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4 Organização da dissertação

CAPÍTULO 4 – CONTRIBUIÇÕES DO CONJUVE PARA A FORMULAÇÃO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem nenhuma pretensão de esgotar o debate sobre a temática, entende-se que vale a pena sintetizar os principais pontos levantados por essa pesquisa. Todavia, é sempre relevante lembrar que, em toda investigação, toda conclusão é sempre provisória, sujeita a comparações, correções e até abandonos.

Nessa sessão será realizada uma síntese dos resultados alcançados na análise da pesquisa de campo material coletado. Trata-se de um exercício de compreender o processo histórico de institucionalização desse espaço e lançar um olhar específico para as demandas dos jovens registradas nos dados e nas falas, em meio a diversas formas de desigualdade e a exclusões.

A abordagem metodológica dialética situa-se na perspectiva qualitativa, considerando as contradições da atuação do Conjuve a partir dos dados coletados na pesquisa de campo, no intuito de privilegiar a historicidade e a concretude do objeto estudado, acompanhando as relações por meio das contradições e mediações desse espaço social. Assim, buscou-se refletir sobre as formas de organização da sociedade brasileira e os impactos na disponibilidade de oferta de serviços públicos e oportunidades de trabalho e geração de renda para o segmento jovem.

Num país marcado pelas desigualdades e com escassez de oferta de atendimento adequado para os jovens, esse segmento convive com dificuldades para a melhoria nas condições de vida e com baixos indicadores de acesso e permanência escolar, características que afetam a trajetória de vida dos jovens brasileiros. Cabe destacar, que as políticas públicas terão o desafio de garantir condições para que a juventude enfrente os obstáculos que estão sendo postos, particularmente as políticas educacionais enquanto políticas de cunho social.

Desse modo, o tema das políticas educacionais justifica-se por compor um aspecto essencial na garantia dos direitos da juventude e, também, por se tratar de ações que minimizarão a reprodução de desigualdades sociais que afetam em maior intensidade a população jovem, como foi tratado no capítulo 3.

Face ao exposto, a presente dissertação analisou a atuação dos movimentos sociais no Conjuve. A escolha teve em vista o fato de o conselho ser a instância que agrega diferentes atores tanto da sociedade civil como do poder público. Além disso, é uma das arenas onde jogos de força são engendrados na definição das prioridades a serem encaminhadas como políticas públicas. Em especial, foram acompanhadas as propostas de políticas educacionais feitas pelos diferentes grupos, tanto da sociedade civil quanto do poder público.

Interessou evidenciar a riqueza desse espaço de negociação que expressa um campo contraditório de embates a respeito da formulação das políticas públicas. Assim, esse estudo parte

da convicção que as instituições sociais são produtos históricos e transitórios, por isso, buscaram- se analisar os complexos processos de negociação no interior do Conjuve e as influências da sua atuação na formulação das políticas públicas educacionais para a juventude, considerando a historicidade da análise desses processos contraditórios constituintes da incipiente democracia participativa no Brasil. Como revelou o capítulo 2. Contudo existem níveis de participação que a sociedade civil não consegue incidir, essa constatação revela os limites impostos pelo e ao Conjuve, e evidência o monopólio do Estado que mesmo apoiando espaços institucionais de participação, no entanto os movimentos sociais são ouvidos, porém não interferem efetivamente na formulação das políticas educacionais como visto nessa pesquisa.

Uma das características ressaltadas na pesquisa foi o fato dos conselhos oferecerem recomendações e sugestões das diretrizes e perspectivas de políticas para execução do Governo. Isso envolve a disputa na escolha dos temas sobre os quais os conselhos irão se manifestar e a questão de o governo ser ou não suscetível às suas sugestões. Em tese os conselhos deveriam garantir uma composição diversificada, com força de expressão dos principais interesses presentes na realidade dos jovens.

