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10. COMPARTIMENTAÇÃO DO MEIO FÍSICO

10.6. Vista parcial do compartimento EFt

10.2.6. Reverso de crista monoclinal suavemente inclinado submetido à mineração (RCm)

Corresponde ao reverso da Serra de São Thomé, que possui grau de inclinação homogêneo em direção ao contato litológico com os paragnaisses, que se dá sem uma ruptura abrupta do declive.

Trata-se de área onde a ação antrópica modificou severamente o relevo em suas formas e processos por conta da intensa extração de quartzito levada a efeito nestes setores das cristas, onde as declividades são mais modestas, impactos que já foram anteriormente investigados (MARQUES NETO, 2004). O homem, afirmando aqui exemplarmente sua condição de agente geomorfológico, imprime mudança brusca na energia do relevo, provocando, através da extração de quartzito a céu-aberto, o aplanamento generalizado do reverso da serra, a abertura de crateras e o acúmulo de pilhas de estéril que sepultam a vegetação de cerrado existente no local (Foto 10.7).

A extração que se dá a partir da área dos mananciais em direção a jusante desconfigurou uma série de leitos fluviais e comprometeu a perenidade de outros tantos com o assoreamento anômalo provocado pela movimentação dos rejeitos ao longo do subsistema vertente, e que tem como destino final os canais fluviais. Estes cursos d’água, maciçamente entulhados por material de variada ordem granulométrica, desde quantidades enormes de

divagante, que procura dar vazão ao seu caudal pelos trechos menos obstruídos, desencadeando assim processos de erosão marginal responsáveis pela degradação da vegetação envolvente e por acentuada morfodinâmica nos setores beiradeiros, traduzida por alargamento pronunciado dos canais, que, através da erosão das margens, buscam o seu perfil de equilíbrio adaptando sua morfologia em face da grande quantidade de detritos, condição que exige um canal com formato mais alargado que profundo, padrão geométrico este mais apropriado para o transporte de material grosseiro e mal selecionado (Foto 10.8).

O comprometimento na vazão pode ser verificado na Foto 10.9, onde um delgado fio d’água acusa as condições do sistema hidrográfico no período de estiagem em comparação à época das chuvas (Foto 10.10). Tais condições hidrodinâmicas podem ser modificadas por eventos espasmódicos, como um grande volume de chuvas concentradas, conforme foi registrado para os dias 25 e 26 de novembro de 2006, onde, num período inferior a doze horas foram precipitados 174 mm segundo dados do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) publicados na home page oficial de “O Estado de Minas” no dia 28 do mesmo mês do ano de 2006 (www.estaminas.com.br). A Foto 10.12 ilustra o volume d’água anômalo verificado logo após a chuva. Em situações desse tipo, a tromba d’água é capaz de remover um banco de areia inteiro e transportar grande volume de material grosseiro, bem como erodir fortemente as margens, modificando, dentro de um curto espaço de tempo, a configuração do canal fluvial.

Entende-se por resistência a capacidade de determinado sistema em manter sua integridade original diante de distúrbios externos, e por resilência como a capacidade do sistema em retornar as suas condições iniciais após ser afetado por interferências exógenas, isto é, refere-se à sua capacidade em absorver mudanças e se retroalimentar, conservando sua estrutura e características, embora nem sempre mantendo os mesmos valores nos atributos dos elementos (CHRISTOFOLETTI, 1999).

A morfologia local, em compatibilidade plena com a condição de sistema processo- resposta, é modificada em função da drástica alteração na cascata de matéria e energia que se verifica com a exploração de quartzito, bastante negligente do ponto de vista ambiental. A magnitude dos impactos é responsável pelo rompimento dos limiares de resilência do sistema, exercendo efeitos que vão além de sua capacidade de retroalimentação. Dessa forma, foi rompida a capacidade do sistema em questão em voltar ao seu estado original, o que repercute numa reajustagem no sentido de buscar um novo estado de equilíbrio diferente do original, com estrutura e funcionamento diferenciado do sistema que precedeu a prática exploratória.

é promovida, e a energia do relevo é substancialmente modificada em função da desconfiguração topográfica levada a efeito pela extração. O alargamento excessivo atinge uma série de tributários em seus setores marginais, que tem assim a erosão regressiva catalisada. A reorganização erosiva dos canais afetados e seus afluentes, é dever mencionar, constitui processo que extravasa a área de extração.

De posse das constatações realizadas, pode-se inferir com segurança que mesmo após o encerramento absoluto das atividades minerárias, o sistema em discussão continuará atuando no sentido de aprofundar os impactos em face da nova dinâmica trazida no bojo da exploração mineral e seus processos geomórficos conseqüentes. Provavelmente o reajuste se dará mediante uma configuração de canais largos, com considerável carga de fundo representada pelos sedimentos provenientes da exploração do quartzito que, ao que tudo indica, permanecerão no sistema com ou sem prática exploratória, e um padrão de drenagem tendendo para o tipo anastomosado, com o fluxo se dividindo em diferentes direções dentro do leito da drenagem principal e provocando o rompimento de setores das margens, acompanhado da retomada erosiva de alguns afluentes e conseqüente rebaixamento da topografia.

Para o caso em questão, portanto, a exploração antrópica é agente fundamental a ser considerado na compartimentação do meio físico, haja vista a indiscutível modificação imposta na paisagem em suas formas e processos atuantes. É verdade, entretanto, que tal atividade foi privilegiada por fatores de ordem litológica (ocorrência de quartzito com pureza diferenciada e cor interessante ao comércio) e morfométrica, viabilizando a instalação das minas numa topografia caracterizada por suaves mergulhos e declividades mais brandas, entre 12 e 20% e que dificilmente avançam além de 40%, em vertentes com comprimentos que vão além de 2.000 metros.

O processo de extração se iniciou na década de 40 do século vinte (RAMOS & BARBOSA, 1968) e se intensificou na última década. São Thomé das Letras é o maior centro produtor de quartzito ornamental do Brasil, seguido por Alpinópolis, Ouro Preto e Diamantina (FERNANDES et al. 2003). A questão locacional instigou a explotação da rocha e acabou por firmar a mineração como atividade econômica quase hegemônica no município, o que se dá de maneira frenética e mal-planejada responsável por um quadro ambiental dos mais constrangedores.