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O grupo escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo (1968-1985)

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

NÚCLEO DE TEORIA E HISTÓRIA

ROSEANE SILVA DE SOUZA

O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO

HERÁCLIO DO RÊGO (1968-1985)

RECIFE

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ROSEANE SILVA DE SOUZA

O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO

HERÁCLIO DO RÊGO (1968-1985)

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação.

RECIFE

2014

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Andréia Alcântara, CRB-4/1460

S729g Souza, Roseane Silva de.

O grupo escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo (1968-1985) / Roseane Silva de Souza. – Recife: O autor, 2014.

185 f. ; 30 cm. Orientador: José Luís Simões.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, CE. Programa de Pós-graduação em Educação, 2014.

Inclui Referências, Anexos e Apêndices.

1. Educação e Estado. 2. Educação - História. 3. UFPE - Pós-graduação. I. Simões, José Luís. II. Título.

379 CDD (22. ed.) UFPE (CE2014-37)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ROSEANE SILVA DE SOUZA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

TÍTULO: O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO HERÁCLIO DO RÊGO

(1968-1985)

COMISSÃO EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof. Dr. José Luis Simões

1º Examinador/Presidente

_________________________________________________ Profª. Drª. Auxiliadora Maria Martins da Silva

2ª Examinadora

_________________________________________________ Prof. Dr. Edilson Fernandes de Souza

3ºExaminador

MENÇÃO DE APROVAÇÃO: APROVADA

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Dedico este trabalho a minha mãe, Clarice Almeida da Silva (in memoriam), pela sua dedicação e amor pelos seus filhos, com quem eu aprendi o verdadeiro significado de ser mãe, e a meu pai, Severino Cipriano Silva, pelos ensinamentos. Dedico em especial, a meu esposo Edilson Fernandes de Souza (minha inspiração), que desde o início da minha vida acadêmica sempre me apoiou e me incentivou a ir cada vez mais além; a meus filhos Tatyane, Lidiane, Viviane e Edilson. Dedico, ainda, a meus irmãos Ronaldo, Rinaldo, Romildo, Rosimere, Rivaldo, Rildo, Romero, Renato e Rejane.

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AGRADECIMENTOS

A construção do conhecimento, mesmo que seja marcada por momentos de solidão, não seria possível sem a contribuição e colaboração das pessoas.

Diante desse fato, agradeço acima de tudo a Deus, em nome do seu filho Jesus Cristo, o meu Senhor, por ter permitido a realização desta pesquisa;

A meu esposo, Edilson Fernandes, por seu amor, carinho, compreensão, paciência, dedicação, incentivo, confiança e colaboração;

A meus filhos Tatyane, Lidiane, Viviane, pelo amor, carinho, admiração e incentivo; e em especial, a meu filho Edilson, que foi meu ajudante de mídia;

A Tulane, minha enteada, e Tatyane, minha filha, pelos momentos dedicados a seus irmãos;

A meus irmãos, pelo carinho e amizade; A meus familiares, pelo apoio;

Ao professor Gilvando Paiva, pela revisão ortográfica;

Aos Professores do curso de licenciatura em Pedagogia, em especial Kátia Cunha e Lígia Pacheco, pelos ensinamentos;

Aos colegas de curso, aos docentes e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco;

À Bolsa Reuni, que viabilizou as minhas idas e vindas a Limoeiro;

A minha a amiga Maria de Lourdes (Lurdinha), meu primo Manoel (in memoriam) e minha amiga Jaraíne, por me ajudarem nos momentos mais difíceis da minha vida e terem contribuído para a minha formação escolar;

Ao amigo Laudiélcio, pela revisão da ABNT e por tudo; Aos amigos, Eduardo e Márcio, pela colaboração;

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À Professora Rita, que me introduziu no campo de pesquisa, forneceu as primeiras informações para a construção do objeto e viabilizou o contato com a professora Josefa;

Ao esposo da professora Rita Hamilton e seus filhos Daniel e Denis, pela colaboração;

Aos entrevistados que participaram da pesquisa: Josefa de Lima Oliveira Diva Gomes da Silva, Maria Helena da Silva Azevedo, Maria Isabel Alves de Melo Silva, Adauto Heráclio Duarte, Silvina Cristiano da Silva, Romildo Cipriano Silva e, em especial, Sônia Maria Pereira da Costa, que colaborou não só com a entrevista, mas com alguns materiais que foram utilizados na pesquisa. Por terem, com as suas memórias, construído junto comigo a história do Grupo Escolar.

