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4 APROXIMAÇÕES COM A REALIDADE BRASILEIRA: A SUPERAÇÃO

4.2 A Necessidade de Mudanças Legislativas para Desburocratização em Matéria

4.2.2 Diplomas legais posteriores à Lei nº 8.666/1993: Da Lei de Concessões ao

4.2.2.3 Consórcios Públicos 112

A Lei nº 11.107, de 06 de abril de 2005, que dispôs sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos, surgiu na esteira da modificação introduzida pela Emenda Constitucional nº 19/98, que inseriu na Constituição da República o art. 241, ora in verbis:

Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos270.

Buscava-se, com o novo comando constitucional, estabelecer certa normatização para a realidade já existente271, isto é, a reunião de entes federados na busca da conjugação ou soma de esforços e recursos para a consecução de objetivos comuns, especialmente no que se refere à prestação de serviços públicos.

Antes da edição da referida lei, o consórcio era considerado um negócio jurídico típico, vale dizer um ajuste celebrado entre entes federativos de mesmo nível (Município –                                                                                                                          

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SUNDFELD, Carlos Ari. Como reformar as licitações? In: SUNDFELD, Carlos Ari (org). Contratações Públicas e seu controle. São Paulo: Malheiros, 2013, p.271.

269

SUNDFELD, Carlos Ari. Como reformar as licitações? In: SUNDFELD, Carlos Ari (org). Contratações Públicas e seu controle. São Paulo: Malheiros, 2013, p.272.

270

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 20 de maio de 2015.

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Era e continua sendo comum, por exemplo, que municípios limítrofes se associem visando à gestão comum de serviços na área de saúde ou de saneamento.

Município ou Estado – Estado) e assemelhava-se aos convênios, sendo a única diferença o fato de que não se tratava de níveis federativos distintos.

Nessa antiga concepção, o consórcio, assim como o convênio administrativo, era regulado especialmente pelas disposição do art. 116, da Lei nº 8666/1993.

Com a Lei nº 11.107/2005, o consórcio passou a ser tratado como um pessoa jurídica, o que se deve à tentativa de estabelecer o direcionamento juridicamente mais estável e confiável. Isto porque, sem ostentar a condição de pessoa jurídica, o consórcio não respondia por seus atos, não sendo muitas vezes possível saber exatamente quem ou qual das pessoas componentes assumia os direitos e obrigações decorrentes do ajuste.

Segundo a Lei nº 11.107/2005, o consórcio, dotado agora de personalidade jurídica, pode se constituir como pessoa de direito público ou de direito privado.

No caso de se tratar de pessoa de direito público, assumirá a forma de uma associação pública, nos termos do inciso I do art. 6°, e irá integrar a Administração Indireta dos entes partícipes do consórcio.

Consoante o inciso II do mesmo art. 6°, o consórcio pode assumir também “personalidade de direito privado, mediante o atendimento dos requisitos da legislação civil”. A lei não prevê, nesta hipótese, que o novo ente passe a integrar a Administração Indireta dos consorciados, o que gerou divergência na doutrina se, neste caso, a entidade integrará ou não a Administração Indireta.

Muito embora haja na doutrina quem sustente que, nestes casos, o consórcio não integrará a Administração Indireta272, entende-se, data venia, que em qualquer hipótese o consórcio irá compor a organização administrativa de um ou de todos os partícipes na qualidade de Administração Indireta.

Haverá também um contrato de programa que será o instrumento a prever as obrigações assumidas por qualquer dos consorciados relativamente ao consórcio público no âmbito da gestão associada em que haja prestação de serviços públicos ou sejam transferidos encargos, serviços, bens, pessoal necessários à consecução dos serviços. gestão associada.

Para Pires e Nogueira (In: PIRES; BARBOSA, 2008), os consórcios públicos ampliaram a pactuação entre os entes federados, na arena de instâncias de cooperação, por

                                                                                                                         

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intermédio de “aparato jurídico-administrativo apto a instrumentalizar a consecução de objetivos comuns e a articulação intergovernamental”273.

Outro aspecto de grande relevância nos consórcios públicos é a possibilidade de realização de licitação compartilhada entre os entes consorciados, nos termos dos artigos. 3 e 19 do Decreto n. 6.017/2007, que regulamentou a Lei n. 11.107/2005, os quais preceituam que:

Art. 3o Observados os limites constitucionais e legais, os objetivos dos consórcios públicos serão determinados pelos entes que se consorciarem, admitindo-se, entre outros, os seguintes:

(...)

III - o compartilhamento ou o uso em comum de instrumentos e equipamentos, inclusive de gestão, de manutenção, de informática, de pessoal técnico e de procedimentos de licitação e de admissão de pessoal; (...)

Art. 19. Os consórcios públicos, se constituídos para tal fim, podem realizar licitação cujo edital preveja contratos a serem celebrados pela administração direta ou indireta dos entes da Federação consorciados, nos termos do § 1o do art. 112 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993.274

De acordo com Fortini e Pereira (In: PIRES; BARBOSA, 2008), licitação compartilhada seria aquela:

(...) promovida pelo Consórcio Público, embora os contratos daí derivados sejam celebrados com os entes consorciados ou com suas entidades da Administração Indireta. O Decreto dispõe que os entes consorciados ficam aptos a celebrar contratos decorrentes de licitação, realizados pelo Consórcio275.

Para as referidas autoras, a possibilidade de realização de um único procedimento licitatório que pudesse originar distintos contratos poderia gerar, sob o ponto de vista da economicidade, ganho para os entes consorciados, na medida em que, ao menos em tese, a compra de maior quantidade de produtos tende a contribuir para a redução do preço final276.

Conforme será exposto ao final deste capítulo, acredita-se que a formação de consórcios públicos para a realização de licitações compartilhadas entre os entes

                                                                                                                         

273

PIRES, Maria Coeli Simões; NOGUEIRA, Jean Alessandro Serra Cyrino. O federalismo brasileiro e a lógica cooperativa-competitiva. In: PIRES, Maria Coeli Simões; BARBOSA, Maria Elisa Braz (Coord.). Consórcios públicos: instrumento do federalismo cooperativo. Belo Horizonte: Fórum, 2008. p. 44.  

274

BRASIL. Lei n. 11.107/2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2005/lei/l11107.htm. Acesso em: 29 de maio de 2015.

275

FORTINI, Cristiana; PEREIRA, Maria Fernanda Pires de Carvalho. Licitação compartilhada e dispensa de licitação. In: PIRES, Maria Coeli Simões; BARBOSA, Maria Elisa Braz (Coord.). Consórcios Públicos: instrumento do federalismo cooperativo. Belo Horizonte: Fórum, 2008. p. 236.

276

FORTINI, Cristiana; PEREIRA, Maria Fernanda Pires de Carvalho. Licitação compartilhada e dispensa de licitação. In: PIRES, Maria Coeli Simões; BARBOSA, Maria Elisa Braz (Coord.). Consórcios Públicos: instrumento do federalismo cooperativo. Belo Horizonte: Fórum, 2008. p. 236.  

consorciados, ou a criação de centrais de compras por intermédio da formalização de consórcios público, seria importante mecanismo de cooperação interadministrativa.