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Entre sensos e dissensos – Histórico do Conselho Nacional de Juventude – Conjuve

4 Organização da dissertação

CAPÍTULO 1 – PERCURSOS E PERCALÇOS: REFLEXÕES SOBRE PARTICIPAÇÃO E JUVENTUDE

1.3 Entre sensos e dissensos – Histórico do Conselho Nacional de Juventude – Conjuve

O Conjuve é uma instância permanente, sistemática e institucional criada por legislação e competências próprias. Trata-se de um canal de participação social institucionalmente reconhecido, cujas competências estão definidas por regimento interno e tem a função legal de realizar o controle social da política pública para a juventude. Sua institucionalização em 2005 corresponde a um processo já desencadeado pela sociedade civil organizada.

Pela própria natureza desta pesquisa, merecem destaque as negociações que antecederam sua criação. Segundo o documento – Conselhos de Juventude: Fortalecendo diálogos,

promovendo Direitos (BRASIL, 2010), em 2003 acontece o lançamento da Frente Parlamentar de

Juventude da Câmara dos Deputados (essa representação tem assento no Conjuve atualmente). Essa Frente tinha como objetivo acompanhar os projetos do governo destinados ao segmento juvenil. Nessa ocasião surge a Comissão Especial de Políticas Públicas de Juventude – Cejuvent, formada por parlamentares, que foi responsável por buscar referências em outros países sobre a temática. Ouviu especialistas, organizações voltadas ao público jovem e às juventudes; promoveu a Semana Nacional de Juventude, audiências públicas estaduais e uma Conferência de Juventude em 2004, reunindo aproximadamente 1.500 jovens, que debateram assuntos como geração de emprego e renda, educação e meio ambiente, no intuito de subsidiar a elaboração do Plano Nacional de Juventude – PNJ.

As ações dessa comissão especial resultaram na elaboração de um Relatório Diagnóstico, com propostas de alteração do texto constitucional, incluindo o termo ―jovem‖ como público prioritário. Trata-se da Emenda Constitucional nº 65, conhecida como PEC da Juventude, aprovada em julho de 2010, após tramitar sete anos no Congresso Nacional. A Emenda inseriu o termo

esse segmento direitos que já foram garantidos constitucionalmente às crianças, adolescentes, idosos, indígenas e mulheres.

O Plano Nacional de Juventude - Projeto de Lei Nº 4.530/2004, foi elaborado pela Comissão Especial de Juventude realizou em 2003 audiências públicas para identificar as demandas dos jovens e organizações representativas da juventude. O Plano reúne um conjunto de metas que devem ser alcançadas em dez anos pelos governos municipais, estatuais e federal, nas áreas de educação, saúde e trabalho, entre outras, até 2014. O Plano Nacional de Juventude recebeu, em 2006, parecer favorável pela comissão que participou da sua elaboração. Entretanto, até hoje, o Projeto de Lei aguarda votação na Câmara dos Deputados.

Também, em 2004, ocorreu a elaboração do Estatuto da Juventude, pela Comissão Especial da Juventude, que após várias tramitações na Câmara dos Deputados passa a ser denominado de Projeto de Lei nº 27/2007, posteriormente alterado pelo Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 98/2011, que estabelece ampliação de direitos para pessoas de 15 a 29 anos, sem prejuízo ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

Vale destacar que após quase dez anos de tramitação, o Estatuto da Juventude só recebeu Sanção Presidencial em 5 da agosto de 2013 – Lei Nº 12.852/2013. Essa legislação assegura à população dessa faixa etária, cerca de 51 milhões de brasileiros, acesso à educação, profissionalização, trabalho e renda, além de determinar a obrigatoriedade do Estado em manter programas de expansão do ensino superior, com oferta de bolsas estudos em instituições privadas e financiamento estudantil, dentre outras medidas.

Em 2004, também foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial formado no âmbito da Secretaria-Geral da Presidência da República – SGPR. Esse grupo reuniu 19 (dezenove) ministérios que tinham ações e/ou programas para a juventude e produziu um documento com diagnóstico e sugestões para a formulação da Política Nacional de Juventude.

Em 2005, houve o lançamento da Política Nacional de Juventude, proposta a partir das sugestões do GT Interministerial, que indicou a criação da Secretaria Nacional de Juventude – SNJ; o Conselho Nacional da Juventude – Conjuve e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem. Essas três iniciativas fazem parte da política nacional que é norteada por nove diretrizes, são elas: ampliação do acesso e permanência em escolas públicas de qualidade; erradicação do analfabetismo entre os jovens; preparação para o mundo do trabalho; geração de trabalho e renda; promoção da vida saudável; democratização do acesso ao esporte, ao lazer, à cultura e à tecnologia de informação; promoção dos direitos humanos e das políticas afirmativas; estímulo à cidadania e à participação social; e melhoria da qualidade de vida dos jovens no meio rural e nas comunidades tradicionais (BRASIL, 2010, p.7).

A conjuntura política de ampliação da participação social verificada no país a partir dos movimentos de juventude passam a exigir uma agenda própria e demandar aperfeiçoamento das políticas públicas. Esse cenário de negociação favoreceu a criação do Conjuve em 2005, como parte da Política Nacional de Juventude, que se estruturou a partir dos seguintes eixos: 1) desenvolvimento integral dos jovens, englobando educação, trabalho, cultura e tecnologias da informação; 2) qualidade de vida, abarcando meio ambiente, saúde, esporte e lazer; e 3) vida segura, integrando valorização da diversidade e respeito aos Direitos Humanos (TEIXEIRA, 2007, p. 5).

