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BÁSICOS SOCIAIS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS INCLUSÃO E INTEGRAÇÃO SOCIAL POLÍTICAS PÚBLICAS INTEGRADAS CIDADANIA PERTENCIMENTO À CIDADE E ÉTICA COLETIVA

ferramentas de transformação social, implicando vê-los por dentro, criticá-los e contextualizá- los. É a possibilidade de o homem reconhecer-se homem, de sentir-se capaz de buscar novas alternativas para si e para os outros.

Segundo a Comissão de Estudos para América Latina e Caribe (CEPAL, 2007) a segregação territorial é um grande problema para a consolidação da cidadania, pois não contribui para a construção do sentimento pertença societal ou de coesão social. A inclusão e pertencimento, ou pertencimento e igualdade, são eixos que incorporam o conceito de cidadania e também diz respeito à coesão social.

A coesão social121 refere-se, pois, tanto a eficácia dos mecanismos instituídos de inclusão social como aos comportamentos e apreciações dos sujeitos que conformam a sociedade. Esses mecanismos incluem, entre outros, a titularidade dos direitos e as políticas que fomentam a equidade, a proteção social e melhor qualidade de vida. Já os comportamentos e as apreciações dos sujeitos abrangem âmbitos tão diversos quanto à confiança nas instituições, o potencial individual, o sentido de pertencimento e solidariedade, a aceitação de normas de convivência e a disposição para participar em espaços de deliberação e em projetos coletivos.

A integração dos membros da sociedade é concebida como um sistema compartilhado de esforços e recompensas, igualador no tocante a oportunidade e meritocrático em termos de retribuição. Já a noção de inclusão social, poderia ser considerada como uma forma ampliada da integração que supõe, não somente a melhoria das condições de acesso a canais de integração, mas também a promoção de possibilidades de autodeterminação dos atores em jogo. A noção de ética social ou coletiva, por sua vez, alude a outra dimensão imprescindível da coesão social. Nela se destacam a comunidade e mínimos sociais, o respeito como valor ético e como valor prático, e um princípio assumido de reciprocidade no tratamento, o que não acontece com o mercado, pois não possui nenhuma moral distributiva (CEPAL, 2007).

Cidadania, portanto, está vinculada ao sentido de pertencimento na confluência entre igualdade e diferença. Nesse ponto é necessário conjugar a maior igualdade de oportunidades

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O conceito de coesão social costuma ser confundido com outros, porém referencia três pontos: Desigualdade, Instituições e Pertencimento. A desigualdade inclui: renda, pobreza e indigência, emprego, educação, saúde, habitação e não inserção digital; Instituições: o grau de democracia, a organização das instituições estatais, instituições do mercado e da família e por último o Pertencimento: que inclui o sentimento de pertença, ser parte integrante da sociedade, o multiculturalismo, confiança, participação, expectativa de mobilidade e respeito mútuo. A noção aproximada de coesão social refere-se ao capital social, entendido como a capacidade que pessoas ou grupos sociais têm de pautar-se por normas coletivas, construir e preservar redes e laços de confiança, reforçar a ação coletiva e assentar bases de reciprocidade no tratamento que se estendem progressivamente ao conjunto da sociedade.

com políticas de reconhecimento. O pertencimento é construído não só com maior equidade, mas também com maior aceitação da diversidade. Não pode haver um “nós” internalizado pela sociedade, se essa mesma sociedade invisibilizar identidades coletivas, seguir práticas institucionalizadas ou cotidianas de discriminação de grupos definidas por diferenças sociais, geográficas, de gênero, idade, etnia e credos religiosos (CEPAL, 2007).

No caso da política habitacional de perfil social, o assistente social precisa conhecer o morador, bem como a estrutura de sua moradia e a organização do território no qual ele se encontra. Desse modo, ao entrar em uma casa ou se aproximar da população exclusa social e espacialmente, desacreditada de promessas enganosas e de anos de abandono do poder público, exige que se leve em conta a trajetória histórica, a formação da identidade dessas pessoas e a forma pela qual construíram suas redes de apoio no referido território.

O ponto fundamental é desmistificar o pré-julgamento em relação ao pobre que vale pelo território onde vive e como vive, sem considerar as verdadeiras causas de sua condição. Fazendo uso das ideias de Ianni (1986), a questão social atinge visceralmente a vida dos sujeitos numa luta aberta e surda pela cidadania.

A compreensão das desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais que se materializam na vida dos sujeitos de forma a desqualificá-los ou culpabilizá-los pela própria condição de pobreza e mesmo pelo lugar no qual residem, faz parte do quadro de pobreza e iniquidade que conformam a atual questão social brasileira, fruto do processo de colonização estabelecido no país há 500 anos. A violência da exploração de base fundiária e econômica transformou, durante estes séculos, inumeráveis deserdados do direito de possuir algum lugar para morar e desenvolver suas raízes. A citação a seguir ilustra tal afirmação:

A desqualificação social é uma experiência humilhante, ela desestabiliza as relações com o outro, levando a fechar-se sobre si mesmo. Mesmo as relações no seio da comunidade familiar podem ser afetadas, pois é difícil para alguns admitir que não estejam à altura das pessoas que o cercam (PAUGAM, 1999, p. 74).

