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4 Organização da dissertação

CAPÍTULO 3 – REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E O CENÁRIO DAS DESIGUALDADES

3.5 Jovem, Educação e o mercado de trabalho

A questão da profissionalização e os aspectos relacionados ao mercado de trabalho são temáticas recorrentes nas reuniões do Conjuve, fato que evidência o quanto esse aspecto é essencial para a juventude brasileira e corrobora com o que a literatura já afirma: o mundo do trabalho faz parte dos processos fundamentais de caracterização da juventude no ciclo de vida.

Entretanto, no Brasil em decorrência da situação de vulnerabilidade econômica em que vive um grande número de famílias, o trabalho precoce ainda faz parte da experiência juvenil para uma grande parte da população (AQUINO, 2009; NOVAES, 2009; BARBER-MADDEN; SABER, 2009 e ANDRADE; NETO, 2007). De modo que a necessidade de sobrevivência obriga uma parcela crescente dos jovens a conciliar os estudos com o trabalho e aqueles que abandonam definitivamente os estudos para somente trabalhar.

Segundo Lobato e Labrea (2013), a juventude é um período em que deveria ocorrer um conjunto de elementos que garantem a autonomia material e afetiva dos sujeitos. Esses elementos dizem respeito à escolarização, à profissionalização, às relações afetivo-sexuais, à reprodução e à participação social. Para realizar a transição à vida adulta, é imprescindível que os jovens combinem esse conjunto de elementos aos recursos materiais e sociais disponíveis. Ressaltam, também, que ―a juventude se dá por tempos e modos distintos, na medida em que essa transição

pode ser mais curta ou mais alongada, dada a conformação social e econômica na qual o jovem está inserido‖ (LOBATO; LABREA, 2013, p.34).

Para as autoras, a pobreza implica a privação não apenas dos recursos para subsistência, mas, principalmente, a limitação da autonomia para a tomada de decisão sobre os recursos materiais e sociais disponíveis para sua inserção na vida adulta. A garantia e a ampliação dos direitos civis, políticos e sociais dos jovens com o estabelecimento de ações de atuação emergenciais, com medidas diretas; e as de médio e longo prazo que garanta o acesso a estes direitos de modo permanente e estruturado, mas nem sempre isto tem ocorrido, como evidencia a tabela 10.

Tabela 10: Situação da inserção no mercado de trabalho dos jovens de 15 a 29 anos

A partir da tabela pode-se observar que a inserção no mercado de trabalho está fortemente ligada às características sociais estruturantes da desigualdade brasileira, tais como: o gênero, a idade, a raça/cor e o território. Os dados mostram que os homens têm maior acesso ao trabalho do que as mulheres e quanto mais velhos, mais chances de conseguir emprego. Ao acrescentar a categoria território e raça/cor constata-se que os jovens brancos e de zona urbana têm maior acesso ao emprego do que os jovens negros e de zonas rurais, aspectos que evidenciam a existência de forte desigualdade e exclusão social que se refletem na diferenciação das trajetórias de vida dos jovens e que penaliza um segmento mais que outro. Nesse contexto, verifica-se a incidência de índices de desemprego bem mais elevados especialmente entre os jovens quando comparado às demais faixas etárias e em particular, jovens negros, e de zona rural.

Segundo Reis (2013), a taxa de desemprego entre os jovens é geralmente bem maior do que a verificada para o total da População Economicamente Ativa (PEA). Para o período de janeiro de 2003 até setembro de 2010, a média da taxa de desemprego registrada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, para as 6 (seis) principais Regiões Metropolitanas (RMs) brasileiras, foi de 7,01%. Entre os indivíduos na faixa etária de 25 até 65 anos, 4,85% se encontravam desempregados nesse mesmo período, enquanto para os jovens com idade entre 18 e 24 anos, a taxa de desemprego foi de 17,21%.

jovens e deve-se à geração insuficiente de postos de trabalho para abrigar toda a população trabalhadora‖ (p.121). Por outro lado, garantir maior espaço no mercado de trabalho aos jovens, seria à custa do aumento do desemprego entre os adultos. Assim, se faz necessário reunir esforços para incluir os jovens ao mundo do trabalho, ao passo que também é preciso reconhecer e valorizar seu potencial de ampliar quantitativa e qualitativamente a força de trabalho.

