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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: A FORMAÇÃO LEITORA DA CRIANÇA COMO UM PROCESSO ATIVO, DINÂMICO E LITERÁRIO

No documento 2019DeboraGasparFalkembackOliboni (páginas 115-126)

“E embora ler literatura não transforme o mundo, pode fazê- lo ao menos mais habitável, pois o fato de nos vermos em perspectiva e de olharmos para dentro contribui para que se abram novas portas para a sensibilidade e para o entendimento de nós mesmos e dos outros”.

Yolanda Reyes

A formação de uma criança leitora, como constatado neste trabalho, é um processo de formação laborioso e difícil, porém necessário que envolve fatores como: a construção de conhecimentos prévios, as experiências de leitura proporcionadas pelos professores às crianças com mediação eficiente em consonância com a família e a utilização do livro literário como um objeto cultural em interação com outros suportes textuais, podem ser apontados como componentes fundamentais do processo de formação do leitor na infância.

A literatura infantil é uma ferramenta valorosa que auxilia o professor no aprimoramento de práticas favoráveis à construção da identidade leitora da criança, por meio da imaginação, criatividade, apreço pelos livros e na apropriação do processo da escrita, além de trazer objetos com características da arte, tendo o texto literário o prazer como propósito primeiro. Nessa linha, “o ensino da leitura literária deve considerar o mesmo princípio em todos os níveis escolares: focar na estética e na compreensão leitora, sem perder de vista as funções da literatura” (GIROTTO, NETO, SOUZA, p.212)

Todavia, a existência dos livros de literatura infantil, ou mesmo de uma biblioteca no ambiente escolar não garante o sucesso de atitudes e condutas positivas em relação à leitura. É fundamental que, além da presença e acesso desse objeto da cultura humana, haja a mediação para o trabalho de maneira intencional, a fim de proporcionar à criança experiências significativas com a leitura que estará presente em toda a sua vida.

Cyntia Girotto, Irando Alves e Renata Junqueira (2016, p.213) resumem com eficiência como deve agir o professor como mediador:

É preciso um mediador de leitura com formação suficiente para compreender: o processo dialógico e complexo da leitura ( entendida como compreensão); as funções da literatura para não perder de vista a estética do texto literário e as intenções ideológicas de seu discurso; a criança como ser que, assim como o adulto, precisa ver na leitura literária uma necessidade para que a atividade de ler tenha sentido; a criança pequena como sujeito ativo, que têm vivências e, portanto, conhecimentos; os

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possíveis interesses e características físicas, motoras, emocionais e intelectuais dos pequenos; o livro como objeto de várias dimensões culturais; o ensino enquanto processo significativo e a aprendizagem da literatura por meio de prazeres; a importância de planejar e sistematizar o ensino da leitura; a necessidade de ouvir os pequenos, propiciando diálogos com e entre eles, os objetivos da educação, considerando as diversas discussões da Filosofia que tratam da necessidade de emancipação do sujeito e da promoção de sua criticidade e autonomia; a importância do diálogo.

O trabalho do mediador deve ser amplo e competente. Durante a realização da pesquisa, foi constatado ao longo das observações efetuadas a importância do professor aprofundar seus estudos, investir em sua formação pedagógica e literária, abrir novos espaços em que as crianças possam vivenciar melhor as histórias de forma lúdica, interativa em que os pequenos participem totalmente das atividades, e, que não enfatize o silêncio em suas aulas de leitura, mas que oportunize às crianças momentos em que possam manusear, pegar os livros e também os acervos novos, sem receios que estraguem ou rasurem.

Nessa fase do desenvolvimento a criança precisa interagir com a literatura infantil, estar exposta a diversas situações que permitam a ela ampla possibilidade de atribuição de sentidos àquilo que “lê” de modo a oferecer a ela um saber sobre a cultura e o mundo. Pude compreender, com as observações, que as crianças são também mediadoras e fazem isso ao compartilhar suas experiências, gostos e repertórios umas com as outras, isso só é possível, à medida que o professor promova esses momentos de conversas e interações entre elas.

Desse modo, a mediação da leitura de textos literários para crianças pequenas exerce importante papel na formação do leitor, principalmente porque atua na dimensão simbólica da linguagem que faz a criança aprimorar sua imaginação, vocabulário, afetos e emoções.

É relevante salientar que na Educação Infantil a mediação familiar é fundamental para a formação leitora da criança e construção de conhecimentos, a ideia enfatizada pelas professoras pesquisadas é de aproximar a família cada vez mais dos projetos de literatura que a Escola André Zaffari realiza para as crianças, fazendo com que os responsáveis por ela conheçam as ações da escola e se envolvam mais nas atividades que estimulam o gosto pela leitura.

Esta dissertação foi construída a partir de uma proposta de pesquisa envolvendo professores e crianças. O desafio posto era compreender como acontece o trabalho com o texto literário na Educação Infantil, analisando o perfil e a concepção leitora dos professores mediante as experiências com a leitura que foram trabalhadas com as crianças, bem como a recepção que os pequenos tiveram durante o trabalho com a literatura infantil.

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Ao realizar tal investidura, pude perceber como ponto positivo que as experiências que as crianças da Educação Infantil da escola André Zaffari tiveram com o texto literário e ainda tem, na maioria das vezes despertou o encanto, a sensibilidade, a curiosidade levando-as a manifestarem-se de modos diferentes com opiniões, expressões faciais, movimentos corporais que ajudou na produção de novos sentidos para suas vivências reais e imaginárias.

No início da pesquisa a concepção que tinha sobre a literatura infantil era superficial pois durante minha trajetória acadêmica no curso de Pedagogia faltou um trabalho mais voltado a leitura na infância e ao texto literário, não houve uma disciplina específica que abordava a literatura na formação dos pequenos e isso me trouxe lacunas que procurei sanar durante este trabalho.

