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Durante o século XIX e mesmo o século XX, a temática da limpeza, nomeadamente o branqueamento de nódoas e manchas nos documentos gráficos, é um tema fulcral abordado tanto pelos manuais de restauro de obras de arte em papel, como pelos manuais de encadernação.50 É certo que a problemática é, naturalmente, mais desenvolvida nos manuais de

restauro de obras de arte, enquanto os manuais de encadernação se detêm nos aspectos específicos do complexo ofício de encadernação. Porém, a limpeza é vista pelos diferentes autores como um procedimento necessário e fundamental e os métodos sugeridos, bem como os produtos, não diferem significativamente o que evidencia, mais uma vez, o gosto da época, facilitado pela divulgação e comercialização de novos produtos que promovem o branqueamento químico.51 Estas obras indicam, sistematicamente, quer as indicações de Chaptal

para o branqueamento geral do papel com o cloro, quer a fórmula de Imison para a remoção de manchas de gordura com “óleo de terebintina” seguido da aplicação de “aguardente,” com pequenas variantes como, por exemplo, o aquecimento directo da folha de papel, em vez do aquecimento do próprio solvente.

Numa obra de início do século XIX, dedicada aos seus discípulos, Mairet, um litógrafo e encadernador,preocupa-se com a remoção de manchas de gordura e remoção das manchas de tinta, fuligem e tabaco, descrevendo os principais meios disponíveis.52 Hannet, em meados do

mesmo século, num trabalho sobre os aspectos práticos da arte de encadernação, trata a limpeza num anexo final, limitando-se à descrição dos processos mais comuns mas apresenta-os como passos habituais no procedimento de reencadernação de um livro, tendo em vista, quer a remoção de manchas, quer simplesmente o aclarar do papel amarelecido pelo tempo.53 Le

Normand (1757-1837), no Nouveau Manuel Complet du Relieur, publicado em 1840, uma obra detalhada sobre o processo de encadernação e outras artes a ela associadas, privilegia o factor solidez na encadernação, por oposição a factores de natureza estética, mas, dedica a terceira secção da obra à remoção de manchas pois “um encadernador não deve ignorar a arte de as

50Notar, por exemplo, que num dos primeiros trabalhos sobre técnicas de encadernação, publicado cerca de 1658, se ignora totalmente esta problemática. Ver Dirk de Bray, A Short Instruction in the Binding of Books (Amsterdam: Nico Israel, 1977).

51Clarke, “Searching for Evidence of 19th-Century Print Restoration,” 49.

52F. Mairet, Notice sur la lithographie sui ie d’un essai sur la reliure et le blanchiment des li res et gra ures (Chatillon-sur-Seine, 1824), 71-83.

53John Hannet, Bibliopegia; or, The Art of Bookbinding in All its Branches (London: Simpkin, Marshall, & Co.; [Derby]: Mozley and Son, 1848), 2, 152-56.

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fazer desaparecer,” considerando a sua manutenção “prova de negligência.”54Realça-se, porém,

que na reedição desta obra, em pleno século XX, já se assinala que os papéis da época, sendo de má qualidade, não aguentariam as lavagens sucessivas, nomeadamente com o cloro. Assim, elimina-se as indicações de Chaptal desta segunda edição do manual e destaca-se a importância de neutralizar os produtos de branqueamento após a sua utilização.55

Em termos de manuais de encadernação, a obra mais desenvolvida, dirigida ao operacional e não ao bibliófilo ou outro erudito (como é o caso da obra de Le Normand), é o trabalho de Douglas Cockerell (1870-1945), publicado na viragem do século.56 Tratando-se de

um profissional liberal que tem em mente rentabilizar o trabalho na oficina, de forma a prosperar no mercado de trabalho, este autor afasta-se totalmente dos conselhos dos manuais do restauro de obras de arte ou obras raras onde, geralmente, se recomenda que a aplicação dos tratamentos mais profundos e radicais seja feita como último recurso. Esta obra representa uma abordagem economicista e, provavelmente, define a conduta mais frequente do encadernador, a avaliar pelas críticas que lhe são dirigidas.57

