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Famílias negras: Santa Maria, século XIX Letícia Batistella Silveira Guterres*

A temática envolvendo os laços familiares dos cativos não é mais nova no Brasil. Desde a década de 19801 observou-se o surgimento de estudos que busca- vam superar a visão tão aclamada e que ajudou a configurar o que veio a ser o mito da coisificação do escravo e de sua anomia social, o que inevitavelmente se refletia nas relações que estes conformavam. Essas relações foram taxadas de promíscuas, atribuindo valores ligados à África. Acontece que muitos desses estudos tiveram no olhar europeu a lupa mágica e trágica que negou a possibilidade desses cativos de estabelecer vínculos estáveis e que tinham significado e sentido peculiares.

Na década de 1980, o historiador Robert Slenes2 teve papel importante ao ajudar a rever a antiga imagem que unia intelectuais sobre a suposta licenciosidade sexual dos escravos. Embora, antes dele, Freyre3 já apontasse para a revalorização da cultura africana como diferencial em relação à ideia de promiscuidade sexual que encobria as pesquisas sobre tal tema, Slenes demonstrou as possibilidades e significados da formação de famílias escravas na região Sudeste brasileira, em me- ados do século XIX. Seu trabalho foi importante não só enquanto desmistificador da pseudo-inexistência da possibilidade de formação de tais laços familiares, como também no resgate à cultura africana, refletindo sua importância à luz das “espe- ranças e recordações das pessoas, isto é, para a formação de memórias, projetos, visões de mundo e identidades”.4

A partir daí, e em especial na década de 1980, são flagrantes os trabalhos5 abrangendo a temática relacionada à família e que demonstraram, a partir das es- pecificidades de cunho regional, diferentes conformações sociais familiares.6 Mui- *Doutoranda do curso de História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, bolsista Capes.

1 Para um balanço desta historiografia ver SLENES, Robert W. Na Senzala uma Flor: espe- ranças e recordações na formação da família escrava – Brasil, Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

2 SLENES; Op. cit, 1999. Ver também: SLENES, Robert W. “Senhores e subalternos no oeste

paulista.”in: ALENCASTRO, Luis Felipe de (org.). História da Vida Privada no Brasil. V. 2. São Paulo: Cia. das Letras, 1997. Do mesmo autor: “Lares negros, olhares brancos: história da família escrava no século XIX.” in: Revista brasileira de História. ANPUH, 1988.

3 FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. 48 ed. São Paulo: Global, 2003. 4 SLENES; Op. cit., 1999, p. 13.

5 Ver: CORRÊA, Marisa. Colcha de retalhos: estudos sobre a família no Brasil. São Paulo:

Brasiliense, 1982.

6 Em áreas urbanas brasileiras do período colonial, por exemplo, estudos vêm revelando o

tas dessas produções seguiram as tendências da historiografia norte-americana.7 Ainda assim, e conforme nos aponta Isabel Reis,8 há questões em aberto na literatura sobre o tema. Reis identifica tais lacunas especialmente no sentido de que grande parte dos trabalhos pauta-se como modelo para o estudo da família, a nuclear e monogâmica. Assim, “carecem ser melhor exploradas as relações fa- miliares, afetivas e de parentesco, que se colocaram à margem dos padrões con- sagrados pela sociedade da época”.9 Esse fato ajudou a formar ideias apriorísticas sobre tal tema, já que se costuma buscar a família constituída nas uniões legítimas, sancionadas pela Igreja católica.

Além disso, quando em trabalho sobre a família escrava, Slenes atribuiu a existência das relações familiares ao fato de estarem condicionadas ao tamanho das propriedades estudadas por ele (médias e grandes), ou seja, em regiões de plantations de café e açúcar, onde o número de escravos era significativo - cerca de dez em cada propriedade. Esse aspecto é demonstrado por ele como fundamental à concretização do casamento e na formação de redes de parentesco mais exten- sas entre os escravos. O autor apontou, portanto, como fator de explicação fun- damental à possibilidade de formação de famílias escravas no Sudeste brasileiro, a posse de terras maiores, somada ao número relativamente grande de cativos (dez em cada propriedade), o que tornava mais fácil a escolha de um cônjuge. Soma-se isso também à relativa estabilidade, visto que, em tais áreas (médias e grandes), o escravo, provavelmente depois de adquirido, não mais seria alienado por venda. O autor declara que, em outras regiões, como no Sul do Brasil, onde as propriedades eram menos estáveis (por se tratarem de áreas que em 1850 seriam grandes per- dedoras de escravos no tráfico interno), havia a probabilidade de que ali se revelas- sem estruturas familiares mais fracas.

