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Conhecendo o território

No documento DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 174-200)

CAPÍTULO 2 – Conquistas e desafios da Reforma Psiquiátrica brasileira

4.1. Conhecendo o território

A região da Freguesia do Ó e Brasilândia situa-se ao norte do município de São Paulo e abrange uma área de 31,5 km². Segundo dados da prefeitura de São Paulo, a população total dos dois distritos em 2010 era de 407.245 habitantes15.

Figura 2: Mapa das Subprefeituras do Município de São Paulo16 Em destaque, a Subprefeitura da Freguesia do Ó17

Em toda a região há uma diversidade significativa em relação às características do território, condições de moradia, acesso a transporte, índices de violência e vulnerabilidade, dentre outros. Nesse sentido, sabemos que o distrito da

15 Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/i ndex.php?p=12758. Acesso em 06/11/2015. 16 Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/mapa/index.php?p=1 4894. Acesso em 05/11/2015. 17 Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/freguesia_brasilandia/mapas/index.p hp?p=143. Acesso em 05/11/205

Brasilândia, onde se inscreve a UBS cujo território foi referência para a realização dessa pesquisa, é marcado por condições de vida significativamente piores em relação ao distrito da Freguesia do Ó.

Dados oriundos de pesquisas realizadas sobre exclusão e desigualdade social no município de São Paulo (POCHMANN e AMORIM, 2003), assim como dados disponibilizados pela prefeitura de São Paulo e outras organizações18 possibilitam a rápida identificação dessa realidade. Reproduzindo a fotografia da pobreza e da desigualdade na cidade de São Paulo, a Brasilândia, como um distrito mais periférico, ao lado de muitos outros que compõem as margens do mapa da cidade de São Paulo, apresenta-se dentre aqueles com pior índice de desigualdade social no município (POCHMANN e AMORIM, 2003).

Construído a partir dos dados censitários de 2010, o Índice Paulista de

Vulnerabilidade Social (IPVS) nos possibilita uma análise geral acerca da condição

de vulnerabilidade no distrito da Brasilândia (SÃO PAULO, 2013). A construção desse índice considera que a vulnerabilidade à pobreza não está restrita à privação de renda, mas envolve aspectos a ela associados: composição familiar, condições de saúde e acesso a cuidados, qualidade e acesso ao sistema educacional, possibilidade de obter trabalho com qualidade e remuneração adequadas, existência de garantias legais em geral, dentre outros.

A vulnerabilidade de um indivíduo, família ou grupo social refere-se a sua maior ou menor capacidade de controlar as forças que afetam seu bem-estar, isto é, a posse de controles de ativos que constituem recursos requeridos para o aproveitamento das oportunidades propiciadas pelo Estado, mercado e sociedade (SÃO PAULO, 2013, p. 08).

A pesquisa considera ainda que a segregação espacial presente nos centros urbanos do estado de São Paulo, como no caso de nosso município, contribui para a permanência de padrões de desigualdade social, de modo que a diferenciação entre áreas com forte concentração de riqueza e forte concentração de pobreza cria

guetos de famílias submetidas a diversas condições que as tornam mais vulneráveis

à pobreza.

18 Recentemente, um conjunto de informações e indicadores sobre o município de São Paulo tem

sido disponibilizado por meio de portais como o Infocidade (http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/), o Observatório de Indicadores da Cidade de São Paulo – ObservaSampa

(http://observasampa.prefeitura.sp.gov.br/) e o Observatório Cidadão da Rede Nossa São Paulo

A partir disso, foram utilizadas nove variáveis para compor o IPVS 2010, a saber: percentual de pessoas responsáveis pelo domicílio alfabetizadas, percentual de pessoas responsáveis de 10 a 29 anos, percentual de crianças de 0 a 5 anos de idade, percentual de mulheres responsáveis de 10 a 29 anos, renda domiciliar per capita, rendimento médio da mulher responsável pelo domicílio, percentual de domicílios com renda domiciliar per capita de até 1/2 salário mínimo, percentual de domicílios com renda domiciliar per capita de até 1/4 de salário mínimo. Essas variáveis foram combinadas a partir de dois conjuntos de fatores: econômicos e demográficos, resultando em índices que permitem classificar as condições de vulnerabilidade de cada região em: baixíssima vulnerabilidade, vulnerabilidade muito baixa, baixa, média, alta e muito alta.

