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Conflitos e estratégias sociais em torno da liberdade: famílias escravas em Mangaratiba no século

Manoel Batista do Prado Junior*

A família oitocentista: múltiplos significados e debates historiográficos

(...) Em geral, os colonos facilitam os casamentos entre os ca- tivos, pois sabem, por experiência, que é a melhor maneira de prendê-los às fazendas e a mais forte garantia de sua boa con- duta (...) as mulheres casam-se com catorze anos, os homens com dezessete a dezoito; em geral incentivam-se esses casa- mentos. As jovens mulheres participam dos trabalhos no campo e aos recém-casados se dá um pedaço de terra para construir sua cabana e plantar, por conta própria, em certos dias. (...) além dos domingos e festas, concede-se-lhes ainda o sábado, para trabalhar para si, de modo que a maioria logo reúne economias para comprar a liberdade. Neste caso, ou quando morre o escra- vo, é-lhe permitido legar sua roça a quem bem entenda, embora sobre ela não tenha nenhum direito de propriedade.1

Inúmeras expedições de viajantes aportaram em terras brasílicas ao longo do século XIX, onde investigaram as paisagens, catalogaram elementos botânicos e descreveram costumes. Eram todos contemporâneos da escravidão e o Brasil atraíra seus olhares em função da legitimidade e estruturação dessa instituição já no avançar dos oitocentos. O pintor e escritor alemão Johann Moritz Rugendas talvez seja um dos mais conhecidos, famoso por sua Viagem pitoresca ao Brasil, iniciada em 1821 e publicada em forma de livro em 1835. Apesar de todas as vicis- situdes inerentes ao discurso de grande parte desses viajantes, outrora apontadas por Robert Slenes2, inicio este texto com uma passagem da obra de Rugendas na qual figuram elementos já bastante trabalhados na recente historiografia brasileira da escravidão, como as famílias escravas e o acesso à liberdade.

*Bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, é aluno do curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense e bolsista de mestrado do CNPq.

1 RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil. São Paulo: Círculo do Li-

vro, s/d. [1835] pp. 238-241

2 SLENES, Robert. Na senzala uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava – Brasil, Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

As linhas extraídas da obra de Rugendas nos suscitam um amplo debate há tempos presente na historiografia sobre as possíveis significações das famílias es- cravas para as sociedades escravistas e suas eventuais relações com a estruturação ou não do escravismo no Brasil. A formação familiar dos cativos foi alvo de preo- cupação dos senhores no Brasil oitocentista e, para os pesquisadores contempo- râneos, ainda suscita profícuos questionamentos. Esta se encontrava diretamente relacionada às negociações, conflitos, formação de identidades e estabilização do cativeiro, sendo subsídio para a maior parte das conquistas cotidianas dos escra- vos, bem como para as experiências de liberdade. João José Reis e Eduardo Silva, por exemplo, se propuseram a analisar a função ideológica da brecha camponesa entendendo-a inserida em uma política de incentivos senhoriais, e, em função dis- so, permeada por uma lógica de busca de controle por parte dos senhores.3 Com base nos escritos de Francisco Peixoto de Lacerda Werneck4, o barão de Pati do Alferes, os autores chegaram à conclusão de que a roça dos escravos estava inse- rida em uma relação paternalista cuja prerrogativa básica era a manutenção do escravo na propriedade, ao mesmo tempo que poderia resultar em tensões em torno da permanência de direitos tidos como adquiridos pelos cativos. O barão de Pati do Alferes já indicava que “o fazendeiro deve, o mais próximo que for possível, reservar um bocado de terra aonde os pretos façam as suas roças; plantem seu café, o seu milho, feijões, bananas, batatas, carás, aipim, canas etc.”5

Ao que parece, as observações de Rugendas que servem como ponto de par- tida a este texto guardavam relações com alguns dos objetivos dos senhores em incentivar a formação de famílias escravas, se as compararmos com as recomenda- ções do barão de Paty do Alferes. Fica clara a articulação entre o casamento, a for- mação de famílias nucleares e extensas e as possibilidades abertas para escravos e senhores por essas decisões. Não obstante destacar o papel senhorial na formação desta instituição, é fundamental que busquemos compreender a lógica de estrutu- ração de famílias para os cativos. Afinal, antes de se configurar como elemento de controle senhorial, as famílias passavam por escolhas e representavam cosmolo- gias, heranças e recordações para os escravos africanos e crioulos.

3 REIS, João José e SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escra- vista. São Paulo: Cia das Letras, 1989.

4 WERNECK, F.P.de L. Memória sobre a fundação de uma fazenda na província do Rio de Janeiro (1847). Eduardo Silva (org.). Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa / Senado Fede- ral, 1985. É interessante a análise realizada por Rafael Marquese sobre a atuação dos senhores de escravos ilustrados e a circulação de informações no Atlântico. Cf: MARQUESE, Rafael Bivar. Fei- tores do corpo, missionários da mente. Senhores, letrados e o controle dos escravos nas Américas, 1660-1860. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

5 WERNECK, op. cit. p. 16, apud. REIS, João José e Silva, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Cia das Letras, 1989.

Luiz Agassiz, outro viajante, que esteve no Brasil entre 1865 e 1866, presen- ciou um “casamento de negros”, como intitulara. Com todos os preconceitos e ob- servações sobre a suposta inferioridade intelectual dos pretos, em grande medida característica de parte desses viajantes, o autor descreveu uma cena na qual o casamento acontece com um padre não muito cordial e bastante diferente do que seria um casamento de brancos. No entanto, salienta um aspecto interessante: “O novel esposo já era um liberto; a sua esposa foi libertada e recebeu ainda da libera- lidade do senhor um pequeno terreno como dote...”6. Com todas as ressalvas com que devemos observar os relatos dos viajantes do século XIX sobre a escravidão, uma situação como essa não parece incomum na sociedade brasileira oitocentista. Conjecturando sobre o caso abordado por Agassiz, podemos supor que essa escra- va gozava de prestígio dentro da escravaria e, talvez por isso, casara-se com um li- berto, obtendo inclusive um dote. Podemos ainda ir além e nos questionarmos so- bre as possibilidades que a família escrava abria aos cativos para a consecução de experiências de liberdade, o que nos permite entremear os limites e possibilidades cotidianas que esta legava aos escravos para além de um maior controle senhorial.

Tendo em mente a existência de situações como esta em inúmeras regiões e em recorrências variadas, cabe-nos questionar quais as possibilidades de obtenção das liberdades no Brasil do século XIX e, dentro desse cenário, qual a significação da formação familiar dos cativos para a consecução desses objetivos.

A família pode ser compreendida como determinante para o acúmulo finan- ceiro e simbólico, que poderia ser ativado em determinadas situações.7 Era, por- tanto, um agente econômico; além, é claro, de ser primordial para o estabeleci- mento de qualquer produção de tipo camponês.8 Nesse sentido, era fundamental em todos os seguimentos da sociedade, entre senhores, escravos ou libertos.

Atualmente, não se discute mais a capacidade dos cativos de serem sujei- tos ativos nos processos sociais nos quais estiveram envolvidos. No entanto, per- manece um debate, em relação à existência ou não de laços culturais africanos, que, grosso modo, ligariam tais cativos em torno de uma comunidade formada nas escravarias ou até mesmo, ainda na viagem da África ao Novo Mundo.9 Pode-se afirmar que a grande polêmica encontra-se em torno da existência ou não de uma comunidade de escravos e da supervalorização ou não de uma herança africana,

6 AGASSIZ, Luiz. Viagem ao Brasil. Brasília: Senado Federal, 2000. [1865] p, 145.

7 VILLA, Carlos Eduardo Valencia. Produzindo alforrias no Rio de Janeiro no século XIX. Dis-

sertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008.

8 Cf: CHAYANOV, Alexander. Sobre a teoria dos sistemas econômicos não capitalistas. In:

GRAZIANO, José e STOCKE, Verena. A Questão Agrária. São Paulo: Brasiliense, 1981.

9 SLENES, Robert W. “‘Malungu, ngoma vem!’: África coberta e descoberta no Brasil”. In: Revista USP. São Paulo: n. 12, dez. 1991/fev.1992, pp. 48-67.

que se encontra diretamente relacionada a distintas maneiras de se analisar as trocas e heranças culturais.

