• Nenhum resultado encontrado

Essa pesquisa se insere no rol das investigações do Núcleo de Teoria e História da Educação, e tomou como ponto de partida a história das instituições escolares. E, em uma busca ao portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) não foi encontrado, até o presente momento, nenhum trabalho referente a grupos escolares em Pernambuco.

A partir desse levantamento, um dos meus interesses foi o de compreender alguns aspectos do cenário político e educacional no Brasil, especialmente no município de Limoeiro-PE, entre 1968 e 1985, tomando por objeto de análise o Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, a partir do seguinte questionamento: Quais os interesses políticos que subsidiavam a construção e inauguração do grupo escolar no período estudado?

Frente a essa questão, os objetivos foram: organizar e constituir parte da história e as memórias do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo entre 1968 e 1985; investigar o processo de instalação do grupo escolar em relação à expansão do município de Limoeiro quando da inauguração da Vila da Cohab; e analisar a organização do Projeto Político Pedagógico do grupo no período estudado.

Diante desses objetivos e da questão central, fui à procura de respostas utilizando fontes orais, documentais e iconográficas que foram de fundamental importância para a nossa pesquisa. Por meio da análise dessas fontes espero ter conseguido oferecer ao leitor um quadro, ainda que geral, das múltiplas interfaces que compõem a instituição objeto de estudo.

Para iniciar a pesquisa empírica, fui visitar o Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, e, sem muitas pretensões, procurei obter as primeiras informações e encontrar algum material referente ao mesmo, e pessoas que pudessem vir a ser entrevistadas.

Infelizmente no grupo escolar não encontrei nenhum material. A funcionária que me atendeu falou de um breve histórico feito por uma professora, mas que para ter acesso ao mesmo só com a diretoria. O fato me deixou perplexa, e me perguntei como uma escola não tem nenhuma memória impressa sobre a sua inauguração,

nenhum documento que resgate o seu passado a não ser o pequeno histórico feito por uma professora, como vimos em análise no último capitulo.

Devido à distância do município em que eu morava para Limoeiro, disponibilidade dos sujeitos informantes, limitações de tempo, minha falta de experiência em pesquisa, dificultaram a construção do trabalho em campo. Além disso, o descaso da gestão municipal na preservação da memória, especialmente pela Secretaria de Educação de Limoeiro e pelos gestores da própria escola, dificultaram o avanço em nosso estudo.

Não obstante, funcionários de algumas unidades visitadas, como do arquivo municipal, deram significativa contribuição. Mas, mesmo encontrando os documentos oficiais, importantes para o estudo, faltava estrutura adequada, como por exemplo, documentos fora da ordem de catalogação, mal conservados, falta de climatização, sem um funcionário especializado no manuseio nesse tipo de acervo.

O arquivo resume-se a um depósito. Para ter acesso ao mesmo é necessário solicitar a presença do funcionário responsável, o “Mudinho”, pois o arquivo fica fechado, só ele tem a posse da chave. O funcionário trabalha na prefeitura, quando é necessária sua presença, ele se desloca da sede da prefeitura até o arquivo.

Em relação aos jogos escolares, citados em algumas falas, por exemplo, minha procura por fotografias ou troféus, nesse lugar, não teve êxito. Ao procurar o NAS (Núcleo de Atenção ao Servidor) onde são arquivados materiais sobre esses e outros eventos, o funcionário que me atendeu na falta do coordenador, falou que o material sobre os jogos escolares de 1970 não existe, só os de época recente, e que possivelmente os materiais referentes ao ano de 1970 foram destruídos pela cheia que ocorreu no município em 1974.

Além de todos esses aspectos, uma das limitações que encontrei, já foi dito por Souza (2009), ao se referir às pesquisas em História da Educação feita por não historiadores, ou seja, pedagogos, professores de Educação Física, etc., isso também foi um dos grandes empecilhos no trato das ferramentas para um historiador não profissional.

Apesar das adversidades, a realização dessa pesquisa foi prazerosa, pois o objeto estudado é significativo, fez parte da minha história de vida, da minha

formação e da maioria dos meus irmãos, como já reafirmei, e construir parte da sua história era algo almejado por muito tempo.

No decorrer da construção do trabalho, tive a oportunidade de analisar e compreender mais detalhadamente o momento político que vivia o Brasil, os conflitos existentes devidos o advento da ditadura militar, a visão do governo em relação à educação e as reformas ocorridas no sistema educacional brasileiro.

