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3 EVOLUÇÃO DO SETOR REAL DA ECONOMIA MOÇAMBICANA (1995-

3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente capítulo teve como objetivo fazer um diagnóstico do desempenho do setor real da economia moçambicana no período 1995-2014. Para atingir este propósito, analisou-se as características e o comportamento do setor produtivo do país, bem como a evolução dos preços praticados na economia no respetivo período. Com respeito à atividade produtiva do país, foi possível verificar que a sua base de produção durante todo o período foi essencialmente agrícola. O país saiu de uma situação de a agricultura, pecuária e pescas contribuirem para o PIB em 42.2% em 1995, para uma contribuição de 23.3% em 2014. Embora a dependência agrícola no PIB tenha diminuído ao longo de todo o período, a participação agrícola no PIB não foi substituída por algum outro setor produtivo real. Ao mesmo tempo em que diminuiu a participação agrícola no PIB, aumentou a participação de setores produtores de serviços e não produtores de bens de consumo. A Tabela 2.3 do Anexo I mostra que em 1995 a produção de bens de consumo no país representava 52.1% do seu PIB; com a agricultura, pescas e pecuária representando 42.2%, indústria transformadora 8.1%, construção 1.2% e indústria extrativa 0.6%. Os restantes 47.9% do PIB do país em 1995 eram obtidos pela produção de serviços; atividades imobiliárias (15.3%), comércio (10.9%), transportes e comunicações (10.3%), serviços financeiros (1.7 %) e outros serviços (9.7%). Em 2014 a produção de bens de consumo no país passou a representar 37.8% do seu PIB e a produção de serviços atingiu expressivos 62.2% do PIB do país. De país agrícola em 1995, em 2014 o país passou à uma situação de produtor de serviços.

Os dois principais setores de produção de bens de consumo (agricultura e indústria transformadora) pacerem não ter melhorado ao longo de todo período. A participação da agricultura, pecuária e pescas no PIB diminuiu 18.9 pontos percentuais em vinte anos (42.2% em 1995 para 23.3% em 2014). A participação da indústria transformadora no PIB manteve-se estagnada durante vinte anos (8.1% em 1995 para 8.8% em 2014), com contribuições muito baixas comparativamente ao exigido para países que pretendam dinamizar a sua atividade econômica. A indústria extrativa aumentou a sua participação no PIB do país de 0.6% em 1995 para 3.7% em 2014; porém, a sua produção é maioritariamente dedicada à exportação, não gerando uma dinamização da economia interna no que diz respeito à produção de bens de

consumo. Além de gerar receitas para o Estado moçambicano, este setor tem gerado outras rendas que são remetidas aos países de origem das empresas exploradoras dos recursos minerais na forma de lucros, re-investidas internamente na exploração destes recursos ou ainda pagas aos trabalhadores deste setor na forma de salários. O setor da constução aumentou a sua participação no PIB do país de 1.2% em 1995 para 2% em 2014, mas este aumento pouco efeito gerou na economia local pelo fato de todo o conjunto de esquipamentos e materiais utilizados neste setor não serem produzidos internamente. Com a exceção das indústrias do cimento e do ferro de construção em que existe alguma produção interna no país, todos os demais equipamentos e materiais de consumo necessários ao setor da construção no país são de origem estrangeira. A insuficiente oferta interna de materias de consumo utilizados neste setor fez com que o crescimento da construção no país fosse suportado por um forte aumento em importações. Por outro lado, os défices de produção no setor agrícola e na indústria transformadora também fizeram com que todos os aumentos de rendimentos gerados em outros setores produtivos fossem gastos na aquisição de bens de consumo importados, não gerando impacto expressivo na produção interna do país.

Na Tabela 2.1 do Anexo I foi possível observar que o PIB do país registou um crescimento acumulado de 413% no período analisado, o que permitiu uma taxa de crescimento média anual de 7.5% neste período. Embora as taxas de crescimento do PIB tenham sido altas, se for considerado que a base de produção era muito baixa em 1995, o impacto deste crescimento ganha menor dimensão em termos de mudança nas condições de vida da sua população, principalmente as mais carenciadas. Aliado a este fato, o crescimento populacional no país foi de 35% no mesmo período, o que pode contribuir para um menor efeito do crescimento econômico no bem-estar da sua população. Outra importante conclusão que pode ser obtida na Tabela 2.1 do Anexo I é de que o forte aumento no investimento realizado no país em todo o período foi suportado por um igual aumento nas importações, dada a incapacidade de a indústria local não poder responder às necessidades específicas destes investimentos. Situação similar aconteceu com os aumentos nos consumos público e privado, o seu efeito na produção local foi muito reduzido por causa da incapacidade da agrícultura e da indústria transformadora poderem responder a estas necessidades. Estes fatos tornaram o efeito estimulador da economia local, causado por um aumento na demanda interna, quase nulo. Os setores agrícola e indústrial do país não acompanharam o crescimento da sua economia, não houve um crescimento de base alargada nestes setores (diversificação da produção). Pelos mesmos motivos, as exportações do país também ficaram dependentes da natureza do crescimento verificado nos setores agrícola e indústrial. Com a exceção do

