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O DIREITO DE VISITA COMO SUPERIOR INTERESSE DOS FILHOS

A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL E O TITULAR DO DIREITO DE VISITA

2 INDICADORES COMPORTAMENTAIS NA CONDUTA DO PAI ALIENANTE

6. O DIREITO DE VISITA COMO SUPERIOR INTERESSE DOS FILHOS

O filho é o titular do direito de visita. É ele quem tem o direito de conviver com seus pais. Quando um dos genitores está sendo impedido de lhe ter acesso, na verdade, é o direito do filho que está sendo cerceado. Esse é o superior interesse dos filhos em detrimento do interesse dos pais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 21, determina que o pátrio poder seja exercido em igualdade de condições pelo pai e pela mãe, na forma que dispuser a legislação cível, assegurado a qualquer deles o direito de recorrer à autoridade judiciária em caso de discordância.

O Código Civil, nos artigos 1.584, 1.589, e a Lei do Divórcio (Lei nº 6.515/77) no artigo 15, afirmam o direito subjetivo de vista. O artigo 1584 determina que decretada a separação judicial ou divórcio sem acordo entre as partes quanto à guarda dos filhos, ela será atribuída a quem revelar melhores

condições de exercê-la. Os demais artigos disciplinam que o pai ou a mãe que não detém a guarda dos filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação. Desse modo, a lei elimina o privilégio materno na guarda de filhos e abre uma nova era de igualdade entre pai e mãe.

O direito de visita do genitor não guardião, significa o direito latu

sensu, de se comunicar com eles [filhos], implicando, portanto, o direito de

correspondência, que não pode ser obstruído nem embargado, salvo ocorrendo motivo legítimo32.

Não são poucos os pais renitentes nas concessões de visitas, tomando- as como meio exclusivo de satisfação íntima da outra parte, contra a qual alimentam mágoas que reclamam compensação. Transformam o direito em paixão e os filhos em instrumentos de revide, cercando-lhes o contato e a comunicação efetivos. Os juízes insistem na tentativa de os convencer da absoluta necessidade desse intercurso. Quem lida com problemas psicológicos sabe que a introdução da figura paterna ou materna, quando deficiente ou precária, conduz a desajustamento na área da sexualidade33.

Compreende-se que o direito de visita não é uma obrigatoriedade legal, porém uma responsabilidade dos pais com o desenvolvimento integral dos filhos, e deve ser realizado espontaneamente, estando os pais cientes da importância de sua presença e da presença do outro genitor, no acompanhamento da formação da criança e do adolescente.

A imposição judicial da guarda e do direito de visita visa solucionar ou amenizar divergências entre os pais, tendo como prioridade o bem-estar dos filhos. A finalidade precípua do direito de visita é proteger os filhos de relações familiares que lhes possam cercear esse direito, pelo abuso do poder familiar praticado pelos pais, que parecem desconhecer tanto a necessidade da criança de conviver com ambos os genitores, quanto a gravidade das consequências de sua conduta isoladora para o psiquismo infantil, e para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente.

É dever daquele que detém a guarda assegurar ao não guardião o direito de visita, preservando a convivência entre pais e filhos. Tal medida tem por finalidade assegurar a continuidade fundamental das relações de afeto, respeito, dependência, reciprocidade e responsabilidade que possam existir

32

RODRIGUÊS. 1987. p. 26.

33 Peluso, Cezar "O não sagrado direito de visitas", Direito de família, repertório de

entre eles, mesmo quando os pais já possuem outros relacionamentos e se encontram afastados da prole anterior, ou quando se encontram impedidos de ver os filhos e levá-los em sua companhia.

É possível afirmar-se que a formação da criança e do adolescente depende do diálogo estabelecido no âmbito familiar, por meio do qual se dá a compreensão das diferenças entre pais e filhos, resguardando interesses e direitos, com alternativas de soluções para seus problemas. Todavia, quando a relação familiar não se dá de forma amigável, corre-se o risco de quaisquer obstáculos entre as partes gerarem grandes conflitos.