A minha primeira Professora Maria das Graças (in memorian), que me ensinou as primeiras letras e pela sua dedicação e carinho, que me ajudaram na adaptação ao convívio escolar;

A Pedro Amorim, viúvo da Professora Maria das Graças, por ter me recebido em sua casa, me concedido fotos da professora e me autorizado a utilizá-las no trabalho em sua homenagem;

À Professora Neuza Amorim, por ter me concedido foto dos alunos do Grupo Escolar;

A Ismael, filho da Professora Josefa, pela colaboração;

A meu sobrinho Marquinhos, pela colaboração tecnológica e apoio.

À Fundação Joaquim Nabuco e seus funcionários, por terem viabilizado o acesso ao arquivo da instituição;

Ao Arquivo Municipal de Limoeiro, especialmente ao funcionário “Mudo”, que colaborou na procura de documentos que foram utilizados na pesquisa;

À Secretaria de Educação de Limoeiro e seus funcionários, Rosejara Ramos, Solange Cabral, Gilda Arruda, Adélia, Rosicleide, Selma, Edilelza e Gildo, que se disponibilizaram em colaborar fornecendo material que foi utilizado na pesquisa;

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À Biblioteca Municipal de Limoeiro, na pessoa da funcionária Maria José, pela sua disponibilidade em fornecer material para ser pesquisado;

À Gerência Regional de Educação de Limoeiro e à funcionária Janicleide, por terem concedido o acesso a materiais do arquivo da instituição;

À diretora do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, Sandra Régia Rodrigues Mendes, e às funcionárias Gerciane e Joana, pela colaboração;

A Renata, funcionária da Agência de Viagens SP Turismo pela sua colaboração; Ao Professor de Xadrez Carlos Eduardo Pereira e seu primo Humberto, por terem enviado fotos de Limoeiro;

À Profª Drª Auxiliadora Martins da Silva, por aceitar o convite em participar da qualificação e defesa e pelas suas contribuições para enriquecimento do trabalho; Ao Prof. Dr. Edilson Fernandes de Souza, pela honrosa participação como co-orientador da pesquisa; suas orientações foram valiosas para a construção do objeto de pesquisa;

Ao Prof. Dr. José Luís Simões, pela sua disponibilidade em orientar a pesquisa e suas contribuições.

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“Porque o Senhor dá sabedoria; da sua boca procedem o conhecimento e o entendimento” (BÍBLIA, 2010, p. 720).

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RESUMO

Esta pesquisa se insere no rol dos estudos sobre as instituições escolares e foi norteada pela seguinte questão central: Quais interesses políticos subsidiaram a construção e a inauguração do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, no município de Limoeiro, Pernambuco-Brasil, em 1968? Diante dessa questão, a pesquisa teve por objetivos: a) investigar e compreender alguns aspectos do cenário político e educacional no Brasil, em Pernambuco e no município de Limoeiro, no período entre 1968 e 1985; b) organizar e reconstituir a história e as memórias do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, conhecê-las e disponibilizá-las, contribuindo para a história da educação de Pernambuco, em especial a do município de Limoeiro; c) investigar o processo de instalação do Grupo Escolar Otaviano, em relação à expansão do município de Limoeiro, quando da inauguração da Vila da Cohab; e d) analisar a organização, funcionamento e o Projeto Político Pedagógico do referido Grupo Escolar no período estudado. Para realizar a pesquisa, foram visitadas as seguintes instituições: Arquivo Municipal, Biblioteca Municipal de Limoeiro, Secretaria de Educação do Município, Câmara dos Vereadores e Arquivo da própria escola. Para subsidiar o olhar sobre o objeto de estudo, utilizamos fontes orais, fontes documentais, iconográficas e manuscritos, que serviram de instrumentos valiosos para a minha compreensão do período estudado.

Palavras-chave: instituições escolares; Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do

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ABSTRACT

This research falls within the list of studies on educational institutions and was guided by the following central question : Which political interests supported the construction and inauguration of the School Group Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo of the city of Limoeiro , Pernambuco, Brazil, in 1968 ? Faced with this question the research aimed to: a) investigate and understand some aspects of the political and educational scene in Brazil , Pernambuco and in the city of Limoeiro in the period between 1968 and 1985; b) organize and reconstruct the history and memories of the School Group Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo , know them and make them available, contributing to the history of education of Pernambuco, in particular, the city of Limoeiro; c ) investigate the process of installing the School Octaviano Group, regarding the expansion of the city of Limoeiro, at the inauguration of the Vila COHAB ; d) analyze the organization, functioning and Political Pedagogical Project of said School Group in the period studied. To conduct the research following institutions were visited: Municipal Archives, the Municipal Library of Limoeiro, Department of Education of the City, City Council, In the school itself. To complement the look on the object of study, we used oral sources, documentary, iconographic sources and manuscripts, which served as valuable tools to my understanding of the period studied .