O Conselho Nacional da Juventude foi criado pela Lei 11.129, de 30 de junho de 2005, posteriormente regulamentado pelo Decreto Presidencial 5.490, de 14 de julho de 2007. Segundo esse Decreto Presidencial, o Conselho é um órgão colegiado de caráter consultivo, integrante da estrutura básica da Secretaria-Geral da Presidência da República – SGPR. Tem a finalidade de formular e propor diretrizes da ação governamental, voltadas à promoção de políticas públicas e assessorar a Secretaria Nacional da Juventude – SNJ na formulação das diretrizes da ação governamental, promover estudos e pesquisas acerca da realidade socioeconômica juvenil; assessorar a Política Nacional de Juventude do Governo Federal para que seja conduzida por meio do reconhecimento dos direitos e das capacidades dos jovens, e da ampliação da participação cidadã. Nesse contexto, o Conjuve surge com o intuito de ser um espaço institucional em que os jovens por meio do diálogo com as instâncias da administração pública, possam participar da formulação das diretrizes para as políticas públicas direcionadas a eles, sempre mediados por suas organizações coletivas. E tem como objetivos o controle social das políticas públicas para a juventude e a promoção da participação social (BRASIL, 2010).

Assim, o Conjuve se constitui formalmente um lugar de catalisação das demandas juvenis em relação ao poder público, interfere na elaboração, implementação e avaliação de políticas públicas e garante a participação dos interessados.

Esse cenário de abertura a participação e interlocução da sociedade civil com o Estado no planejamento e acompanhamento da execução das políticas públicas foram conquistados a partir das lutas travadas ao longo na história nacional. A sociedade civil organizada exigiu espaços institucionalizados destinados à mediação com o Estado das demandas por ―reconhecimento das diferenças‖ (FRASER, 2001) em diversas áreas sociais.

Desse modo, o Conjuve materializa esse espaço de interlocução em que múltiplas singularidades se expressam, negociando, conflitando, avançando e recuando. Conta com o engajamento dos movimentos sociais e juvenis na sua composição. Trata-se de jovens organizados em entidades religiosas, sindicais (urbanas e rurais), ambientalistas, estudantis, empreendedores, do

Desde sua origem o Conselho é composto por 60 assentos, sendo: 20 membros indicados pelo Poder Público, oriundos dos Ministérios, do Fórum de Gestores Municipais de Juventude, da Frente Parlamentar de Juventude da Câmara dos Deputados e da União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale), num total de 25 (vinte e cinto) órgãos do Poder Público para 20 (vinte) assentos.

Os 40 (quarenta) assentos da sociedade civil – redes, fóruns, movimentos, associações e organizações juvenis da representação nacional e entidades de apoio, são representados por 67 (sessenta e sete) entidades entre membros suplentes e titulares. Essa configuração mostra o campo contraditório e rico que antecede a formulação de políticas para a juventude.

A este respeito, Abramo (2007b) argumenta que:

Se essa diversidade de atores, questões, modos de compreensão e perspectivas implica na montagem de um quadro plural, é preciso lembrar que poucas vezes essas diferenças se confrontaram ou mediram forças; posições diferentes raramente constituíram disputas ou mesmo polêmicas explícitas, pois poucas vezes tais diferentes atores partilharam espaços públicos comuns. Do mesmo modo, pouca soma resultou dessa multiplicidade. Apesar dos recentes processos de seminários, encontros e fóruns já citados terem levantado inúmeras questões, pouco se avançou para além de uma ‗lista de demandas‘, sem muita articulação e delineamento de diretrizes, ou amplas bandeiras comuns (p. 17).

O Conjuve configura-se neste espaço plural, todavia há de se verificar se as negociações em curso avançaram em relação a lista de demandas apontadas por Abramo (2007b), principalmente em negociações com o poder público.

Ao desmistificar a ideia da atuação convencional de participação (movimento estudantil e partidário), percebe-se que a composição do Conjuve, conta com expressiva representação de instituições de juventude. Como já dito anteriormente, o Conselho é composto de representantes do poder público e também da sociedade civil, dos mais variados campos – especialistas, representantes de movimentos e organizações juvenis – que se dedicam a temática.

Diante desta constatação, fica uma problematização sobre a especificidade do conselho: se esse é um espaço institucional que abriga poder público e múltiplos atores sociais, entretanto, não é igual ao espaço dos movimentos sociais, que surgem e se aprimoram independentemente do governo, mas que também realiza a interlocução com o próprio movimento e representa um espaço conquistado para a interlocução e negociação com o governo, e cabe, então refletir sobre as questões: Como se dão as disputas por projetos? Que tensões e forças se revelam neste espaço de disputa? E, essencialmente, é um espaço de interlocução e negociação? Entendido desse mnodo convém considerar seus limites e possibilidades.

Por deliberação do plenário do Conjuve, desde 2008 os conselheiros da sociedade civil começaram a ser escolhidos por meio de processo eleitoral. Antes desse ano, os conselheiros eram indicados pelo governo, aspecto que gerava muitos conflitos, pois se entendia que essa indicação limitava a atuação desses conselheiros.

O processo eleitoral inclui as seguintes etapas: edital de convocação, inscrições das organizações interessadas, habilitação e assembleia. Existe, assim, a intenção de garantir a pluralidade das entidades representadas no conselho.