• Nenhum resultado encontrado

Ocorrência marcante de araucárias (Araucaria angustifolia) na área de

10. COMPARTIMENTAÇÃO DO MEIO FÍSICO

4.9. Ocorrência marcante de araucárias (Araucaria angustifolia) na área de

O clima vigente na área é o tropical de altitude (Cwb segundo a classificação de Köppen). Este tipo climático toma forma nos setores mais elevados do Brasil Sudeste, onde o efeito da altitude é responsável por uma moderação das temperaturas das latitudes tropicais. É caracterizado por um verão úmido e moderadamente quente e por um inverno relativamente frio e seco, apresentando temperaturas mais amenas em relação ao clima tropical típico do Brasil Sudeste.

Nos climas tropicais, entre eles o clima tropical de altitude, a estação quente está ligada à atuação da massa tropical atlântica, com influência da frente polar que age com maior vigor no inverno. Abreu (1998) argumenta que as frentes frias que atingem o sudeste do Brasil podem se associar às instabilidades tropicais, numa interação conhecida como Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), provocando chuvas intensas no estado de Minas Gerais.

No Planalto Sul de Minas, conforme esclarece Nimmer (1989), os índices pluviométricos tendem a diminuir em relação a Serra da Mantiqueira por conta do efeito Föhen, que se dá nas vertentes a sotavento, onde o ar descendente se aquece segundo o gradiente adiabático de compressão, fenômeno oposto do que ocorre nas vertentes a barlavento do sistema Mantiqueira, onde o ar ascendente perde temperatura segundo o gradiente adiabático de expansão, num ritmo de 1ºC a cada 100 metros de elevação.

Tal efeito acima descrito também pode ser verificado no município em consideração. As serras locais recebem de maneira mais efetiva as massas de ar em suas vertentes voltadas para o quadrante leste, áreas estas mais servidas pela umidade e que impõem efeitos orográficos locais. A turbulência do ar que se manifesta em decorrência da ascensão imposta pelo efeito orográfico tende a favorecer a precipitação, mais elevada nesses setores que, em conseqüência, são mais úmidos. Com isso, as massas de ar atingem o reverso das serras, orientado para o poente, com menor umidade, que fica retida na área frontal. A variação no relevo interfere na circulação diária dos ventos, impondo a ocorrência de ventos catabáticos nos setores montanhosos e de ventos anabáticos nos fundos de vale.

Nos vales rebaixados formam-se costumeiras neblinas ao amanhecer, que ficam alojadas nas calhas fluviais e pintam de branco, nas primeiras horas do dia, o eixo superficial dos principais cursos d’água, sublinhando a rede hidrográfica local.

Um projeto da FEAM (2002) para a área divulgou um balanço hídrico (Quadro 4.1) calculado pela Estação Meteorológica de Caxambu para o ano de 1989:

Quadro 4.1. Balanço Hídrico para São Tomé das Letras (1989). Precipitação média anual (P) – 1403,7 mm

Evaporação potencial (EP) – 867 mm

Precipitação efetiva (PEF = P – EP) – 537 mm Evaporação real (ER) – 824 mm

Excedente hídrico (EXC = P – ER) (novembro – março) – 580 mm Déficit hídrico (DEF = ER – EP) (abril – setembro) – 43 mm

Fonte: Projeto FEAM (1989).

4.6. Aspectos humanos

O contingente populacional de São Thomé das Letras, conforme os dados fornecidos pelo IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística) no censo 2000, é de cerca de 6204 habitantes, sendo que 3289 são homens e 2915 mulheres. O censo demográfico efetuado em 1991 indicava um predomínio da população rural em relação à urbana numa ordem de 3671 contra 2029. Esse quadro se reverteu, sendo que, para 2000 a população urbana ultrapassa levemente a rural, com 3212 habitantes na cidade contra 2992 habitantes no campo.

A principal atividade econômica do município é a mineração, que emprega cerca de 70% da população economicamente ativa, aproximadamente, e responde por 50% do ICMS. Para 1998, o IBGE indicou 1. 131 pessoas ocupadas.

Quanto à educação, o censo realizado no ano 2000 mostra um número de 4018 pessoas residentes alfabetizadas com dez anos ou mais de idade. Para este ano foram verificadas cerca de 1 469 matrículas no ensino fundamental e 223 matrículas no ensino médio. A taxa de alfabetização é de 82,4%.