A observação do mapa a seguir, disponibilizado pela prefeitura de São Paulo e baseado nesse índice, permite-nos identificar que, quanto mais avançamos ao norte em direção ao distrito da Brasilândia, maior a predominância de situação de vulnerabilidade social muito alta no território.

Figura 3: Mapa do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS)19

19 Disponível em:

http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/mapas/5_Indice_paulista_de_vulnerabilidade_socia_2010_10616 .pdf. Acesso em: 06/11/2015.

Na Brasilândia, cuja área corresponde a 21 km², concentra-se 264.918 habitantes20, ou seja, pouco mais de 65% da população da região (2010). A ocupação do território teve início próximo aos limites do distrito da Freguesia do Ó, inicialmente por meio de loteamentos regulares para população de média renda. Essa ocupação se expandiu para o norte de forma desordenada, a partir de processos migratórios de pessoas de outros estados, que se intensificaram com o fluxo de migrantes do nordeste do país nas décadas de 1950 e 1960, constituindo-se uma população predominantemente de baixa renda. O território passa, assim, a ficar caracterizado por invasões de mananciais e superpopulação.

Poderes locais ligados ao Tráfico de Entorpecentes dominavam as ruas e a geografia local impedia o acesso do Poder Público. Segundo relatos de pessoas que residem há muito tempo no local, no início era possível pescar nos inúmeros córregos e nascentes da região. Com o tempo e sem a supervisão do Estado, passaram a surgir problemas sérios de saneamento básico. Principalmente com a construção de casas de tábuas sobre córregos, despejando esgoto doméstico in natura nos riachos. As casas subiram os morros e ocorreu desmatamento da Serra da Cantareira (RELATÓRIO GT1 – UBS). Cabe conhecer algumas características da população e suas condições de moradia, as quais resultam da forma como se deu essa ocupação. Observando os dados do último censo do IBGE, realizado em 2010, disponíveis no Infocidade, identificamos que a população é constituída por um número ligeiramente maior de mulheres (138.495) que de homens (126.423). Essa presença maior de mulheres começa a apresentar aumento na população a partir dos 10 anos de idade, sendo que nas faixas a partir de 65 anos a proporção de mulheres começa a ser significativamente maior que de homens, chegando a ser quase o dobro na população acima de 80 anos. A população da Brasilândia está assim distribuída por faixa etária: 3.878 habitantes com menos de 01 ano de idade; 19.779 de 0 a 04 anos; 22.209 de 05 a 09; representando a maior concentração populacional está a faixa de 10 a 14 anos, com 25.699 habitantes; 23.273 pessoas possuem entre 15 e 19 anos; 24.881 entre 20 e 24 anos; 25.167 habitantes têm entre 25 e 29 anos de idade; 22.845 estão na faixa de 30 a 34 anos; há 20.314 habitantes com idade entre 35 e 39 anos; 18.935 entre 40 e 44 anos; 15.910 entre 45 e 49 anos; 13.449

20 Disponível em:

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/i

habitantes possuem entre 50 e 54 anos de idade; 10.349 entre 55 e 59 anos de idade; a população entre 60 e 64 anos de idade corresponde a 7.874 habitantes; entre 65 e 69 anos, 5.245 pessoas; entre 70 e 74 anos existem no distrito 3.915 habitantes; entre 75 e 80 anos há uma população de 2.579 habitantes; finalmente, a população com mais de 80 anos é de 2.494 habitantes. Assim, a população de 0 a 14 anos corresponde a 25,6% do total. Os habitantes entre 15 e 29 anos, que representam a população jovem, totalizam 27,7% da população geral do distrito. A população adulta (30 a 59 anos) corresponde a 38,4% e a população acima de 60 anos corresponde a 8,3% do total.

A maioria significativa de domicílios possui entre 03 e 05 moradores, sendo, contudo, o terceiro distrito do município com maior número de moradores por domicílio (09 e mais), ficando atrás somente de Grajaú e Sapopemba. A Brasilândia possui ainda um número significativo de domicílios cuja densidade de moradores por dormitório está acima de cinco pessoas, havendo 1.611 domicílios nessa condição. Além da Brasilândia, apenas dois outros distritos se aproximam desse número: Jardim Ângela, com 1.632 domicílios na mesma condição, e em primeiro lugar o Grajaú, com 1.653.

