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DAS VELHAS COMPETÊNCIAS ÀS NOVAS COMPETÊNCIAS BÁSICAS – UM REQUISITO DA

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO DA INVESTIGAÇÃO

5. DAS VELHAS COMPETÊNCIAS ÀS NOVAS COMPETÊNCIAS BÁSICAS – UM REQUISITO DA

Vivendo numa sociedade denominada de “conhecimento” e “Informação” emerge a necessidade das pessoas se apropriarem de competências transversais, essenciais e indispensáveis à empregabilidade, ao exercício da cidadania, ao acesso à cultura e ao desenvolvimento de novas aprendizagens tão apregoadas no Livro Branco da Educação e Formação ”Ensinar a aprender”. Rumo a uma sociedade cognitiva. No Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da vida a aquisição de novas “competências básicas para todos” constitui a primeira mensagem, a qual tem como objectivo “garantir o acesso universal e contínuo à aprendizagem, com vista à aquisição e renovação das competências necessárias à participação sustentada na sociedade do conhecimento” (CCE, 2000,p.11).

A aquisição destas competências constitui um fundamento essencial da cidadania activa e da empregabilidade na Europa do Século XXI. Como reforça o Memorando sobre a Aprendizagem ao longo da vida

“[...] as mutações económicas e sociais estão a transformar e a actualizar o perfil de competências básicas que todos devem possuir enquanto requisitos mínimos, permitindo a participação activa na vida profissional, familiar e em todos os níveis da vida das comunidades, da esfera local e à europeia”. Um sólido domínio destas competências é crucial para todos, mas

é apenas o início de um contínuo de aprendizagem ao longo da vida. Os mercados laborais actuais exigem perfis de competências, qualificações e experiências em permanente mudança” (Comissão Europeia, 2000, p.12)

As novas competências básicas, as quais estão consagradas nas conclusões do Conselho Europeu de Lisboa (paragrafo 26) incluem competências em TIC, línguas estrangeiras, cultura tecnológica, espírito empresarial e competências sociais. Como salienta no Memorando, não se trata de uma lista exaustiva, mas abrange algumas das áreas fundamentais não implicando, no entanto, que as competências básicas tradicionais em literacia e numeracia deixem de ser importantes. Estamos aqui apresentar não um inventário de disciplinas ou matérias, mas sim, áreas amplamente definidas de conhecimentos e competências, todas elas interdisciplinares.

Nos últimos anos muitos têm sido as investigações empíricas, análises teóricas e experienciais institucionais realizadas nomeadamente por estudos internacionais sobre literacia dos adultos, coordenados pelo Statistics Canada e pela OCDE, como o

International Adult Literacy (IALS) (OCDE e Satistics Canada, 2000) e até mesmo em Portugal com o estudo Nacional de Literacia realizado por uma equipa sob coordenação de Ana Benavente. Considerando este último, constatou-se que a população adulta portuguesa possuí níveis de competência em leitura, escrita e cálculo muitíssimos baixos em comparação com os restantes países da OCDE analisados (OECD e Statistcs Canadá, 200). Obviamente que este aspecto não se assume como surpreendente atendendo ao facto que os níveis de escolaridade dos portugueses se encontram a enorme distância, por exemplo, da média Europeia. E em comparação com os restantes países na Europa, há já muito tempo que cumpriram com este objectivo, o mesmo não se sucedeu em Portugal onde cerca de 3,2 milhões de adultos activos (em 4,7 milhões) não possuem essas competências ou não as possuem reconhecidas e certificadas.

Num mundo globalizado, complexo, competitivo e acima de tudo incerto não é suficiente a educação e formação inicial, isto é, aprender até aos 12/15/18 anos. É necessário não só garantir isso mas depois continuar a investir incessantemente nas

nossas aprendizagens e com um nível cada vez maior de exigência porque ao longo de toda a nossa vida a ciência e a tecnologia se renovam todos os dias (cf. Trigo, 2002).

Todavia, apesar deste panorama tão sombrio reforça-se a necessidade de às velhas competência básicas (ler, escrever e contar) acrescerem agora as «novas competências básicas para todos» designadas pelo Memorando da Comissão Europeia sobre Aprendizagem ao Longo da Vida como sendo as Tecnologias da Informação e Comunicação, a Internet, a utilização corrente do computador e, também, o espírito empreendedor e científico, a par do espírito de cooperação e de abertura num mundo que se globaliza a ritmos impensáveis.

