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CARÁTER FACULTATIVO DE SEPARAÇÃO, DIVÓRCIO E INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAIS

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constata-se que há entendimento no sentido de que após preenchidos os requisitos legais para o divórcio, a separação, a partilha e o inventário consensuais, não terão os interessados outra opção a não ser recorrer à via extrajudicial. Esse posicionamento baseia-se na premissa de que, caso os requerentes, naquelas situações, ingressem em Juízo, lhes faltaria o interesse de agir e então careceriam do direito de ação, devendo ser o processo extinto sem resolução do mérito.

Contudo, viu-se também que há posicionamentos em sentido diverso, daqueles que interpretam a Lei nº 11.441/2007 como uma faculdade aos interessados e não como uma obrigação para que eles requeiram seus direitos extrajudicialmente.

Entende-se que o próprio texto legal dos arts. 982 e 1.124-A, do CPC, emprega a palavra “poderá” e “poderão”, respectivamente, ou seja, se a legislação quisesse atribuir uma imposição ao jurisdicionado a nomenclatura seria “deverá” e “deverão”. Os termos empregados dão a clara idéia de faculdade, mediante uma interpretação literal dos comandos legais.

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BUZAID apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 50. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. vol. I, p. 62-63.

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O sentido da lei não pode ser alterado de forma forçosa, como pretendem aqueles que interpretam que a novel legislação trouxe uma obrigação para os interessados.

Além disso, também não pode ser aceita a tese de que faltará aos requerentes o interesse de agir para ingressem em Juízo, caso preenchidos os requisitos legais. Tem-se que os interessados perderão as benesses do segredo de justiça, na hipótese de serem compelidos a tratar de suas questões familiares e patrimoniais em sede extrajudicial. De modo que o art. 155, inciso II, do CPC, seria constantemente desrespeitado para as causas que versem questões matrimoniais.

E não foi isso que a Lei nº 11.441/2007 objetivou, em interpretação teleológica, em conformidade com o art. 5º, da Lei de Introdução ao Código Civil (LICC). A dita norma visou apenas abrir uma possibilidade para que os que quisessem realizar as separações, divórcios, partilhas e inventários consensuais, desde que preenchidos os requisitos legais, pudessem usufruir de uma segunda via, no caso a extrajudicial, que lhes garantissem a mesma segurança jurídica alcançada no Poder Judiciário, mas com menor espaço de tempo e de forma mais simples que a judicial.

Contudo, aqueles que, por questões de foro íntimo ou por outras razões, venham a optar pelo procedimento judicial, não poderão ser considerados carecedores do direito de ação, na medida que os interessados objetivam primar pelo segredo de justiça. Portanto, eles terão interesse de agir ao ingressar no Judiciário, pois as vias extrajudiciais não lhes assegurarão tal direito, ante o princípio da publicidade que rege todo e qualquer documento público.

Urge salientar a situação das pessoas carentes de recursos financeiros que não dispõem de meios para arcar com os honorários de um advogado particular e que procuram, constantemente, a Defensoria Pública e os Núcleos de Prática Jurídica, encontrados nas Faculdades de Direito, que também prestam serviços jurídicos gratuitos. Muitas vezes, tais núcleos jurídicos não possuem infra-estrutura suficiente para atenderem a população junto aos Cartórios de Notas, em sede extrajudicial, e, por isso, somente atuam perante os Fóruns das comarcas onde se situam. Nesse contexto, faz-se imprescindível permitir aos interessados o ingresso em Juízo, sob pena deles não conseguirem profissionais para resolver suas questões particulares, o que violaria o art. 5º, inciso XXXV, da Constituição da República de 1988 (CR/88), por negativa de acesso à jurisdição.

Diante do exposto e com base no Comunicado nº 236/2007, editado pela Corregedoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo, e na Resolução nº 35/2007, expedida pelo Conselho Nacional de Justiça, conclui-se que a Lei nº 11.441/2007 trouxe uma opção a mais para os interessados e não uma imposição legal aos procedimentos extrajudiciais de divórcios, separações, inventários e partilhas consensuais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Código Civil, Código de Processo Civil, Código Comercial,

Legislação Civil, Processual civil e Empresarial, Constituição Federal.

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<http://www.extrajudicial.tj.sp.gov.broabsp.org.br>. Acesso em: 02 abr. 2009.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 50. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. vol. I, 794p.