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Memorando sobre aprendizagem ao longo da vida – 2000

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO DA INVESTIGAÇÃO

2. AS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS/ORIENTAÇÕES POLITICAS NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO E

2.3. Memorando sobre aprendizagem ao longo da vida – 2000

O Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da Vida21 apesar de reforçar

algumas das ideias já preconizadas pelo Livro Branco introduz uma nova perspectiva de aprendizagem, mais ampla e complexa diluindo as fronteiras entre educação e formação e reconhecendo a importância dos contextos não-formais e informais de aprendizagem. A educação nesta perspectiva expande-se para além das fronteiras tradicionais e deixa de

21 O Memorando sobre Aprendizagem ao longo da vida foi elaborado pela Comissão Europeia com objectivo de implementar

uma estratégia “de aprendizagem ao longo da vida”, pretendendo ser um instrumento de debate e orientador, à escala europeia.

pertencer ao monopólio da educação/formação formal, ideia esta que será devidamente explorada mais à frente.

A estratégia de Aprendizagem ao longo da vida assume-se como uma prioridade para a União Europeia essencialmente por duas razões: a Europa encontra-se num período de transição para uma sociedade e uma economia assentes no conhecimento. Mais do que nunca, o acesso a informações e conhecimentos actualizados, bem como a motivação e as competências para usar esses recursos de forma inteligente em prol de si mesmo e da comunidade, estão tornar-se a chave do reforço da competitividade da Europa e da melhoria da empregabilidade e da adaptabilidade da força de trabalho e o facto dos europeus viverem num mundo político e social complexo. Mais do que nunca, os indivíduos querem planear as suas próprias vidas, esperando-se que contribuam activamente para a sociedade e aprendam a viver positivamente em contextos de diversidade cultural, étnica e linguística. Estes dois objectivos assumem-se como importantes para “promover a cidadania activa e fomentar a empregabilidade”. Neste contexto a Aprendizagem ao longo da vida tornou-se no princípio orientador de uma nova geração de programas comunitários nas áreas da educação, formação e juventude.

As conclusões do Conselho Europeu de Lisboa confirmam que a aposta na

Aprendizagem ao longo da vida deve acompanhar uma transição bem sucedida para uma economia e uma sociedade assentes no conhecimento onde os próprios indivíduos são os “actores principais das sociedades do conhecimento” (Comissão Europeia, 2000, p.8).

No âmbito da estratégia Europeia de Emprego, a Comissão e os Estados - Membros definiram Aprendizagem ao longo da vida como,

“[...] toda e qualquer actividade de aprendizagem, com um objectivo, empreendida numa base contínua e visando melhorar conhecimentos, aptidões e competências”(p.3), e o seus principais objectivos são promoção da cidadania e o fomento da empregabilidade.

A amplitude desta definição remete para outro tipos de aprendizagem formal, aprendizagem não formal e aprendizagem informal. Analisemos, então, cada um destes conceitos individualmente.

i) Aprendizagem formal compreende “a educação e formação ministrada num sistema de escolas, colégios, universidades e outras instituições de educação e ensino, em que a aprendizagem é organizada, avaliada e certificada sob responsabilidade de profissionais qualificados, correspondendo à aprendizagem no âmbito do sistema de educação e formação” (INE, 2004, p.8);

ii) Aprendizagem não-formal abrange a “formação que decorre normalmente em estruturas institucionais mais ou menos organizadas, podendo conferir certificação. Contudo, esta certificação não permite a progressão na sucessão hierárquica de níveis de educação e formação. Compreende a frequência de cursos, a participação em seminários, conferências, explicações, lições privadas, acções de formação no âmbito do emprego, cursos de recreio e lazer e toda a outra formação organizada e sustentada que não confere equivalência a níveis de ensino” (INE, 2004, p.8);

iii) Aprendizagem informal “decorre das actividades da vida quotidiana relacionadas com o trabalho, a família, a vida social ou lazer. Normalmente tem lugar fora de estruturas institucionais, decorrendo num ambiente de aprendizagem que o individuo pode organizar e estruturar livremente” (INE, 2004, p.8).

Até ao momento, a aprendizagem formal dominava o pensamento político, modelando as formas como são ministradas a Educação e a Formação. Todavia, o

contínuum de Aprendizagem ao longo da vida atrai para este cenário outros tipos de aprendizagem, nomeadamente a não formal e informal que importa considerar o seu valor. Sendo a aprendizagem não formal, por definição, aquela que ocorre fora das escolas, dos liceus, dos centros de formação e das universidades não tem sido, ao longo dos tempos, considerada como produtora de uma «verdadeira» aprendizagem, sendo por conseguinte subvalorizada. No entanto, a experiência da vida mostra-nos que os contextos informais proporcionam um enorme manancial de saber e poderão constituir uma importante fonte de inovação em matéria de métodos de ensino e aprendizagem.

