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FUNÇÕES COMPORTAMENTAIS DO MERCADO DE BENS (RELAÇÃO IS)

5 O MODELO MACROECONÔMICO KEYNESIANO: PRESSUPOSTOS

5.2 FUNÇÕES COMPORTAMENTAIS DO MERCADO DE BENS (RELAÇÃO IS)

O mercado de bens (também denominado de mercado real) em uma economia está equilibrado quando a sua Demanda Agregada (DA) é igual à sua Oferta Agregada (OA), isto é, quando o total de tudo que é demandado pelos agentes econômicos é exatamente igual ao total de tudo que é ofertado na economia. Portanto, a condição de equilíbrio no mercado de bens é; DA = OA (5.1)

Caso não prevaleca a igualdade determinada na equação (5.1), então verifica-se um desiquilíbrio no mercado de bens; se DA for maior que OA, verifica-se uma escassez na oferta de bens e serviços na economia e, se DA for menor que OA, verifica-se um excesso na oferta de bens e servicos na economia.

A Demanda Agregada em uma economia, por sua vez, é determinada pelo somatório das demandas de todos os seus agentes econômicos (famílias, empresas, governo e setor externo), isto é;

DA = C + I + G + NX (5.2)

onde NX representa o saldo da balança comercial, diferença entre o valor das exportações (X) com o valor das importações (M), também conhecido como exportações líquidas.

A Demanda das Famílias (C), também chamada de Consumo das Famílias, pode ser representada pela seguinte função;

C = c0 + c1Yd (5.3)

onde c0 representa o consumo autônomo (o consumo que não depende do rendimento

disponível), c1 representa a fração do rendimento disponível que é destinado ao consumo (a

chamada propensão marginal a consumir) e Yd representa o Rendimento Disponível. O Rendimento Disponível, por sua vez, pode ser representado pela seguinte função;

isto é, Rendimento Disponível (Yd) é igual ao Rendimento Total (Y), subtraído dos Impostos Totais (T) e adicionado às Transferências Governamentais (Tr). Os Impostos Totais (T), por sua vez, podem ser representados pela seguinte função;

T = t0 + tY (5.5)

onde t0 representa os impostos autônomos (os impostos que não dependem do rendimento), t

representa a fração do rendimento que é destinado ao pagamento de impostos (a chamada alíquota de imposto) e Y representa o Rendimento Total. As Transferências Governamentais (Tr) são assumidas como uma variável que depende de si mesma, ou seja, uma variável autônoma, que sempre será igual às necessidades de transferências do governo, de modo que possa ser representada da seguinte forma;

Tr = Tr (5.6)

onde Tr do lado direito desta relação passa a representar transferências autonômas e não simplesmente transferências como representara na função (5.4).

Substituindo as funções (5.5) e (5.6) na função (5.4), pode-se reescrever a função determinante do Rendimento Disponível (Yd), a função (5.4), da seguinte forma;

Yd = Y – t0 – tY + Tr (5.7)

Desta forma, pode-se também reescrever a função determinante do Consumo das Famílias (C), a função (5.3), da seguinte forma;

C = c0 + c1[Y – t0 – tY + Tr]

C = c0 + c1Y – c1t0 – c1tY + c1Tr (5.8)

A Demanda das Empresas (I), também chamada de Investimento das Empresas, pode ser representada pela seguinte função;

I = Ī – bi (5.9)

onde Ī representa o investimento autônomo (o investimento que não depende da taxa de

juros), b mede a sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros (a chamada propensão marginal a investir decorrente da variação da taxa de juros) e i representa a taxa de juros. O sinal negativo em bi mostra a relação inversa entre investimento e taxa de juros.

A Demanda do Governo (G), também chamada de Gastos Públicos, é assumida como uma variável que depende de si mesma, ou seja, uma variável autônoma, que sempre será igual às necessidades de realização de gastos do próprio governo, de modo que possa ser representada da seguinte forma;

G = G (5.10)

onde G do lado direito desta relação passa a representar os gastos autonômos do governo e não simplesmente gastos do governo como representara na função (5.3).

Finalmente, o saldo da balança comercial (NX), corresponde à diferença entre as Exportações (X) e as Importações (M), isto é, a diferença entre a Demanda Estrangeira sobre Bens Nacionais com a Demanda Nacional sobre Bens Estrangeiros, correspondendo então à Demanda Líquida do Setor Externo, simplesmente representada pela seguinte função; NX = X – M (5.11)

As Exportações (X), também chamadas de Demanda Estrangeira sobre Bens Nacionais, podem ser representadas pela seguinte função;