Keywords: educational institutions; School Group Octaviano Basílio Heráclito do

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotografia 1 O município de Limoeiro na década de 1970 ... 43

Mapa 1 Mapa do Estado Pernambuco e o Município de Limoeiro ... 44

Fotografia 2 Histórico 1 Josefa, primeira professora do grupo, em 1969 ... Histórico feito pela professora Rita ... 47 61 Fotografia 3 A Vila da Cohab recém-inaugurada ... 62

Decreto 1 Lei nº 828 ... 63

Decreto 2 Lei nº 838 ... 63

Fotografia 4 Ex-prefeito Adauto ... 64 Fotografia 5 Página da carteira profissional da ex-diretora Sônia

Pereira, assinada pelo ex-prefeito Adauto ...

69

Fotografia 6 Ata dos Resultados Finais do Rendimento Escolar de Alunos do Grupo, da 3ª série, no ano de 1976 ...

72

Fotografia 7 1ª Comunhão dos alunos do grupo, realizada na Matriz de Limoeiro, no ano de 1970 ...

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT

ADESG

Associação Brasileira de Normas Técnica

Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CPC Centros Populares de Cultura CNE Conselho Nacional de Educação

CONTAP Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso COHAB Conjunto Habitacional

DEOPS Departamento Estadual de Ordem Política e Social EPB Estudos de Problemas Brasileiros

EJA Educação de Jovens e Adultos

FACAL Faculdade de Ciências da Administração de Limoeiro FUNDAJ Fundação Joaquim Nabuco

GTRU GERE

Grupo de Trabalho da Reforma Universitária Gerência Regional de Educação

GOT Ginásio de Orientação para o Trabalho IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC Ministério da Educação e Cultura

MCP Movimento de Cultura Popular MOBRAL

NAS

Movimento Brasileiro de Alfabetização Núcleo de Atenção ao Servidor

OSPB Organização Social e Política Brasileira UNE União Nacional dos Estudantes

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

CAPÍTULO 1 A EDUCAÇÃO NO BRASIL NOS ANOS DE 1968 a 1985 21 1-1 REFORMAS EDUCACIONAIS NA DITADURA MILITAR ... 28 1.2. O ENSINO PRIMÁRIO ... 35

CAPÍTULO 2 ASPCETOS GERAIS DE LIMOEIRO E OUTRAS FALAS. 42 2.1. LIMOEIRO: POPULAÇÃO E LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA ... 42 2.2. ENTREVISTA DA PROFESSORA JOSEFA: a primeira professora do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, em 1969 ... 46 2.3. FALAS CENAS E CENÁRIOS E O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO HERÁCLIO DO RÊGO 49 CAPÍTULO 3 O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO HERÁCLIO DO RÊGO ... 61 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 78 BIBLIOGRAFIA ... 83 ANEXOS ... 86 APÊNDICES ... 160

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INTRODUÇÃO

No ano de 2011, participei do concurso para professor oferecido pela prefeitura da cidade de Limoeiro. Fui classificada e, no início de 2012, convocada pela prefeitura para entregar os documentos necessários e assumir o cargo em uma das salas de aula do ensino básico.

Ao retornar à cidade com familiares para a entrega dos documentos, meu irmão nos chamou para irmos ao bairro da Cohab Velha, onde havíamos morado quando éramos crianças, e também ao bairro do Juá onde a escola em que havíamos estudado está localizada. Na época, 1970, chamava-se Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo. Foi nesse grupo escolar onde tive a minha primeira experiência como estudante, assim como a maioria dos meus irmãos. Passado o tempo, o Grupo Escolar elevou-se ao status de Escola Municipal Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo.

Tive boas recordações ao chegar ao bairro onde havíamos morado, mas rever a escola foi emocionante. Vieram às nossas mentes lembranças de situações vivenciadas e experimentadas na nossa infância, ocorridas em grande parte na mesma edificação que estava diante dos nossos olhos. Conforme Bosi, “a lembrança é a sobrevivência do passado. O Passado, conservando-se no espírito de cada ser humano, aflora à consciência na forma de imagens-lembranças” (BOSI, 1994, p. 53).

Acrescento, num silêncio e suspiro. Recordamos o nosso passado por meio de nossas memórias. Do mesmo modo como disse um dos entrevistados: Só lembranças! (Romildo, ex-estudante).

Essa visita à escola me fez refletir como seria significativo, interessante, estimulante e prazeroso fazer um estudo sobre a história dessa instituição escolar no período a partir da sua construção em 1968 até 1985, que comprende um dos períodos do seu funcionamento como grupo escolar, bem como o advento da ditadura militar e seus últimos anos. Período marcado por grandes transformações no sistema educacional brasileiro. Período em que o governo acreditava que a educação deveria estar a serviço do desenvolvimento econômico do país.

