• Nenhum resultado encontrado

4 Organização da dissertação

CAPÍTULO 2 – REFLEXÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS E O CAMPO DA PESQUISA

2.1 Reflexões Metodológicas e procedimentos de pesquisa

2.1.6 Procedimentos da pesquisa de campo

A presente pesquisa foi realizada segundo uma abordagem qualitativa e considera a técnica de análise de conteúdo como uma das formas possíveis de tratamento dos dados das

entrevistas, dos questionários e das observações. Esses dados foram avaliados a partir da análise de conteúdo e da triangulação de métodos desenvolvida por Minayo (2005).

A proposta aqui discutida se refere à concepção de análise do conteúdo definida pela professora Laurence Bardin (1977), que aparece como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Trata-se de uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação (p. 19).

A análise de conteúdo é uma técnica empírica, depende do tipo de fala a que se dedica e do tipo de interpretação que se pretende ter como objetivo (BARDIN, 1977). Na presente pesquisa utilizou a técnica de categorias, a qual se refere a uma classificação dos elementos de significação constitutivos das mensagens. No primeiro momento, classificam-se os diferentes elementos do texto, segundo critérios susceptíveis para fazer surgir um sentido capaz de introduzir certa ordem na confusão inicial dos dados (BARDIN, 1977).

O objetivo é estabelecer uma correspondência entre o nível empírico e o teórico. Essa técnica permitiu verificar aspectos mais evidentes no discurso dos respondentes, no conjunto das respostas dos questionários e das entrevistas.

Na análise de conteúdo procuram-se vestígios que representem a ―manifestação de estados, de dados e de fenômenos‖ (BARDIN, 1977, p. 39), e se divide em três fases: 1) descrição: trata-se da enumeração de características do texto, determinadas a partir de categorias de análise que o pesquisador queira investigar ou aquelas que foram mais evidentes no discurso; 2) inferências: o pesquisador passa a realizar deduções lógicas que permitam chegar à interpretação das categorias manifestas; e 3) interpretação: trata-se do momento no qual, o pesquisador passa a dar significação às categorias analisadas a partir da literatura referente à área pesquisada.

A análise de conteúdo permite um arcabouço formal para a sistematização de atributos qualitativos e, no momento da interpretação dos dados coletados, ocorre o entrelaçamento do campo com a reflexão teórica. Nessa etapa realiza-se um tratamento descritivo, mas também, e principalmente, problematizador, que representa o primeiro passo da análise de conteúdo. Para tratar a seu respeito, cabe recorrer ao trabalho de Franco (2008) que, a partir de uma releitura do trabalho de Bardin (1977), revela etapas operacionais da análise de conteúdo: 1) uma vez coletados os materiais de trabalho, estes são organizados tendo em vista os modos como o pesquisador realiza a

manipulação; 2) o pesquisador localiza, no material de trabalho, as unidades de registro17, tendo em vista os objetivos da pesquisa, de modo a estabelecer unidades significantes. Ressalte-se que, neste estudo, as categorias foram suscitadas a partir do campo de pesquisa, ou seja, a posteriori; e 3) definição das categorias. Essa etapa é crucial, pois a qualidade da análise de conteúdo depende de suas categorias. A categorização suscita classes que agrupam um conjunto de elementos da unidade de registro. As classes são estabelecidas a partir da correlação entre a significação e a orientação teórica do pesquisador. Enfatize-se que, nesta pesquisa, levou-se em consideração a orientação teórica e os objetivos, de maneira a selecionar as categorias de análise.

Para Franco (2008, p. 59), a categorização é uma operação que visa a classificar os elementos constitutivos de um conjunto que, por definição, é seguida de um reagrupamento baseado em analogias a partir de critérios definidos. E que antes de iniciar o processo de análise de conteúdo, deve-se realizar a seguinte divisão: a) unidades de registro; e b) unidades de contexto.

Quanto às unidades de registro, a autora destaca que são ―a menor parte do conteúdo, cuja ocorrência é registrada de acordo com as categorias levantadas‖ (FRANCO, 2008, p. 41). Trata-se da seleção de trechos que exemplifiquem aquilo que o pesquisador quer investigar. Podem ser: a palavra, o tema, o personagem, o item. Todos devem ser precisamente delimitados pelo pesquisador e estar em evidência no discurso. Dentre as unidades de registro, a autora considera o tema como a mais útil em pesquisas sociais, pois incorpora com maior ou menor intensidade o aspecto pessoal atribuído pelo respondente acerca do significado de uma palavra e/ou sobre as conotações conferidas a um conceito. Assim, neste estudo, embasado neste referencial teórico- metodológico optou-se aqui por dar ênfase aos temas enquanto unidade de análise.

