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INTRODUÇÃO ÀS VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS

7 MODELO MACROECONÔMICO KEYNESIANO: APLICAÇÃO DO

7.1 INTRODUÇÃO ÀS VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS

Antes de realizar qualquer estimação das equações comportamentais apresentadas no Capítulo 5, é importante fazer um diagnóstico geral do comportamento das variáveis macroeconômicas incluídas nas respectivas equações. Através da análise gráfica, a presente seção faz uma apresentação e ilustração de como as variáveis evoluíram no período analisado neste estudo. A visualização gráfica do comportamento das variáveis pode ser importante para perceber melhor as suas dinâmicas de evolução no tempo, bem como extrair possíveis relações de causa-e-efeito entre elas. Após este exercício inicial, a seção faz a preparação geral das variáveis para o estudo econométrico, isto é, na seção são apresentados os resultados dos testes de estacionaridade e cointegração entre as variáveis para as respectivas equações. A Figura 1 mostra a evolução do PIB e do PNB do país no período analisado (1995-2014). Entre 1996 ao ano 2000, o PIB e o PNB do país foram quase iguais, não tendo existido considerável distinção entre estes indicadores. Desde o início da década de 2000, a figura mostra que o PIB passou a ser maior que o PNB, embora a tendência de crescimento das duas variáveis tivesse continuado a mesma. Conforme visto no Capítulo 3, o início dos anos 2000 foi marcado pelo princípio das exportações dos grandes projetos do país liderados por investimentos estrangeiros, com destaque para as exportações de alumínio. Este facto pode ajudar a explicar a separação do PIB do PNB, exatamente na altura em que iniciaram as exportações do país, derivadas da produção dos grandes projetos. Embora com o PIB ligeiramente acima do PNB, a figura também mostra que ambos os indicadores apresentaram uma tendência de crescimento muito semelhante até 2011.

Figura 1 - Evolução do PIB e PNB (1995-2014)

Ainda analisando a Figura 1, é possível verificar uma visível redução do PNB ao longo de 2012, com posterior recuperação nos anos seguintes. Segundo a análise realizada no Capítulo 3, o ano de 2012 foi caracterizado pela ocorrência de dois fenômenos económicos perversos para o aumento da produção interna do país. Neste ano, a taxa de crescimento do Consumo Privado do país foi de somente 2.3%, 2 pontos percentuais a menos que a do ano anterior (Tabela 2.1). Além da diminuição da taxa de crescimento do Consumo Privado, é importante destacar que a taxa média de crescimento desta variável na década anterior tinha sido de 5.2% ao ano (Tabela 2.1). Por outro lado, no mesmo ano, o setor com maior contribuição para a produção do país (Agricultura, Pecuária e Pescas) registou um crescimento de somente 2.0%, 2.2 pontos percentuais menor quando comparado com a taxa atingida no ano anterior (Tabela 2.2). Além do baixo crescimento deste setor produtivo em 2012, importa mencionar que este setor tinha crescido a uma taxa média anual de 7.5% na década anterior (Tabela 2.2). Estes dois factos combinados podem ter explicado a queda acentuada no PNB do país verificada em 2012. Em 2013 o PNB voltou a crescer, embora já com uma diferença maior comparativamente ao crescimento do PIB, que manteve-se constante em todo o período. Nas estimações realizadas neste estudo, optou-se por utilizar o valor do PNB (ao invés do valor do PIB) como indicador do rendimento do país pelo facto de representar com maior precisão a riqueza destinada ao nacionais do país.

Figura 2 - Evolução do Consumo e Importações (1995-2014)

Elaboração do autor. Fonte dos dados: INE (vários relatórios)

A Figura 2 mostra a evolução do Consumo Privado e das Importações do país no período analisado. É possível verificar na figura uma clara relação entre estas duas variáveis até ao final da primeira década de 2000. A análise da figura sugere uma relação de causa-e-

