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Estimação de uma Equação de Inflação

10 DINÂMICA MULTIVARIADA NA ECONOMIA

10.1 DETERMINANTES DA INFLAÇÃO

10.1.2 Estimação de uma Equação de Inflação

Para estimar a equação de inflação apresentada na seção anterior, o primeiro passo foi selecionar as variáveis a serem a incluídas na equação. Em estudos desta natureza, a seleção das variáveis sempre fica condicionada à existência de dados na forma de séries temporais para um longo período de tempo. Pelo modelo de inflação apresentado na equação (10.6), as variáveis relevantes para a sua estimação são: taxa de inflação interna (P), agregados monetários (M), produto real (Y), taxa de câmbio (e) e nível de preços internacionais (Pi). A

taxa de inflação da República da África do Sul (TI-ZA) foi assumida como sendo representante dos preços internacionais e foi selecionada para a estimação do modelo de

inflação apresentado. Dado que Moçambique depende da importação de bens produzidos na República da África do Sul, principalmente bens alimentares, achou-se conveniente utilizar TI-ZA como representante de Pi. As restantes variáveis selecionadas para a estimação do

modelo foram: Taxa de Inflação interna (TI-MZ), Produto Nacional Bruto (Y), taxas de câmbio do metical em relação ao rand e em relação ao dólar norte-americano (MZM/ ZAR e MZM/ USD) e Agregados Monetários (M1 e M2).

Após selecionar as variáveis a serem incluídas no modelo de inflação apresentado na equação (10.6), o segundo passo para a realização da estimação da respectiva equação foi realizar testes de estacionaridade para detectar a presença (ou não presença) de raízes unitárias nas variáveis. As Tabelas A1. e A.2 do Apêndice A apresentam os resultados do teste Dickey- Fuller Aumentado (ADF). Conforme mencionado no Capítulo 7, os testes apresentados nas Tabelas A.1 e A.2 utilizam valores críticos de Mckinnon (1996) e dois critérios para a seleção do número de defasagens, o critério de seleção de Akaike (AIC) e o critério de seleção de Schwartz (SIC). Os resultados dos testes de raízes unitárias das variáveis selecionadas para a estimação do modelo de inflação apresentados nas Tabelas A.1 e A.2 indicam que a taxa de inflação interna (TI-MZ) e a taxa de inflação na África do Sul (TI-ZA) são estacionárias em nível, com uma significância de 1%. As demais variáveis; Y, MZM/ ZAR, MZM/ USD, M1 e M2 apresentaram estacionaridade na primeira diferença, conforme mostram os resultados da Tabela A.2. Com base nestes resultados, assumiu-se a seguinte ordem de integração: TI-MZ e TI-ZA são I(0); Y, MZM/ ZAR, MZM/ USD, M1 e M2 são I(1).

Após verificar a estacionaridade das variáveis, o terceiro passo para a estimação foi testar a possibilidade de cointegração entre as variáveis do respectivo modelo de inflação. As Tabelas D.1.1, D.1.2, D.2.1 e D.2.2 do Apêndice D apresentam os resultados dos testes de cointegração para as variáveis do modelo. As Tabelas D.1.1 D.1.2 apresentam os resultados do teste com a inclusão da taxa de câmbio do metical e relação ao rand (MZM/ ZAR) no modelo e as Tabelas D.2.1 D.2.2 apresentam os resultados do teste com a inclusão da taxa de câmbio do metical e relação ao dólar norte-americano (MZM/ USD) no modelo. Os resultados de ambas as Tabelas indicam a existência de 4 vetores de cointegração com um nível de significância de 1% quando todas as variáveis do modelo são incluídas e 3 vetores de cointegração com um nível de significância de 1% quando o Produto Nacional Bruto (Y) é excluído do modelo. A realização de um segundo teste de cointegração sem a inclusão do Produto Nacional Bruto deveu-se ao facto de na primeira estimação do modelo, esta variável não ter apresentado significância estatística. Portanto, os primeiros resultados da estimação

não provaram a existência de um efeito do Rendimento Real na taxa de inflação1. Assim,

baseando-se nestes resultados, assumiu-se uma equação de inflação com 3 vetores de cointegração, onde os preços foram usados em níveis (variação dos valores percentuais) e as demais variáveis em primeiras diferenças (primeiras diferenças das variáveis logaritmizadas). A extensão das defasagens do modelo foram definidas pelo uso do Critério de Akaike (AIC) e do Critério de Schwartz (SIC). Com base nestes critérios foi estimado um VEC(2), isto é, um Vetor de Correção de Erros com duas defasagens.