Este estudo pretende justamente ir além da inferência de Slenes, na tentati- va de entender como aquelas famílias se organizaram em meio às transformações resultantes da segunda metade do século XIX, que, em síntese, anunciavam o fim do escravismo brasileiro.

lheres, o poder e a família: São Paulo - século XIX. São Paulo: Marco Zero, 1989. ZALUAR, Alba. “As mulheres e a direção do consumo doméstico (estudo de papéis familiares nas classes populares urbanas).” pp.159-182. in: CORREA, Op. cit; p. 159-182.

7 GENOVESE, 1976 e GUTMAN, 1976. Conforme REIS, Isabel Cristina F. Histórias de vida familiar e afetiva de escravos na Bahia do século XIX. Salvador: Centro de estudos baianos, 2001.

8 REIS, Isabel. A família negra no tempo da escravidão: BAHIA, 1850-1888. Tese de douto-

rado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 2007.

9 REIS, Isabel. Histórias de vida familiar e afetiva de escravos na Bahia do século XIX. Salva-

Dissertações preocupadas em testar a validade ou não da ideia das im/possi- bilidades de conformação familiar e mais do que isso, de sua estabilidade ao longo do tempo, já se fazem numerosas. Áreas cujo perfil nem mesmo poderia ser deno- minado de sociedade escravista também entraram na fila de novidades em termos de redimensionar as análises que envolvem os escravismos nas diferentes áreas do Brasil.10 Estes estudos em áreas até então marginalizadas11 vêm contribuindo no sentido de demonstrar a complexidade em que estavam imersas as relações sociais e demonstrar a presença do trabalho cativo nas diversas atividades produ- tivas, em diferentes pontos do território gaúcho. Tais análises revelam a frequente presença dos escravos em espaços de economia voltados ao mercado interno e de um tímido comércio regional. Nesse caminho se insere nosso estudo acerca da lo- calidade de Santa Maria da Boca do Monte, situada na região da Depressão Central do estado do Rio Grande do Sul, na segunda metade do século XIX.

Este estudo tenta usar de uma abordagem microanalítica enquanto proce- dimento de trabalho que tem na redução da escala de observação uma divisão artificial para chegar-se à história geral, ou seja, “o uso deste procedimento parte do pressuposto de que a redução de escala permite observar de forma mais acura- da fenômenos ditos gerais”.12 Isso, entretanto, não se confunde com uma história local, já que a microanálise parte de questões gerais, problemas e hipóteses macro e os analisa no nível micro. Em nosso estudo, por exemplo, partimos da tentativa de compreensão do funcionamento da família em Santa Maria no período que corresponde ao fim do tráfico internacional de escravos, em 1850, dentre outros aspectos gerais, que vêm acompanhados de uma maior efervescência de ideias contrárias à escravidão ou, pelo menos, que não mais a encaram como algo natura- lizado, o que era mais presente no século XVII. Quer dizer, partiremos da tentativa de captar o funcionamento desse fenômeno macro em uma perspectiva que o nível micro é capaz de alcançar.

Dentre os estudiosos, referências inevitáveis da microanálise, Edoardo Gren- 10 SILVEIRA GUTERRES, Letícia. Para além das fontes: im/possibilidades de laços familiares entre livres, libertos e escravos: (Santa Maria – 1844-1882). Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em História – PUC-RS, 2005.