Nesse contexto, apesar do Conjuve contar com uma composição diversificada, esse aspecto se mostrou insuficiente para caracterizar as demandas da juventude. Uma vez que existe influência de alguns grupos sociais que monopolizam os debates do interior do Conselho, característica enfatizada pelos conselheiros se referindo à atuação da juventude partidária. Essa situação foi mencionada como uma fragilidade que gera desconforto entre os conselheiros, o que evidência um incômodo. Portanto, necessita ser enfrentada pelo Conjuve. Soma-se a isso o fato desses conselheiros oriundos dos partidos políticos terem sua participação sobrerrepresentada, como relatado por alguns conselheiros.

Com o intuito de verificar como acontecem essas relações de poder, procurou-se compreender como esses movimentos conquistaram legitimidade política nos espaços públicos. Para tanto foram abordadas suas características, seu funcionamento e, especialmente os conflitos e pactuações manifestos no seu interior. Buscou-se compreender a natureza das relações entre governo e a sociedade civil, bem como as estratégias de mediação desses espaços. Partindo do pressuposto que os conselhos são arenas marcadas pelo conflito onde se explicitam e negociam diferentes interesses.

Assim, convém salientar os limites da participação social e a existência de uma variedade de projetos que estão em disputa, e muitas vezes de forma difusa. A análise do mosaico de atores que estão nas arenas participativas – pessoas, entidades, segmentos no interior do Conselho –

enfrentam seus respectivos representantes e até mesmo um misto de interesses, manifesto pela heterogeneidade de projetos em disputa.

Os projetos políticos em disputa colidem com a natureza dos conflitos trazidos pela sociedade e pelo governo, daí diferentes interesses são explicitados e nem sempre negociados. Cabe problematizar que cada vez mais os atores civis e governamentais constroem relações em defesa de interesses específicos, em alguns casos até com objetivo de cooptar os movimentos sociais, legitimando a ação estatal ou a oposição de alguns grupos. Aspecto bastante enfatizado nas falas dos conselheiros do Conjuve durante a pesquisa. Cabe refletir, os conselhos são institucionalizados com o objetivo de criar uma falsa ideia de participação? Entretanto, os conselheiros denunciam as ausências dos representantes governamentais nas reuniões e nos encaminhamentos posteriores. E percebem que presença na mesa de negociação não é sinônimo de participação efetiva, as demandas sociais são escutadas, mas não, necessariamente, se traduzem em decisões; como foi expresso pelo Conselheiro 2: ―(...) Então, o governo diz: é só uma consulta, a gente está aqui para ouvir, nada do que vocês falarem talvez não vá ser nada incorporado‖.

Outra maneira de limitar a participação da sociedade civil são os obstáculos orçamentários, que impedem a autonomia do Conjuve, pois o baixo orçamento compromete as atividades do Conselho, como foi expresso pelos conselheiros. Mais uma fragilidade apontada pelos conselheiros é a definição da pauta, visto que essa tarefa organiza os trabalhos do Conselho e expressa a divisão do poder dos grupos dominantes e é uma forma velada de impor o poder de decisão sobre as temáticas que serão debatidas.

De toda forma, intui-se que a democracia participativa vem sendo ressignificada, manifestando o desencanto e aproximações nas formas de participação disponíveis no cenário político nacional. Isto é, mesmo com o partilhamento do poder, esses espaços públicos ainda podem esbarrar na formulação de políticas verticalizadas, leia-se, sem qualquer participação social e fragmentadas na sua atuação, sem qualquer transversalidade entre suas ações.

De sorte que é imperativo que os movimentos sociais consigam se organizar de forma autônoma, mesmo participando de espaços institucionais gerenciados pelo governo. Por outro lado, também se deve reconhecer que o próprio governo tem que ser parte dos debates, pois é ―um participante na negociação das políticas públicas, esse é um desafio do exercício da representação. Afinal, não se negocia e não se toma posição apenas entre representantes de organizações sociais‖ (LIMA, 2011, p. 140).

