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A ATUAL CONFORMAÇÃO DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PHIS As profissionais de Serviço Social pesquisadas desenvolvem seu trabalho na Política

Das 79 assistentes sociais convidadas, 24 responderam ao instrumento de pesquisa representando 30,4% de adesão Somente a assistente social da SEHABS não respondeu ao

5.2 A ATUAL CONFORMAÇÃO DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PHIS As profissionais de Serviço Social pesquisadas desenvolvem seu trabalho na Política

de Habitação de Interesse Social (PHIS) por meio de instituições públicas. Dessa forma, estão inseridas “[...] na divisão sociotécnica do trabalho, que tem na questão social sua vinculação à realidade social [...]” (COUTO; PERUZZO, 1999, p. 20).

O Serviço Social é reconhecido como uma profissão especializada que vem acumulando conhecimentos e competências ao longo de sua trajetória histórica, com dimensão ética, política, teórica, metodológica e operativa, que lastreiam sua atuação nas manifestações da questão social, sendo estas seu objeto profissional (IAMAMOTO, 2009). Portanto, o trabalho do assistente social na PHIS não se dá de forma isolada, individualizada, ou sem conflitos, mas sim, está incluso em uma estrutura organizacional e hierárquica com definições preestabelecidas, programas e projetos que demandam sua atuação.

Na referida política, as assistentes sociais se inserem, entre outras ações, nos programas de Reassentamento, Regularização Urbanística e Fundiária e no Programa Minha Casa Minha Vida. Tais programas são desenvolvidos por equipes multidisciplinares, as quais compõem a estrutura organizacional das instituições formada pelos seguintes setores111: Engenharia, Arquitetura, Direito, Financeiro, Comercial, Comunicação, Recursos Humanos, Informática e Social. Este último setor é composto por profissionais das áreas de Serviço Social e Sociologia, em sua grande maioria. No caso do Demhab/Porto Alegre, fazem parte do setor social profissionais da área de educação ambiental (pedagogo e educadores ambientais). Os setores que integram equipes multidisciplinares em conjunto com o Serviço Social são: Engenharia, Arquitetura, Direito, Financeiro e Comercial. Logicamente, os demais setores das instituições também fazem parte, porém não diretamente.

O fato de fazer parte de equipes multidisciplinares foi considerado positivo pelas 24 respondentes, pois facilita o trabalho, a troca de experiências e principalmente por representar um canal institucional que possibilita a defesa dos usuários e apontar possíveis mudanças na

111As instituições pesquisadas representam órgãos em nível federal, estadual e capitais; portanto, apresentam

uma estrutura organizacional multidisciplinar. Tal realidade não se repete nas cidades, especialmente nas menores, onde a assistente social acumula funções em diversas políticas públicas. Outra observação é que na CAIXA a equipe social também é composta por psicólogos, pedagogos e outras áreas afins, não somente por assistentes sociais e sociólogos, como se observou nas instituições pesquisadas.

PHIS. Evidentemente, não seria possível desenvolver o trabalho social na PHIS sem a presença de engenheiros e arquitetos que planejam e fiscalizam as obras físicas, ou seja, sem a construção de unidades habitacionais ou implantação de programas de regularização urbanística e fundiária, etc., pois sem a construção das obras físicas a política não teria razão de existir. O compartilhamento de ideias e experiências com outros profissionais na coordenação e execução de programas e projetos é cada vez mais frequente e necessário em diferentes campos das políticas públicas ou mesmo em organizações não governamentais e com usuários a fim de demarcar alianças em torno de pautas e projetos comuns (RAICHELIS, 2009).

Se, por um lado, o trabalho multidisciplinar é positivo, apesar de não ser interdisciplinar112, por outro, é um espaço antagônico, de disputa de valores e de visão de mundo, além do risco dos setores se fecharem em sua área de conhecimento e não compartilharem, ou não se envolverem em possíveis mudanças. Este comportamento é motivado pela forma organizacional das instituições públicas, que mesmo na atualidade coexiste com sistemas arcaicos e modernos de trabalho, ambientes em que convivem servidores do quadro (concursados estatutários), celetistas (contrato novos) e comissionados (cargos de confiança – contratos temporários). Na maioria das vezes, os comissionados atuam em cargos de chefia de equipes ou de setores, obedecendo às definições da gestão da instituição, que também desempenha uma função de confiança do prefeito ou do governador. Não se observou nas três esferas de governo comissionados coordenando o setor social nas instituições.

