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6. A ÁREA DE ESTUDO NO CONTEXTO DAS SUPERFÍCIES DE

7.2. CONSEQÜÊNCIAS DAS GLACIAÇÕES

7.2.3. Conseqüências morfopedológicas

Os padrões vegetacionais, comandados por formações abertas, que ocuparam grandes espaços da América do Sul por efeito das glaciações, expuseram o solo, nesses períodos, a uma ação mais efetiva das chuvas que, embora tenham diminuído em suas taxas absolutas, tiveram sua erosividade aumentada por conta de uma menor eficiência na interceptação das gotas pela vegetação.

Com a ausência de uma cobertura vegetal densa, os efeitos erosivos eram mais severos, tanto a erosão laminar como a erosão concentrada em ravinas, uma vez que o

aridificação do clima e sua morfogênese correlata conduziram a paisagem a uma situação de resistasia em substituição da biostasia vigente em condições de clima úmido, conforme a proposição de Erhart (1966), na qual a morfogênese mecânica imperou sobre a alteração química das rochas e aos processos pedogenéticos. A referida proposição, denominada por Teoria Bio-Resistásica, focaliza a importância da cobertura vegetal na evolução geológica e geoquímica da biosfera, mostrando que, quando a superfície encontra-se povoada por uma cobertura vegetal incapaz de exercer proteção ao solo, os efeitos erosivos costumam se dar de forma vigorosa e turbulenta e as conseqüências sedimentológicas serem variáveis conforme o tipo de solo. Argilas, areias, produtos ferruginosos e bauxíticos e outros elementos residuais da pedogênese florestal que se acumulam nos períodos de “clímax” (biostasia) são retirados e transportados com o desaparecimento da floresta devido à ruptura no equilíbrio climático e biológico (resistasia).

A biostasia depende de um equilíbrio biológico associado a florestas tropicais, que permite o aprofundamento do perfil de alteração e limita a denudação em taxas baixas de transferência de material, principalmente em solução. A resistasia representa a ruptura do equilíbrio, por causas tectônicas ou climáticas, ocorrendo a remoção do material detrítico junto com os produtos de alteração química (THOMAS, 1994).

Tricart (1977) considera mais apropriado o emprego do termo fitoestasia, argumentando que é a biomassa vegetal que, de fato, responde pelo equilíbrio do meio, ao passo que os organismos animais que vivem no solo comumente causam o revolvimento e desagregação dos constituintes formadores do manto pedológico, o que pode ser fator negativo para a estabilidade.

Durante o Pleistoceno dois conjuntos de processos morfogenéticos operaram alternadamente na evolução da paisagem: a degradação lateral das encostas processada em clima semi-árido (glacial) e a dissecação em clima úmido. A mudança para um clima mais seco repercute no predomínio de processos erosivos mais ativos com conseqüente denudação das vertentes, que tem assim sua evolução acelerada, com maior transporte de massa; o espesso regolito proveniente da alteração química das rochas, ao ser removido rapidamente das encostas, expõe a estrutura a uma nova ordem de processos de intemperismo, acentuando- se assim a desagregação mecânica. Bigarella et al. (1994, p.84) fazem o seguinte esclarecimento:

“A variação climática para o seco poderia resultar numa fase de clima semi-árido longa, ou apenas numa curta flutuação em direção à aridez,

evolução da encosta mudaria radicalmente, com o estabelecimento de processos de degradação lateral. No segundo caso, ter-se-ia um mecanismo principalmente relacionado à remoção do regolito decomposto, sem grande ocorrência de morfogênese mecânica. Na transição para um clima mais seco verifica-se um aumento da velocidade de remoção do manto alterado das encostas, principalmente pelo escoamento superficial e pelos movimentos de massa”.

As mudanças nos sistemas morfogenéticos trazidas pelas oscilações climáticas do Quaternário no sudeste brasileiro nos moldes apresentados também foram reconhecidas por Bloon (1978), que entende a alternância entre épocas em que predomina o intemperismo mecânico e transporte de material grosseiro e mal selecionado pelos canais fluviais e períodos úmidos caracterizados pelo processo de incisão dos vales.

O predomínio do intemperismo físico sobre o ataque químico é responsável pela imputação de sedimentos clásticos no sistema, sendo estes formados, predominantemente, por seixos e calhaus, e que indica, quase sempre, um baixo retrabalhamento pela água, depositando-se na forma de (paleo) pavimentos detríticos ou linhas-de-pedra (stone lines). De acordo com Bigarella et al. (1994), as linhas-de-pedra correspondem a paleopavimentos detríticos rudáceos encontrados em subsuperfície seguindo, grosso modo, a morfologia das vertentes, sendo constituídos, sobretudo, por quartzos e quartzitos ou, em menor medida, por fenoclastos de rochas alteradas (xistos, granitos, migmatitos e outras), ou ainda, quando em ambientes sedimentares, por sílex, siltitos e arenitos, da maneira que foi constatado por Penteado (1969) na Depressão Periférica Paulista (região de Rio Claro/Ipeúna), onde fragmentos de diabásio também partilham da composição dos depósitos. Encontram quase sempre dentro do manto coluvial em profundidades variáveis, podendo estar localizados próximos à superfície ou aflorarem por erosão da camada superficial do solo.

Clapperton (1993) destaca a relevância da avaliação de coberturas detríticas, stone

lines e rampas de colúvio para discussões a respeito da evolução da paisagem ao longo do

período Quaternário, que foi comandada por diferentes regimes climáticos.

Em relação à passagem do clima semi-árido para o úmido, Bigarella (1994, p. 84) coloca que:

“A mudança climática para as condições úmidas favorece o desenvolvimento dos solos, sobre os quais se estabelece novo tipo de vegetação. A associação vegetal semi-árida é progressivamente substituída pela floresta. A alteração química das rochas atinge maior profundidade e a porção superficial do terreno fica mais protegida contra a ação do escoamento superficial. Os movimentos de massa tornam-se mais efetivos, nos locais de alta pluviosidade e de declividade acentuada”.

morfológica quaternária com significados diferentes dos formulados pelos esquemas clássicos de interpretação.

Moura & Meis (1980) chamam a atenção para a insuficiência dos indicadores paleoambientais convencionais no estabelecimento de relações cronoestratigráficas, uma vez que algumas cascalheiras podem representar depósitos aluviais mais antigos retrabalhados, o que relativiza seu significado estratigráfico. Quanto a isso, Meis et al. (1981) asseveram que as linhas de seixos muito embora se relacionem, em alguns casos, a testemunhos de paleopavimentos ligados a pedimentos embrionários, também pode documentar variações paleohidrológicas de menor amplitude ou simples variações no regime hidrológico. Além disso, a descontinuidade geográfica dos depósitos quaternários dificulta a interpretação das fases sucessivas de erosão e sedimentação com base unicamente nos critérios convencionais de análise morfológica (MOURA & MELLO, 1991).

8. ASPECTOS DA EVOLUÇÃO PALEOCLIMÁTICA EM SÃO THOMÉ