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Curso de Mestrado em Educação, da Universidade Federal de Pernambuco, no Núcleo de Teoria e História. De modo que segui as orientações de Bogdan e Biklen (1994):

[...] Independentemente da forma como surge um tópico, é essencial que ele seja importante e estimulante para si. Em investigação, a autodisciplina só o pode levar até um certo ponto. Sem um toque de paixão pode não ter fôlego para manter o esforço necessário à conclusão do trabalho ou limita-se a realizar um trabalho banal (1994, p. 85,86).

A escola citada tem um significado especial, pois foi a minha primeira escola. Nela tive o primeiro contato com a educação formal, onde aprendi a ler e escrever as primeiras palavras. E foi nesse grupo escolar que a maioria dos meus irmãos estudou, conforme já registrei.

O fato de ter pesquisado no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES trabalhos referentes aos grupos escolares, em Pernambuco, e não ter obtido êxito aguçou ainda mais a minha curiosidade em conhecer a história do referido grupo, que teve grande relevância social no período estudado.

O Grupo Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo oportunizou o acesso à educação de crianças e adultos oriundos da periferia e zona rural do municipio de Limoeiro. Em 1968, só existia escola no centro da cidade. Antes, apenas uma suposição, depois confirmada pela professora Josefa, primeira professora do grupo. Por isso, resolvi pôr em movimento os meus arquivos, conforme Wright Mills (1982).

Após ter feito um breve levantamento bibliográfico sobre as instituições escolares, dias depois voltei a visitar a escola, mas não como ex-aluna, e sim como pesquisadora.

Segundo Minayo (2000), o trabalho de campo é a etapa essencial da pesquisa qualitativa, e a rigor não se pode pensar em pesquisa qualitativa sem o trabalho de campo. E que na estratégia de entrada no campo o pesquisador tem que prever os detalhes do primeiro impacto da pesquisa, sua apresentação, a apresentação do pesquisador, a quem se apresenta, por meio de quem e com quem estabelecer os primeiros contatos.

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Diante disso, procurei entrar em contato com uma pessoa responsável pela escola, e, na falta da diretora, fui recebida pela coordenadora. Apresentei-me a ela e relatei o motivo da visita, ou seja, fiz um breve relato sobre a pesquisa. Ao falar com a coordenadora sobre a pesquisa, pedi informações sobre documentos existentes acerca da instituição no período escolhido. Ela, então, mandou falar com a funcionária na secretaria da escola, e esta me informou que havia somente um breve histórico feito por uma professora do município.

A informação dava conta, ainda, de que a professora que fez o histórico morava no bairro da Cohab Velha, na rua Q, e chamava-se Dona Rita. Então, de imediato, fui ao bairro indicado e procurei a casa de Dona Rita. Ao chegar à casa, não a encontrei, mas sim o seu filho e seu marido. A ambos expliquei o motivo da minha visita repentina, e eles me deram o telefone de Dona Rita. Liguei para ela e agendei outra visita.

No dia marcado, voltei à sua casa. Ela falou do breve histórico que havia feito sobre a escola a pedido de um professor do Curso de Pedagogia. Pedi, então, para ver o documento e lhe perguntei qual teria sido a fonte que ela pesquisou.

Ao responder, Dona Rita disse que foi na Secretaria de Educação de Limoeiro e me entregou uma cópia digitada e um rascunho manuscrito de suas ideias iniciais sobre o tema. Tudo correspondia apenas a uma lauda, mas de grande importância para o início desta investigação.

Dona Rita foi uma pessoa fundamental para minha pesquisa, pois, por meio dela, obtive as primeiras informações do grupo escolar e também acesso à primeira professora a trabalhar na escola, Dona Josefa, e a outros sujeitos que foram identificados ao longo da minha trajetória metodológica.

Dona Rita é, para mim, o que Minayo (2000) ressalta sobre a importância da apresentação do entrevistador ao campo por uma pessoa de confiança do entrevistado, pessoa que tenha uma representatividade e seja bem aceita na comunidade, possibilitando, assim, a mediação entre o entrevistado e o pesquisador. A autora ressalta também a importância da interação do pesquisador com os sujeitos entrevistados na pesquisa qualitativa. Foi por meio de Dona Rita que ocorreu a mediação entre o pesquisador e o entrevistado, e isso consequentemente

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facilitou a interação entre eles.

Por intermédio de Dona Rita, eu fui apresentada a alguns sujeitos que fizeram parte da pesquisa, assim como, a outros, sendo o nome dela usado para estabelecer o contato e adquirir confiança das pessoas. Um desses personagens foi a professora Diva, que meio desconfiada hesitou em conceder a entrevista. Porém, quando falei no nome de Dona Rita e de outras pessoas que conheci por meio dela, ela aceitou dar a entrevista naquele exato momento, para minha surpresa.