Segundo Gonzalez (2009), diante das elevadas taxas de desemprego juvenil e da precariedade das ocupações disponíveis aos jovens, as políticas de juventude expressam basicamente três tipologias no que se refere ao trabalho. A primeira é preparar o jovem para fazer a transição, procurando facilitar sua contratação e proporcionar melhores condições de trabalho ao passo que a outra, ao contrário, procura prolongar sua escolarização, o que pressupõe retardar a entrada no mercado de trabalho. E, por fim, a terceira opção é aquela que visa regularizar a participação dos jovens no mercado de trabalho em conciliação com a continuidade dos estudos. Na perspectiva de adiar a entrada dos jovens no mercado de trabalho, tem-se como resposta do governo federal a combinação em um programa a preparação para o trabalho juntamente com a elevação da escolarização e prestação de serviço comunitário que é o ProJovem. Essa perspectiva parte do princípio da manutenção dos jovens na escola até 17 anos e também oferecer oportunidade de elevação de escolarização para aqueles que estão acima desta idade e que não concluíram o ensino fundamental.

Ao estudar o período de 2000 a 2010, as autoras afirmam que houve também a ampliação de jovens inseridos no mercado de trabalho, em um total de 53,5% contra apenas 44,8% na década anterior. Essa informação aponta que a educação está diretamente ligada ao acesso ao mercado de trabalho, mas conjugar estudo e trabalho é uma tarefa difícil para os jovens, especialmente aqueles de famílias de baixa renda, porque a conclusão do ensino médio não implica bons empregos.

Assim, concordando com as autoras e com a literatura sobre o assunto, a grande maioria dos jovens se insere no mercado de trabalho de maneira precária e, uma vez trabalhando, a possibilidade de continuar os estudos diminui, tornando as chances de conseguir um emprego melhor no futuro cada vez mais distante, o que gera um ciclo de insegurança e instabilidade que os acompanha na vida adulta. Por esse motivo é tão importante políticas públicas que favoreçam a continuidade dos estudos, a permanência na escola e o ingresso no ensino superior, gerando possibilidades de trabalho regular, a fim de que os jovens possam ganhar experiência e romper com esse ciclo de exclusão (p.35).

Cabe destacar, também que a lista de problemas associados à qualidade da educação é extensa que incluir, dentre outros, a falta de pertinência dos conteúdos pedagógicos ministrados à

realidade cotidiana e às demandas do mercado de trabalho. Esse cenário se reflete no gráfico 14, nele se pode observar que a maioria dos jovens (40,5%) só trabalha; 23,7% não estuda nem trabalha; 13% estuda e trabalha; e apenas 22% dos jovens conseguem conciliar a dupla jornada. Gráfico 14: Posição de ocupação dos jovens segundo situação de estudos

Fonte: Lobato e Labrea (2013), a partir do Censo Demográfico 2010.

Outro fator que demonstra a necessidade de políticas públicas focadas na relação educação e trabalho é a concentração de jovens com escolaridade abaixo do ensino básico, como já demonstrado nos apontamentos anteriores.

Para Lobato e Labrea (2013) as chances de inserção no mercado de trabalho só aumentam com o ingresso no ensino superior com pode ser observado no gráfico15:

Gráfico 15: Situação da ocupação dos jovens segundo escolaridade

Fonte: Lobato e Labrea (2013), a partir do Censo Demográfico 2010.

O gráfico 15 também expõe que aproximadamente 35% dos jovens cursaram o ensino fundamental e 46,3% cursaram o ensino médio. Diante do cenário exposto, percebe-se a necessidade de políticas públicas que proporcionem melhores condições de vida, retorno aos estudos, formação profissional e, consequentemente, reinserção ou inserção mais qualificada no mercado de trabalho, como estratégia de promoção da autonomia dos jovens. Por outro lado, ao

fazem com que a aprendizagem se apresente como alternativa e oportunidade para os jovens se inserirem de forma mais qualificada no mercado de trabalho.

Entende-se, igualmente, que o debate simplificado sobre a profissionalização da juventude pode promover a retomada indesejável da Teoria do Capital Humano e o retorno da subordinação da educação aos interesses do mercado do trabalho. Entretanto, para enfrentar as dificuldades de acesso e permanência no sistema escolar e as barreiras para a inserção produtiva e social dos jovens, faz-se necessário que a educação seja proposta na perspectiva da emancipação humana (FRIGOTTO, 2008). Ou seja, não é suficiente apenas a formação de técnicos, mas de pessoas que compreendam a realidade e que possam atuar como profissionais em um mundo cada vez mais competitivo e desigual.