11 Dentre outros: ZARTH, Paulo A. História agrária do planalto gaúcho (1850-1920). Ijuí:

Editra da Unijuí, 1997; OSÓRIO, Helen. Estanceiros, lavradores e comerciantes na constituição da estremadura portuguesa na América: Rio Grande de São Pedro, 1737-1822. Niterói, 1999. 315 f. Tese de doutorado em História – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense; FARINATTI, Luis A. E. Confins meridionais: famílias de elite e sociedade agrária na fronteira sul do Brasil (1825-1865). Rio de Janeiro, 2007. 421 f. Tese (Doutorado em História) – Pro- grama de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

di13 nos aponta um importante caminho para a análise das famílias. O que propõe é uma análise que parta da unidade doméstica, ou seja, de um procedimento micro, para chegar à sociedade mais ampla e que tem na comunidade uma forma de agre- gação sócio-espacial intermediária. Nesse sentido, a microanálise constitui uma característica da antropologia. Assim, a proposta é partir da unidade doméstica em direção à comunidade (que mediará entre a unidade doméstica e a sociedade mais ampla). Dentre as vantagens de se iniciar a partir da unidade doméstica, conforme Grendi, podemos citar a de não cair na armadilha de uma tentação evolucionista, mas também a de evitar uma visão estática, já que a unidade doméstica é multi- funcional e historicamente mutável. Além disso, o sujeito histórico da unidade do- méstica não está isolado da sua característica de sujeito econômico, que também é histórico. Entendê-la em sua dinâmica ajuda a compreender tanto a prática suces- sória, a estratégia demográfica, quanto o comportamento que envolve as escolhas matrimoniais e uniões consensuais, refletindo a localização social das unidades fa- miliares. A unidade doméstica, portanto, é o ponto de partida da família enquanto grupo doméstico. Esta vive sob o mesmo teto, “a um pão e um vinho”, e não é um conceito que implica somente referências biológicas. É, ao mesmo tempo, uma unidade de reprodução, de consumo e de produção e também tem sentido de household economy. Essa perspectiva de análise parece uma possibilidade rica de inovação dos estudos em história social, que, tendo como objeto de seus estudos a família, sua organização, o abordam, via de regra, partindo de uma lógica oposta à sugerida por Grendi. Muitas dessas abordagens, possivelmente tomando o modelo de Jack Goody,14 que ao distinguir as sociedades africana e eurasiana, propõe o esquema de análise que parte do geral para o particular. Grendi inverte essa lógica.

Giovanni Levi,15 outro autor de referência para esta análise, estuda - em texto cuja primeira publicação data da década de 1970, momento em que a microaná- lise estava florescendo - regiões da Itália com a finalidade de construir questões gerais, ou seja, a partir de um mosaico de regiões tende a elaborar um conjunto de métodos que ultrapassasse o localismo. Em seu estudo, a microanálise se fez presente como tentativa de compreender a Itália. Nesse texto, Levi dá visibilidade à importância da figura do mediador, na medida em que é responsável por trazer algo novo à região, sem, todavia, apagar o regionalismo. O mediador, conforme o sentido atribuído por Levi, pressupõe alguém que transforma uma realidade social, ou seja, não somente traz à comunidade novidades como também as implemen- ta. E o mediador pode ter importância fundamental neste tipo de abordagem no sentido de estabelecer os links que partem da unidade doméstica, como o sugeriu 13 GRENDI, Edoardo. “La microanalise: fra antropologia e storia.” in: Polanyi: dall’antropologia econômica alla microanalisi storica. Milão: Ettas Libri, 1978.

14 GRENDI. O autor mostra o modelo de análise de Jack Goody, p.97.

Grendi, à comunidade, e desta à sociedade mais ampla.