Considera-se hoje que estas competências básicas, Competências-Chave ou Core Competence são fundamentais, essenciais e transversais e constituem uma espécie de passaporte para continuar aprender ao longo da vida. A aquisição destas competências básicas deve ser feita continuamente e com o corpo todo como diria Piaget (muito antes das investigações de António Damásio) que nos ensinou que se aprende, cresce, trabalha, vive e convive com o corpo e alma toda, ao contrário de Descartes e seus seguidores que se enganaram quando separaram a razão da emoção ou da não-razão, o corpo da alma, a inteligência das emoções (cf.Trigo, 2002).

Não podemos esquecer, que a promoção de uma politica de Aprendizagem ao longo da vida pressupõe e impõe a aquisição das designadas competências básicas, essenciais ou criticas para todos, jovens e adultos. Entendendo que a Aprendizagem ao longo da vida remete para o facto de que todas as pessoas aprendem em todas as fases da sua existência e que devem ser dada a possibilidade de actualizar as suas competências ou de obter novas competências sejam elas de âmbito pessoal ou profissional. Então, sem essas competências básicas ou chave (literacia linguística, numérica, tecnológica, cientifica, cultural e comportamental) não há aprendizagem autónoma (ou mesmo assistida por professores ou tutores) ao longo da nossa vida

pessoal e profissional. Aliás esta ideia constitui a primeira mensagem do Memorando da Aprendizagem ao Longo da vida o qual reforça apelando aos Estados Membros para que assegurem «novas competências básicas para todos». Estas competências básicas assumem-se como um imperativo ético, social, solidário, estratégico e indispensável ao melhor desempenho pessoal, profissional e qualificação do país e as suas organizações: culturais, educativas, formativas, científicas, económicas e empresariais. Sem estas competências básicas não há Aprendizagem ao longo da vida sólida, estruturada e certificada.

“Aprender é uma tarefa para toda a vida mas ninguém pode aprender autonomamente a ao longo da vida sem possuir as chamadas competências básicas fundamentais ou críticas, as quais incluem designadamente: a literacia numérica, a literacia multicultural, a literacia da fala e comunicação com os outros, a literacia tecnológica, a literacia comportamental, a literacia cientifica a níveis cada vez mais exigentes e avançado” (Trigo, 2002, p.123).

A nova sociedade do conhecimento supõe, cada vez mais integradamente a universalidade e transponibilidade de competências chave que adquiridas em diferentes contextos constituem por sua vez ferramentas imprescindíveis para que os indivíduos possam movimentarem-se agilmente na chamada sociedade do conhecimento.

Face ao exposto importa referir, que o reforço da coesão social e da cidadania activa, no contexto da emergência de uma sociedade e uma economia baseadas na inovação e no conhecimento, implica aquisição destas novas competências. O contexto de uma sociedade educativa, onde a Aprendizagem ao longo da vida desempenhe um papel central para exercício activo da cidadania, para melhores empregos e melhor desenvolvimento implica a mobilização de competências.

6. APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA: ADAPTABILIDADE E EMPREGABILIDADE É do senso comum, o facto de as empresas já não obedecerem a padrões estáveis de organização, os empregos tornaram-se cada vez mais temporários e

frequentemente precários e a constante evolução tecnológica fez com que os conhecimentos e competências se vejam rapidamente ultrapassadas (Carneiro, 2004).

Desta forma, facilmente percebemos que as competências constituem uma condição sine qua non para a existência da empregabilidade. Neste sentido torna-se evidente que o conceito de competência e empregabilidade tecem estreitas relações. No entanto, cada um tem, possui um significado próprio, pois a competência pode ser entendida como a capacidade que um indivíduo tem em mobilizar recursos, nomeadamente a criatividade para que se possa produzir respostas adequadas ainda que em situações não-previstas, face a determinadas situações, podendo, ainda, a competência ser também entendida no seio de uma actividade exercida num determinado contexto organizacional, ou seja, sempre implicada num contexto. Por sua vez, o conceito de empregabilidade no Livro Branco da Educação e Formação ”Ensinar a aprender”. Rumo a uma sociedade cognitiva” - 1995, remete para a

“[...] capacidade de assegurar um emprego e de o manter – é não apenas uma dimensão central da cidadania activa, mas também uma condição decisiva do pleno emprego e da melhoria da competitividade e prosperidade europeias na «nova economia». Empregabilidade e Cidadania activa estão dependentes da existência de competências e conhecimentos adequados e actualizados indispensáveis à participação na vida económica e social” (Comissão Europeia, 1995,p. 6).