alumínio que foi o único bem expressivo que entrou na pauta de exportação do país, em 2014 o país continuava a exportar o mesmos produtos que exportava em 1995.

Quanto ao comportamento dos preços, a análise apresentada no presente capítulo permitiu concluir que o processo inflacionário no país é medido somente ao nível do consumidor final, representado pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC). A medição da inflação no país passou por várias mudanças ao longo do período analisado neste trabalho, fruto de grandes transformações ocorridas na sua vida económica e social no mesmo período. Foi possível observar no percurso aqui apresentado que a inflação em Moçambique começou como sendo, essencialmente, um fenómeno de aumento de preços de produtos alimentares, com particular destaque para frutas, verduras, tubérculos, cereais, legumes, leguminosas e produtos de proteína animal. A Tabela 2.4 do Anexo I mostra as diversas classes de bens (e serviços) e os seus respetivos ponderadores utilizados no cálculo da inflação no país. Uma importante conclusão desta Tabela é de que a inflação moçambicana é fundamentalmente determinada pela variação de preços ocorrida em três classes de bens e serviços: Alimentação e Bebidas não Alcoólicas, Habitação e Serviços Básicos8 e Transportes. Estas três classes de

bens e serviços, conjuntamente, respondem por cerca de 70% da variação total da inflação do país. Embora o peso da classe “Alimentação e Bebidas não Alcoólicas” tenha diminuído 33.91 pontos percentuais ao longo do período em análise no presente trabalho (73.78% em 1995 para 39.87% em 2014), esta classe ainda continua sendo a classe com maior peso na determinação da variação da inflação no país. Contrariamente ao sucedido com a classe “Alimentação e Bebidas não Alcoólicas”, as classes “Habitação e Serviços Básicos” e “Transportes” tiveram os seus pesos aumentados no mesmo período, o que indica uma clara transferência de importância da primeira para estas duas classes no perfil de consumo das famílias moçambicanas. A classe “Habitação e Serviços Básicos” teve o seu peso (no cálculo da inflação) aumentado em 9.05 pontos percentuais (5.91% em 1995 para 14.96% em 2014) e a classe “Transportes” teve o seu peso aumentado em 11.44 pontos percentuais (2.10% em 1995 para 13.54% em 2014).

Outra importante conclusão que pode ser extraída da análise do comportamento dos preços em Moçambique é o forte caráter sazonal na qual ocorre a sua variação. A análise das Tabelas 2.5 e 2.6 do Anexo I permite identificar uma forte sazonalidade da inflação no país, com o primeiro e o último trimestres de cada ano a constituirem as épocas do ano em que a variação dos preços é maior. Em todo o período analisado, a inflação acumulada do primeiro e

último trimestres de cada ano representa cerca de dois terços da inflação acumulada no ano todo, o que indica que a inflação acumulada do segundo e terceiro trimestres de cada ano apenas responde por cerca de um terço da inflação acumulada no ano todo. Nos trimestres em que a inflação é mais acentuada, os meses de Janeiro (para o primeiro trimestre) e Dezembro (para o último trimestre) são os períodos em cada trimestre em que se verificam as maiores variações de preços. A forte variação de preços que ocorre ao longo do mês de Dezembro é, na sua maioria, explicada por um grande aumento na demanda agregada de bens alimentares consumidos tipicamente nas festas de natal e final do ano. Pelo fato de a variação de preços que ocorre no mês de Dezembro se prolongar até ao último dia do mês (principalmente por causa da festa de final do ano), por questões de metodologia de cálculo da inflação, parte do aumento de preços verificado no mês de Dezembro é contabilizado e imbutido somente na taxa de inflação do mês de Janeiro, o que faz deste mês o período em que a inflação é mais acentuada ao longo do primeiro trimestre de cada ano.