Tabela 10.1 – Resumo dos Resultados da Estimação do Modelo Multivariado de Inflação

Equação I Equação II Equação III Equação IV

Δ [TI-ZA](t-1) 0.81 0.84 0.80 0.82 [0.025] [0.021] [0.025] [0.021] Δ [TI-ZA](t-2) 0.42 0.45 0.41 0.44 [0.031] [0.023] [0.034] [0.024] Δ [TI-MZ](t-1) 0.23 0.23 0.21 0.21 [0.049] [0.054] [0.080] [0.085] Δ [TI-MZ](t-2) 0.12 0.12 0.11 0.12 [0.064] [0.054] [0.079] [0.069] Δlog [MZM/ ZAR](t-1) Δlog [MZM/ ZAR](t-2) Δlog [MZM/ USD](t-1) 0.08 0.08 [0.028] [0.031] Δlog [MZM/ USD](t-2) 0.05 0.05 [0.106] [0.123] Δlog [M1](t-1) -0.15 -0.14 [0.010] [0.018] Δlog [M1](t-2) -0.15 -0.14 [0.000] [0.001] Δlog [M2](t-1) -0.15 -0.15 [0.025] [0.035] Δlog [M2](t-2) -0.18 -0.17 [0.000] [0.001] ECM(t-1) -1.73 -1.73 -1.70 -1.70 [0.000] [0.000] [0.000] [0.000]

Nota: Os parênteses por baixo dos parâmetros estimados indicam o seu nível de significância.

Respeitando estes passos, o modelo de inflação especificado na equação (10.6) foi estimado através do uso do pacote estatístico STATA e os resultados obtidos são apresentados nas Tabelas D.3.1, D.4.1, D.5.1 e D.6.1 do Apêndice D. A Tabela D.3.1 mostra os resultados

1 No Apêndice D apenas foram apresentados os resultados dos testes de cointegração do modelo com a inclusão

do Agregado Monetário M2. Os resultados dos mesmos testes para o mesmo modelo, com a inclusão do Agregado Monetário M1 foram omitidos do Apêndice D porque produziram os mesmos resultados.

para o modelo de inflação com as varáveis TI-MZ, TI-ZA, MZM/ ZAR e M1, cujo resumo está apresentado na Equação 1 da Tabela 10.1. A Tabela D.4.1 mostra os resultados para o modelo de inflação com as varáveis TI-MZ, TI-ZA, MZM/ ZAR e M2, cujo resumo está apresentado na Equação 2 da Tabela 10.1. A Tabela D.5.1 mostra os resultados para o modelo de inflação com as varáveis TI-MZ, TI-ZA, MZM/ USD e M1, cujo resumo está apresentado na Equação 3 da Tabela 10.1. Por último, a Tabela D.6.1 mostra os resultados para o modelo de inflação com as varáveis TI-MZ, TI-ZA, MZM/ USD e M2, cujo resumo está apresentado na Equação 4 da Tabela 10.1.

A Tabela 10.1 resume os resultados da estimação da equação de inflação (10.6), cujos resultados detalhados estão apresentados no Apêndice D. Esta tabela mostra resultados de quatro equações: as Equações I e II mostram os resultados da estimação da inflação moçambicana em relação a si mesma (TI-MZ), em relação à taxa de Inflação na República da África do Sul (TI-ZA), em relação à taxa de câmbio do metical em relação ao rand (MZM/ ZAR) e em relação aos agregados monetários M1 e M2, respectivamente. De forma alternativa, as equações III e IV mostram os resultados da estimação da inflação moçambicana em relação a si própria (TI-MZ), em relação à taxa de Inflação na República da África do Sul (TI-ZA), em relação à taxa de câmbio do metical em relação ao dólar norte-americano (MZM/ USD) e em relação aos agregados monetários M1 e M2, respectivamente.

Pode-se observar na Tabela 10.1 que em ambas as equações a inflação defasada apresentou um efeito de curto-prazo (dois meses) estatisticamente significativo, com coeficientes de efeito que variam de 0.11 a 0.23 pontos percentuais. Curiosamente, os resultados da estimação em todas as equações, mostraram que o efeito da taxa de inflação da República da África do Sul (TI-ZA) na taxa de inflação do país foi maior do que o efeito da taxa de inflação Interna (TI-MZ) sobre si mesma. Os resultados da Tabela 10.1 mostram um efeito de curto-prazo (dois meses) de TI-ZA sobre TI-MZ, com coeficientes de efeito que variam de 0.41 a 0.84 pontos percentuais. Nas equações I e II não foi encontrada evidência de um efeito da taxa de câmbio MZM/ ZAR na taxa de inflação do país. Por outro lado, nas equações III e IV a taxa de câmbio MZM/ USD apresentou uma forte significância na primeira defasagem (elasticidade de 0.8%) e fraca significância na segunda defasagem (elasticidade de 0.5%). Este resultado sugere que o efeito da taxa de câmbio MZM/ USD na inflação moçambicana ocorre de forma imediata, em um período não superior a dois meses após a variação nesta taxa de câmbio. A moeda, representada tanto pelo M1 (equações I e III) quanto pelo M2 (equações II e IV) foi significativa na estimação do modelo de inflação. Surpreendentemente, o efeito da oferta de moeda na inflação foi negativo, conforme mostram

os resultados da Tabela 10.1, contrariando o princípio do modelo e da teoria econômica que determinam uma realação direta entre ofera monetária e inflação. As elasticidades de efeito da oferta de moeda na taxa de inflação variaram de -0.14% a -0.15% para o M1 e -0.15% a - 0.18% para o M2.