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No IV Congresso, ocorrido entre os dias 10 e 14 de fevereiro de 2000, a palavra de ordem do evento foi: “Por um Brasil sem latifúndio”, onde os debates apresentam os problemas, limites e avanços do modelo econômico vigente e suas consequências para o campo, representado pelo agronegócio, que segundo Matheus (2007), significa uma matriz de produção agrícola, que intensifica ainda mais a situação da exclusão social, com o aumento do desemprego e precarização do trabalho no campo, devido ao desenvolvimento, avanço e concentração do capitalismo agrário, aumento de empresas agroexportadoras e latifúndio improdutivos. Em 1997, o MST testemunha e apoia a criação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST11 e pensa uma estratégia de inserção e ampliação

do MST no contexto urbano, invertendo a lógica do trabalho de base nas metrópoles para inserir os trabalhadores na luta pela Reforma Agrária no campo. A intenção é atender as demandas por terra e trabalho em áreas mais próximas às cidades.

Diante desses desafios, de combater a violência no campo, realizar a Reforma Agrária amplamente com a união dos trabalhadores do campo e da cidade, entre os anos de 1997 e 1998, a militância do MST percorre as cidades através das jornadas nacionais de lutas, para denunciar o aumento da violência contra os Sem Terra e o descaso do governo de Fernando Henrique Cardoso com a agricultura familiar.

Durante o primeiro mandato de Fernando Henrique (1994 a 1998), o êxodo rural aumentou significativamente, devido às perdas de pequenas

10 Disponível em: https://mst.org.br/nossa-historia/94-99/

11 O MTST é um movimento que organiza trabalhadores urbanos para a luta por moradia, desta

forma utiliza a ocupação de imóveis abandonados, como forma de pressão para a realização de uma Reforma Urbana, baseado na CF/88, que estabelece a lei de direitos sociais, os artigos 6°, 7º e 23º, que os direitos sociais, como educação, saúde, alimentação, trabalho e moradia devem ser garantidos pelo Estado, competência comum compartilhada entre a União, os Estados, Distrito Federal e Municípios, e com isso promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico, principalmente nas periferias.

propriedades, que expropriadas por bancos em ações judiciais impossibilita a permanência das famílias no campo, encerra qualquer projeto de desenvolvimento da agricultura familiar12.

Figura 11 – Painel do IV Congresso – MST

Fonte: MST, ago. 2000. Disponível em:

http://www.reformaagrariaemdados.org.br/biblioteca/cartaz/.

O MST retoma os debates sobre a importância de criar alternativas ao modelo de produção agrícola, sob o domínio de grandes conglomerados de empresas capitalistas; o Movimento recorre às experiências de Reformas Agrárias Populares que, entre os anos de 1930 até o fim da década de 1970, foram implementadas na China, Egito, Vietnã, Guatemala, Nicarágua e nos primeiros anos da revolução cubana para definir uma nova proposta de Reforma Agrária, de cunho popular, incentivando o trabalho coletivo, a preservação do meio ambiente, o cooperativismo, a união entre trabalhadores urbanos e camponeses e o fim da mercantilização dos bens da natureza.

A Reforma Agrária Popular do MST propõe uma nova configuração de assentamentos, com a titulação coletiva das terras, a criação de agroindústrias para

beneficiamento da produção agrícola, venda direta para os consumidores e o uso racional, democrático, socialmente útil das tecnologias.

Os objetivos da Reforma Agrária Popular incluem democratizar o acesso à terra, às águas, biodiversidade, fontes de energia e minérios;

Impedir a concentração das terras e estabelecer o tamanho máximo da propriedade privada, com garantia de uso ecologicamente correto, cumprindo sua função social;

Assegurar a devolução das terras e territórios, minas e rios apropriados por empresas estrangeiras;

Demarcar, respeitar e proteger todas as áreas dos povos tradicionais da floresta, dos quilombos, os ribeirinhos, pescadores, indígenas e demais atividades ligadas ao campo;

Assegurar e preservar as águas;

Combater o desmatamento e reflorestar as áreas degradadas; Preservar, multiplicar e socializar as sementes crioulas;

Defender a soberania e segurança alimentar, assegurando que a produção de alimentos seja saudável, sustentável com o uso de técnicas agroecológicas;

Garantir à população do campo o acesso aos bens culturais, à educação pública, gratuita e de qualidade em todos os níveis;

Incentivar, fortalecer e difundir a identidade cultural e social da população camponesa;

Assegurar o acesso, a produção e controle dos meios de comunicação nos acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária;

Desenvolver a formação técnica, científica e política permanente para a classe trabalhadora;

Combater todas as formas de discriminação racial, étnica, de gênero, religião, orientação sexual, a exploração do trabalho e assegurar que a remuneração seja compatível com a renda e riqueza gerada no país. Garantir condições dignas de trabalho, jornadas e turnos adequados, entre outras coisas.

Com todas as questões colocadas, lutamos para eliminar toda e qualquer forma de escravidão e violência no campo.

Chegamos ao fim da gestão de Fernando Henrique Cardoso, com um número muito inferior à meta de legalização das áreas para assentamentos.

Inúmeras famílias Sem Terra alimentam o sonho e as expectativas de mudança em favor da classe trabalhadora, aquecendo as eleições em que colocaram Luiz Inácio Lula da Silva como o presidente da república e, pelo fato deste presidente apoiar publicamente a Reforma Agrária, a vitória de Luiz Inácio nas eleições de 2002 se apresenta como a grande oportunidade de realização do PNRA em todo o Brasil, no entanto a bancada ruralista exerceu grande poder de articulação no Congresso impedindo o avanço do projeto de Reforma Agrária, assim o agronegócio intensifica-se ainda mais como principal modelo agrário-exportador.

Figura 12 – Luiz Inácio Lula da Silva e militantes do MST na campanha presidencial em 2002

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula.

Enfrentamos também a questão da compra de áreas por empresas e grupos transnacionais incentivados pela estrutura do Estado, a questão da concentração de imóveis rurais pelos oligopólios de exploração, produção e comércio dos recursos naturais e por meio do financiamento público e incentivos fiscais, têm se apresentado como o grande entrave para o avanço da Reforma Agrária. Em resposta à morosidade do Ministério de Desenvolvimento Agrário – MDA, o MST aumenta em mais de 50% o número de ocupações em todo o país logo após a posse do novo presidente. A pressão política protagonizada pelos Sem Terra resultou na criação do II Plano Nacional de Reforma Agrária – PNRA, que promete resolver o problema de mais de 1 milhão de Sem Terras, com a criação de 2 milhões de novos postos de trabalho no campo, ainda assentar 400 mil novas famílias, sendo que 130 mil famílias terão acesso à terra por meio do crédito

fundiário, outras 500 mil permanecem nas áreas em litígio, com garantia de regularização fundiária até o fim de 2006. Chegamos ao final de 2016 sem que as metas pudessem ser cumpridas mais uma vez.

Na perspectiva de melhorias na condição de vida das famílias em situação do campo e das cidades, o MST inaugura os projetos de Reforma Popular a partir das Comunas da Terra. A Regional Grande São Paulo, com base nos debates nacionais e mais especificamente em estudos e pesquisas de Delwek Matheus, que em 2003 insere o MST à metrópole, visto que a demanda dos trabalhadores urbanos propõe uma política de Reforma Agrária com desenvolvimento territorial, geração de trabalho e renda com produção agrícola e não agrícola, desenvolvendo tecnologias e auto sustentabilidade a partir da agroecologia13.