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De acordo com as correntes mais avançadas da época, na gestão de serviços públicos como arquivos e bibliotecas, a administração de Alberto Iria, à frente do AHU incide sobre dois aspectos principais: a criação de condições de acesso adequadas para os leitores e a preservação das colecções.

Nesta óptica, Alberto Iria preocupou-se em munir a sala de leitura das melhores condições de trabalho e segurança. Aberta ao público, em 1933, na sala do piso superior do canto sudoeste do edifício,20 encerrada em 1941 em virtude das obras, a sala de leitura reabriu,

em 1943, numa das salas mais espaçosas e com mais luz do piso nobre do edifício. O director mandou instalar um sistema de aquecimento e colocar uma mesa de trabalho com capacidade para doze leitores diários, além da instalação de um estirador para a consulta de grandes formatos, como os mapas e as cartas, permitindo, também por questões de segurança, apenas a consulta de uma unidade de instalação (códice, maço ou caixa) de cada vez, para os documentos com mais de cinquenta anos. Neste arquivo, assegurava-se ainda a disponibilização de material diverso de apoio ao leitor, tais como lupas, papel para escrever, papel secativo, lápis, borrachas, apara-lápis, pequenas estantes de suporte aos livros e máquina de coser papéis. Além do lápis, estava autorizada a utilização de caneta permanente na sala de leitura, mas proibidos os tinteiros e qualquer operação que colocasse em risco a integridade física das peças, tais como decalcar, anotar, etc.21 Outras das suas preocupações foi a instalação da rede geral de comunicações no

interior do edifício, que permitia o contacto entre os gabinetes de trabalho, a sala de leitura e o pessoal que assegurava o transporte dos livros para a sala, diminuindo os tempos de espera do leitor na sala, enquanto aguardava a vinda das obras para consulta.

Nesta época, no 1.º andar ou andar nobre, além da secretaria e de vários gabinetes, entre os quais o do director, encontrava-se o salão nobre destinado aos eventos e exposições, a referida sala de leitura, a biblioteca e a sala de catálogos e índices. No rés-do-chão, além de várias salas com documentação, encontravam-se duas salas com funções de casa-forte, e os serviços de duplicação, tais como a área de fotografia e fotocópia e a câmara escura. Estes

20Todo o edifício, mas muito em particular o 1.º piso, sofreu profundas alterações durante as obras para adequação à nova função de arquivo, constituindo esta a única sala deste piso, para além do Salão Pompeia (também sujeito a grandes alterações mas já no século XIX), que mantém azulejos anteriores. Ver Iria, “A organização dos serviços do Arquivo,” 52.

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serviços, em parte já instalados por Múrias, tinham também como objectivo o melhoramento das condições de atendimento ao público.22

A atestar a modernidade e actualidade dos conhecimentos de Iria,que, sem dúvida, foi também quem à época mais contribuiu para a implementação de procedimentos de preservação e de conservação no AHU, estes anos foram marcados pelo melhoramento das condições de armazenamento e acondicionamento das espécies. Iniciou-se, então, a substituição sistemática das estantes de madeira de pinho23 por estantes de metal, com galeria, de acordo com a prática

estrangeira24 para um melhor aproveitamento de todo o espaço.25 O acondicionamento da

documentação passou a ser realizado em caixas metálicas de chapa de aço macio, mais resistentes ao incêndio e a fenómenos de corrosão. Para os documentos de grandes dimensões, nomeadamente as colecções de cartografia e os figurinos militares, optou-se pelo seu acondicionamento horizontal num armário arquivador de chapa de aço, com um modelo próprio de fabrico nacional mas de inspiração inglesa, como afirma o próprio director.26 Depois desta

remodelação só volta a realizar-se investimentos neste sector nos anos setenta, através da aquisição de mais caixas metálicas e a partir dos anos noventa, com a aquisição de estantes compactas, quando se constrói o novo edifício e se inicia a renovação do velho palácio.27

Iria, consciente da importância da qualidade do ar atmosférico para a preservação das espécies e do controlo das condições ambientais nas áreas de depósito, iniciou ainda esforços para a instalação de ar condicionado nas áreas com maior humidade, referindo ser necessária:28

A regulamentação dos agentes atmosféricos em todas as salas que servem de depósitos documentais, mediante um estudo feito por engenheiros da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que permita estabelecer, nessas salas, uma renovação proporcional do ar e, bem assim, uma ventilação adequada, a fim de se poder atenuar, também neste Arquivo, conforme aconselham os técnicos especializados nesta matéria, as causas que afectam a patologia do livro e documento.

