• Nenhum resultado encontrado

Desde a divisão das tarefas mais corriqueiras e simples até a construção de um planejamento para um assentamento, o processo de ensino-aprendizagem se dá através destas experiências práticas coletivas, dialógicas, participativas e propositivas em que se vivencia a “importância da socialização permanente de saberes, processos organizativos da sociedade civil, processos educacionais articulados com a escola e comunidade” (GOHN, 2011, p. 11), sob a tríade políticas públicas, campo e educação.

Segundo Arroyo, Caldart e Molina (2004), quando o ideal de ensino parte do princípio de que a formação deve acima de tudo promover a emancipação humana, acompanhada de um movimento dialético de planejamento-ação- avaliação, construindo uma identidade coletiva, revela as potencialidades dos movimentos sociais como propositores, provocadores e propulsores de um sistema específico de ensino para as comunidades tradicionais do campo, como já apontava o texto elaborado para compor o documento-base da I Conferência Nacional de Educação do Campo:

[...] garantir que todas as pessoas do meio rural tenham acesso a uma educação de qualidade, voltada aos interesses da vida no campo. Nisto está em jogo o tipo de escola, a proposta educativa que ali se desenvolve e o vínculo necessário desta educação com uma estratégia específica de desenvolvimento para o campo (ARROYO; CALDART; MOLINA, 2004, p. 23).

Atualmente e após o reconhecimento da proposta de educação que é defendida pelo MST, que gerou as diretrizes do PRONACAMPO – Programa de Nacional de Educação do Campo, inserida no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA – Portaria nº 10/1998, Parecer CNE/2006, que considera a pedagogia da alternância como dias letivos válidos; Diretrizes Operacionais para a Educação Básica do Campo – Resolução CNE/CEB nº 2/2008, que descreve as diretrizes complementares para as políticas públicas de Educação do Campo; Resolução CNE/CEB nº 4/2010 para as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica; por fim o decreto nº 7.352, de 04 de novembro de 2010, que confere um conjunto de atribuições à Educação do Campo enquanto política de Estado, inspiradas no artigo 84 da CF/88, incisos IV e VI, alínea "a", tendo em vista o disposto na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e no Art. 33 da Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009; para além dos conteúdos de ensino em si, interfere diretamente no progresso e desenvolvimento dos territórios campesinos, interligando programas, projetos, emendas de leis e acesso aos demais direitos, que não somente “Luz para Todos na Escola”, mas garantia do Transporte Escolar, EJA e Educação Profissional, Inclusão Digital, Educação Integral e Água e Esgoto através do Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE.

São estruturas físicas, construídas em parceria entre comunidades e poder público, localizam-se normalmente dentro das comunidades rurais, assentamentos e centros de formação. Está aberta a todos os moradores locais, sem distinção de cor, raça, religião ou diretriz política/partidária.

5.1 Mais Educação para o Campo

O Programa Mais Educação do Campo oferece a oportunidade de ampliação da jornada escolar e oferece ensino integral para as diversas áreas de conhecimento. Dentre as ações da formação integral, o Mais Educação do Campo contempla os seguintes macrocampos: Acompanhamento pedagógico;

Agroecologia; Iniciação Científica; Educação em Direitos Humanos; Cultura e Arte Popular; Esporte e Lazer; Memória e História das Comunidades Tradicionais.

Para todos os planos de atendimento e modalidades de ensino, prevalecem os acordos e definições do Projeto Político-Pedagógico – PPP das unidades escolares, bem como devem ser desenvolvidos “por meio de atividades que ampliem o tempo, os espaços e as oportunidades educativas, considerando as diferentes faixas etárias, os espaços de aprendizagem e o repertório de competências e habilidades20

5.1.1 Educação do Campo e a qualificação profissional

A relação articulada com o mundo do trabalho acontece principalmente por meio de projetos pedagógicos adequados às reais necessidades dos alunos do campo, qualificação profissional dos educandos e educadores em atendimento da especificidade das escolas do campo, considerando-se as condições concretas da produção e reprodução social da vida no campo, bem como a flexibilidade na organização escolar, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola, garantindo a “efetiva participação da comunidade e dos movimentos sociais do campo” (BRASIL, 2013, p. 1). Visa à “adequação à natureza do trabalho na zona rural”, ou seja, a prioridade ainda é o trabalho para auxiliar na produção econômica.

A adequação do calendário escolar à época de plantio e colheita na zona rural confere à lei o aporte à formação humana, que sob aspirações marxistas do materialismo histórico dialético, reforça a categoria trabalho como princípio educativo do próprio MST. Principalmente no que tange à diversidade cultural, preservação ambiental, respeito aos aspectos sociais, questões de gênero e de geração, raça e etnia.

Estimula o desenvolvimento economicamente justo e ambientalmente sustentável das unidades escolares como espaços públicos de investigação, experimentos e estudos direcionados para o desenvolvimento social. Isso mostra que os princípios desta modalidade de educação estão totalmente alinhados aos

20http://portal.mec.gov.br/pec-g/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada

postulados defendidos pelo MST, na defesa de uma educação amplamente direcionada a uma parcela significativa do povo brasileiro que “trabalha e vive no e do campo”, como os Sem Terra, quilombolas, pescadores, marisqueiras, posseiros, meeiros, entre outras denominações para homens e mulheres inseridos na produção e reprodução da vida no campo, portanto uma educação do povo do campo em processo de desenvolvimento humano e territorial. Assim como desenvolve meios para superar a dicotomia entre a ideia de atraso relacionado ao campo e o progresso efervescente relacionada à urbanidade, quando caipiras, lavradores, curumbas, tabaréus, colonos, roceiros, meeiros, parceiros, recentemente Sem Terra e assentados, esses sujeitos históricos, sejam protagonistas das transformações a partir de uma pedagogia em diálogo com a realidade:

[...] identificamos como educação popular a educação do campo, que vem sendo construída pelos movimentos sociais populares rurais/do campo. Nosso propósito é contrapor o modelo civilizatório de escola rural, urbanocêntrica, historicamente oferecida aos trabalhadores e trabalhadoras que vivem nas áreas rurais, à educação do campo desenhada e posta em prática pelos sujeitos-político-coletivos, movimentos-sociopopulares (RIBEIRO, 2008, p. 42).

No artigo 28 da LDB 9394/96, há o reconhecimento da diversidade sociocultural na educação brasileira. Esse artigo possibilitou a construção das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (BRASIL, 1996) - Parecer CNE/CBE nº 1/2006, considerando os dias letivos de acordo com a Pedagogia da Alternância.