burguesia (... )e do poder público”.24

Isso se traduziria pelas “reformas urbanas, o estilo eclético, o planejamento da expansão industrial e comercial, reforma e ampliação do equipamento citadino, políticas de formação e educação, práticas de higiene privada ou pública, estratégias de zoneamento social, com formação de guetos para imigrantes(...)25E, finalmente, o último tema que o autor retira de Marshall Berman, a sensação vivida pelas pessoas da modernidade de ganho e perda.”Fascínio... repúdio”26.

No entanto, discorda-se do argumento do autor quando afirma que “(...)Tal como a experiência histórica de diversas outras modernidades periféricas espalhadas pelo mundo, a modernidade belemense aconteceu “de forma irregular, vacilante, distorcida e, sobretudo, flagrantemente destinada ao fracasso”.27Pois, acredita-se que não existem ideias fora do lugar, reportando-se a um clássico debate a respeito do liberalismo no Brasil.28 Interessante foi a observação de um geógrafo brasileiro a respeito da Constituição brasileira de fevereiro de 1891 em tentar imitar servilmente a norte-americana, pois de nada adiantaria uma vez que ela: “não dará aos brasileiros o espírito anglo saxônico; cada artigo da Carta há de ser interpretado segundo o modo de pensar, as tradições, os costumes e as paixões dos sul-americanos, filhos de portugueses”.29

Além de que, como o modernismo é substantivamente algo incompleto, contraditório, mutável, o que existiu aqui em Belém foi de acordo com as possibilidades e conflitos entre diversos projetos dos grupos hegemônicos locais e, portanto, distinto do que

24. CASTRO, Fábio Fonseca de. Op. Cit., pp. 127-128. 25Idem, p. 128.

26Idem, Ibidem. Fábio Castro se refere aqui à obra clássica de BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido se

desmancha no ar. A Aventura da Modernidade. São Paulo. Companhia das Letras, 1992.

27 CASTRO, Fabio Fonseca de. Op. Cit., pp.131-132. Acrescentou-se negrito.

28 SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as Batatas. São Paulo: Duas Cidades, 1977. Renato Ortiz afirma que o

uso das teorias estrangeiras é seletivo e serve para tentar explicar e justificar a sociedade brasileira concreta. ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira & Identidade Nacional. São Paulo: Brasiliense, 2003. “O processo de ‘importação’ pressupõe, portanto uma escolha da parte daqueles que consomem os produtos culturais. A elite intelectual brasileira, ao se orientar para a escolha de escritores... na verdade não está passivamente consumindo ideias estrangeiras. Essas teorias são demandadas a partir das necessidades internas brasileiras...”.p. 30.

29 RECLUS, Eliseu. Geografia do Brasil apud VERÍSSIMO, José. A Educação Nacional. 3ª ed. Porto Alegre:

Imagem

Foto nº 01. Aula Primária no Instituto Orfanológico, primeira década dos 1900.
Foto  nº  02.  Fachada  da  Escola  Normal  (1893-  1933).  Arquivo  da  Pesquisa, capturado em 2007
Foto  nº  3.  Fachada  esquerda  da  Escola  Normal.  Arquivo  da  Pesquisa,  capturado em 2007
Foto  nº 04.  Dr.  Eladio  Amorim  Lima,  diretor da  EN 1912-1917(quadro  de formatura s/d)
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