Pelo fato de não possuir nada além da força de trabalho, um verdadeiro contingente populacional sente-se excluído do próprio território no qual vive. O sentimento de desqualificação e inadequação gerou formas próprias de apropriação do espaço e de viver da população “sem propriedade”, parafraseando Menegat (2008). A trama socioespacial interna é claramente distinta da ordem urbana tradicional. O recorte econômico divide as relações e os espaços e a relação dentro do contexto da sociedade, que, segundo Balman (2004), vai determinando a consciência dos homens. A partir dessa determinação, fica explicita no

recíproco intercâmbio entre as pessoas e coisas a personificação das coisas e a coisificação das pessoas. Na vida cotidiana, o “fetichismo” (IAMAMOTO, 2008) do consumo, das máquinas, da sociedade industrial, eletrônica e informatizada foi tomando o lugar da sociedade humanizada, gerenciada por leis do capital que não reconhecem o valor do ser humano.

Por outro lado, há uma preocupação com o que fazer com os excluídos, e a suposição mais difundida é de que os próprios excluídos não sabem o que fazer com eles mesmos e precisam, por isso, de ajuda, de orientação e de intervenção daqueles que se “incomodam” com a situação em que eles se encontram. Mesmo após a Constituição de 1988, segundo Martins, persiste uma consciência reacionária da pobreza.

[...] que trata os pobres como desprivilegiados e proclama uma forma antidemocrática de inclusão, por meio de privilégios e não em forma de direitos sociais, políticos e civis. Uma consciência que, no fundo nega ou não questiona os verdadeiros fundamentos que retroalimentam a desigualdade e a exclusão (MARTINS, 2002, p. 37).

Em nome dos excluídos são encaminhadas providências políticas de integração à sociedade que os exclui. Em nome deles pede-se habitação, educação, saúde, emprego, etc. Contudo, “não se admite a contradição existente no âmago do sistema econômico que alimenta o processo que os vitima” (MARTINS, 2002, p. 40). Nesta lógica, Iamamoto (2009, p. 34) chama atenção sobre o processo de conquista da cidadania, que: “[...] não é dada aos indivíduos de uma vez para sempre e não vem de cima para baixo, mas é resultado de lutas permanentes, travadas quase sempre a partir de baixo, pelas classes subalternas.

Ao trabalhar com os sujeitos exclusos social e espacialmente, deve-se considerar “as desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, [...]. Além disso, esse processo é denso de conformismos e rebeldias, forjados ante as desigualdades sociais e políticos de todos os indivíduos sociais” (IAMAMOTO, 2001, p. 9-32).

O fato dos sujeitos ocuparem áreas a revelia da lei, demonstra um processo de rebeldia, a qual deverá ser transformada em âncora na práxis do assistente social. Em se tratando de trabalho, enquanto forma de práxis, Marx (1993) alerta que este possibilita o desenvolvimento de todos os sentidos do ser humano, seja o tato, a visão, o gosto, a percepção, o amor, enfim, todas as formas de manifestação do homem como ser sensível. Cita ainda a potência do amor na construção da humanização do homem:

[...] o amor só poderá permutar-se com o amor, a confiança com a confiança etc. Se alguém desejar saborear a arte, terá que tornar-se uma pessoa; se alguém pretende

influenciar os outros homens, deve tornar-se um homem que tenha um efeito verdadeiramente estimulante e encorajador sobre outros homens (MARX, 1993, p. 234).

Mediar a pertinência à cidade dos sujeitos que estão exclusos social e espacialmente exige dos assistentes sociais aproximação, afeto e cuidado com os sujeitos, parafraseando Martinelli (1993). Bauman (2004, p. 100) destaca que o “amor ao próximo é questão de sobrevivência humana”. O preceito ao amor ao próximo desafia e interpela os instintos estabelecidos pela natureza, mas também o significado da sobrevivência por ela instituído, assim como o do amor próprio que o protege.

O amor na práxis profissional não significa referendar uma prática piegas, piedosa ou assistencialista, mas sim, de relação humana e, na visão marxiana o indivíduo concreto é uma síntese das inúmeras relações sociais e necessita do outro para ser reconhecido como cidadão. O indivíduo, que é único e indivisível, se constitui, enquanto tal, na trama das múltiplas relações da sociedade. Não há dicotomia entre indivíduo e sociedade, entre sujeito e objeto, singular e universal. Há uma interdependência entre o sujeito e seu contexto natural e social (MARX, 1993).

O pertencimento e apropriação de determinada realidade ou espaço são compreendidos como ferramentas de transformação social, implicando vê-los por dentro, criticá-los e contextualizá-los. A promoção social e a identidade dos sujeitos são construídas de forma relacional, precisando para isso do outro semelhante para se reconhecer a si mesmo. “Para que o homem sinta-se capaz de produzir e agir [...] é preciso que esteja seguro entre seus pares” (SAWAIA, 1999, p. 23). O cidadão se constrói “objetiva e subjetivamente na cotidianidade das ações, sejam elas banais ou não” (KOSIK, 2002, p. 80).

Além do fortalecimento dos sujeitos, o grupo B (3 respondentes) trouxe à tona a seguinte afirmação: “O assistente social busca fortalecer os sujeitos e comunidades, bem como tem o papel fundamental de investir na qualificação da política habitacional, em vista do compromisso profissional na luta por direitos e no aprimoramento das políticas públicas”. Ao defender a constituição de uma política universalista e inclusiva, os profissionais de Serviço Social “[...] assumem em sua prática plenamente a sua vocação social e o seu comprometimento político” (MARTINELLI, 1998, p. 148). O compromisso ético na defesa de direitos também perpassa pela defesa da política pública de qualidade.

O Serviço Social defende a construção de uma ética urbana fundamentada na justiça social e na cidadania, afirmando a prevalência dos direitos humanos e instrumentalizando os sujeitos de sua ação para que estes viabilizem, coletivamente, as transformações necessárias