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A defesa de um Programa de Reforma Agrária Popular se apresenta como uma das prioridades para o MST. Reivindicar e exigir o fim da concentração fundiária no campo e nas cidades, geração de emprego e renda para e na agricultura familiar, melhores condições de permanência das famílias no campo, com a adoção de políticas de desenvolvimento social, principalmente para a juventude.

Desta forma, nosso último Congresso ocorreu entre os dias 10 e 14 de fevereiro de 2014. O Movimento realizou o VI Congresso, sob o lema: Lutar, Construir Reforma Agrária Popular, considerando os limites e o novo paradigma de desenvolvimento para a agricultura familiar frente ao agronegócio18.

17 Samba enredo da escola de samba unidos da lona Preta. Carnaval 2011.

Figura 14 – Mística de abertura do 6º Congresso do MST

Fonte: Site do MST, fev. 2014. Disponível em: mst.org.br/nossa-historia/05-14.

Nos reunimos para mais este importante momento, em meio às crises políticas que acirram a polaridade entre as correntes partidárias de esquerda e direita, diante das pressões e tensionamentos causados pelas ondas de manifestações em 2013, em que principalmente estudantes saem às ruas e de forma massiva reivindicam a diminuição das tarifas de transporte em todo o Brasil. A questão central foi de fato a política de mobilidade nas cidades, os questionamentos sobre os subsídios públicos às empresas privadas de transporte e a baixa qualidade de um serviço tão essencial à classe trabalhadora e aos estudantes, que inclusive reivindicavam o passe livre. Após alguns dias, as ondas de mobilizações e as pautas de reinvindicação se ampliaram para as questões de gênero, o acesso e a qualidade dos serviços públicos e o fortalecimento da política redistributiva. O tensionamento causado pelas manifestações permitiu que os debates sobre as demandas populares ultrapassassem as esferas municipais e passaram a pressionar as instâncias federais, desencadeando uma série de ataques, acusações e enfraquecimento da gestão de Dilma Rousseff, sob acusações de ineficiência administrativa, descaso com o SUS, envolvimento em casos de corrupção, entre outras possíveis causas de desvio de função.

Figura 15 – Marcha por Brasília durante o VI Congresso

Fonte: Site do MST, Disponível em: mst.org.

Grande parte dos manifestantes foram às ruas acreditando em uma possível mudança no cenário político. A partir destas mobilizações grandiosas, a repercussão midiática e de ação política reverbera internacionalmente, gerando o processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Contrariando os discursos acalorados de combate a corrupção, frente às “pedaladas fiscais” durante a gestão de Dilma Rousseff, assistimos o aumento exponencial das crises econômicas e políticas, que gerou a articulação de membros da oposição entre a câmara de deputados e senadores, juntamente ao vice presidente Michel Temer ao operarem todo o processo de destituição da presidenta, mesmo sem o aprofundamento das investigações, ou qualquer fundamento legal para a saída de Dilma Rousseff do governo federal em 2016. Em 2019, após dois anos de sua saída, Rousseff é inocentada da acusação de desvios ou erros no remanejamento dos pagamentos de contas da união.

Durante todo esse período até os dias atuais (de 2016 a 2019), as crises políticas, econômicas e sociais se intensificam. Por uma série de fatores, mas principalmente pelos discursos de ódio, declarações preconceituosas oriundas da nova equipe do governo, as perseguições aos movimentos sociais acirram a luta de

classes. A violência no campo e nas cidades afetam principalmente indígenas, quilombolas, ativistas e militantes sociais. O sucateamento da educação, em especial a educação pública, a fome e o desemprego a níveis estratosféricos, nos atinge em todos os setores e diante de um cenário de obscurantismo e incertezas, principalmente após a posse do atual presidente Jair Messias Bolsonaro (2019). Diante deste contexto caótico buscamos a unificação das bandeiras, a rearticulação com os partidos e entidades de esquerda para resistirmos e fazer o enfrentamento político, ideológico contra a retirada de direitos.

Dentre os objetivos principais defendidos pelo MST, incluem a democratização das terras, a partir da Lei de Reforma Agrária com justiça social garantindo a demarcação das terras indígenas e preservação dos quilombos, exigindo a punição dos assassinos dos trabalhadores do campo e a desapropriação dos latifúndios em posse das multinacionais, com distribuição igualitária das terras, produção de alimentos saudáveis nas terras conquistadas com ênfase no princípio da soberania alimentar e melhoria nas condições de vida no campo e na cidade. O viés ideológico deste movimento é socialista, posicionamento oposto às ações e declarações aviltadas do atual presidente e sua equipe de governo de base militarista e ultradireitista.

A relação entre Estado e os Movimentos Sociais está interrompida pelas ameaças de prisão arbitrária, perseguição e criminalização midiática com publicações de notícias, boatos e acusações falsas sobre o MST, comunidades indígenas e quilombolas, enquanto os desmatamentos e queimadas nas florestas e reservas ambientais aumentam e o INCRA chega ao fim de 2019 reconhecendo apenas 9 mil projetos de assentamento em todo o país, sem qualquer garantia de avanço da Reforma Agrária.

