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Os usos sociais das leis de 1761 e 1773: negociação e resistência na segunda metade do século XVIII –

Brasil colonial

Ana Carolina Teixeira*

O período pombalino inaugurou uma discussão sobre a liberdade e moder- nização do reino. Didier Lahon estudou os negros e mulatos de Portugal na época moderna e, segundo ele, as possibilidades de ascensão social eram quase inexisten- tes para esses indivíduos, principalmente se os compararmos com os que viviam na colônia. E, ainda de acordo com o historiador francês, no reino, negros e mulatos sofriam com a discriminação da sociedade e da maior parte das instituições. Um dos motivos está na importância que tinham para a metrópole os ideais de limpeza de sangue.1 Este era um valor legitimador das sociedades ibéricas durante toda a época moderna.

Porém, na colônia, esse ideal nunca teve o mesmo peso que na metrópole. Na América Portuguesa quase não havia indivíduos nobres, ali se forjaram outras formas de distinção social. Assim, as distinções se forjavam como em Portugal, à semelhança do Antigo Regime europeu, mas juntamente com a instituição da es- cravidão. As afirmações de distanciamento do cativeiro eram também formas de distinção na colônia, que formavam uma complexa hierarquia social. Dessa forma, uma diferença bastante sensível entre o reino e a colônia da América estava na instituição da escravidão, que foi um dos pilares essenciais dessa sociedade, o que no entanto nunca foi uma realidade para a metrópole.

Na colônia portuguesa da América, a escravidão era vivida como um valor.2 Uma instituição que servia de força motriz para as relações sociais na colônia. Por meio dela, ou inseridos nela, os indivíduos criavam formas de sociabilidade e estra- tégias de ascensão e inserção social. “Homens pobres e forros tinham dificuldades

*Mestranda em História Moderna pela Universidade Federal Fluminense e bolsista Capes.

1 LAHON, Didier. “Noirs et mulâtres dans les corps d'armée au Portugal”, in BERNAND, Car-

men et STELLA, Alessandro (org.). D'esclaves a soldats: miliciens et soldats d'orige servile - XIIIè- -XXIè siècles. Paris: collection Inter-national: Parution L’Harmattan 2006, p. 141.

2 Para a expressão “escravidão vivida como um valor” ver: SILVEIRA, Marco Antônio. O universo do indistinto: Estado e sociedade nas Minas setecentistas (1735-1808). São Paulo: Hucitec, 1997, pp. 111-140. O cap. 2 do trabalho desse historiador é intitulado “Escravidão como valor” e mostra que negros e brancos viviam em interação; mesmo os negros quilombolas viviam em interação com pardos e brancos facínoras que lhes forneciam por meio do comércio alimentos e armas. Libertos possuíam escravos. Dessa forma, a escravidão era um valor social vivenciado por todos da colônia.

de afirmar a sua liberdade.” 3 Mas na América Portuguesa eram múltiplas as formas de mobilidade, tanto de escravos quanto de libertos. Numa sociedade patriarcal, como era toda a colônia, a família também servia como forma de estratégia de mobilidade. Casamentos mistos entre escravos e libertos eram recorrentes.4

As irmandades de pretos e pardos eram espaços de sociabilidade entre ho- mens de cor e entre livres e cativos, como eram também espaços de representação de indivíduos de cor da colônia, pois por meio delas estes indivíduos forjavam algu- ma distinção social.5 As milícias, do mesmo modo que as irmandades eram espaços de representação e sociabilidade, e foi pesquisando essa instituição colonial que encontrei alguns usos e discursos de homens pretos e pardos da colônia da Amé- rica Portuguesa sobre a liberdade.6 Esses discursos foram construídos após 1773, quando, em Portugal, o ministro do rei, marquês de Pombal criou um alvará que libertava os escravos do reino.

Na metrópole, os ex-cativos tinham possibilidade de inserção social mais es- cassa que na colônia. E, por lá, eram ainda maiores os estigmas reservados aos mulatos. Para estes, parecia não haver lugar ali. Ao estudar os corpos militares de Portugal, Didier Lahon7 afirma que até existiram negros empregados como solda- dos no emprego militar, mas jamais existiram, ali, tropas específicas de homens de cor, como ocorreu no Brasil. As tropas de negros e indígenas estavam ligadas à conquista e à expansão dos domínios coloniais, e na metrópole não tinham razão de ser. Por não ter, a escravidão, se configurado como instituição forte em Por- tugal, os cativos e principalmente ex-cativos não encontravam meios para ascen- derem socialmente. Em Portugal, os cativos não eram vistos como indispensáveis e necessários àquela sociedade. Pelo contrário, os elementos desta categoria de indivíduos, principalmente os libertos eram considerados elementos incômodos e nocivos à república.

