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FUNÇÕES COMPORTAMENTAIS DO MERCADO FINANCEIRO E MERCADO

7 MODELO MACROECONÔMICO KEYNESIANO: APLICAÇÃO DO

7.3 FUNÇÕES COMPORTAMENTAIS DO MERCADO FINANCEIRO E MERCADO

Esta secção apresenta os resultados da estimação das funções comportamentais do mercado monetário e mercado financeiro. Seu objectivo é apresentar os resultados obtidos com a estimação das funções integrantes da Demanda por Moeda em um mercado monetário e financeiro, de modo à obter as equações constituentes da Relação LM. À semelhança da secção anterior, esta também inicia com a explicação dos procedimentos econométricos

utilizados para a realização das estimações. Posteriormente, são apresentados e interpretados os resultados obtidos com a estimação dos modelos econométricos.

7.3.1 Estimação e Resultados

Para a estimação das funções (5.30) e (5.34) apresentadas no Capítulo 5, primeiro foram realizados testes de raízes unitárias para detectar o nível de estacionaridade das variáveis. Além de apresentarem os resultados do teste Dickey-Fuller Aumentado (ADF) para as variáveis Rendimento e Taxa de Juros Real, as Tabelas A.1 e A.2 do Apêndice A também apresentam os resultados do mesmo teste para os Agregados Monetários M1, M2 e M3. Os testes de raízes unitárias para as variáveis Rendimento e Taxa de Juros que aparentaram apresentar momentos de quebra estrutural (teste Phillips-Perron) são apresentados na Tabela A.4 (também do Apêndice A). Conforme já referido na secção 7.2, os testes apresentados nas Tabelas A.1 e A.2 utilizam valores críticos de Mckinnon (1996) e dois critérios para a seleção do número de defasagens, o critério de seleção de Akaike (AIC) e o critério de seleção de Schwartz (SIC), apresentados no Capítulo 5. Os testes da Tabela A.4 utilizam valores críticos de Perron (1989). Os resultados dos testes de raízes unitárias das variáveis em níveis (Tabela A.1) indicam que apenas a Taxa de Juros Real (i) é estacionária em nível, com uma significância de 1%. Os Agregados Monetários M1, M2 e M3 apresentaram estacionaridade apenas nas primeiras diferenças (Tabela A.2). A visualização gráfica do comportamento do Produto Nacional Bruto (Y) e da Taxa de Juros Real (i) sugeriu aparentes momentos de quebra estutural ao longo do período analisado. Por este motivo, para estas variáveis foram também realizados testes de raízes unitárias para séries com quebra estrutural – Teste Phillips- Perron (PP), cujos resultados são apresentados na Tabela A.4. Os resultados apresentados nesta Tabela confirmam os resultados do teste Dickey-Fuller Aumentado (ADF) apresentados nas Tabelas A.1 e A.2. Assim, com base em todos os testes de raízes unitárias realizados, assumiu-se a seguinte ordem de integração: i é I(0) e as demais variáveis (M1, M2, M3 e Y) são I(1).

Para a estimação da Função da Demanda por Moeda, o segundo passo foi testar a possibilidade de cointegração entre as variáveis incluídas na respectiva função. As Tabelas A.10.1, A.10.2 e A.10.3 do Apêndice A apresentam os resultados dos testes de cointegração para as funções de Demanda por Moeda utilizando como variável representante da Demanda por Moeda o Agregado Monetário M1, o Agregado Monetário M2 e o Agregado Monetário M3, respectivamente. Os resultados presentes nas Tabelas indicam, para a Demanda por

Moeda pelos Agregados Monetários M1 e M2, a existência de 2 vetores de cointegração com um nível de significância de 5% utilizando o número de defasagens selecionado pelo critério de seleção de Schwartz (SIC) e 2 vetores de cointegração com um nível de significância de 1% utilizando o número de defasagens selecionado pelo critério de seleção de Akaike (AIC). Para a Demanda por Moeda pelo Agregado Monetário M3, os resultados indicam a existência de 2 vetores de cointegração com um nível de significância de 5% utilizando ambos os números de defasagens selecionados pelos dois critérios, o de Schwartz (SIC) e o de Akaike (AIC). Com base nestes resultados, assumiu-se que a ordem de cointegração da Função de Demanda por Moeda é CI (1,2) para o Agregado Monetário M1 e CI (1,1), para os Agregados Monetários M2 e M3.

