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1 A CONSOLIDAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA E O DIREITO

1.3 A União Europeia na Atualidade e o Direito Administrativo Europeu 28

1.3.1 A União Europeia e suas instituições 28

Atualmente, conforme explica Almeida (2014), é possível afirmar que a União Europeia é

organização internacional formada no início da segunda metade do século XX, cujos esforços de integração, não apenas econômica e monetária, mas principalmente política e cultural, expandiram-se de forma sistemática pelo viés geográfico (28 Estados-membros) e jurídicos, por meio da consolidação das competências das Instituições europeias e papel fundamental das sentenças do Tribunal de Justiça da União Europeia em reconhecer competências e princípios de caráter comunitário61.

A União Europeia, compreendida como um poder público original, “em caminho”62, na medida em que assume, constantemente, novos contornos, é ambivalente “que combina monismo e dualismo, que mescla elementos de um Tratado com elemento constitucional, que oscila entre unidade e fragmentação institucional, que alterna intergovernamentalismo e supranacionalidade”63.

                                                                                                                         

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DELPINO, Luigi; GIUDICE, Federico del. Manuale di Diritto Amministrativo. 30. ed. Napoli: Simone, 2013, p. 12.  

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ALMEIDA, Thiago Ferreira. A natureza jurídica dos empréstimos por organizações internacionais de cooperação financeira – as licitações brasileiras realizadas com normas internacionais. Dissertação de mestrado UFMG, 2014.

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A expressão “em caminho” é de Stefano Battini, o qual entende que a União Europeia se trata de um poder público que tende a se identificar com o próprio percurso de desenvolvimento e com a finalidade que a sustenta, que é a da progressiva integração econômica, jurídica e política da Europa. BATTINI, Stefano. L’Unione Europea quale originale potere pubblico. In: CHITI, Mario P. (org.). Ditirro amministrativo europeo. Milano: Giuffrè, 2013, p.5.

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BATTINI, Stefano. L’Unione Europea quale originale potere pubblico. In: CHITI, Mario P. (org.). Ditirro amministrativo europeo. Milano: Giuffrè, 2013, p.40.

Para Battini (In: CHITI, 2013), essa ambivalência acentuou-se em tempos mais recentes, aproximando o desenho da União Europeia ao modelo de Estado Federal:

Por um lado, o Tratado de Lisboa, ao receber o conteúdo do Tratado constitucional, aproximou o desenho institucional da União Europeia ao modelo de Estado federal: prevendo um Bil of Rights dos cidadãos europeus; institucionalizando o método da convenção no processo de revisão dos tratados; conferindo unidade ao quadro institucional europeu e identificando dentro desse quadro as funções que constituem o núcleo essencial da soberania estatal; dotando a União de um órgão de endereçamento político presidido de uma figura monocrática, que representa a União como tal e não os seus componentes nacionais; enumerando uma função legislativa europeia, com âmbito material próprio de competência e um procedimento decisional típico; etc.64

Atualmente, 28 países integram a União Europeia: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Romênia e Suécia.

A densidade do sistema político-administrativo comunitário evoluiu com o aprofundamento da integração entre os Estados-membros, fazendo com que a União Europeia adquirisse uma estrutura composta de instituições propriamente comunitárias e, portanto, supranacionais, complementares aos aparatos organizacionais nacionais. Franchini e Vesperini (2005), ao analisarem essa questão, lançam os seguintes apontamentos:

A União Europeia tornou-se uma estrutura composta, porque compreende não apenas as instituições europeias e seus respectivos aparatos burocráticos, mas também aqueles dos Estados-membros, que são chamados a participar, em diversos níveis, do processo de elaboração das decisões supranacional. Esta evolução, por um lado, favoreceu o processo de integração europeia e, por outro, determinou consequência importante sobre o plano de organização administrativa dos Estados membros, que tiveram de adequar suas próprias estruturas àquela supranacional65.