Para o caso brasileiro, Manolo Florentino e José Roberto Góes buscaram de- monstrar as enormes dificuldades para a formação de uma comunidade escrava em detrimento de um estado de guerra, reiterado pela constante chegada de es- trangeiros oriundos da África para as plantações. Nessa concepção, uma instituição como a família escrava teria um papel fundamental na manutenção estrutural da escravidão, como elemento pacificador e estabilizador das senzalas proporcionan- do um ganho de renda política aos senhores. Os autores produziram sua análise salientando as diferenças étnicas dos africanos desembarcados no Sudeste brasi- leiro ao longo da primeira metade do século XIX e os usos que os senhores, habil- mente, fizeram dessas distinções. No entanto, salientaram também a necessidade de constituição de famílias e parentelas, como lócus de formação de instituições e meios que possibilitaram a estabilização do regime escravista e desempenharam papel primordial na formação social do escravo, viabilizando a reprodução do sis- tema escravista.

Hebe Mattos abordou a formação de uma cultura escrava como não ho- mogênea, na medida em que se formulava uma distinção prática entre crioulos e africanos, tendo sido gerados ganhos cotidianos muito maiores para os primei- ros, baseados, sobretudo, em uma política de incentivos. De acordo com a autora, deve-se a este fato o maior poder de barganha que os crioulos possuíam frente aos senhores nas negociações em torno das alforrias e possibilidades de aproximação com experiências de liberdade, em detrimento dos africanos recém-chegados. A autora vislumbra, sobretudo na segunda metade dos oitocentos, a superação das diferenças étnicas entre os escravos no Brasil, fruto do processo de crioulização. No entanto, Mattos matiza tais relações, não postulando a existência de uma co- munidade homogênea, em virtude, até mesmo, de hierarquias sociais que se ins- talavam dentro das próprias senzalas, entre crioulos e africanos. Outrossim, isto não faz com que Mattos chegue à conclusão de que a família desempenhou papel fundamental na reprodução estrutural do escravismo por meio apenas de sua uti- lização pelos senhores, e sim, que esta serviu também como poder de negociação e fortalecimento dos mancípios em seus ganhos cotidianos e possibilidades de mo- bilidade social.10

Diferentemente de Mattos e Florentino & Góes, Robert Slenes sustenta em suas análises a formação de uma comunidade escrava baseada em sólidas heran- ças africanas. O autor afirma que não haveria um estado de guerra inerente aos

10 Conferir CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Das cores de silêncio: significados da liberdade no sudeste escravista. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1993.

escravos que chegavam da África ao Brasil, e que, longe de serem marcadas por grandes distinções culturais, as etnias africanas que chegaram às unidades pro- dutivas do Sudeste na primeira metade do século XIX possuíam elementos cos- mológicos e linguísticos muito semelhantes, o que teria facilitado a formação de uma identidade e de afinidades baseadas na experiência.11 Nesse aspecto, pode-se inferir que o autor aposta na utilização do binômio sociabilidade/experiência para a compreensão das manifestações da herança africana no Sudeste brasileiro. Em sua análise, a família mancípia foi caracterizada tanto pelas possibilidades de auto- nomia que gerava no cativeiro quanto pela dependência. Tendo a concordar com o autor para o caso de Mangaratiba, cujas estatísticas de importação de africanos e cujos registros de batismo corroboram a tese da entrada maciça de africanos centro-ocidentais na primeira metade do século XIX, ou seja, de origem bantu.