22Ver Iria, “A organização dos serviços do Arquivo,” 50-52. Ver ainda Ofício n.º 212, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, 26 de Junho de 1948; Ofício n.º 224, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, 2 de Julho de 1948, AHU, AAHU, pasta 548.

23Informação de José Joaquim de Sousa, “Obras do Arquivo Geral das Colónias,” 29 de Setembro de 1928, AHU, AAHU, pasta 1492.

24Albert Maire, Manuel pratique du bibliothècaire (Paris, 1896), 57-61.

25Ofício n.º 149, de Alberto Iria para o Director-Geral da Fazenda Pública, 5 de Novembro de 1946; Ofício n.º 52, de Alberto Iria para o Director-Geral da Fazenda Pública, 4 de Fevereiro de 1949, AHU, AAHU, pasta 548.

26Iria, “A organização dos serviços do Arquivo,” 60, 70.

27Ofícios n.º 109, n.º 106, n.º 107, n.º 108 de Aberto Iria para firmas fornecedoras de caixas metálicas, 3 de Agosto de 1974; Ofício n.º 131, de Isaú Santos para a Comissão de Gestão da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 18 de Março 1976, AHU, AAHU, pasta 433, Contabilidade, 1974-1977. Ver ainda Processo de aquisição n.º 23-A/91; Processo de aquisição n.º 56/91; Processo de aquisição n.º 35/93, AHU, AAHU, pasta 2133, Copiador de processos de aquisição de material, 1991-1993.

28Ofício n.º 224, de Alberto Iria para a Direcção-Geral Ensino do MC, 2 de Julho de 1948, AHU, AAHU, pasta 548.

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Outra das suas preocupações permanentes será, precisamente, zelar pelas condições sanitárias do edifício e, particularmente, evitar a acção das pragas; sem dúvida um problema generalizado, a ver pela bibliografia nacional e estrangeira, dirigida aos bibliotecários e arquivistas que, sistematicamente, aborda o tema.29 O assunto era sobretudo pertinente num

Arquivo destinado a incorporar fundos ultramarinos, onde este tipo de agentes é ainda mais activo, dadas as condições atmosféricas nessas zonas geográficas do globo. Logo nos primeiros anos de actividade, insiste na limpeza sistemática e vigilância das peças e instala uma câmara de desinfestação que manda construir num dos jardins externos, perto da casa do fiel. Todavia, esse equipamento nunca será utilizado, devido ao deficiente isolamento da porta e falta de uma chaminé suficientemente alta que assegurasse a extracção dos gases tóxicos, de forma inócua, para as casas vizinhas. Isso deve-se apenas à incapacidade de resposta da DGEMN. Esta entidade que começa por não realizar a obra adequadamente, adiará a sua remodelação, apesar da insistência do director.30 Iria, recorrentemente, pede a remodelação da câmara, de acordo

com as recomendações que recebe de várias entidades31 para a sua correcta utilização, em

alternativa aos tratamentos globais do edifício, muito mais perigosos. Na mesma sequência, insiste nos procedimentos de limpeza regular, no caso de infestação activa, na substituição de materiais de acondicionamento e aplicação pontual de produtos químicos, nomeadamente utilização de naftalina e aplicação de DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) a 20%, de acordo com a prática corrente e com as recomendações dos especialistas do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), que apelam à adopção de “medidas preventivas,” onde incluem a aplicação de DDT ou lindano (hexacloreto de gama-Benzeno), especialmente na documentação menos consultada.32

Porém, em meados dos anos cinquenta, face à gravidade da situação, e não se afigurando possível resolver o problema da câmara de fumigação, o director decide recorrer a empresas especializadas para proceder a uma “desratização, desinfestação e desinfecção global

29Maire, Manuel pratique du bibliothècaire, 90-94; Édouard Rouveyre, Connaissances necessaires à un

Bibliophile: Accompagnées de notes critiques et de documents bibliographiques (Paris: Édouard Rouveyre, 1899),

23-25; W. Haslam, The Library Handbook of Genuine Trade Secrets and Instructions for Cleaning, Repairing and

Restoring Old Manuscripts, Engravings and Books....(London: W. & G. Foyle, 1923), 33-34; Françoise Flieder, La

conservation de documents graphiques: Recherches expérimentales (Paris: Eyrolles, 1969), 63-67, 105-06; entre outros.