É possível imaginar que Levi tenha tomado contato com um estudo com- parativo entre duas regiões pesquisadas por Barth16, antes de formular a idéia da figura do mediador. As regiões analisadas situavam-se ao norte de Bali e a outra no interior de Nova Guiné. Embora sua chegada a Bali tenha o feito sentir as grandes diferenças “das selvas neolíticas da Nova Guiné”, mais tarde, quando observava uma cerimônia de cremação sentiu ali a presença de características melanésias. A partir daí, Levi partiu para uma análise em que tentou demonstrar o provável com- partilhamento de ideias em áreas aparentemente tão distintas. Sua análise partiu de duas modalidades diferentes de gerenciar o conhecimento na interação social. Daí o surgimento do paradigma do guru para os moradores de Bali, onde o mérito do conhecimento só existia se transmitido a alguém; e do iniciador, na Nova Guiné, onde o valor do conhecimento era maior quando permanecia oculto. Como se ob- serva, nesse estudo, o autor parte de sujeitos que informam sobre a transmissão do patrimônio naquela sociedade, - no caso analisado por Levi, por meio da figura do guru e do iniciador. No entanto, parece-nos tratar-se de uma perspectiva que bem pode ser utilizada nos diferentes estudos de caráter microanálitico, em que o dito sujeito que informa a transmissão patrimonial pode estar associado à imagem do mediador, o qual Levi traz para o centro de sua análise.

Em “A Herança Imaterial”, Levi17 discute a importância do papel de Giulio Cesare Chiesa que na qualidade de espécie de funcionário da aldeia, exerceu uma atividade de mediação entre o Estado e a comunidade, entre feudatários, cam- poneses e senhores; e que, mais do que isso, promoveu uma ação transformado- ra naquele local, modificando as regras daquela sociedade de ordens justamente pela legitimidade social de que era portador, “interligada às garantias de relativa segurança que a sua presença deu aos camponeses”.18 É importante frisar, ainda, que a história de Chiesa não é incomum ou excepcional no cenário camponês do século XVII, ou seja, não é a característica de excepcionalidade que dá a ele a legiti- midade de conduzir a análise de Levi, convencendo-o de seu caráter de mediador, assim como não o foi o caso de Menóchio perseguido pelo método indiciário de Ginzburg. O que o tornava mediador da análise de Levi era o espírito de mudança e reconhecimento que Chiesa tinha naquela sociedade19. Assim como a escolha pela trajetória de Menóchio por Ginzburg foi associada antes à importância que a 16 BARTH, Fredrick. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro:

Contra Capa Livraria, 2000, P. 141.

17 LEVI, Giovanni. A herança imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte. Rio de Janei-

ro: Civilização Brasileira, 2000, p.195.

18 LEVI, Op. cit., p.176.

19 Ainda no primeiro capítulo, Levi deixa claro que a história de Chiesa não era incomum

própria Inquisição deu a ele. Nesse sentido, nem Chiesa foi escolhido por Levi, nem Menóchio foi escolhido por Ginzburg; pelo contrário: eles é que os escolheram. Conforme observa Levi sobre o caráter de mediador de Chiesa20:

Sua riqueza advinha das redes de relações que possuía. O di- nheiro era investido não em terras e no comércio mas no pro- blema, ainda indefinido, de manter e aumentar um prestígio que não era totalmente reconhecido pelas leis e pelos usos, e no problema de transmitir para as gerações sucessivas um pa- trimônio fluido, feito de relações e de posições instáveis, uma herança feita de reservas concretas mas imateriais.

O exemplo da autoridade e influência desses mediadores locais por si só já apontam para a incoerência dos sistemas normativos, ou melhor, para os desvios e incoerências da ação dos agentes sociais diante das normas. E essas ações alteram a própria estrutura, a norma.

Feitas essas primeiras considerações, podemos partir para a tentativa de re- fletir por meio do núcleo doméstico de Gomes do Vale, apontando questões que envolvem tanto as conformações familiares na localidade de nosso estudo quanto o caráter de mediador do sujeito mencionado.

