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Será também Iria quem impulsionará a criação de serviços especializados de apoio à leitura, com vista à preservação e à conservação das espécies no AHU. Constam dessas unidades a constituição dos serviços de fotografia e fotocópia e, posteriormente, a criação de um serviço de restauro. Múrias adquirira material fotográfico com vista a reproduções e ampliações fotográficas e destinara um espaço no rés-do-chão para os trabalhos de revelação, instalando uma câmara escura, mas é durante o mandato de Iria que se instalará, em 1947, o primeiro aparelho de fotocópias, após recomendação de um especialista em funções nos serviços fotográficos e de fotocópia da Missão Zoológica da Guiné, pertencente à JMGIC, onde este tipo de equipamento foi primeiro instalado.44

Para além de querer prestar serviços de qualidade aos leitores e investigadores que frequentavam o Arquivo, Iria tinha como propósito a constituição de uma “publicação sistemática,” à semelhança da obra sobre os Descobrimentos Portugueses45 do IAC, mas que

versasse um outro aspecto da expansão portuguesa: “a obra da colonização.” Em sua opinião, o arquivo possuía documentação que permitiria a publicação, por parte deste organismo, de uma obra intitulada, “‘Colonização Portuguesa’, com a qual se pudesse (…) ilustrar (…) toda a epopeia colonizadora do povo português em território do ultramar” e que constituiria “o natural e lógico complemento” da obra já publicada sobre os Descobrimentos. A sua ideia era começar pela publicação metódica dos manuscritos do AHC ou AHU, seguida da inclusão de “todos os dos cartórios espalhados pelo continente e pelo nosso Império Colonial”,46 bem como ainda

alguns do estrangeiro, nomeadamente os do Arquivo Geral das Índias em Sevilha. A ideia servia os propósitos do Estado Novo, a que o ministro, Marcelo Caetano, intitula, desde logo, o “projecto de recolha das fontes documentais para a história da colonização europeia,” financiando-o “pela verba global de ‘despesas de colonização.’”47 Aempreitada exigia serviços

de reprodução eficazes e com qualidade técnica com vista aquilo a que Iria intitula “a constituição da filmoteca do AHC.”48 Foram estes objectivos que permitiram os primeiros

investimentos num sector que, rapidamente, vai ser alargado à microfilmagem. A primeira

44Ofício n.º 156, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC; Ofício n.º 35, Alberto Iria para Casa Roiz, Lda., 11 de Fevereiro de 1947; Ofício n.º 273, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC; Ofício n.º 59, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, AHU, AAHU, pasta 554, Edifício, Gabinete de Microfotografia.

45João Martins da Silva Marques, ed. lit., Descobrimentos portugueses: Documentos para a sua história (Lisboa: Instituto para a Alta Cultura, 1944).

46Ofício n.º 7, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, 7 de Janeiro de 1947, AHU, AAHU, pasta 554.

47Informação do Chefe de repartição da Direcção-Geral do Ensino do MC para Alberto Iria, 16 de Janeiro de 1947, AHU, AAHU, pasta 554.

48Ofício n.º 405, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, 29 de Setembro de 1948, AHU, AAHU, pasta 548.

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entidade autorizada a microfilmar a documentação histórica do arquivo, parece ter sido a Universidade da Califórnia, através de Engel Sluiter, tendo em vista o enriquecimento da biblioteca da referida Universidade.

Alberto Iria ficou, desde logo, atento à inovação e logo que a Direcção-Geral do Ensino auscultou o Arquivo acerca dos meios de reprodução existentes, Iria aproveitou para solicitar novos financiamentos e a ampliação do serviço de reprodução. Aludindo, mais uma vez, à necessidade de melhores e mais amplos meios para a recolha das “fontes documentais referentes à colonização portuguesa, trabalho de muito interesse para a ‘história da colonização europeia,’ como o reconheceu Sua Excelência o Ministro,” o director do AHC, em 1950, propõe a aquisição da “mais adequada e completa aparelhagem de microfilmagem,” seguindo mais uma vez o exemplo do Centro de Documentação Científica do IAC. Para a instalação do serviço nomeia, como encarregado, o funcionário Jacinto de Oliveira Dias, recentemente contratado mas já com larga prática e experiência em técnicas de reprodução. Este mesmo técnico fará parte da missão coordenada pelo padre António da Silva Rego (1905-1986) e parcialmente financiada pelo AHC, que realizará a duplicação da documentação nos arquivos de Goa, à época pertencente ao Estado da Índia Portuguesa.49 Tratava-se do projecto de constituição da FUP,

ideia que vinha sendo acarinhada, desde finais da década de quarenta, pelo próprio Alberto Iria mas que será consubstanciada, em 28 de Janeiro de 1952, por despacho do então ministro do Ultramar, Sarmento Rodrigues, visando, nas suas palavras, a reunião dos filmes “de todos os documentos importantes (…) respeitantes à acção dos portugueses no mundo e em especial, no ultramar português.”50

