Os Prg EE geram benefícios para o Estado brasileiro, não somente para o EB. Por meio
de suas iniciativas, são criadas capacidades militares terrestres, que vão assegurar à F Ter a
postura estratégica exigida, habilitando-a a conduzir operações militares em um amplo espectro,
desde as ações subsidiárias até o conflito armado. (Pesquisa de campo, 2019)
O Ptf EE, como previsto na END, permite a consecução de um projeto forte de defesa.
Este, por sua vez, favorece um projeto forte de desenvolvimento nacional, baseado na
mobilização de recursos físicos, econômicos e humanos para o investimento no potencial
produtivo do País e para a capacitação tecnológica autônoma, pois “não é independente quem
não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a defesa, como para o
desenvolvimento” (END, 2012).
No entanto, as suas entregas não se restringem a bens (PRODE, instalações) ou
serviços, mas o foco do Ptf EE é a entrega de significativa quantidade de benefícios à Sociedade.
O primeiro benefício advindo das entregas do Ptf EE, associado à garantia da
Soberania Nacional, é o incremento da capacidade de dissuasão contra ameaças regionais ou,
mesmo extra regionais. Isto ocorre por meio do desenvolvimento da operacionalidade da F Ter,
que é obtido pela entrega de novas capacidades militares terrestres (sensoriamento, mobilidade,
proteção, comando e controle, logística, dentre outras), pela rearticulação da Força e pela
contínua capacitação do soldado para novos desafios.
Há um aumento da Projeção Internacional do Brasil, respaldando a sua Política
Externa por meio de FA preparadas e capazes, bem como pelo reforço ao poder econômico,
surgido do incremento à exportação de bens e serviços com alto valor agregado, em uma pauta
de exportações diversificada.
Uma Força Terrestre transformada propicia uma maior presença do Estado brasileiro
nas mais diversas regiões do nosso território, com especial apoio às ações de segurança pública,
incentivando o incremento da interoperabilidade dos órgãos e agências governamentais e
fortalecendo a presença do Estado nas fronteiras, com isso impacta favoravelmente o combate
a ilícitos transfronteiriços e a segurança nos centros urbanos. Da mesma forma, favorece um
ambiente de Paz Social, pela proteção aos serviços essenciais; garantia do patrimônio e redução
da ocorrência de crises; proteção de infraestruturas críticas e ativos essenciais; e a ampliação
da integração nacional. Um dos grandes benefícios trazidos pelos Prg EE é o incremento à
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que é alcançado por meio do envolvimento dos
institutos tecnológicos e entidades acadêmicas, com o fortalecimento de um modelo sustentável
de desenvolvimento tecnológico, muitas vezes com o uso dual de tecnologia. Isto permite o
incremento da independência tecnológica, contribuindo para o domínio de tecnologias
sensíveis. Torna-se, assim, uma fonte de estímulo ao desenvolvimento nacional, com a geração
de emprego e renda; fortalecimento da BID; e a capacitação da indústria e da mão de obra
brasileiras (OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE, 2019).
A BID constitui-se em fator de afirmação da nossa Soberania. É instrumento de
independência, efetivada pela mobilização de recursos físicos, econômicos e humanos para o
investimento no potencial produtivo do País e alcançada pela capacitação tecnológica
autônoma. É, também, um fator de projeção de poder nacional, com um grande caráter
dissuasório.
O Exército Brasileiro para cumprir o marco legal previsto na Constituição da
República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), a Política Nacional de Defesa (BRASIL,
2012b), a Estratégia Nacional de Defesa (BRASIL, 2012c) e o Livro Branco de Defesa Nacional
(BRASIL, 2012a), utilizando-se de técnicas de gestão de projetos, programas e portfólio,
instituiu seu Portfólio Estratégico.
O Portfólio Estratégico do Exército, por meio de seus Projetos e Programas
Estratégicos, tem como objetivo dotar a Força das capacidades operativas necessárias para
poder atender as missões que o Estado e a Nação lhe impõem.
Atualmente, está consolidada a implantação do Portfólio Estratégico do Exército
(Ptf EE). Cada um dos seus Prg EE integrantes contribui para atingir um ou mais Objetivos
Estratégicos do Exército, gerando as capacidades necessárias para que o Exército Brasileiro
cumpra as suas missões, de acordo com o previsto na Constituição Federal /88 e nas demais
diretrizes constantes da normativa infraconstitucional, em particular na Estratégia Nacional de
Defesa.
O Exército Brasileiro, mediante a execução de seus projetos/programas
estratégicos, vem rigorosamente ampliando seus meios e capacidade operacionais para exercer
a defesa da infraestrutura econômica, política e de comando do País e proteger o território
nacional contra possíveis ameaças (PESQUISA DE CAMPO, 2019).
É importante observar, no entanto, que a implantação dos antigos Projetos
Estratégicos do Exército ocorreu em um ambiente político-econômico distinto da atualidade.
Tal realidade levou a projeções orçamentárias que, em geral, não vieram a se concretizar nos
anos seguintes.