efeito entre estas duas variáveis, com as Importações a dependerem do nível do Consumo Privado, ou, o Consumo Privado a depender do volume de Importações do país. A figura mostra uma diminuição das Importações e do Consumo Privado entre os anos 2000 e 2001. Conforme analisado no Capítulo 4, a taxa de câmbio do metical em relação ao dólar-norte americano (MZM/ USD) sofreu forte depreciação nestes anos; 29% no ano 2000 e 37% em 2001 (Tabela 5.2). Pela análise do Capítulo 3, a taxa de inflação também atingiu valores elevados nos mesmos anos; 11,4% no ano 2000 e 21.9% em 2001 (Tabela 2.5). A forte depreciação cambial pode ter causado alta no nível de preços, através do mecanismo de transmissão aos preços dos bens importados explicado no Capítulo 4. Uma vez que uma considerável parte do Consumo Privado do país recai sobre bens importados (devido à escassez de produção interna), a queda no Consumo Privado do país verificado entre os anos 2000 e 2001 pode completar o mecanismo de transmissão iniciado com forte depreciação cambial; isto é, depreciação cambial diminui as Importações por torná-las mais caras, o que por sua vez aumenta a taxa de inflação, causando consequente queda no Consumo Privado. Uma observação mais atenta à Figura 2, sugere que o mecanismo de transmissão “câmbio- importação-inflação-consumo” parece ter ocorrido em todo o período analisado, até ao início da segunda década de 2000. De facto, conforme mostra a figura, no início da segunda década de 2000, as importações começaram a aumentar vertiginosamente, chegando mesmo a ultrapassar o valor do Consumo Privado em 2013. À partir deste ano, pela primeira vez ao longo de todo o período analisado, o valor das Importações do país passou a ser maior do que o valor do seu Consumo Privado. Este fenômeno pode ser melhor percebido analisando a Figura 3.

Figura 3 - Evolução do Investimento, Exportações e Importações (1995-2014)

A Figura 3 mostra a evolução do Investimento, Exportações e Importações ao longo de todo o período analisado. A repentina mudança de trajetória de crescimento das Importações é melhor percebida através da análise desta Ilustração. Nesta figura, é possível perceber a existência de uma clara coincidência na mudança da trajetória de crescimento das Importações e do Investimento. Estas duas variáveis começaram a apresentar a mesma trajetória de crescimento em simultâneo, o que sugere a existência de uma relação de causa-e- efeito entre elas. Conforme visto no Capítulo 3, o final da primeira década de 2000 e início da segunda década de 2000 foi marcado por um acentuado crescimento no Investimento destinado ao setor dos recursos minerais, como resultado de novas descobertas de grandes reservas de gás e carvão. Pela análise da Ilustração 3, as Importações e o Investimento mudam a sua trajetória de crescimento ao mesmo tempo, exatamente entre o final da primeira década dos anos 2000 e início da segunda década dos mesmos anos. Sendo o setor de recursos minerais muito intensivo em bens de capital (principalmente máquinas e equipamentos), o forte aumento do Investimento neste setor pode ao mesmo tempo, ter sido o responsável, pela mudança de trajetória de crescimento nas Importações do país.

Figura 4 - Evolução dos Gastos Públicos e das Exportações (1995-2014)

Elaboração do autor. Fonte dos dados: INE (vários relatórios)

A relação entre o Investimento e as Exportações também pode ser apreciada na Figura 4. A análise desta figura sugere que estas duas variáveis apresentaram uma relação de causa- e-efeito somente até ao final da década de noventa, passando depois deste período, o Investimento a apresentar uma relação de causa-e-efeito mais associada às Importações. De facto, segundo a Figura 3, ao longo de toda a primeira década de 2000, o Investimento e as Importações caminharam no mesmo sentido, incluindo na mudança de trajetória verificada

por ambas as variáveis no final da mesma década, anteriormente explicada. A análise da Figura 3 sugere ainda um facto curioso: o Investimento realizado no país até ao final dos anos noventa foi direcionado ao setor exportador (possivelmente pela construção do mega projeto de produção de alumínio para exportação) e o Investimento realizado à partir dos anos 2000, largamente destinado à prospecção, pesquisa e construção de infraestrutura para a exploração de recursos minerais (principalmente gás e carvão), foi um Investimento que impulsionou um grande aumento das Importações do país. Se numa primeira fase este Investimento causou aumento nas Importações, espera-se à médio-prazo, com o início da exploração destes recursos minerais, que haja um grande impulso nas Exportações do país. Finalmente, a Figura 4 mostra a evolução das Exportações e dos Gastos Públicos do país ao longo do período analisado. A análise desta figura mostra uma possível tentativa das autoridades fiscais do país em manter a despesa pública ao nível das suas Exportações. Porém, à partir do início dos anos 2000, possivelmente com o incremento das Exportações causadas pelo início da produção de alumínio em larga escala no país, a meta de manter a despesa pública ao nível das Exportações parece ter deixado de existir.