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Considerações dos estudos de Piaget sobre a linguagem infantil e o jogo simbólico

Conceituais e Simbólicas. Na seção 4.2 faremos uma breve apresentação da Teoria das Representações Sociais, destacando apenas os aspectos dessa teoria que foram importantes para subsidiar o nosso estudo. Finalmente, na seção 4.3 apresentaremos uma síntese das nossas conclusões sobre concepções das crianças.

4.1 Considerações dos estudos de Piaget sobre a linguagem infantil e o jogo simbólico

Os resultados e conclusões de Piaget sobre o pensamento infantil foram obtidos a partir de observações e diálogos realizados diretamente com as crianças. Essa abordagem metodológica possibilitou a Piaget elaborar a sua teoria Psicogenética, a qual oferece importantes contribuições para a Psicologia e para a Educação. Os seus estudos colocam em evidência que dentro de um processo de desenvolvimento, a linguagem infantil assim como o

pensamento da criança sofre mudanças, pois passam por fases diferenciadas de maturação. Como resultado desse processo a criança passa a compreender e agir no mundo em que está inserida.

Sobre a capacidade de comunicação da criança, Piaget (1990) argumenta que a linguagem da criança serve para comunicar seu pensamento, desempenhando um papel muito mais complexo do que parece, pois muitas expressões verbais das crianças têm um sentido ligado a seus modos de agir. Segundo Piaget, linguagem utilizada pelas crianças pode ser classificada em dois tipos: “egocêntrica”, fase em que a criança não se preocupa em saber a quem falar não se colocando no lugar do seu interlocutor; e “socializada”, quando a criança troca o pensamento com o outro, ora informando o interlocutor sobre o que interessa, ora participando de discussão em busca de um objetivo comum.

Piaget (1990) destaca ainda que entre os sete e oito anos de idade, aproximadamente, a criança começa a superar o egocentrismo, apresentando possibilidades de trabalhar em grupos. Nesse período do seu desenvolvimento, a criança passa a comunicar seu pensamento com mais facilidade, expondo suas ideias e opiniões. A partir dessa faixa etária a criança apresenta as condições necessárias para expressar seu pensamento e falar de suas concepções.

Evidentemente, na época em que Piaget desenvolveu sua teoria, as crianças viviam em outros contextos sociais. Atualmente, as mídias de comunicação, bem como as mudanças ocorridas no próprio sistema escolar (por exemplo, crianças entram na escola mais cedo) apresentam-se como fatores que podem influenciar aspectos no desenvolvimento da linguagem das crianças contemporâneas (POSTMAN, 1999), mas não vamos nos deter a esses aspectos e sim considerar a idade superior aos sete anos como ideal para enfocar as concepções das crianças.

Para Piaget, entre sete anos e meio e os onze a doze anos a criança começa a superar a observação imediata como sendo a base principal de seus processos cognitivos. A partir dessa faixa etária, a criança adquire então a capacidade de interpretar o mundo, considerando seus questionamentos mais a sério e suas respostas não “são devidas a fabulação” (PIAGET, 1999, p.201)

Essa capacidade de interpretar o mundo influencia outras habilidades da criança, como é o caso da habilidade de participar de jogos simbólicos. Para Piaget (1964) jogos simbólicos são aqueles jogos de papéis realizados pelas crianças. Todo jogo simbólico, mesmo individual, acabaria sendo uma representação que a criança realiza em sua imaginação.

Piaget discute o “pensamento simbólico” relacionando-o ao conceito de jogo da imaginação ou de ficção. No jogo de imaginação, o pensamento simbólico da criança permite

“uma assimilação do real ao eu, por ocasião do pensamento sério” (PIAGET, 1964, p.190); como resultado desse processo, a criança é capaz de repetir um acontecimento vivido, podendo reproduzir o que a impressionou, ou ainda evocar o que a agradou.

Essa relação entre pensamento e jogos simbólicos possibilita a construção de “uma vasta rede de dispositivo que permitem ao eu assimilar a realidade integral, isto é, incorporá- la para revivê-la, dominá-la ou compensá-la” (ibidem, p.198). Esse processo de assimilação ocorre por volta dos sete, oito anos quando a criança passa a internalizar os modelos de forma diferente, imitando (sem necessidade da presença do objeto em seu campo visual) seus pormenores de forma consciente a ponto de dissociar o mundo exterior do seu mundo interior. Transferindo dessa maneira suas impressões sobre as situações imitadas. Observamos com isso a maneira como a relação da criança com o mundo externo passa a fazer parte de seu pensamento.

