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9. ASPECTOS DA EVOLUÇÃO MORFOTECTÔNICA EM SÃO THOMÉ

9.5. EFEITOS NEOTECTÔNICOS NA ÁREA DE ESTUDO

9.5.3. Apresentação e discussão dos índices geomórficos

9.5.3.1. O fator assimetria

O índice geomórfico em questão foi aplicado, conforme anteriormente escalrecido, para algumas bacias hidrográficas adstritas ao município que foram previamente selecionadas conforme seu interesse morfotectônico e devidamente distribuídas pelo território municipal. Segue-se a mensuração dos índices para as bacias do ribeirão Vermelho, córrego da Cachoeira, córrego São Thomé, córrego Cantagalo, córrego Caí e córrego Ventura.

O fator de assimetria (FA) desenvolvido por Keller & Pinter (1996) resultou, para a bacia do ribeirão Vermelho, num valor de 30,7. O valor obtido, inferior a 50, indica basculamento da margem direita. Tal efeito eleva sensivelmente a altitude do norte em direção ao sul. Com a margem esquerda sobrelevada, incidem nesse setor todos os afluentes de expressão, sendo que os tributários da margem direita são representados por um conjunto de pequenos cursos d’água que nascem no divisor e tributam a drenagem principal após perfazerem pequenas extensões de fluxo superficial.

Todos os afluentes de expressividade se localizam na margem esquerda, e podem ser compartimentados segundo as microbacias que particularizam. Mantém padrão paralelo a subparalelo ao longo do alto curso, onde são controlados por dobras monoclinais, tomando padrão dendrítico a subdendrítico a partir do médio curso, onde começam as tributações. O tributário de maior eqüidistância, localizado no extremo oposto da bacia, que nasce nos flancos do divisor da margem esquerda, só vai tributar o ribeirão Vermelho bem perto de sua foz.

Foi identificado um sistema de falhamento SE-NW se superimpondo a um sistema NE-SW. O imbricamento dos dois sistemas comanda as principais confluências na média bacia.

A assimetria da margem esquerda do ribeirão Vermelho e o mergulho de blocos são fenômenos bastante evidentes. Na extremidade esquerda do talvegue, de assoalho rochoso e praticamente desprovido de sedimentos no alto curso, os limites com a topografia adjacente pela margem esquerda são abruptos, onde taludes íngremes estabelecem desnívem altimétricos superiores a 50 metros em relação ao leito do canal fluvial. Pela margem direita o relevo é consideravelmente mais suavizado até se conectar com a linha divisória. Ainda que a drenagem em questão se aproxime do divisor da margem direita em seu alto curso, fato este

onde o fluxo se acomoda.

A bacia do córrego da Cachoeira, paralela à do Ribeirão Vermelho pelo lado sul, também apresentou assimetria. O canal principal encontra-se próximo do divisor da margem direita em grande parte de sua extensão, num notório processo de migração lateral por conta do soerguimento diferencial. A mensuração do Fator de assimetria corrobora tal constatação, revelando um resultado de 31,3%, o que denuncia uma assimetria da margem esquerda em nível semelhante ao da bacia anterior.

Na margem esquerda, onde as declividades são mais suavizadas e as altitudes sensivelmente mais elevadas, ocorrem as confluências dos tributários mais expressivos sob nítido controle estrutural, ao passo que, pela margem direita, apenas tributários de pequena extensão e de largura muito fina desembocam no córrego da Cachoeira.

A bacia do Córrego São Thomé, da mesma maneira que as duas anteriores, com as quais mantém paralelismo, localiza-se no setor oeste do município, matendo as cabeceiras no reverso da Serra de São Thomé. Está disposta paralelamento à bacia do Córrego da Cachoeira pelo sul.

Tal sistema hidrográfico apresenta assimetria mais baixa (43,7 %) que as anteriores. No entanto, apresenta o mesmo esquema de superimposição de falhas recentes sobre falhamentos mais antigos controlando as afluências. Levemente assimétrica pela margem esquerda, é por esse setor que descem a maior parte dos afluentes de maior expressão.

O padrão de assimetria da margem esquerda mantida pelas bacias hidrográficas que ocupam o reverso da Serra de São Tomé aponta basculamento de blocos no sentido predominante NW.

A bacia do Córrego Cantagalo ocupa outro contexto geológico-geomorfológico. É limitada pelas escarpas abruptas da Serra de São Tomé e pelo reverso da Serra do Cantagalo, mantendo a drenagem central alojada em terraço litologicamente composto por micaxistos cobertos por depósitos quaternários embutidos entre as faixas quartzíticas. Corresponde ao lineamento principal verificado na área, de orientação geral NE-SW, orientação esta que toma a bacia, num formato alongado que se estreita das nascentes em direção à foz.

O cálculo de FABD para a bacia em consideração (73,7) acusou assimetria da margem direita, e a migração do canal também se deve à tectônica transcorrente responsável pela geração de lineamentos locais que interceptam o principal. No baixo curso o terraço se estreita abruptamente, o que pode ser mais um indicativo de soerguimento tectônico. Pires Neto (1996) lembra que efeitos de soerguimento e subsidência podem provocar alterações

reflexos nos padrões de sedimentação e nas características granulométricas dos sedimentos associados.

O Córrego Caí desenvolve seu curso paralelamente ao Córrego Cantagalo, mantendo mesma orientação geral que o anterior e percolando no sopé da Serra do Cantagalo em sua vertente orientada para ESE. Por quase metada de seu curso o córrego Caí se encaixa na linha de falha e se apresenta anomalamente retilíneo no sentido NE-SW, indicando forte controle estrutural. No médio curso sofre ligeira inflexão para leste. Pela margem direita tributam os afluentes provenientes da dissecação do bloco falhado, e pela margem esquerda os afluentes controlados por lineamentos SE-NW, que dissecam um compartimento de relevo amorreado.

O valor de FABD mensurado para a bacia do Córrego Caí foi de 78,2, acusando assimetria da margem direita, em padrão semelhante ao Córrego Cantagalo, com o qual mantém paralelismo. Ambas as bacias hidrográficas guardam consonância com a direção principal das estruturas tectônicas do sudeste brasileiro.

Para o Córrego Ventura o valor obtido foi da ordem de 36,8, o que acusa assimetria da margem esquerda. De orientação geral S-N, sofre maior migração lateral no médio curso.

O Quadro 9.2 organiza os valores de FABD obtidos segundo sua escala de intensidade, conforme proposição de Rubin (2002) na qual os valores inferiores a 25 indicam uma bacia muito assimétrica, os valores entre 25 e 35 uma bacia medianamente assimétrica e aqueles valores situados entre 35 e 45 representam uma bacia de drenagem pouco assimétrica. Valores encontrados entre 45 e 55 são representativos de uma bacia pouquíssimo assimétrica, e a seqüência que segue, agora para mostrar assimetria da margem direita, obedece aos mesmos intervalos.

Quadro 9.2. Escala de intensidade para FABD. Bacia de drenagem FABD Intensidade Córrego da Conquista 18,2 Muito assimétrica

Ribeirão Vermelho 30,7 Medianamente assimétrica Córrego da Cachoeira 31,3 Medianamente assimétrica

Córrego São Tomé 43,7 Pouco assimétrica Córrego Cantagalo 73,7 Medianamente assimétrica

Córrego Caí 70,2 Medianamente assimétrica Córrego Ventura 36,8 Pouco assimétrica