Em função do processo eleitoral, as secretarias e departamentos públicos renovam seus representantes a cada quatro anos. Permanecendo o mesmo partido político no poder, assim mesmo há mudanças de secretários e de chefias que implantam novos sistemas gestacionais que oscilam entre o conservador ao inovador. Tais medidas, muitas vezes, se sobrepõem à experiência e ao conhecimento adquiridos pelas equipes multidisciplinares ao longo da carreia profissional, provocando resistência ou acomodação por parte de muitos servidores, fazendo com que emperre ainda mais a máquina pública. Outras vezes, há

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Segundo Fazenda (1994), o trabalho multidisciplinar se concretiza por uma ação simultânea de uma gama de disciplinas em torno de uma temática comum as quais todas estão em um mesmo nível heterogêneo e não há articulação nem cooperação entre elas. Não há interpretação dos resultados obtidos, busca a solução de um problema imediato sem explorar a articulação e, por fim, mantém sua metodologia e teoria sem modificações. Já interdisciplinaridade, envolve diversas áreas de estudo, no intuito de promover uma integração entre as diversas especialidades e conteúdos, fazendo com que haja integração entre os mesmos e integração dos sujeitos envolvidos com a socialização e construção do saber. Passa de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do conhecimento, buscando superar a dicotomia entre execução e planejamento.

supervalorização de procedimentos e normativas que impossibilita a agilidade na resolução dos problemas cotidianos e emergenciais.

Mediante tal realidade, Iamamoto (2009, p. 355) destaca: “Um dos elementos que incide sobre o trabalho realizado, no âmbito do aparelho de Estado, é a burocracia. As marcas do saber burocrático espraiam-se na cultura das repartições públicas e de seus agentes e impregnam os profissionais que aí atuam”. Nogueira explica o movimento entre democracia e burocracia:

A democracia privilegia a autonomia e a liberdade, ao passo que a burocracia não vive sem ordem e obediência. A deliberação democrática procede de baixo para cima e estrutura-se de modo potencialmente ampliado, ao passo que a burocracia decide de maneira hierárquica e tende a restringir fortemente o número dos que participam do processo decisório m boa medida separando os tomadores de decisão, os implementadores e os beneficiários de suas operações (NOGUEIRA, 2005, p. 43).

A heterogeneidade estabelecida no ambiente público torna a capacidade de organização ou de resistência, por parte dos profissionais de carreira, com vistas a mudanças qualitativas na PHIS, cada vez mais diluída ou até mesmo inexistente, em razão da divisão estabelecida entre o grupo que toma as decisões e aquele que executa as ações. O grupo político que assume a gestão, frequentemente, não possui o acúmulo de experiência e desconhece os trâmites já consolidados no interior das instituições, comprometendo o andamento do trabalho dos profissionais que ali atuam. Assim, o assistente social que preza pelo trabalho em rede, multidisciplinar e na prestação de serviços de qualidade aos usuários enfrenta muitos desafios, conforme a opinião de Lima:

Outro grande desafio é o trabalho social integrado e articulado com vários profissionais envolvidos, para não se perder de vista a noção de totalidade da intervenção social, uma vez que há um grande risco de se compartimentar as ações, de os técnicos se insularem em seus projetos específicos, distanciando-se não somente dos demais, como também da realidade local (2008, p. 228).

Na tentativa de romper com o isolamento entre os profissionais, os assistentes sociais provocam e reafirmam a importância das reuniões e das trocas de informações junto aos membros das equipes multidisciplinares e, a partir das definições estabelecidas, planejam o processo interventivo junto às comunidades beneficiárias, especialmente na elaboração dos projetos de trabalho social dos programas e ações. Evidentemente, é um processo permeado de avanços e recuos.

Não obstante à participação em equipes internas na instituição, as assistentes sociais do grupo B (13 participantes) também fazem parte, ordinariamente, de reuniões com

profissionais de outras secretarias e órgãos municipais, especialmente com representantes de políticas públicas que influenciam diretamente o trabalho com a população de baixa renda, as quais: assistência social, educação, saúde, transporte, limpeza urbana, trabalho e renda, dentre outras. Nesses canais participativos, atuam na perspectiva da garantia de direito, tendo por desafio decifrar permanentemente como se expressam as contradições postas na realidade, buscando a superação das dificuldades encontradas pela população que demanda o acesso ao direito à moradia e a inserção à cidade. No caso das profissionais do grupo A, estas fornecem subsídios técnicos aos estados e municípios quanto aos procedimentos da PHIS, bem como 6 representantes deste grupo declararam que participam eventualmente de reuniões com outros órgãos estatais com vistas à implantação de programas e projetos em nível nacional e estadual.