A interação do pesquisador com entrevistado é fundamental no momento da entrevista, pois por meio dessa interação o pesquisador obtém informações valiosas para sua pesquisa. Essas informações muitas vezes são desconhecidas, e só aquele entrevistado as tem, uma vez que nunca foi revelada a alguém. Algumas professoras revelaram fatos pessoais ocorridos em sala de aula, ficando elas mesmas envergonhadas em relata-los, pois o seus comportamentos, segundo elas, não foram comportamentos condizente de um professor. Outros entrevistados também revelaram segredos e informações importantes para a pesquisa.

Na entrevista, é fundamental a interação, pois, segundo Minayo (2000), entrevista não é só coleta de dados, mas sempre uma situação de interação, e as informações dadas pelo sujeito podem ser afetadas dependendo da sua relação com o entrevistado. Ou seja, dependendo da maneira como a entrevista é conduzida, algumas informações fundamentais para a pesquisa podem ser ocultadas. Por isso, é essencial que o pesquisador proporcione uma situação de interação no ato da entrevista.

Segundo Minayo (2000), dentre os componentes do trabalho de campo duas categorias são fundamentais: a) a entrevista, que pode ser decomposta em: entrevista aberta, entrevista estruturada, entrevista semiestrutura, entrevista por meio de grupos focais e história de vida; b) a observação participante.

Diante do fato de ter feito a opção pelas fontes orais como recurso metodológico, a leitura das considerações feitas pela autora sobre as categorias possibilitou a escolha do tipo de entrevista a ser utilizada na pesquisa, vindo a optar pela entrevista semiestruturada.

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fechadas (ou estruturada) e abertas, onde o entrevistado tem a possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições prefixidas pelo pesquisado.

A entrevista semiestruturada auxilia no estabelecimento da interação do entrevistador com os seus informantes, devido à composição da sua estrutura.

A escolha pelas fontes orais como recurso metodológico deu-se a partir das orientações de Montenegro, segundo o qual:

O trabalho da história oral junto aos segmentos populares resgata um nível de historicidade que comumente era conhecida através da versão produzida pelos meios oficiais. À medida que os depoimentos populares são gravados, transcritos e publicados, torna-se possível conhecer a própria visão que os segmentos populares têm das suas vidas e do mundo ao redor (1992, p. 16).

Nessa perspectiva, elaborei um roteiro básico de questões contendo perguntas abertas e fechadas, o qual sofreu adaptações durante o decorrer das entrevistas, devido aos diferentes papéis exercidos pelos informantes no Grupo Escolar. As questões formuladas tiveram como objetivo, a partir das mémorias trazidas pelos informantes da pesquisa, conhecer a história do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo e analisar os interesses políticos subjacentes da sua construção e inauguraçãoe seu projeto educacional, entre outros.

Considerando os aspectos acima apresentados, a pergunta central do nosso estudo é: Quais interesses políticos subsidiaram a construção e a inauguração do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo no município de Limoeiro, Pernambuco-Brasil, em 1968?

Diante dessa questão, a pesquisa tem por objetivos: a) investigar e compreender alguns aspectos do cenário político e educacional no Brasil, em Pernambuco e no município de Limoeiro, no período entre 1968 e 1985; b) organizar e reconstituir a história e as memórias do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, entre 1968 e 1985, conhecê-las e disponibilizá-las, contribuindo para a história da educação em Pernambuco, em especial no do município de Limoeiro.

Além desses, mais dois objetivos se somam como: c) investigar o processo de instalação do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, em relação à expansão do município de Limoeiro, quando da inauguração da Vila da Cohab; e d)

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analisar a organização, funcionamento e o Projeto Político e Pedagógico do referido Grupo Escolar no período estudado.

Para realizar a pesquisa, foram visitados: Arquivo Municipal, Biblioteca Municipal, Secretaria de Educação do Município, Câmara dos Vereadores e Arquivo da própria escola. Além das visitas, utilizamos as fontes orais, realizando entrevistas com ex-diretoras, professoras, estudantes e com o ex-prefeito do ano de 1968.

As entrevistas foram efetuadas em período variado, de acordo com a disponibilidade dos informantes e as adversidades. Algumas ocorreram de forma inusitada, foram os caso da ex-professora Josefa e ex-professora e ex-diretora Diva e do ex-prefeito Adauto, que me concederam as entrevistas no momento em que os procurei para agendá-las. As demais foram agendadas para horários e locais determinados pelos sujeitos.

Além das fontes orais, utilizamos as fontes documentais e iconográficas, que serviram de instrumentos valiosos para a minha compreensão do período estudado. Essas fontes citadas foram fundamentais para a reconstrução do passado do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, que “até então se encontra esquecido e

desvalorizado, que está apenas nos documentos e/ou registrado na memória das pessoas mais velhas” (VALE GATTI; INÁCIO FILHO, 2004, APUD FIRMINO, 2010).