Em face dessas discussões sobre quais seriam os significados da família para os africanos e brasileiros escravizados, pretos ou pardos, como bem inferiu Sheila de Castro Faria, existe um consenso: o de que era importante e objetivo de muitos mancípios a formação de famílias, e que, ao mesmo tempo instituindo o reforço de laços comunitários por meio da extensão das famílias e de alianças, esta também poderia representar a diferenciação pelos ganhos cotidianos. Nesse sentido, a fa- mília fatalmente era estratégica, e, muitas vezes, poderia representar a busca por previsibilidade e estabilidade. Como salientaram Florentino e Góes,

Pelo casamento e, antes ou depois, por meio do nascimento de uma criança escrava, vários indivíduos criavam ou estreitavam laços que, nas difíceis circunstâncias da vida em escravidão, eram laços de aliança. A mãe e o pai da “cria” (como aparecem nas fontes) viam reafirmando o propósito comum de juntarem suas forças de modo a melhor viver a vida possível. Ambos arru- mavam um compadre e, muitas vezes, uma comadre. E, talvez, cunhados, cunhadas, sogros e sogras. E se a criança, o que não era fácil, sobrevivesse até a idade de procriar, muito mais alar- gada ainda seria essa rede de laços de solidariedade e aliança. Parece óbvio que a criação de laços parentais fosse desejo de todos os escravos.12

11 SLENES, Robert W. Na senzala, uma flor...op. cit.

Mangaratiba e o litoral Sul-Fluminense: um breve histórico

Já balizadas essas questões, convido o leitor a uma breve caracterização do espaço no qual se investigarão tais processos. A Vila de Mangaratiba situa-se no que hoje se denomina litoral Sul Fluminense, em terras testadas entre o mar e a Serra do Piloto, donde tradicionalmente se dava caminho ao Vale do Paraíba. Data de 1764 a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba, então pertencente à comarca de Angra dos Reis. Foi no final do século XVIII que a fregue- sia ganhou um posicionamento de maior destaque dentro dos quadros da região, proveniente da produção de aguardente. Esta era responsável por 58% do total da produção da capitania, com cerca de 85% do total de engenhocas, o que sugere que a região encontrava-se inserida no tráfico de escravos, além da produção para o mercado interno.13

Mangaratiba gozou de grande florescimento econômico ao longo do século XIX. Já na primeira metade dos oitocentos era um importante entreposto escoador da produção de café que se desenvolvia no Vale do Paraíba e descia serra abaixo para seu porto, que também se encontrava vinculado às rotas do tráfico de escra- vos africanos. Dos pontos de desembarque existentes na região do rio Sahy e da Marambaia os cativos seguiam para os centros urbanos do interior e para a região cafeeira, pelo caminho que atravessava a Serra de São João Marcos. É interessan- te ressaltar ainda que Mangaratiba estava inserida nos domínios do comendador Joaquim José de Souza Breves, intitulado Rei do Café no Império. Este se declarava senhor e possuidor de vastas extensões territoriais na província fluminense, dentre elas a ilha de Marambaia, em Mangaratiba, propriedade que desempenhava im- portante papel na atuação do Rei do café no trato ilícito de africanos após 1831.14

A elevação de Mangaratiba à categoria de vila em 1831 veio acompanhada de um grande crescimento demográfico. Em 1821 a freguesia contava com 480 13 ALVEAL, Carmem Margarida Oliveira. História e direito: Sesmarias e conflito de terras entre índios em freguesias extramuros do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado, UFRJ, 2002. p. 132. Sobre o tráfico atlântico em sua fase de clandestinidade e a atuação da família Breves neste comércio, Cf: LOURENÇO, Thiago Campos Pessoa. O império dos Souza Breves nos oitocentos: po- lítica e escravidão nas trajetórias dos comendadores José e Joaquim de Souza Breves. Dissertação de mestrado, UFF, 2010.

14 Cf. MOTTA, Márcia Maria Menendes. Ilha de Marambaia: história e memória de um lu- gar. In: Campos em disputa. GUIMARÃES, Elione Silva. MOTTA, Márcia Maria Mendenes (orgs.) São Paulo: Annablume, 2007. Para dados sobre o movimento portuário de Mangaratiba ao longo do século XIX e seu papel decisivo no escoamento do café produzido no Vale do Paraíba ver: VAS- CONCELLOS, Márcia Cristina Roma. Famílias escravas em Angra dos Reis, 1801-1888. São Paulo: USP, Tese de doutoramento, 2006.

fogos, em um total de 1885 habitantes livres e 2172 escravos.15 Pela lei provincial de 17-12-1836, foi criada a freguesia de Sant’Anna de Itacurussá, anexada à então Vila de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba.