A aquisição do equipamento virá a ser autorizada e concretizada, em 1951, altura em que, como vimos, se prevê a sua rentabilização também com o projecto de duplicação iniciado em Goa, exigindo a ocupação de uma sala do andar nobre, na sala anteriormente ocupada pelo Inspector Superior das Alfândegas Coloniais, para assim se evitar o excesso de humidade da área do rés-do-chão que poderia danificar o novo equipamento, mas onde permaneceu a câmara escura. Porém, será apenas, em 1953, que Iria considerará o serviço apto à realização, de forma sistemática, de serviços externos, nomeadamente para as colónias, propondo, mais uma vez, que fossem as colónias a financiar a execução desse trabalho.51 O seu objectivo, na linha de intenção

49Ofício n.º 217, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, 20 de Julho de 1949; Ofício n.º 1595/C- 6, da Direcção-Geral do Ensino do MC para Alberto Iria, 8 de Julho de 1949; Ofício n.º 124, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, 12 de Maio de 1950; Ofício n.º 256, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, 29 de Setembro de 1950; Ofício n.º 165, de Alberto Iria para o Inspector Superior das Alfândegas Coloniais, 4 de Julho de 1951, doc. n.º 81 AHU, AAHU, pasta 554.

50Ver Instituto de Investigação Científica Tropical, Da Comissão de Cartographia (1883) ao Instituto de

Investigação Científica Tropical (1983): 100 anos de história (Lisboa: IICT, 1983), 399-402.

51Ofício n.º 214/P-9511, da Direcção-Geral do Ensino do MC para Alberto Iria, 30 de Janeiro de 1951; Ofício n.º 466/P-95, da Direcção-Geral do Ensino do MC para Alberto Iria, 1 de Março de 1951; Ofício n.º 56, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Fomento Colonial, 21 de Fevereiro de 1950; Ofício n.º 73, de Alberto Iria para a Direcção- Geral do Ensino do MC; Ofício n.º 172 e proposta anexa, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, 21 de Novembro de 1953, AHU, AAHU, pasta 554.

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de disponibilização de fontes para a realização da já mencionada história da colonização, era aumentar, significativamente, a referida FUP, segundo ele, já existente, ainda que incompleta e em fase de organização, no Arquivo Histórico,52 nomeadamente através dos trabalhos realizados

internamente, onde se dava prioridade às obras em mau estado de conservação.

Este director, que parece estar na origem de muitas das importantes iniciativas da época, tinha plena consciência da função do microfilme como meio de salvaguarda contra “qualquer risco imprevisto.” Atribuindo-lhe, a função de substituição dos originais na consulta pública, diminui, consideravelmente, o manuseamento dos documentos originais em mau estado de conservação, nomeadamente dos escritos com “tintas corrosivas,” promovendo a sua preservação.53

Nestas circunstâncias, a FUP, constituída inicialmente pelos microfilmes oferecidos mas aos quais se foi juntando os microfilmes dos documentos do Arquivo, bem ainda como os realizados, pelos serviços do Arquivo, no exterior, foi concebida em duplicado, passando a existir uma filmoteca para consulta, a partir da qual eram realizadas as cópias pedidas pelos leitores e investigadores e outra filmoteca de segurança, guardada e protegida, para o caso de ocorrência de qualquer tipo de catástrofe. Os rolos, constituídos por filmes de 35mm, com cerca de 30 metros e 600 imagens, foram inicialmente enrolados em bobines oferecidas pela Bancroft

Library Microfilm e colocadas em caixas metálicas, guardados dentro de armários construídos para o efeito, em gavetas que continham um produto de desumidificação. A base da classificação de documento e microfilme e o sistema numérico utilizado seguia também as normas de entidades americanas com mérito reconhecido na matéria, nomeadamente as da

Harvard University.54

São estas infra-estruturas que constituem, sem dúvida, o sustentáculo do futuro CEHU já referido, criado em 1955, como instituição autónoma, mas sediada no AHC e para o qual o Iria, enquanto membro da comissão executiva, e o próprio Arquivo, como repositório principal da documentação para a investigação da história colonial portuguesa, prestam um grande contributo.

