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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO DA INVESTIGAÇÃO

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quadro nº 1 - Síntese das Estruturas/Sistemas de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências: Portugal, França e Espanha

Adaptado, Pires (2005)

PORTUGAL FRANÇA ESPANHA

DENOMI NA ÇÃ O CRVCC- Centro de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências; BC-Bilans de compétences;

VAP-Validation des Acquis Professionnels ;

Certificados de Profesionalidad ENTIDA D ES RE SPON SÁV EI S DGFV-Direcção-Geral de Formação

Vocacional que acredita entidades com vista promoção de um CRVCC

BC-entidades prestatárias (COPACIF, ANPE,

APEC) e CIBC;

VAP-ministérios da Educação Nacional no

Ensino Superior e Ministério Agricultura.

INEM - Ministério do Trabalho e

da Segurança Social

OBJE

CTIVOS

Certificação das competências que as pessoas adquiriram ao longo da vida mediante atribuição de uma equivalência escolar correspondente ao 3º, 2º, 1º Ciclo do Ensino Básico

BC-fazer o balanço das experiências

passadas, identificar as competências pessoais e profissionais e as atitudes dos sujeitos, para definir um projecto profissional e, se for caso, um projecto de formação;

VAP-aceder a um diploma (ou parte) do

ensino superior, profissional ou tecnológico. Permite a dispensa de provas e abrevia o percurso de obtenção do diploma completo. Validação para entrada no ensino superior sem a posse do diploma normalmente exigido.

Acreditação das competências profissionais adquiridas em diversos contextos, formais e informais (formação,

experiência, ou a combinação de ambas), para obtenção de uma qualificação profissional.

BLICO-ALV

O Todos as pessoas, com mais de 18 anos, que pretendam ver

reconhecidas – pessoal, social e oficialmente – as competências, conhecimentos e saberes que foram adquirindo ao logo da vida nos mais variados contextos.

BC-abrange todo o tipo de público; VAP-inclui candidatos que tenham

desenvolvido uma actividade profissional relacionada com o diploma pretendido, durante um período mínimo de 5 anos de forma continua ou não.

Todos os trabalhadores que possuam experiência num domínio de actividade.

METODOLOGIA

Realização de um dossier pessoal

/portfolio

BC-assenta numa metodologia diversificada:

entrevistas, abordagens autobiográficas, exames, testes, questionários, simulações,

elaboração de dossiers e portfolios de

competências;

VAP- elaboração de dossiers que incluem a apresentação pessoal, a formação realizada, diplomas obtidos, estágios, descritivo da actividade profissional, informações sobre empresas e organizações empregadoras, etc.

Realização de exames, cujas provas são baseadas em unidades de competências dos perfis profissionais. Os testes são de natureza teórica e prática. Prevê-se a criação de um sistema de avaliação informatizado para testes teóricos. RE FE RE NCIAIS UTILIZADOS Referencial de Competências-Chave definido pela, extinta, ANEFA

BC-não utiliza um referencial definido a priori

VAP- o referencial deste dispositivo é o nível

de conhecimento e de atitudes referidos nas unidades que constituem os diplomas. Baseia- se no quadro nacional de qualificações existente.

Este sistema tem como referência um reportório nacional baseado em referenciais de competências para cada profissão. As unidades de competência que constituem cada perfil são identificadas a partir da análise do sistema produtivo.

Da análise atenta percebemos da variedade dos dispositivos que são utilizados para o reconhecimento e validação das aprendizagens adquiridas ao longo da vida nos mais variados contextos (não-formais,informais e até formais). Cada um dos respectivos dispositivos reflecte a realidade e o contexto nacional de cada país, não obedecendo a um modelo único, mas evidenciando, pontos convergentes sobre a mesma problemática. De igual forma, as próprias designações dos sistemas ou dispositivos são diferentes, traduzindo os conceitos utilizados em cada realidade nacional. A este respeito, em Portugal, podemos falar de “reconhecimento, validação e certificação” de competências mas, em Espanha falamos de “Certificação” e em França, referimo-nos a “Validação”.

As entidades responsáveis pelos sistemas dependem geralmente de uma estrutura tutelada por um determinado ministério. Em Portugal os CRVCC estão sob a tutela do Ministério da Educação, em França sob a tutela dos ministérios da Educação Nacional no Ensino Superior e Ministério Agricultura e em Espanha sob o Ministério do Trabalho e da Segurança Social.

Os objectivos subjacentes aos três dispositivos baseiam-se na valorização formal das aprendizagens e das competências adquiridas ao longo da vida por qualquer via. O processo de reconhecimento não se finaliza com obtenção de um diploma, titulo ou certificado institucionalmente reconhecido, finaliza-se geralmente com a elaboração de projectos profissionais, formativos e pessoais.