A tendência é de redução de etapas, constituindo a lavagem com água, mais ou menos quente, uma das formas de aclarar a folha de papel. Sendo esta operação, bem como o processo de encolagem,58 indispensáveis quando se decide desmanchar um livro, pois há que remover

toda a cola da lombada antes de reparar e reconstruir a estrutura da obra, o autor entende o processo de encolagem, em si mesmo, como sendo o primeiro passo para a limpeza. Esta passa assim a ser realizada com uma solução de cola de peixe ou gelatina diluída em água bem quente, antes de qualquer lavagem com água fria. Cockerell diz-nos que durante esta operação se “tirará uma grande quantidade de manchas,”59 apesar de alertar para a necessidade de limpeza

mecânica prévia, com produtos já indicados por Bonnardot.60

Outra evidência, na lógica da economia de tempo, é a aplicação imediata de tratamentos algo radicais. O autor, para manchas de gordura, aconselha o éter ou a receita de Imison mas aquecendo a terebintina até ao seu ponto de ebulição. No caso de manchas mais persistentes os métodos propostos são os mais extremos: água quente e a ferver, eventualmente, com sais de

54M. Séb. Le Normand et M. R., Nouveau manuel complet du relieur dans toutes ses parties…., nouv. éd., corr. et augm…. (Paris: Librairie Encyclopédique de Roret, 1840), 14, 221.

55M. Séb. Le Normand, Nouveau manuel complet du relieur en tous genres, nouv. éd... refond. et... augm…., par M. Maigne (Paris: L. Mulo, 1923), 392-96.

56Douglas Cockerell, Bookbinding and the Care of Books: A Text Book for Bookbinders and Librarians (New York, 1902), 28-31, http://www.aboutbookbinding.com/Bookbinding-20.html (acesso em 11 Mar. 2009).

57Ver Bonnardot, Essai sur l'art de restaurer les estampes, 227. Ver ainda Max Schweidler, The Restoration of Engravings, Drawings, Books, and Other Works on Paper, trans., ed. and appendix Roy Perkinson (Los Angeles: Getty Conservation Institute, 2006), 34.

58O termo “colagem” ou “encolagem” refere-se ao adesivo aplicado no papel que impede a penetração excessiva das tintas e o torna resistente à humidade.

59Cockerell, Bookbinding and the Care of Books, 29.

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alúmen ou sabão cru adicionado; a solução aquosa de ácido clorídrico, durante algumas horas, seguida da passagem em água corrente ou ainda a solução aquosa de permanganato de potássio morna, onde se deixa permanecer as folhas até ficarem castanhas, seguida de lavagem em água corrente e transferência para uma solução aquosa com ácido sulfuroso, onde as folhas, rapidamente, se tornam brancas, com a passagem final por água corrente durante uma a duas horas, repetidamente, até que as manchas desapareçam. Depois de tratamentos tão agressivos, Cockerell realça a necessidade de nova aplicação de encolagem, juntando então um produto de tingimento ou a própria solução do permanganato de potássio diluída. O objectivo é o mesmo dos anteriores autores: uniformizar a tonalidade das folhas tratadas com a tonalidade geral das restantes folhas do livro. Também relativamente ao restauro de rasgões ou lacunas mantém a preocupação em encontrar um papel o mais idêntico possível ao original, instigando, tal como Bonnardot, o operacional a coleccionar papéis de diferentes tipos e idades e a proceder ao seu tingimento. Ainda com o intuito da realização de um restauro perfeito, o autor advoga o desbaste de ambas as margens, papel de restauro e original, sugerindo, tal como Gunn, a remoção do papel danificado e a sua reintegração.Para o restauro dos buracos de insectos, outro problema habitualmente abordado pelos manuais, sugere a técnica da aplicação de polpa e para os rasgões sem possibilidade de sobreposição das margens, indica já a utilização do papel japonês muito fino,61 uma prática que se prolongará até aos dias de hoje.

Esta perspectiva choca com a dimensão ética introduzida por Bonnardot mas, em termos práticos, as diferenças não são significativas e o objectivo final é muito idêntico, pois Cockerell também chama a atenção para a peculiaridade do livro antigo. Defendendo a necessidade de manter os “sinais da idade” neste tipo de peças, condena o corte das suas margens e recomenda que a remoção das manchas seja parcial, pois “quase todas as manchas podem ser removidas mas o papel antigo durante esse processo perde mais em carácter do que o que ganha em aparência.”62

Reconhecendo que o ofício de encadernação pode constituir uma saída profissional atractiva para jovens com alguma educação, dispostos a ser aprendizes numa oficina com reputação, refere a possibilidade de um encadernador, já a trabalhar por conta própria, se vir a especializar, especificamente, na reparação de livros antigos. No entanto, alerta para a necessidade de uma formação de base exigente, capaz de garantir um trabalho de qualidade, pois para fazer face a todas as despesas e ao investimento realizado é também indispensável praticar preços dignos. Além disso, para que o encadernador possa desempenhar, com sucesso, a

61Cockerell, Bookbinding and the Care of Books, 16, 32-33. 62Ibid., 32.