Entretanto, nem sempre o resultado da participação em reuniões intersecretarias responde às demandas da população de baixa renda, haja vista a conformação das políticas públicas no Brasil que, historicamente, entram em cena “[...] caracterizadas como: paternalistas, clientelistas, focalistas, compartimentadas, geradoras de desequilíbrio, custo excessivo do trabalho, e, de preferência, devem ser acessadas via mercado, transformando-se em serviços privados” (MOTA, 1995; BOSCHETTI, 2003; BOSCHETTI, 2006; BEHRING, 2000). A participação nos processos de tomada de decisão evidencia a privatização do Estado por setores das classes dominantes, restringindo ainda mais, na prática, os direitos de cidadania. A relação clientelista choca-se com os princípios universalistas em função de uma hierarquia de prestígio e poder. No pensamento de Nogueira:

Não se trata apenas de garantir a rotinização de formas permanentes de participação, coisa que muitas vezes se revela paralisante e contraproducente, mas de possibilitar a circulação de valores, procedimentos e critérios democráticos no interior da organização burocrática para forçá-la a decidir de modo ampliado, a reduzir a prepotência dos técnicos e dos superiores, a abrir-se para formas eficazes de controle externo ou a partir de baixo (2005, p. 43).

A presença do assistente social em equipes multidisciplinares e em reuniões intersecretarias força o debate quanto à defesa de direitos de forma universalizada.

Já no que concerne à participação em conselhos da PHIS não apresentou resultados animadores, pois somente duas respondentes dos grupos A e B fazem parte, em um universo pesquisado de 24, representando apenas 8,3% do total. A representação nos conselhos se resume da seguinte forma: uma participa no Conselho Nacional de Habitação e uma no Conselho Municipal de Habitação de Interesse Social de Curitiba e no Conselho da Cidade de Curitiba (CONCITIBA). Outras 14, dos grupos A e B participam em outros conselhos, dos

quais: Assistência Social, Pessoa com Deficiência, Idoso, Criança e Adolescente, bem como no Conselho Regional e Federal de Serviço Social (CRESS e CFESS). Não foi possível verificar se há assento permanente ou se trata de participação espontânea, por falta de informação nos instrumentos de pesquisa.

As demais oito assistentes sociais do grupo B descreveram que até 2008 tinham assento no Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), porém, após definições políticas do governo municipal, a representação foi repassada a uma servidora comissionada. Atualmente não há representação do Serviço Social em nenhum conselho, porém não especificaram se participam de algum, somente declararam que sistematicamente fazem parte de reuniões da rede de atendimento e intersecretarias, conforme as demandas dos programas e projetos em andamento.

Em se tratando da atuação dos Conselhos da Política de Habitação de Interesse Social (CHIS), estes permanecem em processo de organização, apesar de ser uma demanda histórica dos movimentos sociais de luta pela moradia e de reforma urbana. Os integrantes dos CHIS ainda não conseguiram tomar o lugar devido no controle dos recursos, programas e projetos habitacionais, pois o órgão que vem substituindo o papel dos mesmos é representado pela CAIXA, em razão de que aprova ou não os projetos arquitetônicos, urbanísticos e sociais, encaminhados pelos municípios e estados, uma vez que controla e repassa os recursos financeiros, sem passar pelos Fundos de Habitação de Interesse Social – FHIS. Este fator vem desmobilizando os conselhos e centralizando as decisões.

A justificativa do novo modelo de política é a agilidade na diminuição do deficit habitacional e do incentivo a novos postos de trabalho, da aplicação de investimentos na área habitacional que desde o fechamento do BNH estavam limitados, e da retirada de muitas famílias de áreas de risco. Por outro lado, é consenso dos estudiosos pesquisados que a direção da PHIS nacional saiu da esfera do SNHIS para ações autônomas, ou desconectadas, isto é, o PAC e o PMCMV, provocando perdas significativas na participação e controle popular e nos demais entes federados (ARANTES; FIX, 2011).

Apesar da destituição do papel dos CHIS, foi considerado pelas respondentes um canal importantíssimo de inserção do Serviço Social e que as profissionais devem fazer um esforço para participar desses espaços decisórios, em vista da possibilidade de incidir com maior profundidade na gestão da política e assim, qualificá-la. Igualmente, houve manifestação de 80% dos grupos A e B quanto à necessidade da gestão da instituição colaborar para o fortalecimento dos conselhos.

A participação e controle social são dois conceitos interdependentes que caminham juntos e que devem ser entendidos no contexto da democracia e da cidadania, num processo progressivo e permanente, dinâmico de construção e conquista de direitos, ou seja, a participação está diretamente relacionada ao aprofundamento da democracia e de construção de uma nova esfera pública, na qual há a redefinição das relações entre Estado e sociedade civil (PAZ, 2009). Por outro lado, os conselhos, nos três níveis de governo, representam espaços contraditórios e de disputas políticas, em que muitas vezes seus integrantes são capturados por aqueles que apostam em velhas práticas conservadoras (RAICHELIS, 2006).

