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A divisão sexual do trabalho, ao hierarquizar e atribuir maior valor às atividades masculinas, contribui para que al- gumas profissões, ao serem feminizadas, sofram desvaloriza- ção. Por outro lado, é possível discutir em que medida uma profissão, ao se feminizar, se desvaloriza ou se a sua desvalo- rização acarreta a sua feminização e para quê e para quem

serve essa desvalorização?

A desconstrução de uma divisão sexual do trabalho, tan- to no que se refere à separação fixa e imutável de atividades masculinas e femininas, quanto no que se refere a diferente valorização dessas atividades, pode contribuir para a cons- trução da equidade de gênero e valorização das atividades de homens e mulheres, bem como contribuir para uma maior participação das mulheres em profissões consideradas mas- culinas e dos homens em atividades percebidas como femi- ninas.

O estímulo para que ocorra alterações na divisão sexual do trabalho é desafiador e exigirá a participação de homens e mulheres na derrubada de muros/tetos/paredes de vidro, na busca de saídas dos labirintos de cristais e soluções para que as escadas e pisos nos quais trafegam as mulheres seja possí- vel ascender sem dificuldades e um andar com os pés livres para escolher os caminhos, ou seja, vencer as inúmeras bar- reiras que inviabilizam a construção da equidade de gênero

no mundo do trabalho deve ser uma atividade coletiva, pois o seu fim beneficiará a todos e não somente as mulheres.

Nessa mesma construção, é essencial que ocorra a eli- minação de qualquer forma de desvalor das atividades femi- ninas e que consideremos a reflexão apresentada por Citelli (2005) que, diferente do que se pode sugerir, a polêmica não reside na injustiça contra as mulheres em não participar da C&T, menos ainda, no direito que estas têm à prática cientí- fica, mas, sobretudo, nos benefícios que a incorporação das mulheres pode trazer à essas áreas, pois a baixa representa- ção feminina ameaça esses conhecimentos, sobretudo, pela perda de talentos e de genialidade da metade da população.

Destacamos, finalmente, que os inúmeros avanços na participação feminina em diversas profissões e particular- mente nas carreiras científicas e tecnológicas resultam em benefícios sociais e econômicos para toda uma nação que, gradativamente, vem conquistando a igualdade e já come- ça a usufruir de seus efeitos. Não obstante, a efetivação dessa conquista continua dependendo de processos de socializa- ção igualitários e solidários e de políticas públicas que visem eliminar desigualdades, acelerar a igualdade de gênero e que não fortaleçam processos que legitimem o Efeito Mateus, mas que caminhem para a eliminação do Efeito Matilda e para a consolidação de práticas educacionais e de trabalho sem qual- quer tipo de discriminação negativa e que, em um futuro pró- ximo, tampouco necessitem de discriminações positivas.

Se são inegáveis as conquistas femininas, também é ine- gável a necessidade de se continuar enfrentando os obstácu- los para eliminar preconceitos e transformar as relações de gênero no sentido da concretização da igualdade.

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capítulo

1

CIêNCIA E TECNOLOGIA NO bRASIL: