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6. A ÁREA DE ESTUDO NO CONTEXTO DAS SUPERFÍCIES DE

6.2. SÍNTESE SOBRE OS ESTUDOS DAS SUPERFÍCIES DE EROSÃO

Entre os diversos autores que se dedicaram aos estudos das superfícies de aplainamento e dos níveis de erosão embutidos destacamos os trabalhos de: De Martonne (1943); King (1956); King (1962); Ab’Sáber & Bigarella (1961); Ab’Sáber (1960); Ab’Sáber (1962); Ab’Sáber (1969); Ab’Sáber (1969a); Ab’Sáber (1969b); Ab’Sáber (1969c); Ab’Sáber (1969d); Bigarella & Mousinho (1965); Christofoletti & Penteado (1970); Braun (1971); Barbosa (1980); Bigarella (2003).

Os primeiros estudos concisos sobre as superfícies de aplainamento foram levados a efeito por De Martonne (1943). Bigarella (2003) cede mérito ao autor argumentando que,

interpretadas como resultado de processos de peneplanização que atuaram em largo tempo geológico, ao gosto da geomorfologia davisiana.

A partir dos estudos desempenhados por De Martonne (1943) tomou lugar a concepção de três ciclos responsáveis pela evolução de três grandes níveis de aplanamento designados por Superfície dos Campos (Cretáceo Médio), Superfície Paleogênica (Terciário Inferior) e Superfície Neogênica (Terciário Superior), além de um caso específico nas proximidades de Itu (SP), tido como uma superfície pré-permiana na interpretação do autor.

De Martonne (1943) situa a Superfície dos Campos em terrenos elevados do Brasil Sudeste com ocorrência destacada no Planalto de Campos do Jordão, atribuindo para ela idade cretácea, enquanto Raynal (1960) a teria interpretado como uma superfície mais antiga, possivelmente do Triássico. De Martonne (1943, p. 537) apresenta para a Superfície dos Campos as considerações abaixo:

“Seus limites podem ser escarpas retilíneas, como a frente da Mantiqueira ou a dos Campos de Ribeirão Fundo, ao pé dos quais se alinham o alto Jaguari, afluente do Tietê e o rio Itaim, afluente do Sapucaí, escarpas geralmente voltadas para o sul ou o sudeste e que são evidentemente as bordas falhadas ou violentamente flexuradas de blocos basculados. Do lado do norte e do oeste, é geralmente num contôrno recortado e menos preciso que a alta superfície dos campos se interrompe”.

O mesmo autor reconhece um degrau inferior correspondente à Superfície Paleogênica (Terciário), também referida como Superfície das Cristas Médias, registrada com a seguinte descrição:

“O que domina é a paisagem das colinas mamelonares dominadas por cristas curtas com orientações variáveis, mas de altitude assaz constantes...Elas sobem regularmente de 1000 a 1100 m a 1300 a 1400 m, seja para o sul, afastando-se do rio Grande, seja para leste, afastando-se da zona em que aflora a superfície pré-permiana” (DE MARTONNE, 1943, p. 538).

Ainda no sul de Minas Gerais Emanuel De Martonne identifica a ocorrência de uma superfície de erosão mais recente, denominada por Superfície Neogênica e atribuída ao Terciário Superior. O autor assim percebe:

“Descendo os diversos braços do alto Sapucaí, por exemplo, não é ao nível das cristas médias que se chega, mas sensivelmente mais abaixo; emoldurados por patamares, depois cada vez mais largos, com fundo chato e pantanoso, para as bandas de Pouso Alegre, os vales são apenas entalhados de uns 100 m, num labirinto de colinas que não ultrapassam 1000 m”. (DE MARTONNE, 1943; p. 538).

erosão do Brasil Oriental foram realizados por Lester King (KING, 1956), (KING, 1962), que concebe cinco ciclos erosivos responsáveis pelo aplainamento de cinco superfícies, a saber: Ciclo Gondwana (Cretáceo Médio), Ciclo Pós-Gondwana (Cretáceo Superior), Ciclo Sul- Americano (Terciário Inferior), Ciclo Velhas (Terciário Superior) e Ciclo Paraguaçu (Quaternário). De acordo com o autor supracitado, segue uma apresentação sumária de cada um dos ciclos arrolados:

Ciclo Gondwana: O mais antigo concebido pelo autor, teria se processado a partir do Cretáceo Médio-Superior com o fim dos derrames basálticos, tendo removido a sedimentação triássica em grandes áreas.