A estimação da Função de Demanda por Moeda foi realizada também através do uso do pacote estatístico STATA e os resultados obtidos são apresentados nas Tabelas A.16.1, A.16.2 e A.16.3 do Apêndice A. A Tabela A.16.1 mostra os resultados da estimação da Função da Demanda por Moeda medida pelo M1, a Tabela A.16.2 mostra os resultados da estimação da Função da Demanda por Moeda medida pelo M2 e a Tabela A.16.3 mostra os resultados da estimação da Função da Demanda por Moeda medida pelo M3. Os resultados de ambas as estimações indicam que a Demanda por Moeda no país (medida por qualquer dos agregados monetários) é auto-determinada pelo próprio Agregado Monetário nas suas primeira, segunda e terceira defasagens, sendo que a Demanda pelo Agregado Monetário M3 também sofre o efeito da sua quinta defasagem. Além do seu poder de auto-determinação, os resultados da Tabela A.16.1 mostram que a Demanda pelo Agregado Monetário M1 também sofre influência do Rendimento na sua quarta defasagem. Este facto pode indicar que o nível de Rendimento do país apenas afecta a Demanda por Moeda com maior liquidez (M1) e que a Demanda por Moeda com menor liquidez (M2 e M3) não sofrem o efeito da variação do Rendimento; isto é, os volumes de depósitos à prazo (em moeda estrangeira e em moeda nacional) realizados no sistema financeiro moçambicano, não sofrem influência do nível de Rendimento do país.

Um facto curioso que resultou nas estimações é o sentido do efeito do Rendimento na Demanda por Moeda. Contrariamente ao estipulado pela teoria econômica e apresentado no Capítulo 5, os resultados da Tabela A.16.1 mostram uma relação inversa entre Rendimento e Demanda por Moeda (elasticidade de -0.37%), o que sugere que para o caso moçambicano, durante o período analisado, o Rendimento afetou negativamente a Demanda por Moeda (M1). Outro facto curioso obtido nas estimações foi o sentido do efeito dos Agregados Monetários no seu próprio comportamento; os resultados obtidos indicam um efeito inverso

dos Agregados Monetários na sua própria dinâmica de variação, com elasticiadades que variam de -0.22% a -0.55%, principalmente nas suas primeiras três defasagens. Não foi encontrada evidência da determinação do Rendimento na Demanda pelos Agregados Monetários M2 e M3. Os resultados das Tabelas também mostram que não há evidência da determinação da Taxa de Juros Real na Demanda por Moeda no país.

As outras equações resultantes da estimação do Vetor de Correção de Erros (VEC) mostraram que o nível de Rendimento do país (medido pelo valor do PNB) é afectado negativamente pela Oferta de Moeda (aos seus diversos níveis de liquidez – M1, M2 e M3) em momentos defasados, mas não é afectado pela Taxa de Juros e nem pelo próprio Rendimento em momentos defasados. Os resultados indicam que as primeiras sete defasagens do M1 afectam negativamente o Rendimento, as duas primeiras defasagens do M2 afectam negativamente o Rendimento e as duas primeiras defasagens do M3; mais a sua quinta, sexta e sétima defasagens afectam negativamente o Rendimento. Estes resultados também contrariam a teoria econômica, que determina que um aumento gradual na Oferta de Moeda, seja pela variação negativa na taxa de juros, seja pela variação de qualquer outro instrumento de política monetária, vai em última instância estimular a atividade produtiva em um sistema econômico. Os resultados apontam que o M1 é o Agregado Monetário com maior efeito de persistência no Rendimento, seguido pelo M3 e depois pelo M2.