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sua profissão, Cockerell considera fundamental que ele adquira uma longa experiência no ofício, tanto maior quanto menor for o seu hábito na realização de trabalho manual.63

Em meados do século XIX, Le Normand já tinha alertado para a necessidade de prática e habilidade para o sucesso das operações de restauro, pois, segundo ele, há sempre “um pequeno jeito de mão que não se pode descrever.64 Zaehnsdorf (1853-1930), em finais do século, defende que o tratamento de um livro raro só deve ser realizado por pessoal qualificado e com muita experiência.65

Para o encadernador, o artífice especializado, nomeadamente de profissão liberal, a tónica é assim colocada nas qualidades manuais e intensa prática, enquanto para o amador, que intervém nas obras de arte em papel, ela é colocada nos dotes artísticos e mais, vincadamente, na paciência. Bonnardot é expressivo a este respeito. Admirando restauros realizados com “arte” e “talento,” define o restauro como uma actividade que exige “gosto, habilidade e sobretudo paciência.”66 Em plena década de trinta do século XX, num manual destinado a bibliófilos,

Morgana considera o trabalho de Bonnardot “monumental,” pois inclui “várias noções de valor indiscutível e seriedade”67 e expressa a mesma opinião. Define a tarefa do restaurador como

uma actividade exacta, precisa, minuciosa, e que exige muita delicadeza e paciência, pois a reintegração e o retoquedevem ser invisíveis,68resultando num “aspecto impecável.”69

Na mesma década, Plenderleith, apresenta-nos um outro trabalho para a área do papel,70 com uma estrutura inovadora, que reflecte a nova metodologia a aplicar na actividade de conservação e restauro de obras de arte e objectos museológicos, baseada na caracterização dos materiais e no diagnóstico prévio. Ainda assim, a parte dedicada ao tratamento de intervenção directa sobre as peças, não acrescenta informação relevante, seguindo de perto, como ele próprio nos indica, os conselhos de Gunn e Beauford.71 Efectivamente confirma a ideia de que a

grande maioria dos métodos de restauro de obras de arte em papel podem ser efectuados “num laboratório improvisado pelo amador,”72 seguindo muitos dos critérios de actuação dos seus

antecessores. Assim, ainda que introduza alguns produtos novos, continua a aconselhar a lavagem e o branqueamento de acordo com os métodos tradicionais, desde a utilização da energia solar às fórmulas que envolvem a utilização de cloro e outras substâncias, quer ácidas,

63Cockerell, Bookbinding and the Care of Books, 8.

64Le Normand, Nouveau manuel complet du relieur dans toutes ses parties, 13, 231. 65Joseph W. Zaehnsdorf, The Art of Bookbinding (London: George Bell & Sons, 1880), 159. 66Bonnardot, Essai sur l'art de restaurer les estampes, 141,133.

67Morgana, Restauro dei libri antichi, 14. 68Ibid., xv, 3, 17-18, 71, 79.

69Ibid., 67-68.

70H. J. Plenderleith, The Conservation of Prints, Drawings and Manuscripts ([London]: Oxford University Press, 1937).

71Ibid., 40n1. 72Ibid., 40.

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quer alcalinas, defendendo o tingimento das folhas excessivamente branqueadas, especialmente nos livros. Advoga o restauro com papel o mais idêntico possível ao original ou o recurso a outras gravuras para reintegração física e o retoque final da gravura, ainda que mínimo, através de um método já preconizado por Beauford, o stippling.73

Em meados do século XX, Schweidler, um prático por excelência, numa segunda edição do seu manual sobre a temática do restauro de obras em papel, primeiro publicado em 1938, continua a defender o ideal do restauro invisível nas obras de arte em papel, enfatizando a importância do resultado estético final.74 Segundo ele, o processo de reparação ou restauro

requer “paciência, amor e empatia.”75A aplicação de um remendo ou simples colagem de um

rasgão, bem como a remoção da sujidade entranhada ou resíduos de anteriores intervenções, pode implicar “um procedimento cirúrgico.”76 A última etapa de todo o processo é o trabalho de

retoque, que considera sempre necessário mesmo para as peças tenham sofrido apenas um tratamento de limpeza local. Trata-se de um “trabalho do olho” que implica a “cópia precisa” e uma “mão hábil.”77 A imitação das linhas do fio metálico78 no papel é uma operação difícil que,

além de “habilidade e paciência” exige uma “certa quantidade de intuição” e “mão firme,” além de ser conveniente “não estar física ou mentalmente cansado antes de começar este tipo de trabalho.”79 Finalmente, a adição de uma nova margem deve ser invisível e o uso de polpa para

a reintegração não é aconselhável por ser sempre perceptível, mas para todas estas operações é sobretudo necessário possuir uma longa experiência,80 elemento essencial da especialização.

