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3 O SISTEMA CONSIP: SURGIMENTO, EVOLUÇÃO E PRINCIPAIS

3.3 Principais Vantagens e Desvantagens do Modelo Centralizado Italiano 92

Nos últimos 15 anos, a União Europeia investiu fortemente na introdução de medidas de simplificação administrativa, exigindo que os Estados-membros encontrassem soluções para otimizar e padronizar seus procedimentos nacionais, dentre os quais se destacam aqueles voltados para as aquisições públicas, como mecanismos de fomento e consolidação do mercado único comum.

                                                                                                                         

210

Para maiores informações, visitar a página eletrônica da Acquisi in rete. Disponível em: https://www.acquistinretepa.it/opencms/opencms/. Acesso em: 03 de maio de 2015.

Para tanto, diversos países, inclusive a Itália, valeram-se da utilização de estrutura centralizada externa responsável pela condução dos procedimentos de aquisições públicas211.

De fato, diversos países europeus já adotaram o modelo de centralização de aquisições públicas, por intermédio de Centrais de Compras212. Como exemplo, citam-se os casos da Áustria, onde há o Bundesbeschaffung GmbH, que funciona como Agência Federal de Compras213; da Alemanha, por intermédio do Bundesamt für Wehrtechnik und Beschaffung do Gabinete Federal de Equipamentos, Tecnologias de Informação e In-Service Support e do Beschaffungsamt des Bundesministeriums des Innern, 214Agência de Aprovisionamento do Ministério Federal do Interior; na Bélgica registra-se a existência do Conselho e Política de Compras - CPA, responsável por dar suporte aos funcionários responsáveis por contratações federais nos processos de adjudicação215; na Dinamarca existe o Statens og Kommunernes indkobsservice – SKI216; na França a Union des Groupements d’Achat Public – UGAP217; e, em Portugal, recentemente, entrou em funcionamento a Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública – ESPAP218.

Fora da Europa, há no Chile, desde a Lei nº 19.886/2003, um órgão central responsável pelas compras públicas, denominado Dirección de Compras y Contratación Pública219 e na República Dominicana, existe a Dirección General de Contrataciones Publicas220.

Desde a Lei nº 95, de 06 de julho de 2012, que instituiu mecanismos de speding review para as Administrações Públicas italianas, o sistema Consip é de uso obrigatório, não só para as autoridades centrais como também para as regionais e locais. Assim, uma vez                                                                                                                          

211

No mesmo sentido, ver COLACCINO, Davide. L’approvvigionamento di Beni e servizi tra modello CONSIP e centrali d’acquisto locali. Disponível em: http://www.uniroma2.it. Acesso em: 03 de maio de 2015.

212

Para maiores informações, acessar o relatório da Autoridade Supervisora de Contratos Públicos do Departamento de Coordenação das Políticas Europeias. UNIÃO EUROPEIA. Disponível em: file:///C:/Users/m1277421/Downloads/Comparative%20survey%20on%20PP%20systems%20across%20PP N.pdf. Acesso em: 03 de maio de 2015.

213

BUNDESBESCHAFFUNG. Disponível em: http://www.bbg.gv.at/english-information/about-the-fpa/. Acesso em: 10 de maio de 2015.

214

BESCHAFFUNGSAMT DES BUNDESMINISTERIUMS DES INNER. Disponível em: http://www.bescha.bund.de/DE/Startseite/home_node.html. Acesso em: 26 de maio de 2014.

215

SERVICE e-PROCUREMENT. Disponível em: http://www.publicprocurement.be/portal/page/ portal/pubproc/beep%20algemeen/over%20de%20horizontale%20diensten%20overheidsopdrachten/aba/. Acesso em: 10 de maio de 2015.

216

STATENS OG KOMMUNERNES INDKOBSSERVICE . Disponível em: http://www.ski.dk/. Acesso em: 10 de maio de 2015.

217

UNION DES GROUPEMENTS D’ACHAT PUBLIC. Disponível em: http://www.ugap.fr/. Acesso em: 10 de maio de 2015.

218

ENTIDADE DE SERVIÇOS PARTILHADOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA I.P. Disponível em: http://www.espap.pt/. Acesso em: 10 de maio de 2015.

219

CHILE. Chile Compra. Disponível em: http://www.chilecompra.cl/. Acesso em 10 de maio de 2015.