Ainda na estimação do VEC foi possível constatar que a Taxa de Juros do país não é afectada nem pela Oferta de Moeda e nem pelo nível de Rendimento, mas é afectada por si mesma nas suas primeiras duas defasagens. Os resultados obtidos nas Tabelas A.16.1, A.16.2 e A.16.3 mostram que a Taxa de Juros tem um poder de auto-determinação nas primeiras defasagens, com elasticidades que variam de 0.23% a 0.29%. Estes resultados indicam que, durante o período analisado, o valor da Taxa de Juros praticada no país em um determinado período mensal dependeu, em média, em cerca de 24% do valor da Taxa de Juros praticada no período mensal imediatamente anterior e em cerca de 26% do valor da Taxa de Juros praticada no segundo período mensal anterior. Refira-se que estes resultados estão em linha com os resultados obtidos na estimação da Função Investimento na secção 7.2, que também mostraram uma persistência da Taxa de Juros resultante de valores praticados nos períodos anteriores. Portanto, os resultados de ambas as estimações sugerem que uma possível forma de explicar o comportamento da Taxa de Juros no país pode passar pela estimação de um modelo univariado por forma a perceber melhor a dinâmica de auto-determinação da Taxa de Juros no mercado financeiro do país.

7.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente capítulo foi fazer a aplicação do modelo macroeconômico Keynesiano à economia moçambicana para o período 1995-2014. Para atingir este objetivo, primeiro foi apresentado o modelo de equilíbrio geral Keynesiano no Capítulo 5, destacando os equilíbrios parciais no mercado de bens, no mercado monetário/ financeiro e no setor externo. Em segundo lugar, no Capítulo 6, foi apresentada a metodologia a ser utilizada para a estimação das funções comportamentais do modelo de equilíbrio geral Keynesiano apresentado no Capítulo 5, a qual se resumiu na aplicação de modelos econométricos multivariados com mecanismos de correção de erros (modelos VEC). Com base na aplicação destes modelos econométricos ao modelo de equilíbrio geral Keynesiano, fazendo uso de dados de variáveis macroeconômicas do país referentes ao período 1995-2014, foi possível obter importantes conclusões sobre o nível de aplicabilidade do modelo de equilíbrio geral à economia do país.

Os resultados da estimação das funções comportamentais do mercado de bens, funções (5.3), (5.5), (5.9), (5.13) e (5.15) do Capítulo 5, apresentados no Apêndice A, mostraram que nenhum dos parâmetros das respectivas funções foi estatisticamente significativo. Para o período analisado, não foi encontrada a evidência de que o Rendimento Disponível das famílias do país determinou o seu nível de Consumo, não foi encontrada a evidência de que o nível de Rendimento do país afectou a arrecadação dos Impostos coletados, não foi encontrada a evidência de que a Taxa de Juros praticada no mercado financeiro afectou os Investimentos realizados no país, não foi encontrada a evidência de que as principais Taxas de Câmbio do país afectaram as suas Exportações e, finalmente, também não foi encontrada a evidência de que as Taxas de Câmbio e o nível de Rendimento do país afectaram as suas Importações. Ao invés de se verificar uma relação de causa-e-efeito entre variáveis explicadas e variáveis explicativas nestas funções, os seus resultados evidenciaram a existência de uma relação de auto-determinação em algumas variáveis (Impostos, Taxa de Juros e Taxa de Câmbio Real).

Dado que os parâmetros obtidos não apresentaram significância estatística, não foi possível realizar a estimação da função de equilíbrio do mercado de bens (Função IS), a função (5.21) do Capítulo 5. Uma vez que esta função depende de vários parâmetros associados às funções anteriores e sendo estes parâmetros não significativos nas estimações realizadas, a estimação da função que associa níveis de Taxas de Juros e níveis de Rendimento que equilibram o mercado de bens tornou-se impossível. Este resultado sugere

que, para o caso moçambicano, durante o período analisado no presente estudo, não é possível fazer a utilização da Relação IS para explicar o comportamento do seu mercado de bens. Consequentemente, os resultados obtidos sugerem que o modelo de equilíbrio geral IS-LM-BP pode não ser aplicável para explicar o funcionamento da economia do país, visto não ser possível utilizar a Relação IS para explicar o equilíbrio do mercado de bens no país. Em simultâneo, estes resultados sugerem que o mercado de bens no país não é determinado pelos pressupostos da Relação IS e que a política fiscal adotada no país não produza os efeitos sobre o seu mercado de bens, da forma como o determinado pela Relação IS.