Foi no período pombalino que teve início a progressiva libertação dos es- cravos de Portugal. Mas não foi a liberdade dos cativos do Reino que motivou a

3 SILVEIRA, Marco Antônio. Op. cit.,p. 118.

4 Para este tema ver: GOLDSCHMIDT, Eliana Rea. Casamentos mistos: liberdade e escravi-

dão em São Paulo colonial. São Paulo: Annablume, Fapesp, 2004. E também: MACHADO, Cacilda. A trama das vontades: negros, pardos e brancos na construção da hierarquia social do Brasil escra- vista. Rio de Janeiro: Apicuri, 2008.

5 VIANA, Larissa. O idioma da mestiçagem: As irmandades de pardos na América Portugue-

sa. Campinas: Ed. Unicamp, 2007.

6 Parte deste artigo foi desenvolvido em um capítulo de minha dissertação intitulado “Es-

cravidão e liberdade: múltiplos significados”. A dissertação tem como tema os oficiais pardos nas capitanias de Pernambuco e Minas Gerais, e encontra-se em fase de desenvolvimento.

criação das medidas “abolicionistas” de D. José I e seu ministro, e sim o fato de serem parte de seu projeto de modernização do Reino para torná-lo, assim como as demais, “cortes polidas” da Europa, e foi assim (assim está se repetindo muito: coloque “desse modo”) que os alvarás de 1761 e 1773 foram criados. Mesmo an- tes, a escravidão já vinha sendo discutida por intelectuais da época. No entanto, a razão em que se fundamentava a discussão sobre a escravidão e cativeiro dos ne- gros esteve inscrita numa lógica do pensamento escravista cristão, assim como fez Manuel Ribeiro Rocha em seu livro “O etíope resgatado, empenhado, empenhado, sustentado, corrigido, instruído e libertado” (1758).8

Pouco após a proibição da entrada de cativos vindos das Américas, África e Ásia, em 1767, um panfleto anônimo foi publicado, intitulado “A nova curiosa re- lação de um abuso emendado, ou evidências da razão expostas a favor dos pretos em um diálogo entre um letrado e um mineiro.” De acordo com Tâmis Parron, este escrito apresentava simultaneamente o pensamento escravista cristão e as ideias iluministas.9 Parron alertou que a questão principal discutida entre o mineiro e o letrado ─ se o mineiro libertava seu cativo ou o vendia ao Brasil ─ poderia ter rela- ção com a lei do fim do tráfico em Portugal. Em 1761 não foi a escravidão que foi proibida, e sim a entrada de cativos no reino. Dessa forma, como seguir as normas do bom senhor cristão e restituir a liberdade de um cativo se outro não poderia ocupar seu lugar? O dilema colocado pelo panfleto não pode ser considerado aboli- cionista, mas a partir dele se levanta a questão escravidão/cativeiro vista sob a óti- ca da razão da época em que Parron mostrou que esta esteve entre o pensamento cristão e o iluminista.

Os usos da lei de 1761

De acordo com a lei de 1761, todos os cativos vindos da África, Ásia e Améri- ca que chegassem aos portos do Reino deveriam ficar “pelo benefício dela libertos e forros, sem necessitarem de outra alguma carta de manumissão, ou alforria, nem de outro ou algum despacho, além das certidões dos administradores e oficiais das alfândegas”.10 No entanto, essa medida não tinha o propósito de promover o fim da escravidão em todo o Império Português, pois entre as colônias o tráfico de 8 ROCHA, Pe. Manuel Ribeiro. O etíope resgatado, empenhado, empenhado, sustentado,

corrigido, instruído e libertado.Londres: University of London, 1903. Pdf.

9 PARRON, Tamis. Nova e curiosa relação (1764): escravidão e ilustração em Portugal du-

rante as reformas pombalinas. Almanack Brasiliense, n. 8, nov. 2008, pp. 92-107. Ver páginas 93 e 102. Panfleto anônimo encontrado em um sebo por Charles Boxer e por ele publicado em 1967.