E, nesse contexto, mesmo turbulento, conhecer um pouco da história de Limoeiro, sua origem, sua geografia e um pouco do que ocorreu na época estudada em relação ao cenário político e educacional, foi fundamental para minha formação de educadora.

Descobri, também, que o grupo escolar foi construído por causa da expansão do município devido a construção da Vila da Cohab. Só havia escolas no centro da cidade de Limoeiro, e a vila ficava distante do centro urbano o que dificultava o acesso dessas crianças a escola.

Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo era um simples agricultor, natural do município de Belo Jardim, nem era político, talvez até um semianalfabeto, que só sabia ler e escrever. Conforme consta no site da Fundaj um histórico que fala da vida de seu irmão Chico Heráclio. Nesse histórico consta que o pai de Chico Heráclio colocou seus filhos nas escolas do Recife menos Otaviano Basílio, pois o mesmo já estava casado.

O grupo foi construído na gestão do então prefeito da época Adauto Heráclio Duarte, em homenagem a seu avô, colocou o nome do grupo escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo.

Inicialmente, pensei que Otaviano Basílio tinha sido um grande político do município de Limoeiro devido a ele pertencer à família Heráclio do Rêgo, que na época, tinha muita influência e prestigio no município, muitas pessoas que dela faziam parte tinham cargos políticos, eram prefeitos, vereadores.

Um exemplo era o Coronel Francisco Heráclio do Rêgo que foi um líder político na região. Diante disso, parecia obvio que ao grupo foi dado o nome Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo para que mais um membro da família Heráclio do

Rêgo fosse eternizado no município, haja vista que no município já existiam algumas escolas e avenidas com nomes de membros dessa família e que havia alguns interesses políticos subjacentes na construção do grupo.

Não identificamos nenhum interesse político na construção e inauguração do grupo. Mas sim, interesse político público. O grupo escolar foi fundamental para a comunidade da Vila da Cohab e sua redondezas e atualmente como escola municipal Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo continua sendo essencial para essas comunidades, pois só existe duas escolas públicas próximas da Vila da Cohab, a municipal Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo e uma do Estado.

Tal como o grupo escolar, a escola municipal é muito importante para aquelas comunidades. Atualmente a escola municipal oferece o ensino fundamental I, o ensino fundamental II e o EJA (Educação de Jovens e Adultos). Oportunizando as crianças, jovens e adultos daquelas comunidades, acesso a outros níveis de ensino que o grupo escolar não oferecia.

Ademais, acredito ser de grande importância a reconstrução do passado de um grupo escolar e a construção de parte de sua história. Pois além de preservar a sua memória, dá voz e vez as pessoas que foram essenciais para seu funcionamento que estão esquecidas e desvalorizadas pela sociedade pelo fato de não estarem ativas nas funções que exerciam.

Espero que de uma forma ou de outra esse trabalho possa contribuir com o resgate, valorização e preservação da memória do município de Limoeiro e do grupo objeto de estudo. Que os gestores da administração pública do município tenham a preocupação na preservação da memória, não só das instituições escolares, mas de tudo que faz parte da história do município, preservando assim a história do mesmo.

Apesar dos percalços ocorridos durante a realização deste trabalho de pesquisa nossos objetivos foram alcançados. Porém, acredito que poderia ter prolongado o período do estudo, não apenas 1968 até 1985 e, sim, até 1994, pois neste ano o grupo foi extinto. Mas devido à limitação de tempo para conclusão do mestrado e a falta de experiência não seria possível o prolongamento do recorte temporal.

Finalmente, algumas inquietações ainda persistem, como por exemplo: Por que o grupo escolar foi extinto em 1994 e repassado para rede estadual de ensino? Por que no ano de 1998 a escola foi municipalizada, sendo denominado de Escola Municipal Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo? Quando surgiram os primeiros grupos escolares no Estado de Pernambuco?

BIBLIOGRAFIA

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2ª ed. São Paulo, Moderna, 1996.

___________. A História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. Ed. São Paulo: Moderna, 2006.

__________Filosofia da educação. Ed. São Paulo: Moderna, 2006

ADESGUIANOS debatem amanhã apoio à Década da Educação. Diário de

Pernambuco. Recife, 1 de set. de 1970, p.6. Disponível nos arquivos da FUNDAJ.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa, Edições 70, 2007.

BARROS, José D’assunção. O projeto de pesquisa em história: da escolha do tema ao quadro teórico. 5ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3ª Ed. São Paulo, Companhia das Letras, 1994.

BOGDAN, R.C. e BIKLEN, S.K. Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora. LTDA.1994.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: 1995, 33ª Ed.