X = x0 + x1R + x2Y* (5.12)

onde x0 representa as exportações autônomas (as exportações que não dependem nem da taxa

real de câmbio e nem do rendimento estrangeiro), x1 representa a sensibilidade das

exportações em relação à taxa real de câmbio (a chamada propensão marginal a exportar decorrente da variação da taxa real de câmbio), x2 representa a sensibilidade das exportações

em relação ao rendimento estrangeiro (a chamada propensão marginal a exportar decorrente da variação do rendimento estrangeiro) e Y* representa o Rendimento Estrangeiro. Sendo o Rendimento Estrangeiro uma variável fora do controle das autoridades econômicas nacionais, o modelo relaxa a influência desta variável nas exportações, o que permite reescrever a função (5.12) da seguinte forma;

X = x0 + x1R (5.13)

A taxa real de câmbio (R), por sua vez, pode ser representada da seguinte forma; (5.14)

onde e é a taxa nominal de câmbio, P* é o índice de preços no estrangeiro e P é o índice de preços nacional.

As Importações (M), também chamadas de Demanda Nacional sobre Bens Estrangeiros, podem ser representadas pela seguinte função;

M = m0 – m1R + m2Y (5.15)

onde m0 representa as importações autônomas (as importações que não dependem nem da

taxa real de câmbio e nem do rendimento nacional), m1 representa a sensibilidade das

importações em relação à taxa real de câmbio (a chamada propensão marginal a importar decorrente da variação da taxa real de câmbio), m2 representa a sensibilidade das

exportações em relação ao rendimento nacional (a chamada propensão marginal a importar decorrente da variação do rendimento nacional) e Y representa o Rendimento Nacional.

Substituindo as funções (5.13) e (5.15) na função (5.11), obtém-se; NX = [x0 + x1R] – [m0 – m1R + m2Y]

NX = (x0 – m0) + (x1 + m1).R – m2Y

ou

NX = NXA + (x1 + m1).R – m2Y (5.16)

se (x0 – m0) = NXA, doravante designado de Exportações Líquidas Autônomas.

Até ao presente momento apenas desdobrou-se o lado esquerdo da condição de equilíbrio no mercado de bens, isto é, a Demanda Agregada. A Oferta Agregada (OA), por sua vez, é igual ao somatório de todos os bens e serviços que são ofertados na economia, isto é, ao somatório de todos os bens e serviços produzidos. Designando a produção da economia de Y, pode-se inferir que;

OA = Y (5.17)

o que permite reescrever a condição de equilíbrio no mercado de bens da seguinte forma; DA = Y (5.18)

o que quer dizer que o mercado de bens em uma economia estará equilibrado quando o total de tudo que é demandado pelos seus agentes econômicos for igual ao total de tudo que é produzido.

Substituindo as funções (5.8), (5.9), (5.10) e (5.16) na função (5.18), obtém-se;

Y = [c0 + c1Y – c1t0 – c1tY + c1Tr] + [Ī – bi] + [G] + [NXA + (x1 + m1).R – m2Y] (5.19)

Resolvendo esta função para Y, pode-se então obter a expressão que permite calcular o nível de Produto (Y) que equilibra o mercado de bens em uma economia, isto é;

Y = (5.20)

ou, alternativamente, a taxa de juros que equilibra o mesmo mercado de bens;

i =

-

(5.21)

onde A = c0 – c1t0 + c1Tr + G + Ī + NXA, doravante designada de Gastos Autônomos, isto é,

gastos que não dependem do rendimento.

Alternativamente, as funções (5.20) e (5.21) podem ser representadas da seguinte forma;

onde

α =

Não é difícil concluir na relação IS (a relação que equilibra o mercado de bens) que a expressão que determina a taxa de juros que equilibra o mercado de bens é uma função linear, com constante e inclinação Ainda na relação IS, pode-se tirar as seguintes conclusões:

quando i = 0 → ] e quando Y= 0 →

A representação gráfica da relação IS passa então a assumir a seguinte forma;

i

Y

5.3 FUNÇÕES COMPORTAMENTAIS DO MERCADO FINANCEIRO E MERCADO MONETÁRIO (RELAÇÃO LM)

O mercado financeiro é constituído por uma variedade de ativos que representam a riqueza dos agentes econômicos. Estes ativos podem assumir uma forma mais líquida (moeda, ações, bilhetes ou obrigações do tesouro, etc.) ou menos líquida (bens imobiliários, jóias, metais preciosos, etc.). Por uma questão de simplificação, o modelo macroeconômico Keynesiano considera que a riqueza dos agentes aconômicos é constituída principalmente por dois ativos;

- moeda (moedas metálicas e papel-moeda) e, - títulos (ações, bilhetes e obrigações do tesouro).

Assim, o volume total de riqueza dos agentes econômicos pode ser representado pela seguinte função;

W = M + B (5.22)

onde W representa o volume total de riqueza nominal, M a quantidade total de riqueza mantida sob a forma de moeda nominal e B a quantidade total de riqueza mantida sob a forma de títulos nominais.