10 Trecho da lei de 19 de setembro de 1761. IN: RAMOS, Luís A. de Oliveira. “Pombal e o

esclavagismo”. Revista da Faculdade de Letras, Porto, v.2, 1978. IN: ler.letras.up.pt/uploads/fichei- ros/3108.pdf.

escravos continuou sendo legitimado pelo poder da Coroa.

Tanto a lei de 1761 e sua complementar de 1773 foram tentativas de pôr fim à escravidão no reino, a fim de modernizar Portugal, tornando-o como as de- mais cortes polidas da Europa. No entanto, as notícias de tal lei podem ter sido motores de muitas fugas de escravos das colônias para o reino. Como estratégias para conquistarem a liberdade, possivelmente alguns escravos marinheiros usa- ram a lei de 1761 como argumento em benefício próprio. Afirmo isto pois era essa a idéia que se expressava em um aviso régio expedido ao administrador geral da alfândega da cidade de Lisboa em 1776,11 em que este declarava

que todos os escravos marinheiros de qualquer qualidade que sejam que vierem ao porto da dita cidade de Lisboa e mais por- tos destes reinos, em serviço dos Navios de Comércio, de ne- nhuma forma se devem entender compreendidos no Alvará de 19 de setembro de 1761.12

Em áreas urbanas, era comum que negros e mulatos cativos circulassem li- vremente pelas cidades em exercício de ofícios diversos, como escravos coartados ou escravos de ganho. Esses escravos, típicos do espaço urbano, surgem no século XVIII com o crescimento das cidades e o aparecimento de maiores oportunidades econômicas e sociais. Esse tipo de cativeiro viabilizava a compra de suas alforrias.13 Os escravos marinheiros eram em grande parte escravos de ganho, alugados pelos mestres dos navios ou pertencentes a esses mesmos capitães. Dessa forma, per- tenciam ao mundo colonial, e sua passagem pelo Reino era apenas momentânea. As medidas “abolicionistas” do Portugal e Algarve de modo algum contemplariam as conquistas, embora não deixassem de ser evocadas de diversas maneiras por homens de cor das colônias.

Em nossa pesquisa encontramos dois casos de escravos vindos da América Portuguesa para o Reino que pediam pela mercê de serem beneficiados com a liberdade pela lei de 1761. O primeiro caso ocorreu por volta de 1778, quando Mi- guel Pinto Gaspar Mendes e outros homens pretos moveram um processo contra o capitão de navio José Antônio Pereira. Eles argumentaram que teriam direito à liberdade pois teriam embarcado “no porto de Pernambuco muitos depois da pu- blicação da lei de 19 de setembro de 1761 sem se verificarem os requisitos do Juízo

11 Aviso presente no Arquivo Nacional. Cód. 61. SDEB. Cartas régias (1725 – 1777). Fls. 317-

318.

12 Aviso do marquês de Pombal ao vice-rei marquês de Lavradio. Arquivo Nacional. Cód. 61.

SDEB. Cartas régias (1725 – 1777). Fls. 319.

de 22 de fevereiro de 1776”.14

Ao que tudo indica, estes eram escravos marinheiros e, portanto, desde o aviso de 1776 não estariam inclusos na lei de 1761. Para serem beneficiados pela lei, teriam de provar que seriam comercializados como cativos no Reino. No entan- to, ao contrário do que se pretendia em Portugal, a escravidão para as Conquis- tas continuariam a ser consideradas algo necessário. Em Portugal, os cativos eram vistos como o pivô de um problema de mão de obra, pois ali tiravam o lugar dos moços de servir. Porém, eram essenciais na agricultura e nas Minas dos Domínios Ultramarinos. Assim, o resultado da sentença dada pelo provedor de justiça do Rei- no, Ribeiro de Lemos Vasconcelos Ferreira, foi desfavorável aos tais pretos cativos vindos de Pernambuco:

Antes, pelo contrário do que pretendem os autuantes, e julga a sen- tença, se aumentariam os inconvenientes que a lei quis evitar, e re- sultaria um notável prejuízo ao Reino e sua capital dificultando-se o comércio que a ela quisessem dirigir os habitadores das Conquistas que giram os seus negócios em navios próprios ou alheios e com es- cravos seus ou alugados, talvez com impossibilidade e com menor utilidade de guarnecerem as embarcações com oficiais e marinheiros brancos e contra a intenção de nosso legislador, e com impedimento dos paternais sentimentos e providências expressamente declaradas no mesmo aviso vindo a concluir, e com evidência, não ser o caso que se trata naquela lei...15

De acordo com a sentença, os negros cativos de Pernambuco não conse- guiram a liberdade no reino “pois que de outra sorte poderia acontecer prejuízos graves ao mesmo senhor que nem ao menos foi citado ou ouvido, a este, ou seme- lhante respeito”. Os nomes dos senhores de escravos foram omitidos da declara- ção dos autos, mas segundo os autuantes era Antônio de Sousa Portela, morador em Angola, senhor deles. Mesmo assim resultou da ação que os autuantes

devem ficar no estado de cativeiro em que se acham quando aporta- ram a este reino, devendo e podendo, o réu, navegar o navio com os oficiais, marinheiros e serventes que trouxe livremente até para a ob- servância da lei e direito do mar, que obriga os oficiais e marinheiros a servir no mesmo navio até tornar ao porto de que saíram e, que se

14 CERTIDÃO (cópia) declarando a sentença da ação de proclamação da liberdade de alguns

homens pretos que chegaram a Portugal, embarcados no porto de Pernambuco muitos anos após a lei de 1761 e o aviso de 1776. Lisboa: 11 de abril de 1778. AHU_PE _Cx. 129 – D.9759.

pague os A. A. às custas dos autos em que os condenam.16

Possivelmente, Miguel Pinto Gaspar Mendes e os demais homens pretos eram escravos de ganho alugados pelo comerciante José Antonio Pereira para o servirem como marinheiros em sua viagem para Lisboa. Mas também os escravos que moveram o processo contra o comerciante poderiam ser realmente mercado- rias de um tráfico que ocorria clandestinamente entre a América e Lisboa. Mas isto será impossível de se afirmar com base somente na sentença deste processo, pois não fica claro qual seria o negócio do comerciante.

No entanto, podemos observar que em suas argumentações se destacava a necessidade de se preservarem as boas relações com os homens brancos da co- lônia, principalmente os comerciantes. O processo de abolição da escravidão em Portugal não poderia perturbar o comércio entre o reino e as suas conquistas no ultramar. Ao mesmo tempo, não havia marinheiros brancos suficientes para que se invalidasse o emprego da mão-de-obra escrava no ofício de marinheiro, nos tratos comerciais atlânticos. A lei de 1761 não se aplicara aos moradores das Conquistas, a menos que estes fossem traficados para Portugal para ali permanecerem e serem comercializados. No entanto, não havia problemas quanto à entrada de cativos no Reino para a realização de trabalhos nos portos acompanhados de seus donos ou dos que lhes prestavam serviços. Assim, a lei que impunha o fim do tráfico de cati- vos para Portugal apenas proibiu a entrada destes como mercadorias, ficando seu comércio impedido no reino, mas não nas colônias. Para esta última, continuava a se pensar que a mão de obra escrava era realmente úteis.17

Outro caso que ocorreu quase vinte anos depois ao que demonstramos anteriormente seguiu esse mesmo nexo. Os escravos Joaquim Tomás, Francisco Pe- dro, Joaquim Jorge e Joaquim Correia de Brito, que eram também da capitania de Pernambuco, requereram suas liberdades à rainha por volta de 1797. Esses escra- vos, vindos da América, foram capturados por marinheiros francesese obrigados a servir numa embarcação por três anos, até que foram resgatados por ingleses e levados a Londres. Os cativos, assim, se dirigiram a Portugal e suplicaram sua liber- dade à rainha evocando como argumento a lei de 1761. Segundo eles, em Pernam- buco tinham à força “passado para o cativeiro inimigo” e logo “se extinguiu aquele primeiro cativeiro”.