A expressão Aprendizagem ao longo da vida «lifelong» coloca a tónica no tempo: aprender durante uma vida, contínua ou periodicamente. A recém-cunhada expressão aprendizagem em todos os domínios da vida «lifewide» vem enriquecer a questão,

chamando a atenção para disseminação da aprendizagem, que pode decorrer em todas as dimensões das nossas vidas e, em qualquer fase das mesmas. A dimensão “em todos os domínios da vida” coloca uma tónica acentuada na complementaridade das aprendizagens formal, não formal e informal, lembrando que uma aquisição de conhecimentos útil e agradável pode decorrer, e decorre de facto, no seio da família, durante o tempo de lazer, na convivência comunitária e na vida profissional quotidiana. A aprendizagem em todos os domínios da vida faz-nos também perceber que ensinar a aprender são papéis e actividades que podem ser alterados e trocados em diferentes momentos e espaços.

Contudo, esta é ainda objecto de diversas definições consoante os diferentes contextos nacionais e para variados fins. As análises politicas mais recentes neste domínio sugerem que as definições continuam a ser, em larga medida, informais e pragmáticas, associadas mais estreitamente à reacção do que à clareza conceptual ou a normas jurídicas. A força catalisadora que, nos anos noventa, voltou a colocar a

aprendizagem ao longo da vida nas agendas politicas foi a preocupação de melhorar a empregabilidade e a adaptabilidade dos cidadãos, à luz dos elevados níveis de desemprego estrutural que afectam com maior gravidade os trabalhadores menos qualificados. A perspectiva de uma população europeia em drástico envelhecimento significa que a necessidade de conhecimentos e competências actualizados não poderá ser satisfeita unicamente pela entrada de novos trabalhadores no mercado de trabalho, como acontecia no passado - serão demasiado poucos os jovens e o ritmo da mudança tecnológica é demasiado rápido, com especial incidência na célebre transição para economia digital.

Os diferentes Estados Membros admitem a necessidade de cooperação entre eles para a criação de várias parcerias para dar corpo a uma estratégia de aprendizagem ao longo da vida. O contínuo de aprendizagem ao longo e em todos os domínios da vida implica que os diferentes níveis e departamentos dos sistemas de educação e formação,

incluindo os domínios não-formais, devem trabalhar em estreita concertação. Neste caso, trabalhar em conjunto de forma eficaz significará ir para além dos esforços em curso para construir pontes e percursos entre as diferentes partes dos sistemas existentes.

Como resposta a estas inquietações foram lançadas pela Comissão seis mensagens-chave que sugerem uma estratégia global e coerente de aprendizagem ao longo da vida para a Europa entre as quais passamos a destacar:

Mensagem 1: Novas competências básicas para todos

Objectivo: garantir acesso universal e continuo à aprendizagem, com vista à aquisição e renovação das competências necessárias à participação sustentada na sociedade do conhecimento:

Mensagem 2: Mais investimentos em recursos humanos

Objectivo: aumentar visivelmente os níveis de investimento em recurso humanos, de modo a dar prioridade ao mais importante trunfo da Europa – os seus cidadãos;

Mensagem 3: Inovação no ensino e na aprendizagem

Objectivo: Desenvolver métodos de ensino e aprendizagem eficazes para uma oferta contínua de aprendizagem ao longo e em todos os domínios da vida

Mensagem 4: Valorizar a aprendizagem

Objectivo: melhorar significativamente a forma como são entendidos e avaliados participação e os resultados da aprendizagem, em especial da aprendizagem não- formal e informal;

Mensagem 5: Repensar as acções de orientação e consultadoria

Objectivo: assegurar o acesso facilitado de todos a informações e consultadoria de qualidade sobre oportunidades de aprendizagens em toda a Europa e durante toda a vida;

Mensagem 6: Aproximar a aprendizagem dos indivíduos

Objectivo: providenciar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida tão próximas quanto possível dos aprendentes, nas suas próprias comunidades e apoiadas se necessário em estruturas TIC (cf. Comissão Europeia, 2000).

2.4. Tornar o Espaço Europeu de Aprendizagem ao longo da vida uma realidade -