Este fato produziu um “descolamento” entre os planejamentos realizados inicialmente
e a execução dos PEE, bem como às possibilidades de geração de entregas tangíveis (bens e
serviços) e resultados concretos.
Os países que se apresentam como os principais atores na atual geopolítica mundial,
tem no Setor da Defesa uma importante mola propulsora para seu desenvolvimento econômico.
Este setor tem uma cadeia produtiva diversificada e complexa, que gera riqueza e empregos
para os países que têm procurado investir na sua Indústria Nacional de Defesa.
No Brasil, a preocupação com os assuntos relacionados a Defesa, até pouco tempo, era
exclusividade do ambiente militar. No entanto, a partir dos anos 2000, esse quadro passou a
mudar e a Sociedade como um todo passou a expressar também sua preocupação com esta
temática, de forma que estabeleceu as bases para o desenvolvimento deste setor estratégico em
nosso país, tendo como principais objetivos:
- Organizar e orientar as Forças Armadas no melhor desempenho de sua destinação
constitucional e suas atribuições na paz e na guerra;
- Reorganizar a Base Industrial de Defesa, com o objetivo de atender às necessidades
de equipamentos para as Forças Armadas, priorizando tecnologias sob domínio nacional,
preferencialmente as de emprego dual (militar e civil);
Sendo assim, foram dados os primeiros passos para o reaquecimento da Indústria
Nacional de Defesa que, até meados dos anos 80, chegou a ser uma das cinco mais importantes
do mundo, gerando muitas divisas e empregos para o país. Criar as bases para uma apropriada
estrutura de defesa se mostra como um importante vetor no apoio da estabilidade ao país,
assegurando não apenas a proteção de seu território e de sua população, como também
contribuindo para o desenvolvimento dos setores estratégicos da economia. (Pesquisa de
campo, 2019)
Essas iniciativas acontecem através dos Programas Estratégicos do Exército, que
permite a consecução de um projeto forte de defesa. Este, por sua vez, favorece um projeto forte
de desenvolvimento nacional, baseado na mobilização de recursos físicos, econômicos e
humanos para o investimento no potencial produtivo do País e para a capacitação tecnológica
autônoma, pois “não é independente quem não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto
para a defesa, como para o desenvolvimento” (END, 2012).
A situação instável da economia do País tem imposto à todas as áreas do Governo um
quadro recorrente de séria restrição orçamentária. O grande desafio do Exército tem sido
realizar as adaptações necessárias no Portfólio Estratégico, tornando os programas viáveis em
um cronograma estabelecido e ajustado a cada nova realidade orçamentária. (Observação
participante, 2019)
Caso a atual situação venha a se agravar, com a efetivação de cortes nos valores
destinados aos Prg EE, haverá a necessidade de revisão significativa nos escopos dos Prg EE
ou o alongamento dos seus prazos de execução. Ambas as hipóteses se constituem em soluções
extremamente deletérias, por afetarem a geração de novas capacidades militares, indispensáveis
ao processo de transformação da Força Terrestre. (Observação participante, 2019)
A persistência deste quadro irá impactar severamente a prontidão da Força Terrestre, e
trará efeitos indesejáveis como a redução da capacidade de dissuasão, da possibilidade de
participação em operações no âmbito internacional, da consciência situacional estratégica, da
projeção de força interna e externamente, da possibilidade de apoio às ações governamentais,
do emprego da Força em ações subsidiárias e da cooperação com ações do governo.
(Observação participante, 2019)
Obviamente, um dos maiores riscos relaciona-se à frustração das expectativas geradas
quando da criação dos Programas, como, por exemplo, a capacidade de sensoriamento e
monitoramento na faixa de fronteira, a proteção de estruturas críticas ou o emprego em
operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), com reflexos negativos para a segurança dos
centros urbanos e para o controle das fronteiras. (Pesquisa de campo, 2019)
Neste mesmo viés, uma possível restrição orçamentária afetará a capacidade de proteção
de ativos de informação contra ameaças cibernéticas com prejuízo à atuação integrada com o
Gabinete de Segurança Institucional e outros órgãos na proteção do Setor Estratégico “Defesa
Cibernética”, atribuição do EB de acordo com a Estratégia Nacional de Defesa, com elevação
dos riscos de colapso em vários setores vitais da sociedade.
Poderá haver, ainda, o atraso na rearticulação da Força Terrestre com prejuízo ao
desenvolvimento da infraestrutura regional/local dos aquartelamentos e o desperdício de
recursos com sistemas inoperantes e obsoletos.
A redução de investimentos impactará a atividade econômica nas regiões produtoras,
contribuindo significativamente para o agravamento do quadro de crescimento econômico
medíocre dos últimos anos.
Projeta-se, ainda, uma elevação progressiva dos custos dos programas, devido às
necessidades de reequilíbrio econômico, redistribuição de custos fixos e amortização de
investimentos, além da possibilidade de ocasionar multas contratuais. Este aspecto traz em si
uma grande vulnerabilidade para a administração pública, sob o ponto de vista dos órgãos de
Controle Externo. (Pesquisa de campo, 2019)
Dessa forma, o cenário de descontinuidade dos Prg EE implicará na inviabilização do
esforço de mobilização das cadeias produtivas das empresas contratadas e no atraso no
desenvolvimento de Produtos de Defesa de uso dual, tornando inadequadas as soluções
tecnológicas adotadas.