Nesta investigação, interessou verificar especificamente a etapa que antecede a formulação das políticas públicas, contudo não desprezou as outras etapas do ciclo das políticas,

que são: execução, monitoramento e avaliação, visto que foram mencionadas pelos conselheiros como etapas em que o Conjuve deve atuar.

A análise demonstrou, também, que as políticas educacionais se apresentam, mas se perdem frente às questões focais consideradas como prioritárias para os coletivos do Conjuve. E se observou que são consideradas no desenvolvimento do público jovem, mas não com a intensidade esperada, visto a variedade de ações educacionais prioritárias, aspecto que demonstra que esse debate ainda está difuso no Conjuve, o que é compreensível, pois por mais que para alguns isto seja uma confusão, trata-se de um amadurecimento enquanto coletivo.

O ProJovem se apresentou como a expressão mais efetiva de política educacional para a juventude, essa afirmação baseia-se nas falas dos conselheiros que mencionam uma variedade de ações educacionais prioritárias para a juventude, aspecto que evidencia propostas prioritárias abstratas refletindo uma embrionária discussão sobre o tema. Todavia, o Conjuve tem provocado a entrada nesse debate, particularmente com incidência no debate sobre a reformulação do Ensino Médio em curso na Câmara dos Deputados e na Secretaria de Educação Básica do MEC.

Percebe-se, assim, o momento privilegiado em que os embates ocorrem ficando evidente a postura de resistência do Conselho ao exigir participação na discussão, como se gritasse: ―também podemos qualificar esse debate e trazer as necessidades da juventude para a educação‖. Constatou-se que está em curso uma aproximação do Conjuve com a SEB e a tentativa de incidir nas ações referentes à educação básica.

Sobre a influência do Conselho na formulação das políticas educacionais, os resultados indicam que esse alcance é ainda desequilibrado em relação ao poder público e negligencia a participação da sociedade civil da formulação das ações à medida que escuta, mas não incorpora essas indicações. Entretanto, os fatos demonstram que essa lógica está sendo alterada, pelo menos no episódio observado, se percebeu que o MEC havia formulado uma proposta de Pacto, mas teve que recuar, pois encontrou resistência e exigência de participação. O que ocasionou uma reprogramação das ações.

Também, foi tratada a relação desse Conselho com as políticas públicas e as desigualdades educacionais enfrentadas pelos jovens. A pesquisa se debruçou sobre como as propostas negociadas no Conjuve são agregadas às políticas educacionais implementadas pelo governo federal, especificamente no Ministério da Educação. Isso porque, no âmbito da educação básica, não se vê interferência do Conjuve, entretanto essa realidade está mudando, visto que o Conselho está exigindo participação nesse debate, conseguindo, inclusive, barrar o desenho previsto para algumas ações encampadas pelo MEC, tais como o Pacto para o Ensino Médio e a

Desse modo, a reflexão crítica sobre atuação do Conjuve evidenciou-o um campo de mediações e contradições que influenciam a formulação das políticas educacionais para a juventude. Assim, pretendeu-se contribuir para a reflexão sobre a relação da juventude brasileira com os processos de escolarização formal e o mundo do trabalho, sobretudo no que diz respeito a aspectos relacionados às desigualdades sociais, e como as políticas educacionais podem contribuir para a inclusão e a ampliação de direitos dos jovens.

Desse modo, o Conjuve materializa esse espaço de interlocução em que múltiplas singularidades se expressam, negociando, conflitando, avançando e recuando.

Propostas para o Ministério da Educação

- Propor políticas específicas para o segmento jovem em interlocução com os movimentos sociais, particularmente com o Conjuve que é um órgão voltado para à promoção de Políticas para a juventude;

- Considerar no debate outros segmentos jovens, além da juventude estudantil, visto que essa exclusividade impede a inclusão de outros sujeitos no diálogo com as instâncias governamentais;

- Realizar a intersetorialidade das políticas para juventude no próprio MEC possibilitando a articulação das políticas, por exemplo: ProJovem, Ensino Médio Inovador, Mais Educação, PNLBEM e outros.