Também são três os distritos destacados na pior faixa relativa a domicílios sem coleta de lixo: Cidade Ademar, São Rafael e Brasilândia. Em relação ao número de domicílios sem rede de esgoto, a Brasilândia ocupa a faixa intermediária, ao lado de outros três distritos: Tremembé, Capão Redondo e Cidade Ademar. Apenas outros três distritos ocupam faixas piores em relação a número de domicílios sem rede de esgoto em São Paulo.

Observadas as distribuições das favelas no município de São Paulo, o distrito da Brasilândia é claramente uma região de importante concentração desse tipo de moradia. Segundo dados disponíveis no Observatório Cidadão da Rede Nossa São Paulo, a Brasilândia é o terceiro distrito de São Paulo com maior porcentagem de domicílios em favelas (29,72%).

Em relação à distribuição de domicílios segundo faixa de renda no município de São Paulo, a Brasilândia está entre os distritos em que mais de 40% dos domicílios possuem renda de até dois salários mínimos. Ao mesmo tempo, apenas

10,01 a 20% apresentam renda domiciliar entre 10 e 20 salários mínimos21. Essa distribuição pode ser observada no mapa a seguir:

Figura 4: Mapa da Distribuição de Domicílios por Faixa de Renda22

Importante dimensão para caracterizarmos refere-se aos índices relativos ao trabalho e renda na região. Acompanhando a precariedade das condições habitacionais, as possibilidades de emprego formal no distrito da Brasilândia são bastantes restritas. Quando presentes, referem-se a empregos de baixo rendimento salarial. Assim, as possibilidades de trabalho no território são muito frágeis, derivando desse cenário a busca da população por trabalho nas regiões centrais da cidade, onde se concentram mais oportunidades de emprego formal, além da forte presença de formas de ocupação ou trabalho informal, sob condições bastantes precárias.

Os dados registrados no Observatório Cidadão da Rede Nossa Paulo informam que o Censo IBGE 2010 identificou que no distrito da Brasilândia concentram-se 0,21% dos empregos, que totalizam na cidade 3.990.013, o que caracteriza a Brasilândia como parte dos distritos com piores indicadores em relação a trabalho e renda. Além desse dado, o Observatório, combinando a projeção populacional do IBGE, informa que em 2013 a Brasilândia tinha um índice de 424,65 empregos por 10.000 habitantes, caracterizando-o como o quinto pior distrito em relação ao número de empregos disponíveis para a população. Ainda vale destacar que dados do Infocidade informam existir na Brasilândia, em 2013, 11.961 empregos formais.

Em relação às faixas de rendimento em salários mínimos, a maioria desses empregos (4.149) estão na faixa de remuneração acima de 01 e até 1,5 salários mínimos, sendo a segunda faixa de concentração aquela em que os rendimentos variam acima de 1,5 até 02 salários mínimos (3.613 empregos) e a terceira faixa, com 2.745 empregos, representa remuneração entre 2,01 e 03 salários mínimos. Esses empregos estão distribuídos majoritariamente entre a população branca, que ocupa 7.419 postos, contra 3.166 ocupados pela população parda e 823 pela população preta, muito embora a população de negros (pretos e pardos) represente 50,6% de todo o território. Também a distribuição desses empregos por sexo não é proporcional, evidenciando ao lado do privilégio dos brancos, o privilégio da população masculina, que apesar de não ser majoritária, como vimos, ocupa 6.550 empregos formais.

22 Disponível em:

http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/mapas/13_domicilios_segundo_faixa_de_renda_2010_10493.pdf Acesso em 06/11/2015.

As intersecções gênero e raça vão se evidenciando, assim, importantes para a caracterização do cenário de pobreza e desigualdade presente na região. A presença de dados que permitam fazer o recorte racial para qualificar a análise das condições de vulnerabilidade do território é escassa. Os observatórios, assim como os portais da prefeitura em geral não trabalham indicadores relativos à raça/etnia, tampouco fazem recorte de indicadores por raça/etnia, o que nos parece bastante preocupante.