Conforme ia estudando os estudiosos contemporâneos desse campo, as observações que fiz na escola, minha concepção de literatura infantil foi mudando gradativamente. Esta pesquisa contribuiu muito na minha evolução como mãe, pesquisadora e profissional, pois foi mudando o pensar errôneo que eu tinha em relação a literatura infantil. Agora ficou compreendido o valor estético e compreensível do texto literário, sua função humanizadora. As vivências que a literatura proporciona são únicas e significativas e esse trabalho precisa começar desde cedo, por meio de atividades lúdicas que façam a criança vivenciar e sensibilizar-se com a sua realidade

A dimensão formativa que a leitura traz é um aspecto importante deste trabalho. Isso porque envolveu não só as interações que a pesquisadora teve com as crianças, mas também a relação que ela construiu com cada professora das turmas em que realizou as observações, um dos materiais de análise e reflexão desta pesquisa.

Dos resultados obtidos por meio da análise dos questionário (escolhidas as questões mais significativas em relação à leitura) e observações das práticas, pode-se constatar que das doze professoras pesquisadas, todas elas utilizam a literatura infantil como um meio para a formação da criança leitora, embora percorrendo por caminhos diferentes, com seu jeito próprio de atuar, pensar e elaborar as experiências com a leitura.

Um fator negativo demonstrado nos questionários é que nem todas as professoras responderam a todas as questões, algumas não foram respondidas, outras as respostas foram muito objetivas, não desenvolvendo a ideia proposta para aquele assunto.

Foi percebido durante o trabalho de campo que três professoras, Brinco de Princesa, Rosa e Hortênsia apresentaram algumas concepções equivocadas sobre determinadas questões, em relação a qualidade das histórias, a interação no momento da escuta, o cuidado excessivo com os livros sem deixar as crianças manusearem pois tinham receio que estragassem,

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evidenciou-se assim, diferenças na fala dessas docentes e nas atividades com a leitura proporcionadas às crianças.

Outro aspecto a ser pontuado é que somente quatro educadoras, correspondendo a 33.33% do total, utilizaram a biblioteca para as experiências com a leitura e que uma docente foi proibida de realizar sua atividade nesse espaço, dirigindo-se a sala de vídeo, notando uma possível indiferença pela equipe pedagógica em relação ao trabalho desta professora naquele momento.

Diante desse fato, fica claro que é preciso compreender a importância desse ambiente para a formação do leitor literário, explorar melhor desenvolvendo mais vezes atividades com a leitura que permitam às crianças desenvolverem hábitos, atitudes de apreço com os livros e ao espaço bibliotecário, pois os pequenos tiveram poucas oportunidades de manusearem os livros e interagir, tanto no interior da biblioteca como na sala de aula.

A contação de histórias foi o recurso mais utilizado pelas professoras durante as experiências com a leitura, demonstrando que são necessárias outras maneiras de trabalhar o texto literário na Educação Infantil, pois apenas uma docente realizou uma brincadeira como forma de registro, nessa, pode-se perceber o quanto as crianças mostraram-se receptivas vivenciando a literatura de forma prazerosa e interativa, as demais docentes em pelo menos uma prática com a leitura, os registros foram em forma de desenhos.

Outro aspecto relevante observado foi o domínio do texto apresentado por duas professoras que preferiram contar a história sem o uso do livro, mostrando a prática da leitura em voz alta evidenciada pelo autor Bajard em que a criança se beneficia, desse modo, de histórias que passam por um duplo canal linguístico, o da língua do contador e o da língua do escritor” (BAJARD, 2014, p.118).

Por todo o estudo apresentado, pôde-se averiguar que fazem-se necessárias novos conhecimentos sobre o saber literário por parte dos professores. É preciso maior investimento na formação no que tange à literatura infantil e priorizá-la, não somente do acervo destinado às crianças como também de novas metodologias que diferenciem o trabalho com a literatura, que não fique submetido em sua maioria, apenas em um tipo de recurso, mas que as atividades inspirem a criança fazendo com que perceba a ludicidade presente em cada experiência, para que assim possa envolver-se mais de forma autônoma e prazerosa na busca de interpretações, construção de valores que assegurem sua qualidade de vida social e afetiva.

Tais constatações permitem dizer que a temática da literatura infantil como meio para a formação da criança leitora, ainda carece de pesquisas e reflexões que sejam capazes de trazer

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um maior esclarecimento sobre como desencadear, apresentar e ter novos procedimentos do texto literário na infância.

Diante dessas proposições, cabe considerar que a realização desta pesquisa, vislumbrou possibilidades de construção de novos estudos sobre o tema considerando que a literatura potencializa a abertura de horizontes e construção de sentidos desde a mais tenra idade. Novas ideias sobre propostas que envolvam a literatura infantil no espaço escolar fazem-se necessárias para aprimorar o trabalho do professor juntamente com a família, de modo a garantir que todas a crianças desenvolvam hábitos, apreciação literária que durem não apenas na infância, mas que tais atitudes perpetuem durante toda sua trajetória de vida.

Nessa perspectiva, parte-se da premissa de uma educação plena da criança, com momentos diários que envolvam diferentes experiências com a leitura partindo do texto literário desde a infância. Que as vivências com a literatura permitam aos pequenininhos e pequenos experimentar outras sensações, sensibilizar-se com o outro, transformar-se a fim de melhorar suas relações, proporcionando consequentemente o desenvolvimento e a ampliação de suas capacidades de modo que a formação leitora da criança seja realmente um processo ativo, dinâmico e literário.

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APÊNDICE A

No documento 2019DeboraGasparFalkembackOliboni (páginas 115-126)