Desse modo, a presença do assistente social nos canais de controle social é defendida por Bravo e Souza (2002) e Raichelis (2006), em razão da possibilidade de socializar informações e desmistificar possíveis armadilhas que se apresentam nos conselhos. Iamamoto (2008), por sua vez, ressalta o papel do assistente social nos conselhos e movimentos sociais, afirmando que se trata de um trabalho de base, de educação, de mobilização e organização popular, representando um espaço de aprendizado, de compartilhamento de poder e de intervenção em esferas decisórias. Há a necessidade de uma reaproximação desses espaços, não somente dos profissionais de Serviço Social, mas também dos interlocutores da política habitacional, sejam lideranças, ou usuários, a fim de adequar a condução da própria política e aos novos desafios do presente.

Quanto à coleta e repasse de informações, tanto para os usuários quanto para a gestão, 100% das respondentes participam e acreditam na importância desta ferramenta no cotidiano profissional. Cumpre destacar que no movimento de socialização de informações para a gestão e para as equipes multidisciplinares, o assistente social inclui as demandas e aspirações dos usuários. Da mesma forma, no contato com os usuários, as informações tornam-se componentes fundamentais para a viabilização de direitos, representando um compromisso com a cidadania e com o processo de politização. Mioto destaca a importância da informação no trabalho direto junto aos usuários:

[...] o direito à informação não está restrito ao conhecimento dos direitos do legalmente instituído nas políticas sociais. Inclui-se o direito dos usuários de usufruírem de todo o conhecimento socialmente produzido, especialmente daqueles gerados no campo da ciência e da tecnologia, necessário para a melhoria das condições e qualidade de vida ou para que os usuários possam acessar determinados bens ou serviços em situações específicas. Acresce-se ainda que o direito à informação não se restringe ao acesso à informação. Ele pressupõe também a compreensão das informações, pois é ela que vai possibilitar seu uso na vida cotidiana. Dessa forma, o uso da informação ou a incorporação da informação pelos sujeitos, torna-se um indicador importante de avaliação no processo de construção da autonomia dos indivíduos, dos grupos e das famílias, que é a grande finalidade das ações educativas (MIOTO, 2009, p. 502-503).

No repasse de informações, não raras vezes, os assistentes sociais precisam alertar os demais membros das equipes (em reuniões ou em outros atendimentos nas comunidades beneficiárias) sobre a linguagem utilizada pelos engenheiros, arquitetos e advogados, ou seja, a utilização de terminologias técnicas que não são compreensíveis para a população usuária. Rotineiramente, no trabalho multidisciplinar, surgem observações por parte dos profissionais de Serviço Social, “que todos trabalham em prol de uma política pública, voltada aos mais pobres e não somente os assistentes sociais. Portanto, todos têm o dever de prestar informações à população de baixa renda de modo que o conteúdo das mesmas seja compreendido” (GRUPO B, 8 respondentes).

A forma do assistente social se inter-relacionar, tanto com a equipe multidisciplinar quanto com a com a população beneficiária, se deve ao fato desse profissional se dirigir in

loco e conhecer a realidade e os espaços pelos quais os sujeitos vivem e constroem suas

relações sociais e estratégias de sobrevivência. Assim, possui um acúmulo de dados e outras informações fruto também do diálogo com outros atores sociais que fazem parte do trabalho (entidades não governamentais, lideranças e profissionais de outras secretarias e departamentos, etc.). O acesso à informação sobre a cidade e os territórios tem se tornado uma ferramenta cada vez mais necessária para o processo de gestão em todos os níveis. Sem informação da realidade não se elaboram estudos/diagnósticos efetivos, não se criam parâmetros avaliativos, não se constroem indicadores, não se traz à tona as reais condições de vida dos moradores (KOGA, 2003).

Além da participação em equipes multidisciplinares, da coleta e repasse de informações, dentre outras ações, a atuação dos assistentes sociais nas instituições, conforme respostas de 11 participantes, ocorre da seguinte forma:

Gerência do trabalho social na PHIS, ou seja, coordenação dos projetos específicos do Serviço Social, onde se insere em todas as etapas do projeto: planejamento, execução e avaliação; coordenação do setor (Departamento de Serviço Social); colaboração, juntamente com os demais técnicos, no suporte aos municípios, oferecendo subsídios para a concretização da PHIS nos municípios, repasse de informações dos demandantes à diretoria (GRUPO A).

Outras 13 respondentes declararam que a inserção do Serviço Social na instituição se