Um dos pilares da economia da região, como já mencionado, era o tráfico atlântico de africanos. Sua vinculação era tamanha que, no dia 11 de fevereiro de 1851, após ter sido promulgada a Lei Eusébio de Queiroz, que reiterava a ilegalida- de do tráfico de escravos africanos para o Brasil, foi apreendido um patacho pelas bandas de Guaratiba, na ilha de Marambaia, então propriedade do comendador Joaquim José de Souza Breves. A apreensão resultou em um processo instaurado pela Auditoria Geral da Marinha para apurar a captura dos 450 negros boçaes en- contrados na dita ilha.16 Ainda assim, tudo indica que aportavam ilegalmente mais

negreiros na ilha de Marambaia, então declarada como propriedade dos Breves. De acordo com uma denúncia anônima datada de 1854, os desembarques eram constantes e contavam com a conivência do “servo fiel” do “Rei Breves”, o então subdelegado de Itacurussá, Manoel Vieira Aguiar. A denúncia ainda mencionava a chegada do juiz Andrade Pinto à região, que havia sido transferido em função de seu engajamento com a causa antiescravagista para que então combatesse o tráfi- co ilegal florescente na região.17

O tráfico de escravos africanos se intensificou na primeira metade do século XIX e basicamente alimentava as plantações da região e dos municípios serra aci- ma. É fato que o número de escravos oriundos das regiões centro-africanas, sobre- tudo da costa ocidental, trazidos para o Brasil foi bastante expressivo entre o final do século XVIII e meados dos oitocentos. Entre 1795 e 1811 estes compunham, em média, 93% das importações de cativos para o Sudeste brasileiro e entre 1811 e 1850, cerca de 75%.18

No período entre 1811 e 1850, os escravos oriundos do Congo Norte, repre- sentavam um percentual de 40% dos cativos importados para o Sudeste brasileiro

15 Fonte: Estatísticas de cidade, vilas e boticas, 1821, Arquivo Nacional.

16 Arquivo Nacional, Processo 120/2001, Auditoria Geral da Marinha, 1851. Microfilme AN

120-2001. Sobre este processo, tem-se uma análise em: MORAES, Daniela Paiva Yabeta de. A ca- pital marítima do comendador: a atuação da auditoria geral da marinha no julgamento sobre a li- berdade dos africanos apreendidos na ilha de Marambaia. Dissertação de mestrado, Unirio, 2009. 17 Denúncia anônima contra o delegado de polícia e o administrador da mesa de rendas de

Mangaratiba, assim como o subdelegado da freguesia de Itacurussá de protegerem escandalosa- mente o tráfico de Africanos. Rio de Janeiro, 1851-1854. Procedem da Secretaria de Província do Rio de Janeiro. Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos, I-48, 17, 34.

18 Para uma análise apurada destes dados, conferir: FLORENTINO, Manolo. Em costas ne- gras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de janeiro. São Paulo: Cia das Letras, 1997, pp. 222-229. Cf também: KARASCH, Mary. A vida dos escravos no Rio de Janeiro. São Paulo: Cia das Letras, 2000

provenientes da África Centro-Ocidental.19 Por estes dados, é possível destacar a forte presença centro-africana entre os escravos da região de Mangaratiba, inse- rida no eixo do tráfico ilegal desta humana mercadoria como podemos constatar pela análise da tabela 1.

Tabela 1 - Importação de africanos para o litoral Sul-Fluminense (1800-1850)

Regiões de embarque Baía de Biafra África Centro - Ocidental África Orien- tal Total Regiões de desembarque Ilha Grande 837 16648 4566 22051 Ilha de Marambaia 2990 2990 Mangaratiba 2942 1049 3991 Parati 1380 1380 Total 837 20970 8605 30412

Fonte: www.slavevoyages.org Acessado em: 13/12/2009

Os africanos aportados em Mangaratiba, pertencentes à África Centro- -Ocidental eram em sua maioria, como mostra a tabela, oriundos dos portos de Benguela, Cabinda e Luanda e o percentual dos que vieram do Sudeste da África