Com a autorização dos entrevistados, as entrevistas foram gravadas em um celular, tendo a preocupação de posicioná-lo de forma a não perder detalhes das falas dos colaboradores, as quais foram posteriormente transcritas. Foi também utilizada uma câmera fotográfica para registrar o momento e tirar fotos dos participantes e de materiais que foram utilizadas no trabalho.

Na realização da pesquisa empírica, contei com a honrosa participação, como ajudante de mídia, do meu filho Edilson, que tem apenas 11 anos, carinhosamente chamado de Dilsinho. Ele me acompanhou nas viagens que fiz a Limoeiro, me auxiliando nas gravações das entrevistas e fotografando o material que foi utilizado no trabalho.

Meu filho compartilhou comigo os momentos difíceis, mas prazerosos e cheios de emoção, que vivi ao longo do processo da construção do trabalho em

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campo. Acredito que os momentos vivenciados foram enriquecedores para ele e contribuirão futuramente na sua vida acadêmica.

Participaram das entrevistas os ex-estudantes: Romildo Cipriano Silva (meu irmão) e Silvina Cristiano da Silva; as ex-diretoras Sônia Maria Pereira da Costa e Maria Isabel Alves de Melo Silva; a professora Josefa de Lima Oliveira; as ex-diretoras e ex-professoras Diva Gomes da Silva e Maria Helena da Silva Azevedo; e o ex-prefeito Adauto Heráclio Duarte.

Fundamentada em Bosi (1994), ao argumentar que o pesquisador tem uma relação com o objeto de pesquisa, devendo ter uma aproximação direta com os sujeitos informantes, principalmente na história oral, convidei meu irmão Romildo para participar da pesquisa como sujeito informante.

A participação do meu irmão na pesquisa, como informante, não induziu o estudo nem interferiu no seu objetivo. Mas foi fundamental, devido à riqueza de detalhes das suas informações. Os seus relatos, repletos de emoções, assim como os demais sujeitos, possibilitaram a construção do objeto de pesquisa e enriqueceram o trabalho.

Após transcrever as entrevistas, me inspirei na análise de conteúdo, de Laurence Bardin (2007). Esse tipo de análise é compreendida num conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utilizam procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens visando à obtenção de indicadores quantitativos ou qualitativos que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições variáveis inferidas dessas mensagens (BARDIN, 2007).

A análise de conteúdo, segundo a autora, é compreendida, ainda, em diferentes fases, a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados: inferência e interpretação (BARDIN, 2007).

De posse dessas orientações, iniciamos a análise com os relatos dos entrevistados para identificarmos os temas, que foram agrupados em diferentes categorias. As falas dos informantes foram comparadas entre si, com o objetivo de verificar as que se aproximavam ou se afastavam do conteúdo em questão. De qualquer modo, considerando as minhas limitações de uma pesquisadora iniciante,

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pude perceber o que continha no conteúdo das falas e as memórias dos que tiveram experiência no Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo.

Segundo Miguel (2012), na história da educação existem duas possibilidades de abordar a relação entre história, memória e instituições escolares. A primeira estuda as instituições escolares como unidades. Nesse caso, pode-se estudar a história de um grupo escolar em um determinado período, sua organização, seu funcionamento, alunos, formação docente e outros componentes que constituem a sua existência.

A segunda possibilidade é o estudo do processo histórico da construção da institucionalização escolar ou como determinada sociedade construiu suas escolas, a partir de necessidades socioeconômicas, e qual valor se atribui a essa instituição social.

A partir da exposição de Miguel (2012), optamos em realizar um estudo sobre a história do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo na perspectiva de instituições escolares como unidades. Assim, pretendi fazer um estudo do Grupo Escolar Otaviano, no período compreendido de 1968 a 1985. Analisaremos, portanto, sua organização, seu funcionamento e o seu projeto político-pedagógico.

Investigar o projeto político-pedagógico, segundo Firmino (2010), não se resume ao processo de ensino-aprendizagem, mas vai mais além. Fala-se da origem, formação docente, alunos, currículo, sua infraestrutura, processo de gestão, construção arquitetônica, atividades esportivas e culturais, ou seja, razão da existência da instituição.

O recorte temporal escolhido para fazer o estudo dessa instituição escolar, está relacionado com a sua construção, fundação e do período em que esse ambiente de ensino funcionou como grupo escolar. Investigar a origem e a finalidade da sua criação e compreender como era organizado o processo educacional estão entre os grandes desafios.

As biografias podem revelar, até certo ponto, muito de um passado glamoroso ou de insucesso, mas, sobretudo, do que um indivíduo conseguiu guardar sobre determinadas circunstâncias, a memória de sua vida em várias atividades

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significativas, como o trabalho, o lazer, e a relação com o aprendizado ou com uma instituição escolar.