Assim, quando o bom-senso não está presente nas discussões e decisões familiares, o bem-estar dos filhos fica sob ameaça e sujeito a sofrer danos que refletirão no desenvolvimento físico e mental, pois como diz o adágio popular: Quando o mar e o rochedo brigam, quem sofre são os

mariscos. Os filhos, mariscos em um mar tormentoso, submissos e

desprovidos de defesa diante de seus poderosos pais, sofrem disputas e negligências por não serem reconhecidos como portadores de identidade própria e como sujeito de direitos, dos quais, o direito a uma vida livre de maus-tratos e o direito de convivência familiar harmônica.

Vê-se assim, que o desrespeito aos direitos da criança e do adolescente pelos pais que não conseguem superar o fim de um relacionamento, muitas vezes, alimentando mágoas e ressentimentos, se traduz no relacionamento com os filhos por meio de comportamentos autoritários, constrangedores e abusivos, negligenciando a espontânea liberdade de convivência deles com os que amam, parecendo desconhecer que a reconciliação com as figuras parentais primitivas, pai e mãe, ainda é o melhor antidepressivo.

Contribui para esse desrespeito aos direitos dos filhos, o sentimento de poder paternal vivido na injusta posse patriarcal e de propriedade ilimitada dos pais sobre filhos, acreditando-se legítimos donos e proprietários dos mesmos, chegando, muitas vezes, na disputa de guarda, ao ponto de atribuir-lhes valor, colocando-os em negociação, lembrando o adágio o caminho mais longo é o

que vai do coração ao bolso.

Litigantes assim parecem jamais ter lido Oscar Wilde: No início, os

filhos amam os pais. Depois de um certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam. E, como por ironia, o genitor

mantido a distância nos tempos infantis, frequentemente passa a ser o mais amado e desejado na vida adulta, talvez por estar envolto em um véu de mistério, enquanto aquele que se manteve próximo ao filho, passa quase

sempre a ser esquecido e até mesmo hostilizado pelos filhos já crescidos, visto como mais culpado por tudo o que de ruim aconteceu, bem como pelas escolhas nefastas ao longo da vida.

A garantia do direito de visita, então, visa assegurar à criança o direito a um desenvolvimento pleno, permitindo que no futuro, quando o filho enviar pai e mãe ao Tribunal de Justiça para o julgamento, que todo filho inexoravelmente faz de seus pais, ao colocá-los no banco dos réus, que seja um julgamento justo, e que ambos, pai e mãe, tenham tido direito à ampla defesa e ao contraditório no decorrer de suas existências, no relacionamento com o filho, para o próprio bem dele, mais do que para o bem de seus pais. Que ele tenha provas da inocência deles, porém se os julgar culpados, que conclua que não houve dolo. Erraram. São humanos, demasiados humanos. Afinal errar na criação dos filhos, os bons pais sempre errarão, pois como disse Sigmund Freud, há três tarefas impossíveis: governar, psicanalisar e educar.

REFERÊNCIAS

AULAGNIER, Piera (1975) A Violência da Interpretação – Do pictograma ao

enunciado. Tradução de Maria Clara Pellegrino. Rio de Janeiro, Imago, 1979.

AULAGNIER, Piera (1979) Os Destinos do Prazer: alienação, amor, paixão. Rio de Janeiro, Imago, 1985.

AULAGNIER, Piera (1986) Um intérprete em busca de sentido, vol. II, São Paulo, Escuta, 1990.

FREUD, Sigmund, (1924), A dissolução do complexo de Édipo, ESB, vol., XIX, Rio de Janeiro, Imago, 1986.

PELUSO, Cezar "O não sagrado direito de visitas", Direito de família,

repertório de doutrina e jurisprudência. São Paulo, Saraiva, , vol., III,

ESTUDO ANALÍTICO DO ART. 285-A, DO CÓDIGO DE