Trata-se de enquadramento institucional inovador, necessário para tornar possível o projeto de potencializar os mercados internos dos países-membros por intermédio da integração econômica, política e cultural, valendo-se, para tanto, não apenas de instrumentos legislativos, mas, também, operativos (ou executivos) e jurídicos66.

Neste sentido, o art. 13 do Tratado sobre a União Europeia - TUE, ao dispor sobre as instituições da União Europeia, estabelece que esse quadro institucional “visa promover os                                                                                                                          

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BATTINI, Stefano. L’Unione Europea quale originale potere pubblico. In: CHITI, Mario P. (org.). Ditirro amministrativo europeo. Milano: Giuffrè, 2013, p.40.

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FRANCHINI, Claudio; VESPERINI, Giulio. L’organizzazione. In: Corso di Diritto Amministrativo – Istituzioni di Diritto Amministrativo. CASSESE, Sabino (org.). 4 ed. Milano: Giuffré, 2005. p. 120.

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seus valores, prosseguir seus objetivos, servir os seus interesses, os dos seus cidadãos e os dos Estados-membros, bem como assegurar a coerência, a eficácia e a continuidade das suas políticas e ações”.

Para tanto, a União Europeia opera por meio de sete instituições principais e numerosos organismos setoriais67, que oscilam entre o exercício de funções executivas, judiciais e legislativas68.

Essas instituições são o Parlamento Europeu, o Conselho Europeu, o Conselho da União Europeia, a Comissão Europeia, o Tribunal de Justiça da União Europeia, o Banco Central Europeu e o Tribunal de Contas.

O Parlamento Europeu, eleito a cada cinco anos diretamente por cada país e com a função de representar os cidadãos europeus, possui como principais atribuições, juntamente com o Conselho, debater e aprovar as leis e o orçamento da União Europeia, além de exercer controle sobre as demais instituições, especialmente a Comissão.

O Conselho da União Europeia, que representa os governos nacionais e cuja presidência é assumida rotativamente pelos Estados-membros, é o espaço em que os Ministros dos Estados-membros se reúnem para assegurar a aplicação da legislação europeia e garantir a coordenação das políticas da União Europeia.

O Conselho Europeu, instituição diferente do Conselho da União Europeia, é composto pelos Chefes de Estado dos 28 Estados-membros e se reúne em média quatro vezes ao ano para definir as orientações e prioridades políticas da União Europeia. Não é uma instituição legislativa, voltando-se para a condução da agenda política.

A Comissão Europeia, que zela pela defesa dos interesses gerais da Comunidade, bem como pela execução e correta transposição da legislação da União Europeia para as ordens jurídicas nacionais, é um órgão multifuncional, que participa do exercício da função normativa e executiva, dotado, portanto, de uma dupla função: tanto a de exercer o papel legislativo, quanto a de assegurar a execução das políticas e dos fundos da União Europeia69.

O Tribunal de Justiça, composto por um juiz de cada país e assistido por nove advogados-gerais, possui como atribuição interpretar o direito da União Europeia para garantir a sua aplicação uniforme em todos os Estados-Membros. Também é responsável por

                                                                                                                         

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Como exemplo de outros organismos europeus que desenvolvem ação consultiva, podemos citar o Comitê Econômico e Social, o Comitê das Regiões, o Banco Europeu de Investimento etc.

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SOLENNE, Diego; VERRILLI, Antonio. Compendio di Diritto Costituzionale. 5. ed. Santarcangelo di Romagna: Maggioli, p.43.  

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UNIÃO EUROPEIA. Instituições da UE. Disponível em: http://europa.eu/about-eu/institutions- bodies/index_pt.htm. Acesso em: 08 de fevereiro de 2015.

solucionar litígios entre os governos nacionais e as instituições europeias, bem como julgar casos em que particulares tenham os seus direitos infringidos por uma instituição europeia.

O Banco Central Europeu é responsável por definir a política econômica e monetária da União Europeia, garantindo a estabilidade dos preços e do sistema financeiro, e o Tribunal de Contas controla as finanças do bloco europeu, monitorando a aplicação dos recursos europeus e potencializando a gestão financeira da União Europeia.