O tema, empregabilidade, baseia-se numa recente nomenclatura dada à capacidade de adequação ao novo mercado de trabalho e nada mais, é, do que, a capacidade que um individuo desenvolve, de acumular e manter actualizadas suas competências e sua rede de relacionamento e conhecimento, de forma a ter sempre em suas mãos o arbítrio sobre seu projecto de carreira.

Do exposto, torna-se cada vez mais claro, que o processo de crescimento da pessoa no que se refere à aquisição de competências, dos saberes e conhecimentos necessários a viver num mundo complexo em acelerada mudança já não tem lugar num único tempo e num único espaço como se aceitou no passado.

A Aprendizagem ao longo da vida deve acima, de tudo, procurar assegurar que qualquer pessoa possa adquirir conhecimentos necessários para tomar parte no contexto onde se move como cidadão activo face a uma sociedade do conhecimento e marcada por um mercado de trabalho competitivo e em constante mutação. O grande desafio que se coloca, cada vez mais, às nossas sociedades e aos sistemas formais de educação e formação, e a cada um de nós, é aceitação de que aprendizagem tem lugar permanentemente. Com o aparecimento do conceito Aprendizagem ao longo da vida

surge a noção de empregabilidade que designa a capacidade dos trabalhadores desenvolverem e actualizarem os seus conhecimentos e competências de forma a poderem manter o seu emprego, ou pelo, menos um emprego, durante a sua vida profissional.

O paradigma da Aprendizagem ao longo da vida

“[...] assenta numa grande dose de exigência pessoal. Cada ser humano tem de ter consciente a sua «carta de marear» e de ser capaz de se orientar nela, em cooperação com os demais membros da sua comunidade local...” (Carneiro, 2004,p.29).

Neste contexto de incerteza cresce de importância da temática da Identidade Vocacional. Segundo Carneiro (2004) a Identidade Vocacional é um construto pessoal que se vai aperfeiçoando ao longo da vida. Torna-se cada vez, mais importante, a construção de um instrumento pessoal de autonomia perante o mercado de trabalho a que o autor denomina de Identidade Vocacional. Este processo que Roberto Carneiro (2004) denominou de Identidade Vocacional,

“[...] permite manter o máximo de escolhas profissionais ao longo da vida, e fomenta as competências de autonomia e de sabedoria de gestão do património de conhecimentos ou de competências pessoais. Uma esclarecida Identidade Vocacional à parte indissociável de um projecto de vida e condição de plena liberdade individual” (p.29).

A manutenção de índices elevados de empregabilidade pessoal é o melhor antídoto ao trânsito precoce para inactividade” (Carneiro, 2004, p.25). São muitos e variados os ingredientes da empregabilidade. Pode-se, entretanto, sintetizá-los em três

componentes essenciais: competência profissional; disposição para aprender continuamente e a capacidade de empreender e adaptar-se às situações.

A educação e formação constituem, sem dúvida, um meio indispensável para “promover a coesão social, a cidadania activa, a realização pessoal e profissional, bem como adaptabilidade e a empregabilidade (Resolução de Conselho de Ministros, 2002/C 163/01, p.1). Se o individuo é sempre um ser em situação, e se cada situação é por natureza única, o individuo encontra-se sempre em contextos diferentes, uns mais semelhantes que outros, mas a situação é sempre inédita. Conseguir e saber agir, de uma forma competente, perante um conjunto de situações a que o tempo vai dando lugar, implica ser flexível e possuir um certo grau de adaptabilidade. Ser competente é ter a predisposição para enfrentar e saber gerir a mudança, num mundo onde as rápidas transformações se operam a todos os níveis. Ser competente é adaptar-se ao diferente e agir em conformidade com essas diferenças, que decorrem de uma sociedade onde o global dá visibilidade ao local, onde as diferentes etnias, religiões e valores coabitam num espaço que deve ser partilhado. Partilhar esse espaço tão múltiplo e divergente requer capacidades de adaptação e de flexibilidade (Almeida, 2003, p.88).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No nosso entender Portugal está viver uma fase de transição, entre o tempo em que apenas as elites tinham direito a ser educadas e o tempo em que todos os cidadãos passaram a ter direito ao acesso e ao sucesso na escola, com a finalidade de melhorarem a sua qualidade de vida. Na década de setenta, quando a educação passou a assumir um valor primordial no âmbito das políticas educativas nacionais, foram tomadas decisões no sentido de abrir a escola a qualquer cidadão, como foi o alargamento da escolaridade básica e as medidas sociais de apoio à igualdade de oportunidades.