BÍBLIA, Velho Testamento. Provérbios. Português. In: BÍBLIA sagrada: contendo o antigo e o novo testamento. Tradução João Ferreira de Almeida. Ed. rev. atual. na nova ortografia. São Paulo: Geográfica Editora, 2010. p. 720.

BOURDIEU, Pierre. A miséria no mundo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993

CERTEAU, Michel de. A operação histórica. In: LE GOFF, Jacques (Org.) História: novos problemas. Trad. de Theo Santiago. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976. CIAMPA, Antônio da Costa. A estória do Severino e a história da Severina: um ensaio de psicologia social. São Paulo, Brasiliense, 1996.

CERTE realizará provas de Supletivo em todo o Estado. Diário de Pernambuco. Recife, 1 de mar. de 1974, p.6. Disponível nos arquivos da FUNDAJ.

CALMOM: “analfabetismo ameaça a sobrevivência do Brasil”. Diário de

Pernambuco. Recife, 25 de fev. de 1970, p.2. Disponível nos arquivos da FUNDAJ.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

________Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

GONH, Maria da Glória. Educação não-formal e o educador social: atuação no desenvolvimento de projetos sociais. São Paulo: Cortez, 2010.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IX Recenseamento Geral do

MARINHA do Brasil: “Marinha intensifica os seus cursos de alfabetização”. Diário de

Pernambuco. Recife, 2 de out. de 1970, p.9. Disponível nos arquivos da FUNDAJ.

Mills, C. Wright. A imaginação Sociológica, Rio de Janeiro. Zahar, 1982.

MIGUEL, Maria Elisabeth Blank. A História, a memória e as instituições

escolares: uma relação necessária. In:. Cadernos de História da Educação. V. 11,

n.1. Jan-jun. 2012.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em Saúde. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 2000.

MONTENEGRO, Antônio Torres. História oral e memória: a cultura popular revisada:São Paulo, contexto, 1992.

PEREIRA, Carlos Eduardo de Melo. Uma breve história de Limoeiro. Olinda: Livro Rápido, 2013.

PREFEITURA MUNICIPAL DE LIMOEIRO. Plano diretor de Limoeiro. Relatório final. Estruturação e divulgação do plano diretor. Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco. CONDEPE. FIDEM. Etapa final. Produtos III e IV. Sintaxe Consultoria. Dezembro.2006.

ROMANELLI, Otaiza de Oliveira. História da educação no Brasil: (1930/ 1973). 29. Ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

SANTIAGO, Eliete e NETO, José Batista (orgs.). Paulo Freire e a educação

libertadora. Recife. Editora da Universidade Federal de Pernambuco. 2013.

SAVIANI, Dermeval. O Legado educacional do “longo século XX” brasileiro. In:______et al. O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas, São Paulo: Autores Associados,2004, p.9-57.

______.Instituições escolares no Brasil: conceito e reconstrução histórica.In NASCIMENTO, Maria Isabel Moura et alli. (Orgs.) Instituições escolares no Brasil: conceito e reconstrução histórica. Campinas, SP: Autores Associados, 2007, p. 3-26. _______.História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2010.

SANTOS, Evson Malaquias de Moraes (Org.). UFPE: instituição, gestão, política e

seus bastidores. Recife: Editora da UFPE, 2012.

SOUZA, Rosa Fátima de. Lições da escola primária. In: SAVIANI, Dermeval et al. O

legado educacional do século XX no Brasil.Campinas, São Paulo: Autores

associados. 2004, p.109-161.

SOUZA, Edilson Fernandes de (Org.). Histórias e memórias da educação em

Pernambuco. Recife. Editora da UFPE, 2009.

SOUZA, Edilson Fernandes de, SIMÕES, José Luís e SENA, Izabel Adriana de Sena (Orgs.). Histórias e memórias da educação em Pernambuco. v.2. Recife. Editora da UFPE, 2014.

Dissertações e Teses

FIRMINO, Antônio Barbosa. A Escola estadual professor José Inácio de Sousa

nas décadas de 1960 a 1980: um projeto político e pedagógico contra-hegemônico?

Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-Graduação em Educação. ( Tese de Doutorado). 2010.

FIGUEIROA, Ana Paula. O Instituto de educação de Pernambuco na sua

primeira década (1946 a 1955): em cena, as práticas das atividades físicas na

memória das normalistas. Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós- Graduação em Educação. (Dissertação de Mestrado). 2012.

SILVA, Adélia Alves da. Memórias da educação pelo cordel no Recife na década