O Censo IBGE 2010 identificou que dos 11.253.503 habitantes do município de São Paulo, 6.824.668 (60,6%) se declaram brancos, 736.083 (6,5%) se declaram pretos, 246.244 (2,2%) se declaram amarelos, 3.433.218 (30,5%) se declaram pardos, 12.977 (0,1%) se declaram indígenas e outros 313 não fazem auto declaração de raça/etnia. A distribuição da população por raça/etnia é completamente desigual pelo município de São Paulo. Reproduzindo a intersecção histórica entre desigualdade econômica e desigualdade racial, é nas regiões periféricas onde se concentram os bolsões de pobreza que se concentra também a população negra de nosso município.

A Brasilândia é um dos distritos com maior porcentagem de população negra. 10,4% da população da Brasilândia é constituída por pretos, uma proporção apenas menor que a encontrada na Cidade Tiradentes (12,6%). Ela é, contudo, o distrito com maior número de pessoas pretas em toda a cidade de São Paulo. Totalizam uma população de 27.529. Ao lado dessa população, somam-se 40,2% de pessoas pardas, um contingente populacional de 106.520.

Essas informações, apesar de muito invisíveis, são disponibilizadas justamente pela Secretaria Municipal de Saúde, a partir do reconhecimento das iniquidades em saúde relacionadas à questão racial e das especificidades da população negra23. Tais iniquidades se expressam, por exemplo, nos dados relativos a pré-natal insuficiente, que em 2011, segundo dado mais atual do Observatório

Cidadão Rede Nossa São Paulo, foi 18% maior entre mulheres negras.

As intersecções gênero e raça são também especialmente importantes para o mapeamento da questão da violência no território, temática que mobiliza muito as

23 Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/saude_populacao_negra/index.php?p=5859, http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/epidemiologia_e_informacao/informacoes_s ocioambientais/index.php?p=8452 e http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/tabnet/index.php?p=30417. Acesso em 07/11/2015.

equipes de saúde da região, pela sua presença na realidade vivida pela população atendida. A Brasilândia está, sem dúvida, entre os distritos com índices mais graves em relação à violência. Divide, com outros 22 distritos, os números mais altos de mortes da população por homicídio. São, segundo dados do Observatório Cidadão

da Rede Nossa São Paulo, 2,01 óbitos por homicídio, por 10 mil habitantes no ano

de 2014. Em faixas menos alarmantes, mas com índices ainda importantes, temos no distrito 7,02 internações de crianças de 0 a 14 anos por causas relacionadas a possíveis agressões, por 10 mil crianças nessa faixa etária. E 11,52 internações de mulheres de 20 a 59 anos por causas relacionadas a possíveis agressões, por 10 mil mulheres nessa faixa etária (2013). Considera-se, nesse mapeamento, os efeitos da subnotificação de casos de violência, aliás, observado de forma significativa no cotidiano de serviços da rede de saúde, o que, assim como em muitos outros territórios, é ainda um desafio para que se possa ter o mapeamento mais efetivos da violência, subsidiando políticas públicas para o seu enfrentamento.

Contudo, dos dados acerca da questão da violência, um merece nossa especial atenção: os índices de homicídio juvenil. Merece nossa especial atenção, sobretudo, quando consideramos a significativa população negra da região. E esses fatores se cruzam e nos sinalizam a necessidade de alerta na medida em que o mapa da violência no Brasil apresenta uma importante mudança no padrão da violência, sobretudo da violência por homicídios.

Se no período de 2001 a 2011 os índices gerais de homicídio estagnaram ou mudaram pouco, isso não deixou de significar uma grave transformação. A violência homicida progressivamente se concentra na população negra, especialmente nos jovens negros. Assim, se entre brancos o número de vítimas diminui 53,4% entre 2001 e 2011, entre os negros ele aumentou 67,7% no mesmo período, indicando transformação na estruturação interna da violência, que se caracteriza por uma seletividade social das vítimas de homicídio.

Se em 2001 morreram no Brasil por homicídio proporcionalmente 69,4% mais negros que brancos, em 2011 temos um cenário em que morrem proporcionalmente por homicídio 136,8% mais negros do que brancos. Extermínio da população negra, que se combina com o extermínio da população jovem de nosso país: os homicídios representam a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos, atingindo especialmente jovens negros. Em 2011, 52,63% dos mortos por homicídio no Brasil eram jovens; deles, 71,44% eram negros e 93,03% do sexo masculino.