Embora Beaufort também realce a importância da experiência acumulada nesta actividade, referindo que muito do conhecimento do restaurador advém de um senso comum adicional, desenvolvido com a experiência,81 em Schweidler, ela configura o expert, designação que atribui a si mesmo, várias vezes ao longo da obra.

Nesta óptica, o expert em conservação e restauro de documentos gráficos proposto por Schweidler, não está longe do ideal definido por Cockerell para o encadernador competente, que pode trabalhar por conta própria. Schweidler associa à experiência necessária para o desempenho de uma actividade “exigente tecnicamente” o “trabalho artístico,” mas considera indispensável que o restaurador se faça pagar, adequadamente, pelos seus serviços

73Plenderleith, The Conservation of Prints, 46-52, 55-56.

74Max Schweidler, The Restoration of Engravings, Drawings, Books, and other Works on Paper, trans., ed. and appendix Roy Perkinson (Los Angeles: Getty Conservation Institute, 2006).

75Ibid., 109. 76Ibid., 111. 77Ibid., 138-39.

78Roy Perkinson, tradutor da obra de Max Schweidler para inglês, considera tratar-se da imitação da marca de água do papel, o que revela o grau de obsessão na prática do restauro mimético, já em meados do século XX. Ver Schweidler, The Restoration of Engravings, Drawings, Books, 213n107.

79Schweidler, The Restoration of Engravings, Drawings, Books, 119. 80Ibid., 64, 123.

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especializados, pois “o restauro de obras de arte é a sua profissão e ele tem de ser compensado pelos seus gastos.”82 Efectivamente, este manual inova, não tanto pela reflexão crítica sobre o

processo de intervenção que descreve pormenorizadamente ou pela condenação veemente de algumas práticas correntes, como a utilização abusiva do cloro, mas porque deixa de ser dirigido ao amador. O leitor a quem esta obra se dirige é o técnico especializado, especificamente, na área dos documentos gráficos, que é agora valorizada relativamente à pintura. Com o intuito de esclarecer o operacional quanto às dificuldades a enfrentar de modo a não macular uma obra de arte num suporte tão delicado como o papel, Schweidler reivindica para o restaurador de obras em papel um estatuto próprio, distinto do restaurador de pintura:83

Não se pode repetir o procedimento várias vezes como no restauro de pintura. O trabalho tem de ser instantaneamente bem sucedido para cada folha ou será provocado maior dano. (…) O restaurador de pintura pode exceder-se um milímetro para além do rasgão se não houver outra forma de proceder. O restaurador do papel simplesmente não o pode fazer!

Apesar do objectivo final se manter e de muitos dos materiais e dos métodos aplicados por este autor permanecerem os mesmos, a exigência quanto ao diagnóstico prévio, a reflexão crítica durante o processo de execução, a consciência da exigência e das particularidades do trabalho dos documentos gráficos, representam nesta obra a ruptura com o passado, exigindo do operacional uma outra postura. Além disso, o facto de Schweidler, reprovar a possibilidade de criação no acto de intervenção, à semelhança do que acontecia com a pintura, de considerar que o parecer do restaurador se deve sobrepor à vontade do proprietário e de criticar outros profissionais bem implantados no mercado de trabalho, tais como os encadernadores,84 são

indicativos da emergência de uma actividade que pretende distanciar-se da mera ocupação para se afirmar como uma nova profissão, concorrente com a do simples encadernador.

Uma outra realidade que contribuiu para a alteração do estatuto do restaurador de documentos gráficos, foi a importância crescente da aplicação do conhecimento científico na área da conservação e do restauro dos documentos gráficos. Durante o século XIX, os manuais de restauro mostram a utilização da química, nomeadamente através de Bonnardot e Beaufort que possuíam formação específica na disciplina, mas apenas com o intuito de assegurar que a manipulação e aplicação dos produtos não ocasionavam danos secundários. Não se trata portanto, de fundamentar a prática de restauro em progressos científicos e tecnológicos.