Dividindo ambos os lados da função (5.22) pelo índice de preços (P), obtém-se;

(5.23)

onde passa a representar o volume total de riqueza real, a quantidade total de riqueza real mantida sob a forma de moeda nominal e a quantidade total de riqueza real mantida sob a forma de títulos nominais.

À semelhança do mercado de bens, o mercado de ativos financeiros também está equilibrado quando a sua demanda total é igual à sua oferta total, isto é, quando o total de riqueza (moeda e títulos) que é demandada pelos agentes econômicos é exatamente igual ao total de riqueza (moeda e títulos) que é ofertada na economia. Portanto, a condição de equilíbrio no mercado de ativos financeiros é;

(5.24)

Caso não prevaleca a igualdade determinada na função (5.24), então verifica-se um desiquilíbrio no mercado de ativos financeiros; se a demanda total por riqueza for maior que a oferta total de riqueza, verifica-se uma escassez na oferta de riqueza na economia e, se a demanda total por riqueza for menor que oferta total de riqueza, verifica-se um excesso na oferta de riqueza na economia.

A condição de equilíbrio no mercado de ativos financeiros, relação (5.24), implica que;

(5.25)

o que quer dizer que quando o mercado monetário estiver equilibrado, o mercado de títulos também estará equilibrado, ou seja;

(5.26)

e quando o mercado monetário estiver desiquilibrado, o mercado de títulos também estará desiquilibrado;

(5.28)

Com base nestas condições de igualdade (ou desigualdade) simultânea, pode-se então analisar o equilíbrio no mercado de ativos financeiros, concentrando-se apenas em um dos mercados, o monetário ou o de títulos. Se concentrar-se em apenas um deles e assumir-se que esteja equilibrado, o outro mercado também estará equilibrado e, portanto, o mercado de ativos financeiros como um todo também estará equilibrado. O desenvolvimento do modelo macroeconômico Keynesiano aqui apresentado irá se concentrar no equilíbrio no mercado monetário para mostrar o equilíbrio no mercado de ativos financeiros.

Novamente, à semelhança de qualquer mercado, o mercado monetário está equilibrado quando a Demanda por Moeda (Md) é igual à Oferta de Moeda (Ms), isto é, quando o total de

moeda que é demandado pelos agentes econômicos é exatamente igual ao total de moeda que é ofertado na economia pela autoridade monetária. Portanto, a condição de equilíbrio no mercado monetário é;

Md = Ms (5.29)

Caso não prevaleca a igualdade determinada na função (5.29), então verifica-se um desiquilíbrio no mercado monetário; se Md for maior que Ms, verifica-se uma escassez de

moeda na economia e, se Md for menor que Ms, verifica-se um excesso de moeda na economia.

A demanda por moeda é determinada pelos motivos que causam demanda por moeda em todos os agentes econômicos. Em um sistema económico, qualquer agente pode demandar moeda real para fins transacionais, precaucionais e especulativos. Reunindo estes motivos, pode-se representar a demanda real por moeda da seguinte forma;

Md = kY – hi, k > 0 e h > 0 (5.30)

onde k representa a proporção da demanda real por moeda que é explicada pelo nível de rendimento real (Y), isto é, a demanda real por moeda realizada para fins transacionais e precaucionais e h representa a proporção da demanda real por moeda que é explicada pela taxa de juros real (i), isto é, a demanda real por moeda realizada para fins especulativos. O sinal negativo em h mostra a relação inversa entre a demanda real por moeda (para fins especulativos) e a taxa de juros real.

Por sua vez, a oferta nominal de moeda (Ms) é uma variável exógena que depende da política monetária adotada pelo Banco Central, portanto, é uma variável determinada e

controlada unicamente pelo Banco Central. Se dividirmos a oferta nominal de moeda pelo índice de preços (P), obtém-se a oferta real de moeda que pode ser representada da seguinte forma;

Oferta Real de Moeda = (5.31)

Com base nas funções (5.30) e (5.31), pode-se reescrever a condição de equilíbrio no mercado monetário, função (5.29), da seguinte forma;

kY – hi = (5.32)

Resolvendo esta função para Y, pode-se então obter a expressão que permite calcular o nível de produto (Y) que equilibra o mercado monetário em uma economia, isto é;

(5.33)

ou, alternativamente, a taxa de juros que equilibra o mesmo mercado monetário;

(5.34)

Pode-se resumir as funções (5.33) e (5.34) em um sistema de equações denominado relação LM;

Não é difícil concluir na relação LM (a relação que equilibra o mercado monetário) que a expressão que determina a taxa de juros que equilibra o mercado monetário é uma função linear, com constante e inclinação Como k>0 e h>0, então, , isto é, a inclinação da taxa de juros em relação ao nível de rendimento será positiva.

quando i = 0 →

e quando Y= 0 →

A representação gráfica da relação LM passa então a assumir a seguinte forma;

i

Y