1 A CONSOLIDAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA E O DIREITO
1.3 A União Europeia na Atualidade e o Direito Administrativo Europeu 28
1.3.2 Os atos jurídicos da União Europeia 31
Para alcançar os objetivos estabelecidos em seus Tratados, a União Europeia utiliza diversos atos jurídicos de direito derivado. Antes da assinatura do Tratado de Lisboa, a formatação da União Europeia estruturava-se sob três pilares principais: a comunidade europeia, a política externa e de segurança comum e a cooperação policial e judiciária em matéria penal, valendo-se, para tanto, de 14 atos jurídicos diversos70.
Contudo, o referido Tratado abordou a repartição de competências entre a União Europeia e seus Estados-membros, introduzindo, de forma inédita, as competências exclusivas, as compartilhadas e as de apoio71.
De acordo com o art. 3o do TFUE, as competências exclusivas são aquelas sobre as quais apenas a União Europeia pode legislar e adotar atos vinculativos, ou seja, de aplicação obrigatória pelos Estados-membros. Nos casos de competência exclusiva da União Europeia, a atuação dos Estados-Membros limita-se apenas a aplicar os referidos atos, salvo se houver disposição contrária expressa.
As competências partilhadas, nos termos do artigo 4o do TFUE, ocorrem em temas nos quais tanto a União Europeia quanto os Estados-membros estão habilitados a adotar atos vinculativos. Contudo, o exercício da competência pelos Estados-Membros ocorrerá apenas se a União Europeia não tiver exercido ou tenha decidido não o fazer.
Já as competências de apoio são aquelas nas quais a União Europeia apenas irá intervir para apoiar, coordenar ou completar a ação dos Estados-Membros.
Para o exercício dessas competências, houve uma redução do número de atos jurídicos possíveis de serem executados pelas instituições europeias. De acordo com a nova
70
UNIÃO EUROPEIA. Instituições da UE. Disponível em:
http://europa.eu/legislation_summaries/institutional_affairs/treaties/lisbon_treaty/ai0020_pt.htm. Acesso em: 08 de fevereiro de 2015.
71
UNIÃO EUROPEIA. Tratado de Lisboa. Disponível em:
http://europa.eu/legislation_summaries/institutional_affairs/treaties/lisbon_treaty/ai0020_pt.htm. Acesso em: 12 de fevereiro de 2015.
classificação atribuída pelo Tratado de Lisboa, as instituições europeias dispõem, atualmente, de cinco tipos de atos jurídicos: o regulamento, a diretiva, a decisão, a recomendação e o parecer72.
Nos termos do artigo 288 do TFUE, o regulamento possui caráter geral, obrigatório e diretamente aplicável a todos os Estados-membros. Assim, após a publicação do regulamento no Jornal Oficial da União Europeia, todos os seus elementos passam a ser de aplicação imediata para todos os Estados-membros.
Diferentemente das outras modalidades de atos jurídicos, não é necessário que as disposições dos regulamentos sejam claras, precisas ou incondicionadas para que produzam efeitos imediatamente. Caso haja alguma previsão no regulamento que suscite dúvida, qualquer Estado-membro poderá requerer a interpretação da Corte de Justiça Europeia, mas, enquanto não houver manifestação da Corte, essas normas devem ser aplicadas pelos Estados- membros, que não lhes poderão negar o efeito direto e imediato.
A diretiva, por sua vez, vincula os Estados-membros destinatários a um resultado a ser alcançado, mas deixando a critério de cada país a competência quanto à sua forma e meios adotados. De acordo com Galetta (2013),
O efeito direto da diretiva é, de fato, puramente eventual e subordinado a existência de duas condições: que seja expirado o término do prazo fixado pela diretiva para sua transposição pelos Estados-membros e que as suas disposições sejam suficientemente claras, precisas e incondicionadas73. (Tradução livre)
A diretiva passa a valer a partir da sua publicação no Jornal da União Europeia, mas, via de regra, não tem efeito direto nos ordenamentos internos até que sejam adotadas as medidas necessárias, por cada Estado-membro, para a sua transposição74.