A economia do município, quase toda atrelada à extração do quartzito, que relega a segundo plano outras atividades econômicas, como a agropecuária, que ocorre na forma de pastagem semi-extensiva e cultivo de café (principal produto) e milho, voltado para a comercialização e à manutenção do gado. A região apresenta uma série de fábricas de ração para gado à base de milho que dá conta do consumo desta planta, algumas delas localizadas no município de Três Corações, o qual polariza de maneira mais direta e intensa o município de São Thomé das Letras. A indústria é insignificante, restringindo-se a algumas empresas transformadoras do minério.

do comércio na forma de restaurantes, lojas, bares, pousadas e hóteis de custos variados e outros serviços voltados ao atendimento do turista. Essa fonte alternativa de renda, entretanto, não é bem aproveitada. O que se observa é um turismo de caráter depredatório e sem qualquer controle de fluxos em alta temporada, o que, aliado à ausência de cobrança de taxas para a visita dos atrativos, repercute de maneira negativa no meio natural. Trata-se de uma situação na qual a visitação se concentra demasiadamente em determinados pontos turísticos do circuito, não havendo interesse em praticar visitação em outras áreas tampouco diversificar as modalidades de atividades turísticas. Em suma, a atividade turística local se acorrenta num modelo simplista que se restringe à exploração maciça e deliberada de atrativos consagrados e não se preocupa em aditivar positivamente a atvidade econômica em discussão com a elaboração de novos roteiros e ordenação mais adequada do espaço turístico. A extração de quartzito também vem compromentendo um conjunto de atrativos que são insistentemente incluídos nos roteiros básicos e que, diante de um quadro acentuado de degradação, tiveram sua condição de recurso turístico seriamente comprometida.

A área urbana de São Thomé das Letras cresce desordenadamente na vertente oeste da Serra de São Thomé. Não é dissecada por nenhum canal fluvial perene e se organiza pela longa vertente tal como um tobogã, da maneira que se nota na Foto 4.10.

Problemas relacionados à expansão urbana, portanto, são patentes em São Thomé das Letras, conforme foi considerado por Marques Neto et al. (2005). Foi visto que a população vem aumentando na cidade, fenômeno este que se dá ao mesmo tempo em que as mineradoras atingem os limites da área urbana, que fica então cercada pelas imensas pilhas de estéril acumuladas e dispostas de maneira pouco adequada (Foto 4.11). A cidade, cercada pelos terrenos sob licença das mineradoras, limita seu espaço urbano com lavras abertas e pilhas de rejeito de minério, com exceção do setor leste, onde uma área de proteção inviabiliza a penetração das lavras.

Um reflexo imediato que é verificado diante desse processo no espaço intra-urbano é o processo de verticalização que a cidade enfrenta. É cada vez mais comum que, num mesmo terreno, sejam edificados dois ou até três andares, uma vez que as possibilidades de expansão urbana praticamente atingiram seu limite, e, em conseqüência disso, nas áreas periféricas se amontoam habitações de mais baixo padrão, muitas delas em sobrados, que assinalam um processo de favelização atípico para cidades pequenas. O espaço urbano, sem possibilidades de expansão, enfrenta um inchamento, agravado pelos processos de migração, tanto do rural para o urbano como intra e interestadual. O aumento da população urbana se deu de maneira

interna no sentido campo-cidade, fenômeno que se deve em grande medida à presença das mineradoras que instigam a população a trocarem a vida no campo por novas oportunidades nas frentes de lavras abertas. A população rural diminuiu em termos absolutos e relativos, sendo que esse contingente ocupou, em sua maioria, as áreas periféricas, as menos organizadas do espaço intra-urbano. É verificado, dessa forma, um inchamento acompanhado de certa desordem nos arruamentos e disposição dos terrenos nos setores de expansão mais recente. Um crescimento mais planejado e organizado não pode ser concebido dentro da atual forma de exploração do território, que cercou a área urbana em todo o seu perímetro.

Os efeitos negativos da mineração vão além dos impactos no meio físico e de suas repercussões na organização do espaço urbano. Também interfere na qualidade de vida da população por meio de poluição visual, poluição sonora (decorrente das detonações diárias) e poluição atmosférica em função do transporte das areias quartzosas liberadas com a extração por via eólica, carregando, comumente, este nocivo material particulado para o ambiente citadino, que já registra casos de silicose decorrentes da costumeira inalação da sílica.

Foto 4.10. Vista parcial da área urbana de São Thomé das Letras (MG), com destaque para