30Informações manuscritas de Cândido da Silva Teixeira para Alberto Iria, 19 de Julho de 1948, 11 de Fevereiro de 1949, 14 de Julho de 1949; Informação de Manuel Rodrigues para Alberto Iria, 1 de Abril de 1949; Proposta da Sociedade Portuguesa de Desinfecção “Grima,” Lda. para o AHC, 14 de Abril de 1952; Ofício n.º 171, do Director do AHC para o Director do Instituto Superior de Agronomia (ISA), 27 de Abril de 1959, AHU, AAHU, pasta 542, Edifício, desinfecção, desinfestação e desratização.

31Tanto o ISA através do prof. eng. Carlos Manuel Baeta Neves, chefe da Brigada de Estudos da Defesa Fitossanitária dos Produtos Ultramarinos, como o LNEC, através do director interino, Manuel Coelho Mendes da Rocha, desaconselham os tratamentos desta natureza. Ver, Cópia dactilografada da carta n.º 79/56, de Carlos Manuel Baeta Neves para Alberto Iria, 21 de Dezembro de 1956; Cópia dactilografada da carta de Manuel Coelho Mendes da Rocha para Alberto Iria, 24 de Novembro de 1956, AHU, AAHU, pasta 542.

32Ofício n.º 171, do Director do AHC para o Director do ISA, 27 de Abril de 1959; Informação de Cândido da Silva ao Director do AHC, 19 de Julho de 1948; Carta n.º 157, de Carlos Manuel Baeta Neves, do ISA, para o Director do AHC, 10 de Março de 1959,AHU, AAHU, pasta 542.

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de todo o edifício.”33 O produto recomendado pelas empresas, à semelhança do que aplicavam

noutras instituições de referência,34 é o gás cianídrico, químico altamente mortífero. Face à

perigosidade do tratamento, Iria aconselhar-se-á com instituições reconhecidas na matéria: o LNEC, a quem pede elucidação sobre o produto; o ISA, a quem pede assistência com um entomologista para acompanhamento do trabalho; e o Ministério da Saúde, a quem solicita autorização para o procedimento, além da fiscalização do procedimento e toda a assistência julgada conveniente. As duas primeiras instituições, desaconselham o procedimento: o ISA depois de identificados os insectos em acção (nomeadamente, o hylotrupes bajulus l. nas estantes e o stegobium paniceum l. e o nicobium castaneum ol nos documentos e livros) recomenda tratamentos localizados e o LNEC alerta sobre a perigosidade do gás, antepondo a utilização do brometo de metilo ou o óxido etileno, na câmara de expurgo depois de finalizada. Estes produtos virão a ser muito utilizados entre nós mas muito mais tarde, por exemplo, na BNL e na FCG, por recomendação estrangeira, no seguimento das catástrofes como as de Florença e de Oeiras. Contrariamente, Iria não consegue sensibilizar a sua hierarquia para a urgência da remodelação dessa câmara, ao mesmo tempo que Ministério da Saúde dá a sua autorização para o processo de desinfestação global do edifício, disponibilizando-se para fiscalizar a operação de acordo com regras que se propõem estabelecer.35 A operação é feita

com grande aparato, envolvendo a acção da Polícia de Segurança Pública mas, como refere o responsável do Laboratório de Engenharia, um tratamento desta natureza, além de ser uma “operação perigosa, trabalhosa e, evidentemente, cara,” nem sequer pode ser considerado “um tratamento radical e definitivo.”36 Nestas circunstâncias, apesar dos perigos que envolvia, ela

passou a ser efectuada de forma regular e sistemática pois só assim demonstrava alguns resultados, ainda que parcelares.

Nos anos sessenta, a par da criação do futuro laboratório de restauro de livros e manuscritos será montada um outro sistema de desinfestação e desinfecção, à semelhança do que se praticava no laboratório de restauro do arquivo do Vaticano, em Roma, onde o

33Proposta da Sociedade Portuguesa de Desinfecção “Grima,” Lda. para Alberto Iria, 14 de Abril de 1952, doc. n.º 1; Proposta da Gaso Esterilizadora, Lda. para Alberto Iria, 23 de Abril de 1952, AHU, AAHU, pasta 542.

34Por exemplo, na Biblioteca Nacional e na Torre do Tombo. Ver Cópia dactilografada da proposta de desinfecção, desinfestação e desratização da Sociedade Portuguesa “Grima,” Lda., 6 de Junho de 1955, AHU, AAHU, pasta 542.