Assim, a partir da publicação da Diretiva, o Estado-Membro destinatário fica vinculado quanto ao resultado e objetivos a alcançar, cabendo às instâncias nacionais a competência para adotar as medidas internas de execução, que se referem à forma e aos meios a serem utilizados75.
72
UNIÃO EUROPEIA. Síntese da legislação da UE. Disponível em:
http://europa.eu/legislation_summaries/institutional_affairs/treaties/lisbon_treaty/ai0032_pt.htm. Acesso em: 12 de fevereiro de 2015.
73
GALETTA, Diana-Urania. Le fonti del Diritto Amministrativo Europeo. In: CHITI, Mario P. (org.). Ditirro amministrativo europeo. Milano: Giuffrè, 2013, p.121.
74
UNIÃO EUROPEIA. Síntese da legislação da UE. Disponível em:
http://europa.eu/legislation_summaries/institutional_affairs/decisionmaking_process/l14527_pt.htm. Acesso em: 12 de fevereiro de 2015.
75
Manual de Negociação, Transposição e Aplicação de Legislação da União Europeia. Disponível em: PORTUGAL. Direcção-Geral da Política da Justiça - http://www.dgpj.mj.pt/sections/noticias/negociacao-
A transposição é a medida que cada Estado-membro adotará para que os resultados e objetivos traçados nas diretivas, ou seja, no âmbito europeu, sejam alcançados pelo direito interno.
Os prazos para a transposição são especificados na própria diretiva. Caso os Estados- membros promovam uma transposição incorreta ou intempestiva da Diretiva, o Tribunal de Justiça Europeu poderá ser acionado, para aplicação de medidas sancionatórias ou coercitivas de aplicação.
O ato jurídico denominado decisão é obrigatório e poderá ser aplicado de forma geral, ou restringindo-se a destinatários específicos. Até a publicação do Tratado de Lisboa, havia dúvidas se a decisão era dotada sempre de caráter geral, ou se poderia ser aplicada a destinatários específicos.
Contudo, com a redação do art. 288 do TFUE, segundo a qual “a decisão é obrigatória em todos os seus elementos. Quando designa destinatários, só é obrigatória para estes”76, essa dúvida sobre a possibilidade de individualização de destinatários foi superada.
As recomendações e pareceres, por sua vez, não são vinculativos e, portanto, não impõem qualquer obrigação legal a seus destinatários.
De acordo com o art. 292 do TFUE, as recomendações poderão ser expedidas pelo Conselho, pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu. Por não produzir efeito vinculativo, as recomendações não podem criar direitos a serem invocados pelos particulares frente às justiças nacionais.
O objetivo das recomendações é levar ao conhecimento dos Estados-membros o ponto de vista da União Europeia sobre determinado tema e sugerir uma linha de conduta, sem qualquer imposição legal aos seus destinatários77.
Por fim, os pareceres poderão ser emitidos pelas principais instituições europeias, tais quais o Conselho, a Comissão, o Parlamento, bem como pelos Comitês Regionais e especializados e tendem a expressar pontos de vistas a respeito de repercussões sociais, econômicas ou regional sobre determinada matéria.
Uma vez expedido um ato juridicamente vinculado, quais sejam, o regulamento, a diretiva e a decisão, conforme dispõe o art. 293, do TFUE, os Estados-membros devem adotar todas as medidas de direito interno necessárias à sua execução78.
transposicao/downloadFile/file/Manual_DGAE_Transposicao_de_diretivas.pdf?nocache=1412330484.33. Acesso em: 15 de fevereiro de 2015.
76
UNIÃO EUROPEIA. Síntese da legislação da UE. Disponível em: http://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/PDF/?uri=OJ:C:2010:083:FULL&from=PT. Acesso em: 15 de fevereiro de 2015.
77
UNIÃO EUROPEIA. Síntese da legislação da UE. Disponível em: http://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/PDF/?uri=OJ:C:2010:083:FULL&from=PT. Acesso em: 15 de fevereiro de 2015.