Os resultados da estimação da função de Demanda por Moeda, função (5.30) do Capítulo 5, apresentados no Apêndice A, mostraram que não há evidência de que a taxa de juros tenha determinado a Demanda por Moeda no país durante o período analisado. Embora significativo, o parâmetro que mede a sensibilidade da Demanda por Moeda em relação à variação do nível de Rendimento, apresentou um sinal contrário ao esperado. Ao invés de afetar positivamente a Demanda por Moeda conforme o determinado pela teoria econômica, o resultado obtido para este parâmetro indicou um efeito negativo na Demanda por Moeda. Porém, o parâmetro só foi significativo para o Agregado Monetário M1, não apresentando significância para os Agregados Monetários de maior dimensão (M2 e M3), o que diminui a consistência da evidência do efeito do Rendimento da Demanda por Moeda no país. Uma importante conclusão obtida na estimação da função da Demanda por Moeda, foi a evidência da não existência de uma persistência monetária neste processo, obtida para todos os Agregados Monetários, com elasticidades negativas nas primeiras defasagens do M1, M2 e M3. Os resultados da estimação sugerem ainda que a Demanda por Moeda no país, durante o período analisado, foi mais um processo univariado do que multivariado, com os próprios Agregados Monetários a apresentarem um poder de auto-determinação.

Assim, dada a não evidência do efeito da Taxa de Juros e a fraca evidência da determinação do nível de Rendimento na Demanda por Moeda do país, também não foi possível estimar a função LM, função 5.34 do Capítulo 5, pois esta função depende dos parâmetros da Função de Demanda por Moeda. Esta conclusão, aliada à conclusão obtida para o mercado de bens, torna mais evidente a não aplicação do modelo de equilíbrio geral IS-LM- BP à economia do país. Ademais, fica também não possível a estimação a condição de equilíbrio do setor externo, Relação BP (funções 5.41 e 5.42 do Capítulo 5), pois esta relação depende da existência dos parâmetros das funções comportamentais do equilíbrio do mercado de bens e do equilíbrio do mercado monetário/ financeiro. Portanto, os resultados do exercício realizado no presente capítulo (aplicação de dados de variáveis macroeconômicas do país para

o período 1995-2014) sugerem que o modelo macroeconômico Keynesiano (modelo de equilíbrio geral IS-LM-BP) é um modelo não aplicável para explicar o comportamento do mercado de bens, do mercado financeiro e do setor externo do país. Esta importante conclusão sugere que a emplementação de políticas fiscais, monetárias e comerciais, para o caso moçambicano, podem não gerar os efeitos postulados na análise do modelo de equilíbrio geral IS-LM-BP.

A análise realizada neste capítulo mostrou que as condições de funcionamento da economia moçambicana podem ser diferentes das condições do modelo de equilíbrio geral, o que torna o efeito das políticas macroeconômicas (fiscal, monetária e comercial) adotadas no país bastante ambíguo e incerto. Os resultados obtidos não permitiram validar e comprovar que os efeitos destas políticas para o país são os mesmos dos determinados pela teoria econômica, especialmente pelo modelo de equilíbrio geral. Os próximos capítulos da pesquisa irão procurar modelos alternativos que possam melhor se ajustar ao comportamento da economia do país. Inicialmente, dada a forte sugestão da evidência de auto-determinação em algumas variáveis macroeconômicas, serão utilizados modelos univariados que possam capturar a persistência das variáveis no tempo. Para este efeito, serão utilizados modelos univariados Autoregressivos Integrados de Média-Móvel (ARIMA) e modelos univariados Decompostos em Componentes não Obervados (UCARIMA). Posteriormente, também serão utilizados modelos multivariados propostos na literatura para melhor perceber a dinâmica multivariada existente entre algumas variáveis que possam ajudar a explicar a determinação e os efeitos das políticas econômicas no país, principalmente a política monetária. O próximo capítulo apresenta a metodologia básica de estimação dos modelos ARIMA e UCARIMA. Os restantes capítulos da pesquisa irão fazer uso de modelos univariados e multivariados para analisar as dinâmicas univariada e multivariada existentes na economia do país.

8 METODOLOGIA DE MODELOS ECONOMÉTRICOS UNIVARIADOS