Por outro lado, é inegável, no entanto, o ganho operacional que os sistemas já
entregues e em operação proporcionam às capacidades das OM beneficiárias, deixando-as mais
aptas ao cumprimento de suas missões doutrinárias. Capacidades militares terrestres estão
sendo geradas, dotadas de produtos de defesa de alta tecnologia, em um ambiente de robustez
da infraestrutura de apoio e, principalmente, contando com recursos humanos de alta qualidade,
permitindo que os Objetivos Estratégicos do Exército sejam alcançados, mesmo em um
ambiente de frustração orçamentária.
A transformação, portanto, deverá ser capaz de contribuir com o crescimento de todas
as expressões do Poder Nacional, potencializando a capacidade dissuasória do País e permitindo
que o posicionamento político e estratégico da nação brasileira seja independente das vontades
dos demais países, permitindo o pleno exercício da Soberania Nacional.
No entanto, esses benefícios somente serão alcançados com o permanente apoio do
Estado aos planejamentos em vigor, em especial por meio da manutenção do imprescindível
fluxo de recursos financeiros.
Nesse contexto, constatou-se que seguem a reboque desse desenvolvimento,
importantes avanços tecnológicos, a geração de empregos, a diversificação da pauta de
exportações, o fortalecimento do Estado nas fronteiras, o fortalecimento da Base Industrial de
Defesa, o domínio de tecnologias sensíveis e a capacitação da indústria e mão de obra
brasileiras.
Desta forma, conclui-se que as perdas advindas de um possível corte orçamentário
poderão, em muito, superar os ganhos advindos de eventual incremento do resultado primário
da Administração Federal.
E uma consequência grave de redução do ritmo de implantação dos Prg EE será o não
cumprimento de compromissos contratuais assumidos, provocando prejuízo para a BID com o
fechamento de linhas de montagem e empresas fornecedoras, provocando despesas
extraordinárias com multas contratuais, falência de fornecedores, desemprego e evasão de
mão-de-obra altamente especializada e a consequente perda de confiança no setor industrial voltado
à Defesa.
E que um aspecto fundamental a ser avaliado é o efeito socioeconômico da redução
dos valores orçamentários sobre a atividade econômica em torno da cadeia produtiva dos
Programas Estratégicos do Exército afetados.
Ao lado desses impactos, há a necessidade de redução do ritmo de implantação dos
Programas, já severamente afetado em anos anteriores, o que determina a impossibilidade da
aquisição de novos meios imprescindíveis para a F Ter, como é o caso das viaturas blindadas
leves 4x4 do Prg EE GUARANI, a expansão do Prg EE SISFRON para outros trechos da faixa
de fronteira, o término da construção de diversas instalações, entre outras. Adicionalmente, a
dilação dos prazos de execução dos diversos projetos aumenta o risco de inadequação das
soluções tecnológicas adotadas, com a obsolescência dos meios ainda em processo de aquisição.
Pode, ainda, haver impactos na sustentabilidade dos Prg EE, pela redução da capacidade de
custeio da manutenção dos investimentos já realizados.Com isso, serão frustradas expectativas
da Sociedade no tocante ao aumento da CO da F Ter, em especial no tocante ao controle das
fronteiras, proteção cibernética e emprego em ações de GLO ou outras operações interagências.
(Pesquisa de campo, 2019) No Brasil, há que se considerar que o limitado poder de compra do
Estado salienta o papel fundamental da exportação para a BID. Processos de venda de produtos
de defesa são, em geral, extremamente complexos, envolvendo aspectos geopolíticos de vulto
e que exigem, muitas vezes, amplo suporte do Estado. No entanto, uma questão fundamental a
ser considerada é que, mesmo limitadas, as aquisições pelas Forças Armadas constituem-se em
verdadeira “certificação” de produtos nacionais de defesa, muitas vezes considerada
imprescindível, por parte dos possíveis compradores, para o sucesso dos negócios. (Pesquisa
de campo, 2019)
Nesta relação entre Estado e indústria, um conceito-chave para o desenvolvimento da
BID é a previsibilidade. Programas e Projetos consistentes e que orientem o esforço de pesquisa
e desenvolvimento do setor privado, em parceria com as Forças Armadas, gerando escala
produtiva, são fundamentais. E, importantíssimo, devem contar com um fluxo constante e
previsível de recursos financeiros, sem o que será impossível a manutenção de linhas de
produção industrial ativas. (Pesquisa de campo, 2019)
Em última análise, os Prg EE têm recebido dotações orçamentárias anuais aquém das
necessidades planejadas, o que implica a postergação de se atingir os objetivos propostos nos
seus escopos, gerando vulnerabilidades político-militares e impedindo que fosse atingido os
objetivos socioeconômicos pretendidos (PESQUISA DE CAMPO, 2019).
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BRUNA ROBERTA RIBEIRO BRUM
(páginas 54-61)