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QUEm FAz ENGENhARIA E LICENCIATURA NA UTFPR?

ANáLISE SOb A PERSPECTIVA DE GêNERO

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Lindamir Salete Casagrande Ângela Maria Freire de Lima e Souza

INTRODUÇÃO

A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), como Universidade pode ser considerada nova, foi criada em 2005, entretanto como instituição existe desde 1909. Iniciou suas atividades como escola de aprendizes e artífices destinada aos meninos desvalidos da sorte, em condições financeiras precárias. Pela manhã recebiam instrução sobre conhecimentos elementares e à tarde frequentavam cursos de alfaiataria, sapataria, marcenaria e serralheria. Em sua fundação trazia a característica de atender somente meninos, ou seja, uma instituição masculina. Em 1937 iniciou a oferta do 1º grau e passou a se chamar Liceu Industrial do Paraná, pois o ensino estava cada vez mais profissional. Com a organização do ensino industrial no Brasil, em 1942, mudou novamente de nome e passou a se chamar Escola

1 Pesquisa realizada com financiamento da CAPES por meio de bolsa de pós-doutorado concedida à primeira autora.

Técnica de Curitiba. Com a unificação da legislação sobre o ensino técnico no Brasil, em 1959, a Escola passou a ter mais autonomia e mais uma vez mudou de nome para Escola Técnica Federal do Paraná.

Em 1978 passou a ofertar graduação plena com os cursos de engenharia e mudou novamente o nome, passando a se chamar Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR). Nas décadas de 1980 e 1990 houve a solidifica- ção da instituição e a criação dos cursos de pós-graduação que hoje acontecem em diversos câmpus. Em 1990 descen- tralizou suas atividades, abrindo câmpus no interior do es- tado. Em 2005, houve a transformação do então CEFET-PR em UTFPR e a expansão dos câmpus pelo interior do Estado, configurando em final de 2013 em 13 câmpus, localizados nas seguintes cidades: Apucarana, Campo Mourão, Cornélio Pro- cópio, Curitiba, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Guarapua- va, Londrina, Medianeira, Pato Branco, Ponta Grossa, Santa Helena e Toledo.

Não encontramos registros de quando as mulheres pas- saram a fazer parte do corpo discente da instituição, fato co- mum, pois as instituições não costumavam registrar a partici- pação delas na história, dando a sensação de que as mulheres não desempenharam papel importante na construção e na so- lidificação da instituição no cenário nacional e internacional. Entretanto, os câmpus do interior iniciaram suas atividades com a oferta de vagas tanto para homens quanto para mulhe- res, porém, a característica dos cursos ofertados atraia majori- tariamente os jovens do sexo masculino, principalmente nos cursos técnicos em eletrônica, mecânica e eletromecânica. no curso técnico em construção civil, o número de mulheres se aproximava do número de homens. Ou seja, mesmo sendo

uma instituição nova no interior, nascida nos anos 1990, pe- ríodo no qual a inserção das mulheres no meio acadêmico e científico já se ampliava, mantinha a tradição masculina do tempo de sua criação (1909) tanto no quadro docente como no quadro discente. Em Pato Branco, por exemplo, no curso de eletromecânica, no ano de 1994 apenas duas professoras atuavam, uma em português e outra em matemática, os de- mais eram todos professores.

Os cursos ofertados pela instituição continuam sendo voltados ao universo masculino e de modo especial nas enge- nharias o número de mulheres é pequeno, como veremos no desenvolver deste capítulo. Quanto ao quadro docente, em- bora tenha recebido muitas mulheres, continua sendo majo- ritariamente masculino. No câmpus Curitiba, por exemplo, do total de 986 docentes, 287 são mulheres2, ou seja, 29,6%

do total de docentes do câmpus. É bom lembrar que os no- vos editais de concurso público para docentes exigem que os/ as candidatos/as tenham doutorado, muitas vezes específi- cos, como no caso da matemática, que o doutorado deve ser em matemática pura, ou seja, não existe áreas afins. Esse fato pode limitar o aumento de mulheres no quadro docente da Universidade, pois para elas é mais difícil deixar a família para traz para buscar a formação solicitada nos editais.

Percebe-se nos corredores da UTFPR a circulação cada vez maior de mulheres, porém em que cursos elas estão? Com base nessa trajetória marcadamente masculina da UTFPR e com as inquietações que a pouca presença feminina nas en- genharias da instituição nos provoca é que iniciamos esta

2 Dados fornecidos pelo departamento de estatística da UTFPR referentes ao iní- cio do ano de 2014.

pesquisa. As licenciaturas na UTFPR são recentes, será que nelas podemos encontrar um cenário mais equilibrado? Ou será que o ranço da masculinidade também se mantém neste universo?

Este capítulo traz a composição do quadro discente da UTFPR no final do ano de 2013, bem como a distribuição das vagas nas engenharias mecânica e civil e nas licenciaturas em matemática e em letras por sexo, na década compreendida entre 2003 e 2012. Analisaremos os dados estatísticos referen- tes às engenharias e licenciaturas dos 12 câmpus na Univer- sidade3, buscando identificar se existe diferença na participa-

ção feminina nos cursos ofertados na capital e no interior, nas engenharias e nas licenciaturas.

Os resultados aqui apresentados fazem parte de uma pesquisa desenvolvida para a realização de pós-doutoramen- to junto ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudo sobre Mulher, Gênero e Feminismo (PPGNEIM) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e busca comparar os cursos de engenharia mecânica e civil e as licenciaturas em letras e em matemática da UTFPR câmpus Curitiba e Pato Branco e da UFBA. Neste projeto, além da análise quantita- tiva, far-se-á entrevistas com alunos e alunas dos cursos pes- quisados, buscando identificar as razões que os levaram a fa- zer tais escolhas, bem como as dificuldades e facilidades por eles/as encontradas no decorrer do curso. O resultado final deste projeto será publicado futuramente. Aqui nos detere- mos apenas aos dados quantitativos relativos ao quadro dis- cente da UTFPR.

3 O câmpus de Santa Helena foi aprovado no final de 2013 e ainda não tinha alu- nos/as na época da coleta de dados para esta pesquisa.