Com a aparição das primeiras operações concretas, o “jogo simbólico se transforma numa adequação progressiva dos símbolos à realidade simbolizada” (PIAGET, 1964, p.366) na qual o símbolo é reduzido a uma imagem simples que será armazenada na memória. Assim, podemos dizer que a criança interpreta aspectos externos e transforma em representações guardadas em sua memória.

Piaget (1964) argumenta que a maneira como a criança passa a interpretar o mundo e elaborar representações para imagens e ideias possui dois sentidos muito diferentes. Num primeiro sentido, “a representação confunde-se com o pensamento, isto é, com toda inteligência [...]” constituindo-se “num sistema de conceitos ou esquemas mentais” (PIAGET, 1964, p.87).

Assim sendo, a representação pode ser considerada uma expressão conceitual, que por sua vez é elaborada a partir da interpretação da criança acerca do mundo.

Num segundo sentido, a representação vincula-se à “imagem mental ou a recordação- imagem”, ou seja, “a evocação simbólica das realidades ausentes” (PIAGET, 1964, p.87). Diante desse pressuposto, refletimos que quando uma criança evoca uma realidade ausente, ela busca na memória uma imagem, para representar uma realidade que está sendo recordada e essa imagem acompanha o conceito que será expresso sobre a situação evocada.

Esses dois sentidos de representação, segundo Piaget (1964), possuem uma relação mútua, sendo o conceito um esquema abstrato e a imagem um símbolo concreto e que embora o pensamento não possa ser reduzido a um conjunto de imagens, ele sempre virá acompanhado de imagens, pois pensar consiste em interligar significações em que a imagem será um significante e o conceito o significado (PIAGET, 1964). Avaliamos dessa forma que

o conceito pode ser considerado a explicação e a imagem, a “forma” como a criança busca na memória imagens visualizadas para complementar o sentido do conceito.

Para Piaget (1964) a imagem não seria uma simples prolongação da percepção, pois esta resulta dos esquemas de inteligências fornecida por uma “matéria sensível” (ibidem, p.91). Para ilustrar situações advindas dessa “matéria sensível”, Piaget destaca a capacidade do indivíduo de ouvir e reproduzir uma melodia. Segundo ele, ouvir uma melodia mentalmente é uma coisa, mas conseguir reproduzi-la por meio de desenho ou mímica, por exemplo, requer a capacidade de audição interior, isso é, requer uma imagem visual. Portanto, escutar a melodia consiste numa atividade motora que está sendo exercida, mas quando essa melodia é reproduzida, os mecanismos da inteligência mobilizam a matéria sensível.

Dessa maneira, compreendemos que a representação de imagem para a criança, não se resume a uma simples reprodução da imagem acerca do mundo externo que se encontra armazenada em sua memória, mas a sua interpretação dessas imagens. Ao internalizar essa representação, a criança interpreta a “matéria sensível” que vem do mundo externo, utilizando para isso o mecanismo da inteligência. Em outras palavras, a criança analisa a informação recebida e constrói sobre ela suas informações.

Piaget (1964) chama a atenção para a importância de se perceber que essas duas formas de representação – Representação Conceitual e Representação Simbólica ou Imaginada – embora concorrentes, possuem especificidades que as diferencia. A Representação Conceitual refere-se aos significados dos processos do pensamento, sendo esses “arbitrários”, convencionalmente ou socialmente impostos, enquanto a Representação Simbólica ou Imaginada, refere-se às representações das imagens expressadas pelo pensamento.

Piaget chama atenção para o fato de que as Representações Conceituais e Simbólicas dependem da vida social, pois “a sociedade não é uma coisa, nem uma causa, mas um sistema de relações” (PIAGET, 1964, ibidem, p.88). Considerando que as Representações Conceituais e as Representações Simbólicas dependem da vida social, avaliamos que ao se referir a conceitos e imagens a criança de forma consciente termina expressando situações evocadas de suas memórias a partir de situações vivenciadas no contexto social. Assim, suas concepções, de certo modo, simbolizam a realidade social em que estão inseridas.

Buscando nos aprofundar nas representações que chegam do mundo externo até as crianças, revisamos estudos sobre a Teoria das Representações Sociais, para tentar compreender melhor a relação entre conceito e representação.

4.2 Teoria das Representações Sociais: contribuições para nossas ideias sobre a