3 MST Internacional

Figura 16 – Protesto contra a carta de direitos camponeses na Organização das Nações Unidas (ONU)

Fonte: mst.org.br/2018/09/19/via-campesina-se-posiciona-contra-decisao-que-estende-prazo-para- votacao-da-carta-de-direitos-camponeses-na-onu. Acesso em: 22 de jul. 2020.

O MST faz parte da Via Campesina, que é uma organização internacional criada em 1993, reúne inúmeros movimentos de pequenos e médios produtores camponeses, que autônomos, pluralista, sem vínculo, ou dependência orgânica a partidos, igrejas, governos e de cunho progressista atuam em escala regional e nacional, em várias partes do mundo, como a Europa, Ásia, América do Norte, Caribe, América Central, América do Sul e África.

A Via Campesina é um movimento internacional que reúne milhões de camponeses, pequenos e médios agricultores, sem-terra, mulheres e jovens rurais, indígenas, migrantes e trabalhadores agrícolas de todo o mundo. Construído sobre um forte senso de unidade, solidariedade entre esses grupos, defende a agricultura camponesa pela soberania alimentar como uma maneira de promover a justiça social e a dignidade e se opõe fortemente à agricultura impulsionada pelas empresas que destrói as relações sociais e a natureza (Disponível em:

viacampesina.org/em/international-peasants-voice).

A Via Campesina congrega diversas bandeiras de lutas pela defesa da globalização da Reforma Agrária, garantia de todos os direitos humanos, civis e políticos à população campesina. Está inserida em mais de 70 países em todos os continentes.

No Brasil, além do MST há a Escola Latino Americana de Agroecologia – ELAA, espaço de formação da militância da esquerda progressista, em que se reúnem parceiros e aliados de toda a América Latina e Caribe, com o objetivo de ensinar, aprender e disseminar a agroecologia. Esta Escola está localizada no Assentamento Contestado, uma das comunidades camponesas do MST no Paraná. Demais organizações e Movimentos que compõem a Via Campesina são: Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA; Movimento dos Atingidos por Barragem – MAB; Movimento de Mulheres Camponesas – MMC; Comissão Pastoral da Terra – CPT; Conselho Indigenista Missionário – CIMI; Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB; Instituto Equipe de Educadores Populares – IEEP (Disponível em: http://elaa.redelivre.org.br/sobre/).

A unidade das pautas é importante para estabelecer relações de solidariedade, fortalecimento e ampliação das bandeiras de luta e reivindicação dos trabalhadores do campo, para a construção de um modelo de desenvolvimento da agricultura que garanta a soberania alimentar como direito dos povos, a definição de políticas agrícolas próprias e a preservação do meio ambiente com a proteção da biodiversidade (Disponível em: https://viacampesina.org/es/el-libro-abierto-de-la- via-campesina-celebrando-20-anos-de-luchas-y-esperanza/).

4 Nossa organização

O princípio do MST é a ocupação de terras, portanto o início das atividades do Movimento giram em torno da organização, resistência nos acampamentos e ao longo de sua atuação cria uma pedagogia própria, buscando soluções para as demandas do próprio movimento, na dinâmica de acampamentos, organização dos assentamentos, marchas, mobilizações e entre tantas outras formas de luta.

Autores como Roseli Salete Caldart, Miguel Arroyo e Bernardo Mançano Fernandes descrevem a gênese e o desenvolvimento do MST como “sujeito pedagógico” da teoria e prática da formação humana para sua base social, a partir da tradição teórica dos estudos da história social marxista, centrados nas categorias: classe, luta de classe, ideologia e modo de produção. Nos âmbitos da cultura e da educação, o MST adota métodos de planejamento, formação, avaliação

e prática constante, respeitando a centralidade democrática para o encaminhamento das demandas e tomada de decisões.

O centralismo democrático no MST adapta o método de unidade de ação, pensada e sistematizada por Lênin para o Partido Operário Social-Democrata da Rússia – POSDR, durante a reunião de avaliação do 4º Congresso do Partido em abril de 1906.

Os princípios da centralidade democrática no MST respeitam os encaminhamentos feitos através das instâncias da organização dos acampamentos, definições dos setores, coletivos, brigadas e frentes para avaliar de forma crítica as causas e consequências dos problemas que afetam o todo da organização, com ampla discussão para a organização da ação unitária nas regiões e nos estados.

A articulação das ações partem das reuniões nos assentamentos e acampamentos, que são encaminhados à direção regional (divisão geográfica nas cidades e nos municípios em que há mais de um assentamento ou acampamento), e por sua vez são partilhados nas estruturas participativas, democráticas, construindo unidade nos estados, compondo o repertório das ações nacionais. A participação das mulheres é uma das prioridades na composição das instâncias regionais, estaduais e dos setores, além de incentivar as considerações e votos de todos nas assembleias que acontecem nos acampamentos e assentamentos.