35Ofício n.º 603, de Alberto Iria para o director do ISA, 3 de Novembro de 1956; Ofício n.º 604, de Alberto Iria para o DGS, 3 de Novembro de 1956; Ofício n.º 605, de Alberto Iria para Director do LNEC, 3 de Novembro de 1956, doc. n.º 22; Cópia dactilografada da carta n.º 79/56, de Carlos Manuel Baeta Neves para Alberto Iria, 21 de Dezembro de 1956; Cópia dactilografada da carta de Manuel Coelho Mendes da Rocha para Alberto Iria, 24 de Novembro de 1956; Cópia dactilografada de ofício n.º 2360, proc. 52 da DGS do Ministério do Interior para o Director do AHU, 20 de Dezembro de 1956, doc. n.º 25; Cópia dactilografada de ofício n.º 221, dos Serviços Técnicos da Direcção-Geral da Saúde (DGS) do Ministério do Interior para o Director do AHU, 21 de Dezembro de 1956; Cópia da informação anexa ao ofício n.º 678, de Alberto Iria para a Gaso Esterilizadora, Lda., “Instruções a observar na cianidrização requerida pelo Arquivo Histórico Ultramarino,” 22 de Dezembro de 1956, AHU, AAHU, pasta 542.

36Cópia dactilografada de carta de Manuel Coelho Mendes da Rocha para Alberto Iria, 24 de Novembro de 1956, AHU, AAHU, pasta 542.

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responsável do serviço recebeu formação, que contemplava a utilização de dissulfeto de carbono, já recomendado em Portugal, desde 1914, com a criação do Posto de Saneamento e Desinfestação de Livros e referida também como a opção mais aconselhável pelo ISA. Contudo, este procedimento, que também exigiu a autorização da Direcção-Geral de Saúde (DGS), destinava-se somente aos documentos em tratamento no laboratório, dadas as exíguas dimensões da câmara, sendo o responsável do laboratório o primeiro a aconselhar as desinfestações gerais do edifício. 37

Assim, a ver pela correspondência trocada entre o director do Arquivo e a tutela, a Direcção de Ensino do Ministério do Ultramar, o Ministério da Saúde e as empresas especializadas em desinfecções e desinfestações, o problema, ao nível dos depósitos, não estava obviamente resolvido,38 continuando a ser grandes as preocupações de Iria com as pragas de

ratos e insectos que, na altura, invadem o edifício. Entre os insectos, destaca-se Lepisma

Sacarina-L em áreas da cave e aquilo a que, genericamente, o director se refere como sendo “caruncho,” que pode incluir as espécies identificadas pelo ISA e ainda “baratas” e a “formiga branca,”39 que era combatida com produtos químicos aplicados em volta do edifício, numa vala

de trinta a quarenta centímetros de profundidade.

Apesar da acção da Inspecção-Geral das Bibliotecas e Arquivos que, como já foi referido, se interessa pelo tema,40 mas também promovendo estudos especializados que encomenda a cientistas em instituições como o ISA e o LNEC que demonstram um conhecimento actualizado sobre toda a problemática, a verdade é que o efeito prático deste saber, existente à época em Portugal, parece ter sido nulo na generalidade dos arquivos e bibliotecas que vão continuar, durante décadas, a recorrer aos métodos de desinfestação global nos depósitos. Com efeito, neste Arquivo, o procedimento foi interrompido apenas em 1974, quando já dependia da JICU, não por razões de carácter técnico ou de saúde pública, mas antes por motivos financeiros, não tendo sido disponibilizada a verba necessária à realização do procedimento por parte do Ministério, agora em reestruturação, face à nova conjuntura política após o 25 de Abril de 1974. Todavia, em 1975, a nova Comissão de Gestão provisória volta a encetar o processo, dirigindo-se directamente ao Ministério da Saúde e empresas da

37Informação de Feliz de Barros, encarregado do serviço de restauro, ao Director do AHU, 24 de Dezembro de 1965; Cópia do ofício n.º 1824/2379/510/F1, da DGS para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 28 de Julho de 1966; Ofício n.º 338, de Alberto Iria para Feliz de Barros, 27 de Agosto de 1966, doc. n.º 92; Informação de Feliz de Barros para Alberto Iria, 8 de Setembro de 1966; Ofício n.º 178, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 12 de Setembro 1966; Cópia do ofício n.º 2531/2379/510/F1, de Amadeu Lobo da Costa para Direcção-Geral do Ensino do MU, 21 de Outubro de 1966, AHU, AAHU, pasta 1235, Edifício, Laboratório de restauro de livros e manuscritos. 38Correspondência, 1960 a 1981, AHU, AAHU, pasta 1229, Edifício, desinfecção, desinfestação e desratização.