Nesse sentido, podemos compreender conforme pensa Ciampa (1996), sobre a personagem de seu livro, Severina, tentando dizer quem é a partir da articulação de seu nome próprio. De modo que a memória é puxada pelo referente nominal, algo que une o indivíduo com a sua história pessoal e coletiva.

Por outro lado, na perspectiva de Ecléa Bosi (1994), a memória cumpre uma função social muito importante, e, por meio das lembranças, passado e presente são unidos num gesto, numa fala sobre uma determinada época:

Não há evocação sem uma inteligência do presente, um homem não sabe o que ele é se não for capaz de sair das determinações atuais. (...) Uma lembrança é diamante bruto que precisa ser lapidado pelo espírito. Sem o trabalho da reflexão e da localização, seria uma imagem fugidia (p.81).

Para lembrar, é necessário se transportar para outro cenário e se desvencilhar das determinações que o presente impõe. E, por outro lado, tentar se vincular aos objetos e pessoas que circundavam em um determinado período. Esse aspecto é reforçado por Michel De Certeau (1976), ao considerar que uma pesquisa em história começa pela garimpagem e seleção, de “... transformar em ‘documentos’ determinados objetos distribuídos de outra forma” (p.30).

Essa fala do autor é muito importante para a nossa pesquisa, porque pretendemos trazer à lembrança alguns aspectos das atividades desenvolvidas pelos ex-estudantes, diretoras e professoras do Grupo Escolar Otaviano, por meio de objetos, tarefas escolares, rabiscos nos cadernos, fotografias, diário de classe e outros elementos que marcaram a passagem daqueles que experimentaram o cotidiano do período estudado.

Nessa perspectiva, estudos como o de Souza (2009) ressaltam, também, a importância de investigação científica sobre modelos e instituições escolares, bem como a memória de estudantes do interior do Estado de Pernambuco, em sua trajetória educacional entre o analfabetismo, a leitura e as primeiras letras.

Assim, no primeiro capítulo, com base em Romanelli (2005), Aranha (1996 e 2006), Souza (2004) e Firmino (2010), aponto a concepção de educação difundida

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pelo o regime militar na sociedade brasileira e faço um preâmbulo acerca das reformas educacionais ocorridas durante esse regime ditatorial, entre os anos de 1968 a 1985, abrangendo os acordos MEC/USAID, que atingiu o Sistema Educacional Brasileiro, e faço um breve relato histórico sobre os grupos escolares.

O segundo capítulo tem por objetivo apresentar os aspectos gerais do município de Limoeiro, considerando a sua posição geopolítica no cenário pernambucano. Além disso, faço um resumo das falas sobre a política limoeirense e a percepção dos diferentes atores sobre o Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclito do Rêgo.

Por fim, o terceiro capítulo constitui a parte empírica do estudo, onde trago à baila as falas que reconstroem parte da história do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclito do Rêgo, suas diretoras, estudantes, professoras, a organização interna, a forma de ensino e suas salas de aula. Após o percurso investigativo do objeto de estudo em questão, faço as considerações finais.

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CAPITULO 1

A EDUCAÇÃO NO BRASIL NOS ANOS DE 1968 a 1985

Neste capitulo, vamos abordar a educação nos anos de 1968 a 1985, como ela foi empreendida na sociedade brasileira pelo governo do regime militar, os acordos Mec-Usaid e as reformas educacionais que atingiram o sistema educacional brasileiro e faço um breve relato histórico sobre os grupos escolares. Como o capítulo fala sobre educação, vamos antes dissertar um pouco sobre alguns de seus aspectos.

Segundo Brandão (1995), não existe uma única forma de educação e espaço definido para que ela ocorra. Pode acontecer nas ruas, nas igrejas ou nas escolas. Existe educação, mesmo sem a existência do espaço escolar, em qualquer sociedade ou país, independentemente de suas condições de desenvolvimento.

A educação começa na família, estendendo-se à comunidade, “primeiros, sem classes de alunos, sem livros e sem professores especialistas; mais adiante, com escolas, salas, professores e métodos pedagógicos” (p. 10).

Existem diferentes vertentes da educação. Ela pode de ser de caráter formal, sendo esta desenvolvida em ambientes educacionais, orientadas por diretrizes e normas, sendo agentes educadores os professores. A informal que acontece na família, primeiro espaço de transmissão da cultura, no convívio social, seja nas atividades de trabalho e lazer e outros espaços de interação social, sendo agentes educadores, pais, amigos, meios de comunicação e outros. E, por fim, a educação não-formal, que, segundo Gohn (2010), é realizada em espaços coletivos e cotidianos com o intuito da formação para a cidadania, e seus agentes formadores são os educadores sociais.