As metodologias utilizadas são diversificadas, no entanto, é possível encontrar convergências a nível metodológico, nomeadamente no que diz respeito às etapas dos processos de reconhecimento, validação e à elaboração de dossiers e portfolios de competências. Em Portugal, a elaboração dos dossiers/portfolios pessoais, constitui o produto final da realização da primeira fase do RVCC (balanço de Competências), mediante o qual os técnicos, em confronto com Referencial de Competências-Chave,

verificam se o adulto reúne as competências para obter o nível de Certificação pretendido.

Os referenciais adoptados pelos três países são variáveis. Em França, não existem referenciais ao nível do reconhecimento de competências porque são externos e definidos a priori. Em Portugal os referenciais de Competências-Chave são definidos pela Direcção-Geral de Formação Vocacional e remetido posteriormente aos Centros, os quais conduzem a certificações escolares com equivalência aos diplomas em vigor no sistema de ensino formal. Em Espanha definem-se referenciais para cada profissão, sendo as unidades de competências que constituem cada perfil identificadas a partir da análise do sistema produtivo.

Da análise que acabámos de efectuar, relativamente aos diferentes sistemas e dispositivos de validação e certificação de competências existentes em Portugal, França e Espanha, podemos constatar que apesar da proximidade geográfica, possuem modelos muito próprios com alguma convergência. Apesar de todos se centraram nas aprendizagens informais que as pessoas realizaram ao longo dos seus trajectos de vida, os dispositivos implementados possuem diferentes finalidades, características, estruturas e procedimentos. Independentemente deste facto, importa ressaltar que o Sistema de RVCC em Portugal teve como referência a metodologia de Balanço de Competências própria da França. Da mesma forma, a estrutura e organização dos próprios sistemas permitiu-nos perceber o grau de importância que cada um dos países atribui às aprendizagens não-formais e informais.

A este respeito, podemos, então, constatar que a Espanha, comparativamente aos restantes países, não possui grande tradição no âmbito da certificação de competências adquiridas ao longo da vida, pois coloca ainda uma grande ênfase nos percursos formais de educação e de formação descurando, em certa medida, o valor das aprendizagens decorrentes do percurso de vida. O mesmo não se sucede relativamente à

França que desde o início da década de oitenta e, no âmbito da formação contínua, começou a implementar as práticas de Reconhecimento, Validação das aprendizagens experienciais, impulsionadas em parte pela cooperação desenvolvida com Québec no domínio da investigação e da educação.

Em Portugal foi, sobretudo, no ano 2000 que se começou a dar uma grande ênfase às aprendizagens experienciais com a criação de uma Rede de Centro de RVCC que têm vindo a aumentar gradualmente do Norte ao Sul do País. Esta rede de Centros tem vindo a afirmar-se cada vez mais no terreno, e um forte reflexo desta realidade prende-se com o facto de começarem a surgir Centros em regime de auto-fianciamneto.

Este facto revela-se pertinente se tomarmos por referência a análise efectuada nos países da União Europeia que demonstra que Portugal é, apesar do esforços empreendidos durante a vigência dos I e II Quadro Comunitário de Apoio, o país que apresenta os mais baixos índices de qualificação escolar. Num universo de cinco milhões de adultos activos, mais de três milhões não atingiram os nove anos de escolaridade, o que corresponde a uma taxa demasiado elevada e pesada para o nosso país.

Face a este panorama Portugal através do Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências tem procurado através desta estrutura de Educação e Formação de Adultos valorizar e reconhecer socialmente as aprendizagens que as pessoas adquiriram ao longo da sua vida nos mais variados contextos (lifewide).

À semelhança dos países sobre os quais nos debruçamos, os Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências orientam-se por objectivos muito próprios, destina-se a um público-alvo abrangente, orienta-se por um referencial de Competências-Chave que se assume como um instrumento imprescindível no enquadramento das aprendizagens adquiridas pelas pessoas, via à certificação de competências e possui uma metodologia diversificada que assente no balanço de

competências á qual permite às pessoas descobrirem as suas potencialidades pessoais, profissionais e sociais contribuindo para a (re)construção ou (re)definição de um projecto de vida.

CAPÍTULO II

APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA: UMA MODA OU UM NOVO PARADIGMA?

Neste capítulo apresentamos, num primeiro momento, o processo de transição do conceito Educação ao longo da vida para o de Aprendizagem ao longo da vida. Este último resulta de exigências de uma sociedade em constante mutação que, cada vez mais, valoriza indivíduos capazes de se movimentar numa sociedade competitiva. Num segundo momento, debruçamo-nos sobre a, perda relativa da importância da escola, como veículo legitimo e socialmente reconhecido de transmissão de conhecimentos e saberes. Na actualidade, o monopólio que era reservado à escola na transmissão de saberes e conhecimento cede lugar, paulatinamente, a outros sistemas de educação/formação não-formal e informal. Na realidade, a valorização de outros saberes veio reforçar a importância das pessoas investirem na sua formação/educação ao longo da vida e com a vida, tal como exige a denominada “sociedade da aprendizagem” ou “sociedade cognitiva”.