Porém, entre os bibliotecários e os arquivistas aumentam as preocupações, relativamente à estabilidade física e química dos materiais de arquivo e de biblioteca, bem como

82Schweidler, The Restoration of Engravings, Drawings, Books, 109. 83Ibid., 100-01.

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à sua integridade. Efectivamente, estes profissionais são dos primeiros a formular princípios éticos para a intervenção neste tipo de materiais, tendo em conta o seu carácter histórico e o valor probatório, nomeadamente dos documentos de arquivo. Uma das preocupações de Sir Henry Cole (1808-1882), à frente do Public Record Office desde 1840, foi assegurar que o processo de restauro não alterasse a integridade e o valor legal dos documentos.85 Algumas das

obras que integram as políticas deste arquivista, como, por exemplo, o tão divulgado, Manual

on Archive Administration,86 foram publicadas logo no início do século XX.

São os bibliotecários e os arquivistas os responsáveis pela organização da primeira conferência sobre o restauro de documentos, Internationale Konferenz zur Rrhaltung uns

Ausbesserung alter Handschrifen, em São Galo,87 em 1889, seguida de uma reunião de

arquivistas, em Dresden, em 1899, e do Congresso Internacional dos Bibliotecários, em 1900, em Paris.88 Além disso, os compêndios dirigidos a estes profissionais provam que dominam

muitos dos conhecimentos da conservação preventiva.89

A maioria dos autores dos manuais de restauro anteriormente mencionados, além do restauro, compreendido como a intervenção directa sobre as peças, também aborda a conservação de espécimes, associando ao conceito as práticas de intervenção indirecta ou conservação preventiva.90 Nesta óptica, abordam, repetidamente, os métodos de

acondicionamento, aspectos relativos às condições ambientais, com especial destaque para a humidade, e as formas de controlo de pragas, uma das preocupações prioritárias, também expressa por bibliotecários e arquivistas. Não obstante, será apenas com Plenderleith, em finais dos anos trinta, que se desenvolve os aspectos da conservação preventiva e se realça o papel da caracterização material das espécies bibliográficas. O autor começa por descrever a composição química e física dos diferentes materiais, define as principais causas da sua deterioração, dedicando uma larga parte do seu trabalho à definição das condições correctas de

85Poulsson, Retouching of Art on Paper, 62.

86Sir Hilary Jenkinson, A Manual on Archive Administration (London: Milford 1922).

87A abadia beneditina de St. Gallen, constituída no século VII, é património mundial desde 1983 e inclui um espólio bibliográfico raro, actualmente objecto do projecto de digitalização “Codices Electronici Sangallenses” (Biblioteca Digital de St. Gallen).

88Françoise Flieder, La conservation de documents graphiques: Recherches expérimentales (Paris: Eyrolles, 1969), 14. Ver ainda Birgit Reißland, "Conservation: Historically Used Conservation Methods," The Ink Corrosion Website, http://knaw.nl/ecpa/ink/conservation_old.html (acesso em 24 Nov. 2009).

89Ver, por exemplo, L.-A. Constantin, iblioth conomie; ou Nou eau manuel complet pour l’arrangement la conser ation et l’administration des bibliothèques (Paris: Librarie Encyclopédique de Roret, 1841), 57-60; Albert Maire, Manuel pratique du bibliothècaire (Paris, 1896), 96-106; American Library Association, Committee on Bookbinding, Care and Binding of Books and Magazines (Chicago: American Library Association, 1928), 29-39; Margaret Wright Brown, comp., Mending and repair of books, 4th ed., rev. by Gertrude Stiles... (Chicago: American Library Association, 1921), 21.

90Bonnardot, Essai sur l'art de restaurer les estampes et les livres, 209-26; Beaufort, Pictures & How to Clean Them, 172-79; Cockrell, Bookbinding and the Care of Books, 150-55; Constantin, Bibliothéconomie, 63-68; Gunn,

Print Restoration and Picture Cleaning, 104-10; Le Normand, Nouveau manuel complet du relieur dans toutes ses

parties, 213-20; Le Normand, Nouveau manuel complet du relieur dans toutes ses genres, 397-400; Plenderleith, The

Conservation of Prints, Drawings and Manuscripts, 14-25; Macedo, Restauração de quadros e gravuras, 61; Ris-