52Comparando a informação contida na publicação Da Comissão de Cartographia (1883) ao Instituto de Investigação Científica Tropical (1983), nomeadamente com informação da pasta 554 do arquivo documental do AHU (AAHU), surgem dúvidas quanto à proveniência da Filmoteca. Nesta última, Iria apresenta-se como o mentor desta ideia e há indicação de que, em 1951, já se estavam a realizar duplicações em microfilme, nomeadamente no arquivo de Goa. O despacho do Ministro, de 1952, dá-lhe um outro enquadramento, atribuindo a sua coordenação ao Prof. Dr. António Rego, a quem será também atribuída a direcção do CEHU, o qual integrará nas suas múltiplas incumbências “a de manter e desenvolver a Filmoteca.” O Decreto-Lei n.º 40 070, de 24 de Fevereiro de 1955, relativo à criação do Centro dá-nos conta que a Filmoteca, tendo sido constituída com o apoio da JMGIU e ISEU, devia permanecer instalada neste Instituto mas apenas “enquanto com a remodelação do Arquivo Histórico Ultramarino se não conseguir a solução mais apropriada.” Ver ainda Manuel M. Neves, comp., Colectânea de legislação: Diploma orgânico da Junta de Investigação do Ultramar e principal legislação complementar e

subsidiária; 1945-1958 (Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1958), 46.

53Ofício n.º 63, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 23 de Abril de 1954, AHU, AAHU, pasta 554.

54Informação “Plano de trabalho para a organização e constituição da Filmoteca Ultramarina Portuguesa,” de Orlando Rego para Alberto Iria, 4 de Novembro de 1959, AHU, AAHU, pasta 554.

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Iria, atento ao estado de conservação da documentação manterá, desde o início da sua vigência, a intenção de criar um serviço de restauro,55 neste “estabelecimento, de grande e

inegável projecção internacional” que, como refere, estava ao dispor dos investigadores nacionais e estrangeiros que o frequentavam e utilizavam “cada vez em maior número.”56

Ainda assim, tal só se concretizará cerca de vinte anos mais tarde, na década de sessenta, não deixando, porém, de constituir o primeiro serviço estatal na área da conservação e do restauro dos documentos gráficos, em Portugal. Na mesma década, é criado o IJF, com oficinas na área de pintura, escultura, mobiliário e talha, bem como ainda tecidos e tapeçarias. O serviço será montado com o apoio da FCG, a instituição privada que, na mesma década, vai investir no sector, face ao sinistro ocorrido no Palácio do Marquês de Pombal em Oeiras, com a inundação das suas caves, local de armazenamento de parte das colecções de Fundação Gulbenkian, nomeadamente das colecções bibliográficas.

A Fundação apoiará este projecto de duas formas: através do investimento na formação de pessoal e através do investimento na criação das infra-estruturas necessárias para a instalação da oficina/laboratório. Efectivamente, apesar da urgência sentida pelo Arquivo na instalação de um laboratório de restauro de livros e manuscritos, que havia sido expressa, no projecto de orçamento de 1962,tal empreendimento só se afigurará viável depois de Feliz António Silveira de Barros colocar os seus préstimos ao dispor do Arquivo e assumir o cargo de encarregado do Laboratório de Restauro de Livros e Manuscritos do AHU, de1965 a 1980.57

Tendo em conta que Feliz de Barros tinha sido bolseiro da FCG, em Roma, e dado “o lugar de relevo” ocupado pelo AHU, o Conselho de Administração da Fundação prestou-se a considerar a concessão de um subsídio, para a criação de um laboratório de restauro, mediante compromisso, por parte do Arquivo, de pagar o vencimento de Feliz de Barros. Nestes termos, mediante proposta do MU, será a JIU quem se responsabilizará por aquele pagamento, enquanto a Fundação subsidiará a montagem da oficina/laboratório, sob coordenação do seu ex-bolseiro.58

O serviço levará cerca de dois anos a montar, por força da especificidade dos equipamentos e materiais que tiveram de ser importados ou mandados fazer e de alguns percalços surgidos com as empresas fornecedoras, mas também por causa das obras de

55Informação manuscrita, do 1º oficial Cândido da Silva Teixeira para Alberto Iria, 19 de Julho de 1948, AHU, AAHU, pasta 542.

