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Por meio deste estudo, foi possível concluir que:

Quanto ao uso de medicamentos pelos idosos do CCI; o consumo de medicamentos de uso contínuo foi bem elevado; cerca de um a cada três idosos estiveram expostos à polifarmácia; os fármacos mais usados foram os que atuam no Sistema cardiovascular; os medicamentos potencialmente inapropriados para idosos mais consumidos foram os que atuam no Sistema nervoso central e a maioria adquiriu os medicamentos com recursos próprios e/ou gratuitamente em Centros de saúde.

Quanto à percepção sobre as bulas de medicamentos usadas pelos idosos do CCI; o hábito de ler bulas foi maior com o aumento do grau de escolaridade; a maioria dos idosos apresentou dificuldade na leitura devido à letra pequena e não compreendeu as informações devido aos termos técnicos; a maioria também considerou a bula importante para o seu autocuidado e relatou procurar o médico para obter informações sobre medicamentos.

Quanto às bulas analisadas; menos de um quinto estava em conformidade com a norma vigente e, cerca de um a cada quatro fabricantes encaminhou a bula do medicamento com letra ampliada.

No que se refere às informações aos pacientes; uma em cada quatro bula apresentou o tamanho equivalente a Times New Roman 10 pt; a maioria das bulas não apresentou nenhum tipo de informação referente ao uso do medicamento no idoso; porém, quando presente, estava em consonância com a referência técnico- científica adotada.

No que se refere às informações aos profissionais de saúde; as informações específicas para o uso do medicamento em idosos estavam presentes; entretanto, nem todas estavam em consonância com a referência técnico-científica adotada e em somente duas bulas, as recomendações incluídas no critério de Beers (AGS, 2012) foram efetivamente consideradas.

Infelizmente, apesar de considerarem importante para o seu autocuidado, os idosos não podem contar com a bula dos medicamentos como um meio confiável de se obter informações específicas a esse grupo, tanto no que se refere aos pacientes quanto no que se refere aos profissionais de saúde. Este fato é preocupante, pois

todos os cidadãos têm direitos e precisam de informações de fácil acesso sobre o uso de determinado medicamento, para que esse promova o efeito terapêutico desejado, sem causar danos evitáveis; e por fim, promover o uso racional de medicamentos.

Tamanho da letra, clareza, objetividade, detalhamento dos itens que compõem as informações aos pacientes e profissionais de saúde e separação das bulas, são exemplos de avanços promovidos pela norma vigente. Porém, essa norma causa pouco impacto no montante das bulas veiculadas e disponíveis atualmente; fato esse justificado, em parte, pela morosidade com que a norma está sendo implementada pela ANVISA.

Considera-se que a ANVISA necessita assumir integralmente, continuamente e com celeridade a sua responsabilidade em assegurar a qualidade da informação que acompanha os medicamentos, uma vez que o uso inadequado poderá ser induzido por problemas relacionado à qualidade da informação.

Observando-se a dinâmica da pirâmide populacional do país, nos próximos anos, os idosos deixarão de ser minoria para compor parcela substancial da população. Além disso, vários medicamentos utilizados por eles são característicos de doenças prevalentes no processo de envelhecimento (p.ex. diabetes, hipertensão e outras doenças cardiovasculares) e por isso, são mais consumidos por essa população. Nesses casos, os idosos não configuram como “população especial” (incluídos como tal na norma vigente sobre bulas) e sim como a população que mais faz uso de tais medicamentos. Seria esperado que a maior parte das bulas dos medicamentos para as enfermidades prevalentes fosse voltada para os idosos e não o contrário.

O texto da bula é um instrumento de natureza complexa, pois apresenta grande volume de informação especializada, sobre vários aspectos e com múltiplas abordagens. Como tal, precisa evoluir e ser desenvolvido sob o aspecto multidisciplinar e interdisciplinar. Além das áreas do direito sanitário, da medicina e da farmácia, outras áreas devem ser consideradas pelas autoridades como a área da linguística, com seus estudos acerca dos vocabulários e estruturas textuais; do design gráfico, com seus estudos sobre legibilidade e hierarquia da informação; da psicologia, com os estudos sobre cognição; com a pedagogia, com os estudos sobre o processo de aprendizagem, entre outras áreas.

No que diz respeito ao uso inadequado de medicamentos, os textos de bulas só cumprirão o seu papel quando forem trabalhados a partir das necessidades do receptor dessa informação, neste caso o idoso, sem deixar de se valer da abordagem multidisciplinar.

É fato que as alterações fisiológicas advindas do processo de envelhecimento alteram as características farmacocinéticas e farmacodinâmicas dos medicamentos no idoso, o que potencializa os riscos de reações adversas e interações medicamentos, tornando-os mais expostos a problemas relacionados a medicamentos. Por isso, os idosos são diferentes dos adultos jovens e deveriam ser destaque na informação sobre medicamentos, em especial nas bulas, tanto as destinadas aos pacientes quando aos profissionais de saúde. Atualmente, ocorre o contrário, os adultos jovens são considerados os atores principais das bulas de medicamentos enquanto os idosos são esquecidos.

O critério de Beers (AGS, 2012) é mais um instrumento importante desconsiderado na maioria das bulas. Esse deveria ser motivo de destaque nas bulas de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos, pois serviria como alerta aos pacientes e profissionais de saúde dos riscos relativos ao uso. Toma-se como exemplo a fratura em idosos. Já se sabe que o uso de medicamentos, principalmente os potencialmente inapropriados são considerados fator de risco para fratura por queda no idoso, muitas das vezes graves e que aumenta o risco de complicações, inclusive óbito e custos sociais.

Considerando tais argumentos, sugere-se a criação de bulas específicas, atualizadas e voltadas para as necessidades do uso de medicamentos por idosos – “Bula do Idoso”, capaz de abordar e transmitir todos os aspectos específicos da farmacoterapia voltada para essa população como: estudos de eficácia, de segurança e farmacocinético, contraindicações relativas, advertências e precauções especiais, posologias adequadas à faixa etária, conduta em caso de esquecimento, reações adversas e interações medicamentosas mais relevantes no idoso.

A “Bula do Idoso” levaria o usuário do medicamento a apropriar o seu conhecimento, tornando-se capaz de tomar decisões fundamentadas e conscientes, acerca do medicamento e tratamento, deixando de ser “paciente” para assumir uma postura mais ativa.

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