Lima (2002a) refere a este respeito que a

“[...] a construção de uma escola democrática representa um ideal de realização muito exigente em tempo e em recursos, mas talvez sobretudo em termos de projectos e de vontades politicas, como historicamente ficou demonstrado sempre que governos e elites evidenciaram pouco apego a ideais educativos humanistas e se revelaram descomprometidos face à educação, ao esclarecimento e à emancipação da maioria dos seus concidadãos” (Lima, 2002a, p.132).

Foram estas ideias humanistas que procuraram valorizar a aprendizagem efectuada pelos cidadãos ao longo da sua vida, mesmo no caso dos que tiveram curto percursos escolares. A investigação que neste últimos tempos tem sido desenvolvida no âmbito da educação, tem realçado a importância da valorização da aprendizagem ao longo da vida como a única maneira de responder às exigências de um tempo de transformação rápida. O conhecimento de hoje não será de certo o mais importante do dia de amanhã. A escola tem uma função específica na construção do conhecimento e na socialização mas, torna-se cada vez mais claro, que não é o único instrumento ao serviço da educação das pessoas. O trabalho, a família, os amigos, os tempos livres, os media, constituem-se também como dispositivos de aprendizagem e de adaptação social e pessoal. Apesar de tudo isto, a escola e o trabalho são os espaços em que cada pessoa é mais incentivada a aprender. Por vezes, os dois espaços coexistem, outras vezes não. Se se certifica a aprendizagem escolar porque não certificar a aprendizagem obtida no trabalho e, mesmo, em outros espaços?

Esta tomada consciência da existência de uma aprendizagem ao longo da vida

têm sido reforçada nestes últimas três décadas, por politicas educativas centradas na sua valorização. Os Centros de RVCC emergiram da concretização destas politicas.

No entanto, ainda estamos a meio do caminho, pois outras medidas precisarão de ser tomadas no sentido de relacionar intrinsecamente os campos de aprendizagem, sejam formais ou informais. Assim, deve-se procurar desenvolver uma ligação estreita entre a escola académica e a escola da vida, já que se certifica a escola da vida com os mesmos graus da escola académica, o que faz pensar seriamente no que se pretende

quando se estabelece uma relação de semelhança e de validade institucional entre o currículo escolar (constituído por uma listagem de dez competências essenciais apoiadas em programas e disciplinas) e a certificação de competências (constituída por um referencial de Competências-Chave).

CAPÍTULO III

COMPETÊNCIA - A POLISSEMIA DE UM CONCEITO Este capítulo tem como objectivo definir o conceito de competência, assumindo que se trata de um conceito polissémico e ambíguo, que se reveste de diferentes significados e utilizado em diferentes domínios. Neste sentido, num primeiro momento, explicamos o contexto e os factores que estão na emergência do mesmo. Ao explorarmos o conceito de competência encontramos conceitos vizinhos oriundos de outras áreas disciplinares tais como: capacidade, aptidão, desempenho e qualificação que contribuem para a clarificação do conceito de competência. Debruçarmo-nos ainda sobre algumas perspectivas teóricas que procuram explicar de diferentes perspectivas o conceito de competência. Da mesma forma, percebemos que o conceito de competência transformou-se num fenómeno da moda, o qual extravasou os muros das empresas passando a integrar o domínio da Educação. Neste campo disciplinar tem influenciado influenciando as sociedades, as ideias e as formas de acção e actuação.