39Informações de Feliz de Barros para Alberto Iria, 14 de Janeiro de 1971, 3 de Janeiro de 1972, AHU, AAHU,

pasta 1235. Ver ainda, Ofício n.º 51, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 28 de Março de 1966; Ofício n.º 379, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 27 de Novembro de 1967; Proposta de 18 de Setembro de 1973, anexa ao ofício n.º 222, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 19 de Setembro de 1973, AHU, AAHU, pasta 1229.

40Realizando inquéritos às instituições para a caracterização da situação à escala nacional, tendo o AHU sido incluído nesse levantamento. Ver, Ofício n.º 1579, de Luís Silveira para Alberto Iria, 31 de Julho de 1957; Ofício n.º 325, de Alberto Iria para Luís Silveira, 3 de Agosto de 1957, AHU, AAHU, pasta 542.

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especialidade, mas, pela primeira vez, existem queixas clínicas dos funcionários que levam a DGS a aconselhar um maior período de encerramento das instalações do AHU, para conveniente arejamento.41 Nos anos oitenta, já com Isaú Santos, quando por todo o mundo se

procurava soluções alternativas,42 mantém-se o uso de gás cianídrico e nos anos noventa,

quando se tende a utilizar produtos inertes e surgem os programas de Integrated Pest

Managment, onde se insiste na limpeza e higienização regular e na vigilância, com possibilidade de recurso pontual aos gases inertes, o arquivo mantém o procedimento de desinfestação global, agora com brometo de metilo. Segundo a então directora, Luísa Abrantes, a escolha do produto deveu-se às características do edifício: “um edifício muito velho, muito grande, com muitos recantos e milhões de documentos,” necessitando de meios eficazes que atingissem também a “formiga branca,” mas na verdade o procedimento também era mais económico do que a aplicação de gás cianídrico.43

Nos anos noventa, com o início de obras para a renovação do antigo Palácio da Ega e a construção de um novo edifício que vem solucionar o problema de espaço face à necessidade de integração dos fundos em perigo de destruição do Ministério extinto, cria-se uma conjuntura propícia à mudança, visível, por exemplo, nos esforços de informatização, mas os recursos humanos insuficientes e um quadro marcado pelo envelhecimento do seu pessoal, impedia a inovação técnico-científica e a actualização de conhecimentos, ficando este Arquivo, também, neste período, muito aquém das expectativas geradas com a conjuntura favorável, criada pelo convénio entre o IICT, o ICM e a FO. Sobretudo em sectores como a preservação e a conservação, onde se assiste, durante a segunda metade do século XX, a uma mudança radical nos princípios e procedimentos que orientam o exercício da actividade, passando-se da prática empírica baseada no conhecimento tradicional das artes e ofícios para a aplicação do conhecimento científico e tecnológico nas práticas de conservação.

41Ofício n.º 423/12, de Alberto Iria para o Presidente da JICU, 12 de Setembro de 1974; Ofício n.º 469 /12, de Alberto Iria para o Presidente da JICU, 2 de Outubro de 1974; Ofício n.º 493, de Alberto Iria para o Presidente da JICU, 17 de Outubro de 1974; Ofício n.º 542, do Vice-Presidente da JICU para o Director do AHU, 13 de Novembro de 1974; Ofício n.º 740/ 75, entrada n.º 1100, 7 de Agosto de 1975, da DGS para a Comissão de Gestão Provisória do AHU, 31 de Outubro de 1975, AHU, AAHU, pasta 1229.

42Por exemplo o British Museum instala neste período uma câmara de congelação, de largas dimensões, que funciona a menos 30º Centígrados.

43Ofício n.º 730, de Isaú dos Santos para a Direcção do Hospital de Egas Moniz, 9 de Dezembro de 1986; Ofício n.º 731, de Isaú dos Santos para a Presidência do IICT, 9 de Dezembro de 1986; Ofício n.º 4048, da Direcção de Serviços de Administração do IICT para Isaú Santos, 23 de Dezembro de 1986; Ofício n.º 35, de Isaú Santos para Direcção do Hospital de Egas Moniz, 20 de Janeiro de 1989; Proposta de Luísa Abrantes para a Presidência do IICT, 30 de Novembro de 1992; Proposta de orçamento n.º 10013, da Gaspurgo, Empresa Esterilizadora, Lda. para a