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Buscamos com essa breve discussão levantar novas possibilidades de pensar as políticas públicas e o papel do Estado frente aos grupos afro-religiosos da Grande Florianópolis. Ao pensar um pouco sobre as demandas do povo de santo que foi entrevistado, ao longo dos quatro meses do projeto de mapeamento de terreiros, notamos que a falta de proteção do Estado e da garantia de direitos pela liberdade de culto é algo que ainda assola seus praticantes, porém, vimos também que a responsabilidade de criação de políticas públicas não deve ser conferida somente ao Estado. Antes, deve ser pensada coletivamente com órgãos e instituições não só responsáveis, mas que diretamente vivenciam esses espaços, como forma de firmar um diálogo e elaborar políticas públicas que de fato interessem e favoreçam o povo de santo para além do mês da consciência negra.

Uma das questões que merece destaque é a regulamentação das casas de santo por parte das prefeituras, visto que muitas casas ainda não receberam seus alvarás por alegarem dificuldades de explicação por parte dos órgãos competentes e, até mesmo, os longos processos que se arrastam, segundo eles, com o intuito de fazê- los desistir de regulamentar a documentação. Além de questões mais burocráticas como a documentação, outro ponto que pudemos notar é a questão da intolerância, discussão que deve ser posta para que haja um caráter punitivo aos crimes que acontecem com frequência contra o povo de santo.

Desta forma, pensamos que fortalecer as regulamentações punitivas para quem prática atos intolerância e violência religiosa é fundamental na perspectiva de proteção das casas de culto e de seus adeptos. No entanto, investir em material pedagógico que desconstrua a ideia socialmente negativa que se faz das práticas afro-religiosas é basilar. Para isso, deve-se inserir o debate sobre as comunidades de axé em espaços públicos e buscar parcerias privadas no sentido de ampliar o máximo possível a discussão, ouvindo os adeptos e ouvindo também o que as pessoas pensam, suas dúvidas e questionamentos. Assim, a criação de um diálogo ampliado é um importante meio para o combate da intolerância, bem como, pode subsidiar a formulação de Políticas Públicas, sejam elas, locais ou regionais.

Pensando nisso, a busca por uma demanda específica de cada segmento ou religião seria inviável, porém diante de demandas que podem ser viabilizadas para todos, além de demandas comuns a essas religiões, faz-se necessária a reflexão conjunta entre essas instituições, poder público e as casas de religião afro- brasileira, de modo a viabilizar, ao menos, as premissas básicas anteriormente mencionadas - a partir de uma pesquisa superficial sobre o que consta na Constituição Federal e o que é apresentado por essas pessoas como prioridade.

Sendo assim, finalizamos não pensando em solucionar os problemas apresentados pelos entrevistados ao longo do período em que aconteceu o projeto, mas em levantar questões acerca de que modo estão sendo feitas essas políticas públicas e a quem elas são destinadas. Com isso, esse capítulo objetiva refletir sobre novas propostas a serem desenvolvidas em consonância com as diversas esferas que esse assunto comporta e diz respeito, bem como trazer à tona problemas que necessitam de maior atenção e cuidado. Portanto, trata-se de uma situação que

vai além da criação das políticas públicas, pois envolve a esfera criminal, visto que a intolerância e o preconceito ainda prevalecem e atingem esses grupos religiosos de maneira cotidiana, por meio de diversificadas práticas de violência.

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Polícia Juízes e Praticantes de Religiões

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