56Ofício n.º 287, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MC, 12 de Novembro de 1950, AHU, AAHU, pasta 554.

57Ofício n.º 166, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 2 de Setembro de 1964, fols. 8-10; Carta entrada n.º 143, de Feliz de Barros para Alberto Iria, 2 de Março de 1964, fols. 1-2; Ofício n.º 12, de Alberto Iria para Feliz de Barros, 13 de Janeiro de 1966, fol. 50; Declaração do AHU, 12 de Janeiro de 1966, AHU, AAHU, pasta 1235.

58Ofício n.º 9/P-98, da Direcção-Geral do Ensino do MU para Alberto Iria, com despacho da JIU, 6 de Janeiro de 1965; Ofício n.º 2727/BA/64, de Artur Nobre de Gusmão, do Serviço de Belas Artes da FCG para Alberto Iria, 17 de Agosto de 1964; Ofício n.º 04729/P-98.10, da Direcção-Geral do Ensino do MU para Alberto Iria, com despacho Ministerial, 31 de Outubro de 1964; Ofício n.º 3242/BA/65, de Artur Nobre de Gusmão para Alberto Iria, 1 de Setembro de 1965; Ofício n.º 4297/BA/56, de Artur Nobre de Gusmão para Alberto Iria, 3 de Dezembro de 1965, AHU, AAHU, pasta 1235.

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remodelação do espaço. Mais uma vez, a DGEMN foi chamada a intervir, devido à necessidade de realizar alterações no rés-do-chão do Palácio da Ega, onde foi primeiro instalada a oficina. Também nesta matéria é evidente o lento processo burocrático entre o AHU e a sua cadeia hierárquica: a Direcção-Geral do Ensino do Ministério do Ultramar, a JIU que comunica com a referida Direcção-Geral e outras entidades chamadas a intervir no processo, nomeadamente as já referidas DGEMN e a DGS.59

Apesar da lentidão do processo e da FCG ter considerado um investimento dispendioso,60 o empreendimento foi considerado único no País e o Laboratório, o mais bem

equipado da Península Ibérica, facto que levou Iria a solicitar o aumento do vencimento de Feliz de Barros.61

Alberto Iria começa por equiparar o vencimento de Feliz de Barros ao encarregado dos serviços de fotografia e fotocópia, por considerar tratar-se de dois serviços especializados equivalentes. Este facto surpreendeu, desde logo, a Junta que considerou a sua coadjuvação “a um nível material bem modesto.”62Porém, o pedido de disponibilização deste funcionário para

o Instituto de Investigação Científica de Angola,63 cedo o consciencializa da peculiaridade da

área, reconhecendo a dificuldade em integrar e manter, num organismo do Estado, técnicos com tais competências. O director sabia que para manter técnicos com formação no estrangeiro, nas suas palavras “dos raríssimos que, em Portugal, existem,” era necessário criar condições atraentes e por isso propôs quase o triplo do ordenado para Feliz de Barros.64

O funcionário manterá uma estreita ligação com o serviço do museu da FCG, beneficiando do seu constante apoio e prestando serviços a esta instituição desde a criação de uma oficina em Oeiras, na sequência das inundações de Novembro de 1967. Assim, Feliz de Barros vai continuar a alargar os seus conhecimentos na área, quer através da sua participação em seminários e cursos de formação, realizados por especialistas estrangeiros nos serviços da FCG, nomeadamente franceses da Bibliothèque Nationale e britânicos enviados pelo British

59Informação de Feliz de Barros para Alberto Iria, 15 de Fevereiro de 1966; Carta entrada n.º 1038, de Henrique João Caeiro Lixa, da Oficina de Serralharia Civil para o AHU, 28 de Dezembro de 1966; Ofício n.º 214, do AHU para a Oficina de Serralharia Civil, 17 de Maio de 1967; Informação entrada n.º 324, de Feliz de Barros para Alberto Iria, 8 de Maio de 1966; Ofício n.º 79, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU; Ofício n.º 122, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 12 de Julho de 1966; Ofício n.º 233, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 2 de Novembro de 1966; Ofício n.º 1, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 3 de Janeiro de 1967; Ofício n.º 352, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 13 de Novembro de 1967, AHU, AAHU, pasta 1235.