As primeiras referências sobre Gomes do Vale vieram da leitura da disserta- ção de mestrado de Ana Paula Flores,21 que, ocupa-se da compreensão das atitudes perante a morte por aquela sociedade. Em seu estudo, Flores revela parte da tra- jetória desse sujeito, justamente por ter tido uma participação significativa para a construção do cemitério. Mais tarde, quando em contato com as cartas de alforria de Santa Maria, o identificamos novamente. Era o ano de 1863 naquele dia 13 de maio; Gomes do Vale, então vigário da paróquia de Santa Maria,22 protagonizava a concessão de três cartas de alforria a três de seus cativos. Na ocasião, havia seis anos que Santa Maria deixara de ser Distrito de Cachoeira e se tornara município. Até o ano de 1858, quando ocorreu sua emancipação, a região era formada por uma área mais extensa do que seus limites hoje, englobando os atuais municípios de Silveira Martins, parte do de Itaara, São Pedro do Sul e a própria Santa Maria. Trata-se da região da Depressão Central rio-grandense.

20 LEVI, Op. cit., p.195.

21 FLORES, Ana Paula Marquesini. Descanse em paz: testamentos e cemitério extramuros na Santa Maria de 1850 a 1900. Dissertação de mestrado do curso de Pós-Graduação em História do Brasil da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2006.

22 BELINAZO, Terezinha. A população da paróquia de Santa Maria da Boca do Monte (1844- 1882). Santa Maria: UFSM – Dissertação de Mestrado, 1981, p.11. Conforme Belinazo, o Padre Antônio Gomes Coelho do Valle foi vigário da vila pelo período de 1853 a 1865.

Conforme Kulzer23, tal região neste período tinha “a base de sua economia vinculada fundamentalmente à produção de alimentos, havendo, porém, ativida- des ligadas à pecuária, que não constituíam o eixo principal da economia local”. Embora os dados dos censos do Rio Grande do Sul, de 1801 a 1950,24 tenham infor- mações anteriores aos registros de alforria concedidos aos escravos do vigário Go- mes do Vale – em 1863 – ainda assim nos informam que a população cativa do mu- nicípio de Santa Maria, em 1859, somava 19% da população total, ou seja, embora proporcionalmente representasse um dos menores números de populações escra- vas na província rio-grandense,25 acabava por manter a média entre os municípios menos urbanizados e que não possuíam charqueadas.26 Conforme Vallandro,27 “em 1859, segundo afirma o relatório do então presidente da província, Joaquim Antão Fernandes Leão, podemos constatar que lá existiam 5.110 pessoas, divididas entre 4.124 livres, 20 libertos e 966 escravos”.

Constata-se, portanto, que houve um crescimento em 24% de escravos no município, conforme informam os dados dos censos de 1858 e 1872; de 966 es- cravos em 1859 para 1.194 em 1872. Esse aumento pode revelar uma reprodução endógena importante do plantel, contrariando a lógica do tráfico interprovincial, refletido pelo fim do tráfico internacional de escravos, em 1850.28 Em Santa Maria, 23 KULZER, Gláucia Giovana Lixinski de Lima. De Sacramento à Boca do Monte: a formação patrimonial de famílias de elite na Província de São Pedro (Santa Maria, RS, século XIX). Disserta- ção de mestrado do Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2009, p. 63.

24 De província de São Pedro a estado do Rio Grande do Sul – censos do RS: 1803 a 1950.

Porto Alegre: FEE, 1981.

25 Conforme, Kulzer, op.cit, p. 39: “No ano de 1859 o percentual de escravos em Santa Ma-

ria era de 19% sobre o total da população. Comparando com os percentuais da população escrava com outras regiões da província verificamos que a região Missioneira - São Borja apresentava 14%, Uruguaiana 22%, Cruz Alta 13% sobre o total da população. Enquanto em Pelotas, Jaguarão e Rio Grande, a população escrava compunha respectivamente 27%, 28% e 18% do total, regiões estas ligadas às charqueadas e a atividade urbanas. Se compararmos com a região da campanha tem-se Alegrete com 23%, Bagé com 25%, Itaqui com 15%. Esses números indicam que Santa Maria aproxima seu percentual das regiões de Cruz Alta, Rio Grande, Itaqui, São Borja. Devemos considerar que estes números apontam regiões pouco urbanizadas e/ou sem charqueadas, onde a mão de obra escrava aparece em menor proporção que em áreas tradicionalmente vistas como de excelência do trabalho escravo sulino. Contudo, embora estejamos tratando aqui de uma área