Ciclo Pós-Gondwana: Quase tão antigo quanto a Superfície Gondwana, King (1956) interpretou que esta superfície raramente se encontra aplainada, aparecendo localmente na forma de terraços sobre os flancos das elevações que são cortadas pela Superfície Gondwana. Aparece, conforme o mapeamento do autor, com maior tipicidade no setor central do estado de Minas Gerais, regiões de Belo Horizonte e Ouro Preto, e no vale do Jequitinhonha, nas proximidades de Diamantina.

Ciclo Sul-Americano: O aplainamento dessa superfície teria se dado ao longo do Terciário Inferior, até o Mioceno, aparecendo como chapadas que se erguem sobre sistemas de vales ou planícies onduladas, produtos da atuação de ciclos posteriores. Aparece preservada com destaque, entre outros locais, na Serra da Mantiqueira e em setores de cimeira do planalto do alto rio Grande. Também persegue as cumeadas da Serra do Espinhaço.

Ciclo Velhas: Processado no Terciário Inferior, é responsável pelo desgaste da Superfície Sul-Americana. Tal fase erosiva adentrou pelo continente e alcançou ampla distribuição geográfica.

Ciclo Paraguaçu: De idade quaternária, é responsável pela abertura de gargantas e vales recentes na Superfície Velhas. Ocorre com freqüência na Bahia e nas áreas costeiras dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, registrando ocorrência mais restrita em Minas Gerais.

sedimentação deve ter sido muito pobre no Triássico, período ao qual era atribuída a deposição dos sedimentos Botucatu na época dos estudos de King, o que induziu o autor a um erro de interpretação para este caso.

Ab’Sáber & Bigarella (1961) distinguem quatro superfícies erosivas no primeiro Planalto do Paraná: Superfície Pré-Devoniana; Superfície do Purunã; Superfície do Alto Iguaçu; Superfície de Curitiba. A Superfície Purunã, dentro desta divisão, pode ser relacionada à Superfície Sul-Americana (BIGARELLA, 2003).

A revisão da literatura sobre as superfícies de erosão demonstra certa incompatibilidade entre os resultados apresentados pelos principais autores que se ocuparam de tal ordem de pesquisa, o que é sintetizado no Quadro 6.1.

Quadro 6.1. Superfícies de erosão segundo os autores analisados AUTOR

ANALISADO NOMENCLATURA UTILIZADA IDADE ATRIBUÍDA E. De

Martonne Superfície dos Campos Cretáceo Médio Superfície Paleogênica Terciário Inferior Superfície Neogênica Terciário Superior L. King Superfície Gondwana Cretáceo Médio

Superfície Pós-Gondwana Cretáceo Superior Superfície Sul-Americana Terciário Inferior Superfície Velhas Terciário Superior Superfície Paraguaçu Quaternário A. N.

Ab’Sáber Superfície dos Altos Campos Cretáceo Inferior Médio-Terciário Superfície das Cristas Médias Terciário Médio

Superfície Neogênica Terciário Superior

Superfície Jundiaí Quaternário

J. J. Bigarella Pd3 Cretáceo Superior-Terciário

Inferior

Pd2 Terciário Médio

Pd1 Plio-Pleistoceno

O. Braun Ciclo Gondwana Cretáceo Médio Ciclo Pós-Gondwana Cretáceo Médio

Ciclo Sul-Americano Cretáceo Superior-Terciário Superior

Ciclo Velhas Plio-Pleistoceno-Quaternário Adaptado de Meis & Miranda (1982).