60Ofício n.º 1511/BA/67, de Artur Nobre de Gusmão para Alberto Iria, 18 de Maio de 1967; Ofício n.º 1953/BA/67, de Artur Nobre de Gusmão para Alberto Iria, 23 de Junho de 1967; Ofício n.º 3176/BA/67n, do Serviço de Belas Artes da FCG para a Direcção do AHU, 23 de Outubro de 1967, AHU, AAHU, pasta 1235.

61Ofício n.º 279, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 26 de Agosto de 1967; Ofício n.º 104, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 1 Abril de 1969, AHU, AAHU, pasta 1235.

62Ofício n.º 9/P-98,10, da Direcção-Geral do Ensino do MU para o AHU, 6 de Janeiro de 1965; Ofício n.º 4297/BA/65, de Artur Nobre de Gusmão para Alberto Iria, 3 de Dezembro de 1965, AHU, AAHU, pasta 1235. 63Virgílio Cannas Martins, director do IICA, mostra-se interessado na requisição de Feliz de Barros. Ver Ofício n.º Gab. 2161/66, do IICA para o AHU, 21 de Setembro de 1966, AHU, AAHU, pasta 1235.

64Ofício n.º 279, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 26 de Agosto de 1967; Ofício n.º 302, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 28 de Dezembro de 1968; Ofício n.º 104, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 1 de Abril de 1969; Ofício n.º 202, de Alberto Iria para a Direcção-Geral do Ensino do MU, 17 de Julho de 1969, AHU, AAHU, pasta 1235.

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Museum,65quer através da realização de novos estágios no estrangeiro. Deslocar-se-á, mais uma vez, a Roma e Florença, como observador dos trabalhos ali em curso e para estudar os materiais e equipamentos em uso, com vista à instalação da oficina de restauro dos serviços do Museu da FCG, e a Inglaterra para se especializar “no tratamento e planificação das páginas de pergaminho (…) e bem assim no sector de restauro de encadernação,” na oficina de Roger Powell e Peter Waters.66

Waters veio a Lisboa, em Abril de 1968, para orientar a montagem da oficina de restauro da FCG, instalada, inicialmente, em Oeiras. Após a inundação, tal como em Florença, foi criada uma estação de tratamentos de emergência, onde desde logo se implementou o desmembramento dos livros para a sua rápida secagem, se instalou uma câmara de frio e se procedeu à fumigação e desinfecção de todo o material em câmaras com óxido de etileno.67 Os

trabalhos foram realizados por um grupo de voluntários recrutados entre pessoal da Fundação e outras entidades como museus e o IJF, contando também com a ajuda de consultores e alguns técnicos especializados, como o caso de Feliz de Barros. A insuficiência de recursos técnicos existentes em Portugal nesta área para dar continuidade ao trabalho, levou a FCG a providenciar a vinda ao país de vários especialistas, para dar formação.68 Alguns técnicos e especialistas

tinham estado também em Florença, como Waters e o químico Joe Nkrumah; outros foram convidados de acordo com a natureza dos bens atingidos, como o turco, Emin Barin, que veio a Portugal para ensinar e intervir nas encadernações orientais existentes na colecção.69

Deste modo, a FCG inscreverá a sua marca na história da conservação e do restauro em Portugal, dando um contributo significativo para a criação de recursos humanos qualificados, especialmente na área dos documentos gráficos, dado o volume de livros raros e obras de arte em papel atingidos pelas cheias.

Feliz de Barros, na sua aprendizagem, beneficiou com esta oportunidade, estabelecendo inúmeros contactos internacionais, por isso apoiou, declaradamente, a ideia de constituição do Centro Internacional para a Preservação de Livros e Manuscritos,70 projectado pelos protagonistas na recuperação das peças afectadas pela inundação de Florença.

Porém, embora Iria realizasse um grande esforço para a constituição do serviço no AHU e fosse tomando consciência da especificidade e singularidade do sector, não tinha a completa percepção das mudanças que se estavam a operar nesta área a nível internacional,