Já as unidades de contexto, segundo Franco (2008) são consideradas como uma espécie de pano de fundo que imprime significado às unidades de análise. Podem ser obtidas por meio de dados que expressem a caracterização dos entrevistados, suas aspirações, suas origens e outros aspectos necessários à compreensão da codificação da unidade de registro. Essa, por sua vez, corresponde ao segmento da mensagem, cuja função é compreender o significado da unidade de registro. A unidade de contexto é, assim, a parte mais ampliada do conteúdo a ser analisado, engloba os aspectos que permitem identificar o contexto do qual foram construídas as mensagens, como enfatizam Gamboa (2008) e Frigotto (2008), ao reforçar o fato de que o fenômeno não deve ser isolado do contexto histórico que o originou.

17 Bardin (1977) define ―a unidade de registro como a unidade de significação a codificar e corresponde ao

segmento de conteúdo a considerar como unidade de base, visando à categorização e a contagem frequencial‖ (p. 104). E podem ser definidas a priori ou a posteriori.

Frigotto (2008, p. 81) afirma, também ―o conhecimento se dá na e pela práxis. A práxis expressa, justamente, a unidade indissolúvel de duas dimensões distintas, diversas no processo de conhecimento: a teoria e a ação‖. Uma imersão nesse movimento de múltiplas mediações delineia o percurso obrigatório que forma o método dialético e evidencia aspectos não visíveis da realidade.

Tendo em vista a seleção de categorias, estas podem ser definidas a priori, suscitadas pelo referencial teórico ou por categorias apontadas a posteriori, ou seja, após a apreciação do material, optou-se nesse estudo a segunda possibilidade. Essa escolha foi feita por considerar que as categorias emergem da práxis da realidade a conhecer, no caso do material e das falas, isto é do conteúdo das respostas. Também, recorreu-se a triangulação de métodos proposta por Minayo (2005). Essa estratégia de avaliação pode ser utilizada com tranquilidade para analisar os dados de pesquisas qualitativas, pois se baseia na complementariedade e dialética, ―fazendo dialogar questões objetivas e subjetivas privilegiando a análise dos consensos, dos conflitos e das contradições que são indícios de mudança‖ (p. 29). E amplia o leque de possibilidades teórico- metodológico ―de forma a perceber movimentos, estruturas, ação dos sujeitos, indicadores e relações entre micro e macro realidades‖ (p. 29).

Minayo (2005), referindo-se aos estudos de Denzin (1973), conceitua triangulação, como: A combinação e o cruzamento de múltiplos pontos de vista; a tarefa conjunta de pesquisadores com formação diferenciada; a visão de vários informantes e o emprego de uma variedade de técnicas de coleta de dados que acompanha o trabalho de investigação. Seu uso, na prática, permite interação, crítica intersubjetiva e comparação (p. 29).

Pode-se também compreender a triangulação de métodos como investigação que integra a análise das estruturas, dos processos e dos resultados, além da compreensão das relações envolvidas na implementação das ações do projeto. Nesse sentido, vale recorrer à investigação das contribuições metodológicas segundo Denzin (1973), para quem os ―instrumentos de iluminação da realidade são considerados sob vários ângulos. O autor demonstra que essa prática propicia maior claridade teórica e permite aprofundar uma discussão interdisciplinar de forma interativa e intersubjetiva‖ (DEZIN apud MINAYO, p. 30).

Assim, uma maior valorização de cada processo caracterizado pelas mediações identificadas no contraditório campo em que se dão, de modo a estabelecer o intercâmbio de técnicas e métodos a favor do esclarecimento e do aprofundamento dos vários aspectos da realidade estudada. Tem-se, assim, no estudo do Conjuve, a utilização de várias fontes de informação.

Entretanto, Minayo (2005) alerta que os diferentes métodos, técnicas e estratégias devem ser triangulados com precisão científica, isto é, levando-se em consideração as especificidades e limitações de cada um. A autora ressalta também que os métodos precisam ser utilizados com rigor, na tentativa de reduzir o máximo possível às ameaças internas e externas à sua legitimidade, bem como devem ser selecionados de acordo com a relevância teórica de cada um.

Neste capítulo consistir em analisar os dados coletados na pesquisa de campo a partir das técnicas de análise de conteúdo e da triangulação de métodos como formas coerentes da utilização do método dialético, que embasa esse estudo.