A resposta às súplicas desses cativos seguia a lógica de que a liberdade não era dádiva régia e sim alçada do senhor, sendo somente este quem poderia restituir a liberdade de seu escravo. Entretanto, a liberdade deles era interessante ao reino, pois, quando fizeram o requerimento para a rainha D. Maria I libertá-los,

16 Idem. 17 Idem.

já se encontravam servindo na Armada Real e, portanto, inseridos naquela socie- dade.18 Contudo, a liberdade não poderia ser deferida sem o consentimento dos

senhores desses escravos, pois

em diferença dos homens livres e dos servos que se restituem dos povos inimigos, sem que tão bem lhes possa aproveitar a lei de 19 de setembro de 1761, pois que a vinda deles a este reino não é imprestável aos ditos seus senhores, mas sim um aconte- cimento enquanto involuntário e prejudicial.19

A citação acima é parte de um informativo destinado aos senhores dos tais cativos, por via do qual se esperava um parecer desses senhores. O fato de os cati- vos terem se dirigido ao Reino e se inserido naquela sociedade era considerado um ato de lealdade. Mostraram-se, dessa forma, como valorosos vassalos da rainha. Nesse caso, a Coroa não podia se mostrar injusta e não demonstrar gratidão aos homens que teriam provado sua lealdade. Por outro lado, conceder a liberdade aos tais escravos, nesse caso, seria o mesmo que pôr em risco as autoridades dos se- nhores que se encontravam na colônia. Além disso, a Coroa estaria prejudicando o patrimônio dos senhores e sua atitude poderia significar uma ameaça a escravidão, que nas colônias era bem valiosa. Desse modo, a questão deveria ser resolvida no âmbito colonial, ficando a palavra final com os antigos senhores desses cativos. E, mais uma vez, a Coroa preferiu não interferir em tais assuntos, pois a concessão de liberdade aos escravos jamais poderia se constituir em uma benesse régia.

Os usos da lei de 1773

Em 16 de janeiro de 1773, o rei D. José I, juntamente com seu valido, anun- ciou novo alvará que previa o fim da escravidão. Elaborado para complementar a lei de setembro de 1761, pois o rei percebeu que a escravidão e o tráfico ainda continuavam a ocorrer em Portugal, por um “abominável comércio de pecados, e de usurpações de liberdades dos miseráveis nascidos daqueles sucessivos, e lucro- sos concubinatos de baixo do pretexto de que os ventres das mães escravas não

18 REQUERIMENTO dos negros e ex-escrvos da capitania de Pernambuco Joaquim Tomás,

Francisco Pedro, Joaquim Jorge e Joaquim Correia de Brito, à rainha [D. Maria I], pedindo carta de liberdade para continuarem servindo na Armada Real. 20 de novembro, ant. 1797. AHU_PE_Cx. 198_D. 13635.

19 AVISO feito sobre o requerimento dos escravos que seguiria para seus donos, 20 de no-

podem produzir filhos livres, conforme o Direito Civil”.20 Por esse motivo é que se elaborou a chamada lei do ventre livre de Portugal, que proclamou livres os escra- vos que nascessem a partir da data da lei e também escravos de quarto grau. Além de libertá-los, o rei ainda os habilitava para o exercício de “todos os ofícios, honras e dignidades”. Dessa forma, o rei decretava em 1773:

E considerando a indecência que as ditas escravidões inferem aos meus vassalos, as confusões e ódios que entre eles causam e os pre- juízos que resultam ao Estado deter tantos vassalos lesos, baldados e inúteis. Quantos são aqueles miseráveis que a sua infeliz condição faz incapazes para os ofícios públicos, para o comércio, para a agricultura e para os tratos e contratos de todas as espécies. Sou servido obviar a todos os sobreditos abusos ordenando como por esta ordeno: Quanto ao preterido, que todos aqueles escravos e escravas, ou sejam nasci- dos dos sobreditos concubinatos ou ainda de legítimos matrimônios cujas mães ou avós são ou houverem sido escravas fiquem no cativei- ro durante a sua vida somente: Que porém aqueles cuja a escravidão vier das bisavós fiquem livres e desembargados posto que as mães e avós tenham vivido em cativeiro: Que quanto ao futuro, todos os que nascerem no dia da publicação desta lei em diante nasçam por bene- fício dela inteiramente livres, posto que as mães e avós hajam sido escravas: E que todos os sobreditos por efeito desta minha paternal e pia providência, libertados fiquem hábeis para todos os ofícios, hon- ras e dignidades, sem a nota distintiva de libertos que a superstição dos Romanos estabeleceu nos seus costumes e que a união cristã e a sociedade civil faz hoje intolerável no meu reino, como o tem sido em