220

REPÚBLICA DOMINICANA. Dirección general de contrataciones publicas. Disponível em: http://dgcp.gob.do/index.php/sobre-la-dgcp. Acesso em: 10 de maio de 2015.

constante o bem no catálogo de produtos e serviços anualmente disponibilizado pela Consip, deverão as Administrações Públicas aderirem ao sistema Consip para adquiri-lo, sob pena de responsabilidade administrativa.

Contudo, caso as entidades públicas desejem valer-se de outra forma de aquisição, poderão utilizar outras centrais de compras eventualmente existentes no âmbito regional ou, ainda, poderão elas mesmas conduzirem o processo de aquisição, desde que comprovada a vantajosidade.

Em linhas gerais, no caso da Itália, observou-se que a Consip, na qualidade de central de compras, atua sob duas óticas distintas, porém complementares: enquanto entidade adjudicante, nos processos de coordenação das Convenções e dos Acordos-Quadros, bem como formadora de mercado, nos casos do sistema dinâmico de aquisição e do MEPA.

Além disso, na qualidade de central de compras, a Consip também fornece apoio à administração pública ao longo de todas as fases e procedimentos de aquisição pública, atuando de forma verticalizada. Neste sentido, a Consip é referência na Itália como centro de competências especializado em todas as fases de aquisição pública, desenvolvendo tanto a fase de planejamento estratégico quanto a fase de compra, modelando e disponibilizando ferramentas de eProcurement, assistência e consultoria.

Há de se registrar que a Consip obteve a certificação ISO 9001: 2008 de qualidade para a "concepção, implementação e lançamento de contratos-quadro e e-marketplaces para a aquisição de bens e serviços públicos, no seu papel de central de compras", o que demonstra o reconhecimento internacional da qualidade de seus serviços.

Em síntese, as principais vantagens do modelo centralizado de compras observadas foram a reengenharia dos processos de aquisição, tornando-os mais flexíveis em relação à escolha do modelo a ser utilizado e, em algumas situações, possibilitando a fase de negociação; a informatização das plataformas e sistemas de aquisições; elevado know how desenvolvido pela Consip na matéria de aquisição pública; mão de obra altamente qualificada; tudo isso graças ao suporte político e institucional fornecido, especialmente por intermédio da edição de legislação adequada.

Porém, os avanços obtidos pela Consip não teriam sido possíveis sem as inovações previstas na Diretiva 2004/18/CE. Isto porque o procedimento de centralização de compras não alinhado com a estratégia jurídica e legislativa de simplificação dos procedimentos pode ocasionar o efeito inverso, burocratizando as compras públicas.

Nesse sentido, a flexibilização conferida no nível comunitário e a necessidade de transposição da Diretiva 2004/18/CE obrigou que a Itália, assim como os demais países

membros, reformulasse toda a sua sistemática de aquisições públicas, alcançando os patamares mais elevados no nível europeu.

Somando todas essas variáveis, a centralização dos procedimentos de aquisição demonstrou-se como instrumento vantajoso para o projeto de racionalização da despesa pública. Dentre os principais pontos, Colaccino (2015) destaca:

A primeira é a simplificação dos procedimentos de adjudicação. A utilização de uma estrutura externa, que lida com toda a gestão dos vários processos de aquisição, libera o governo do peso da burocracia e administrar as licitações por conta própria, com tudo o que isso implica em termos de custos diretos e indireta. Além disso, a agregação da procura permite a obtenção de economias de escala e obter preços unitários favoráveis. Finalmente, se concentrar em uma única estrutura central recursos especializados permite que você construa e incentivar sistemas de TIC para a gestão de e-procurement a disponibilizar mais administrações221.

Por outro lado, veem-se como possíveis desvantagens erros de estratégia que possam ocasionar dificuldade na identificação do produto e na escolha do fornecedor; a possibilidade de se replicar a ineficiência contratual em grande escala, tornando mais difícil a mitigação de riscos após a formalização contratual; a dificuldade em lidar com a logística de entrega dos produtos e serviços; e o risco de desfavorecer pequenas e médias empresas na participação do mercado da Administração Pública.

                                                                                                                         

221

COLACCINO, Davide. L’approvvigionamento di Beni e servizi tra modello CONSIP e centrali d’acquisto locali. Disponível em: http://www.uniroma2.it. Acesso em: 10 de maio de 2015.

4 APROXIMAÇÕES COM A REALIDADE BRASILEIRA: A SUPERAÇÃO DO