O fato da maior concentração de mortes por homicídio situar-se entre jovens negros não significa, contudo, que sobre essa realidade não incide a reprodução da violência de gênero presente em nossa sociedade. O aumento de homicídios de mulheres na década de 2001 a 2011 foi de 17,2%, o dobro do crescimento do número de assassinatos masculinos no período, que foi de 8,1%. Sobre elas incide também importantes índices de violência, que, predominantemente sob a forma de violência doméstica, não resultam em altos índices de homicídios contra mulheres, mas em altíssimos índices de violência contra mulheres, muitas vezes silenciada (WAISELFISZ, 2014).

Na Brasilândia, cuja população é majoritariamente constituída por negros, jovens/adultos e mulheres, essa questão merece ser olhada cuidadosamente como pano de fundo das demandas de saúde mental e dos itinerários percorridos por sua população, repletos de marcas próprias das condições desse território.

O número de mortes por homicídio na faixa etária dos 15 aos 29 anos foi de 7,77 por dez mil habitantes em 2014, localizando esse distrito no conjunto daqueles com os índices mais altos de homicídio juvenil. Essa realidade foi destacada na apropriação do território pelo percurso do PET-Saúde:

Segundo o mapeamento do território realizado nos anos de 2012 e 2013 pelo Programa Jovens Urbanos, a região da Brasilândia foi avaliada e caracterizada como um local com alto índice de vulnerabilidade juvenil, que possui altas taxas de mortalidade entre jovens e altos índices de adolescentes que engravidam entre 14 e 17 anos. Identificam-se também a escassez de equipamentos de cultura e lazer na região, e a presença de ONGs e igrejas que realizam trabalhos assistenciais e ações nos mais diversos segmentos (RELATÓRIO CASO ANDREIA).24

Ainda considerando dados encontrados no Observatório Cidadão da Rede

Nossa São Paulo, destacamos o percentual de nascidos vivos cujas mães possuíam

19 anos ou menos no ano de 2014. A importância do índice considera que a maternidade precoce pode estar associada a riscos para o recém-nascido e ainda reflete níveis de saúde, fatores socioeconômicos e culturais que intervêm na ocorrência da gravidez. Com 18,09% de casos nessa condição, a Brasilândia é o sexto distrito com taxa mais alta de nascidos vivos com mães de 19 anos ou menos.

24 Relatório não publicado, disponível dentre os documentos do PET-Saúde arquivados pelo Comitê

Diante dessa realidade, urge uma presença forte do Estado, atuando pela garantia de direitos sociais básicos, capazes de oferecer condições para a criação de novas possibilidades de futuro para essa juventude, assim como para a população que nasce, que cuida dessa juventude e que envelhece nesse território. Ao invés disso, o que os dados nos revelam é exatamente que essa realidade reflete a ausência ou a fragilidade desse papel que reivindicamos ao Estado, diante da desigualdade estrutural que resulta de uma sociedade dividida em classes.

A ação do Estado no território evidencia todas as contradições da sociedade capitalista, acirradas pelo contexto neoliberal em que vivemos. Ali encontramos um Estado restrito do ponto de vista de suas atribuições relativas a ofertas de serviços ligados a direitos sociais, ao mesmo tempo em que ele está presente por meio do modelo pelo qual algumas políticas sociais são implementadas, exercendo claramente seu papel avaliador e regulador das políticas desenvolvidas via mercado (GONÇALVES, 2010). Disso se desdobram muitas precariedades em relação aos serviços de garantia de direitos do território, portanto, muitos desafios para as políticas sociais que ali se inscrevem, dentre elas a política de saúde e saúde mental.

Por exemplo, do ponto de vista das políticas educacionais, identificamos um elevado índice de estudantes que abandonam o ensino fundamental, sendo a Brasilândia o sexto distrito com maior índice de abandono desse nível de ensino. Identificamos também uma significativa defasagem em relação à idade ideal para as séries do ensino fundamental, estando em 2011, 9,33% dos alunos com dois anos ou mais de defasagem em relação à série ideal, igualmente o sexto maior índice em todo o município. Também é grave a porcentagem de alunos reprovados no sistema educacional: com 5,95% de reprovados em 2011, a Brasilândia está na faixa de distritos com taxa mais alta de reprovação no ensino fundamental.

No documento DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 174-200)