Não se pode considerar como única função educativa em cursos profissionalizantes apenas os saberes relacionados com a prática profissional, pois, como isso, é provável que ocorra a negação de elementos fundamentais para a compreensão profunda de suas práticas e raízes das desigualdades que se conectam às múltiplas realidades do campo educacional. A exclusão neste ambiente não é geracional, posto que seja fruto da desigualdade regional, mas também, racial, de gênero, além do econômico. Os dados mostram que a universalização da educação básica é hoje uma realidade próxima, mas a evasão permanece alta, super-representada no segmento de jovens negros e pobres, conforme os dados expressam. Essa percepção só é possível, porque se adota uma perspectiva histórico crítica e se articula ao método dialético. Não despreza a totalidade que se dá nas múltiplas mediações das diferenças revela a complexidade da educação. Dessa maneira não ignora outras formas de saberes e as contribuições de diferentes culturas, como essenciais para mudar a situação em tela da juventude brasileira.

Pode-se inferir que a problemática da permanência da juventude na escola se conecta a demandas e necessidades estruturantes que compõe o quadro da expulsão dos sistemas de ensino. Nota-se que, no primeiro ciclo do ensino fundamental, há uma equiparação idade-série esperada, entretanto, a maior problemática se apresenta nas séries finais do ensino fundamental, conforme destaca o Censo Escolar 2012, ao afirmar que, observando o tamanho da coorte adequado ao ensino médio, conclui-se que há espaço para a expansão dessa etapa de ensino. Isso, entretanto, só será alcançado com a melhoria do fluxo escolar no ensino fundamental, etapa que gera demanda para o ensino médio. Como se percebe isto ainda não é uma realidade.

Os jovens na faixa de 15 a 29 anos de idade, em sua maioria, são os que mais evadem da escola, especialmente os jovens de origem rural, negros, do sexo masculino e pobre, são eles que procuram a Educação Profissional e Tecnológica, conforme demonstra a tabela 11. Por isso, nota-se

uma baixa presença no ensino superior para os jovens que se encontram na faixa de 18 a 24 anos (população potencial do ensino superior).

Tabela 11: Número de Matrículas na Educação Profissional Técnica, por Faixa Etária.

2006 2009 Total 744.690 857.195 De 0 a 14 anos 7.170 1.172 De 15 a 17 anos 100.052 (13,44%) 104.483 De 18 a 19 anos 130.755 (17,56%) 150.950 De 20 a 24 anos 230.028 (30,89%) 261.365 De 25 a 29 anos 128.813 (17,3%) 146.650 De 30 a 39 anos 99.264 131.540

Fonte: Elaboração da autora, a partir do Censo Escolar 2006 e 2009.

Ao analisar a taxa de frequência líquida desse coorte, no período de 1992 a 2007 na PNAD, Castro (2009) evidencia o resultado das evasão e os problemas de escolarização, desta faixa etária, constata-se que apenas 13% estão no ensino superior, ou seja, uma parcela mínima da população na faixa etária adequada. O autor atribui esse insucesso aos entraves observados no fluxo escolar do ensino fundamental e médio, que têm elevada taxa de evasão e baixa taxa conclusão (p. 693), essa situação vem mudando nas últimas décadas, mas ainda de forma lenta.

Ao confrontar os dados de 2007 com os demonstrados na PNAD 2011 (tabela 12) percebe-se que a taxa de frequência do ensino superior passou de 13% para 14,6% dos jovens, em quatro anos. É provável que o aumento da frequência líquida seja um dos efeitos da política de ampliação do acesso ao ensino superior em curso, tais como: PROUNI, FIES e REUNI28, que não será tratado em maior profundidade, por distanciar-se dos objetivos desse estudo.

28 1) Programa Universidade para Todos – PROUNI foi instituído pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, sob a

execução do Ministério da Educação. É destinado à concessão de bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de cinquenta por cento ou de vinte e cinco por cento para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos. Em contraposição, oferece isenção de tributos as instituições de ensino superior que fazem a adesão ao programa. O objetivo principal é possibilitar o acesso ao ensino superior de qualidade de estudantes com baixa renda e provenientes de escola pública ou privada (na hipótese de bolsista integral).

2) Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior – FIES foi instituído pela Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, alterado pela Lei nº 11.552, de 19 de novembro de 2007 e Lei nº 12.202, de 14 de janeiro de 2010 e regulamentado pela Lei nº 12.513, de 26 de outubro de 2011, sendo desenvolvido pelo MEC e objetiva ampliar o acesso de estudantes ao ensino superior, destina-se à concessão de financiamento a estudantes matriculados em cursos superiores em instituições privadas de ensino superior, podendo beneficiar estudantes de cursos da educação profissional e tecnológica, bem como em programas de mestrado e doutorado. A partir de 2010, a gestão do programa foi passou a ser operadora pelo FNDE, e permitindo aos estudantes contratar o financiamento em qualquer época do ano.

3) Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI foi instituído