Nessa perspectiva de a educação ser um meio pelo qual o homem é formado, não podemos pensá-la sem antes fazermos uma reflexão sobre a existência humana.

Não podemos construir um ideário educacional sem quem se reflita antes quem é o homem, quais são seus anseios, necessidades e sem antes definir que tipo de sujeito se quer formar e para que finalidade. Segundo Firmino (2010), não se

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pode pensar em educação fora das relações entre as pessoas, “sendo está impregnada de símbolos, de intenções, de padrões culturais e de relações de poder” (p.42).

Independentemente de onde a educação ocorra e suas formas de existência e seus agentes formadores, ela deve contribuir com a formação integral, entendendo-se por formação integral o desenvolvimento físico, intelectual e a formação cidadã dos indivíduos, para que estes se percebam sujeitos inacabados, inconclusos, conforme ressalta Freire (1996).

È na consciência da inconclusão que percebemos que a educação é um processo permanente e que as pessoas se tornam educáveis à medida que se percebem seres inacabados que devem estar sempre em busca de algo mais. Acreditando numa educação que esteja a serviço da formação integral do homem, iniciaremos as nossas reflexões sobre a educação formal e a concepção de educação defendida durante o regime militar, bem como as reformas que atingiram o sistema educacional e um breve relato sobre os grupos escolares.

O período de 1968 a 1985 foi marcado pelo advento da ditadura militar. Em 31 de março de 1964, instaura-se no Brasil o regime militar, período marcado pela repressão violenta do governo autoritário a toda manifestação de oposição ao regime. Sendo assim, ao povo é negado o direito de participação e de critica. Todo ato político era considerado subversão pelos ditadores, que reprimiam seus participantes com violência, por meio de torturas, prisões, exilio e morte.

Para assumir o poder, é criada pelos militares Costa e Silva, Rademaker e Correia de Mello uma junta militar denominada Supremo Comando Revolucionário, e promessas de manter a ordem, a segurança nacional e proteger o país dos comunistas considerados pelos ditadores inimigos. Os ditadores tentam justificar o golpe, tentando obter apoio de lideranças políticas e do povo brasileiro, para que a ditadura fosse instaurada sem conflitos.

Imediatamente, a ditadura mostra seu autoritarismo, criando o Ato Institucional (AI-1), que lhe dava poderes constituintes. Por meio dele, Segundo Firmino (2010), lança as bases dos interrogatórios policias-militares para serem

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apuradas as responsabilidades de práticas de crime contra o Estado, a ordem política e social e ações de guerrilha. O autor continua dizendo:

Aniquila, dessa forma, com as atividades sindicais, políticas e estudantis, cerceando, perseguindo prendendo seus líderes e impondo a política do povo ideologicamente ordeiro. (p. 53).

Com o intuito de manter a aparência de uma democracia representativa, o governo militar mantém o Congresso aberto, porém tendo sido modificado por meio de cassações e prisões. E é o Congresso que se responsabiliza pela eleição do novo presidente já previsto no Ato Institucional N º1.

O comando maior das forças armadas escolhe o nome do general Castelo Branco, que é endossado pelo colégio eleitoral. Outros presidentes militares foram eleitos durante o regime, enfraquecendo mais o Legislativo, enquanto o Executivo se fortalecia cada vez mais.

Segundo Aranha (1996), o regime militar faz opção pelo aproveitamento do capital estrangeiro, aniquilando o nacional-desenvolvimentismo.

A “recuperação” econômica proposta usa o modelo concentrador de renda, que favorece uma camada restrita da população e submete os trabalhadores ao arrocho salarial (p. 211).

Esses fatores levam a uma mobilização por todo o país contrária ao regime. A população insatisfeita vai às ruas protestar. A UNE (União Nacional dos Estudantes) junto a outras entidades de classe se responsabilizam pela oposição ao regime. E o Congresso Nacional também toma posicionamento contrário ao regime.

Diante desse fato, para ter o controle da situação e dar continuidade ao regime o governo endurece a sua forma de agir. Os ditadores criam, em dezembro de 1968, o Ato Institucional Nº 5 e, por meio deste, extingue o Congresso, passando a governar soberanamente o país, retirando todas as garantias de direitos individuais, público ou privado, e começa a perseguir os opositores do regime.

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A doutrina de segurança nacional justificou todo tipo de repressão. Desde cassação de direitos políticos, censura da mídia, até prisão, torturas, exílio e assassinato. Dessa forma, perderam força os grupos que se faziam ouvir: operários, camponeses, estudantes (ARANHA, 2006, p. 296).

O governo militar, apoiado em atos constitucionais, reprimia todo ato político violentamente. Dessa forma, o governo conteve e extinguiu os movimentos populares que reivindicavam diversos direitos sociais, inclusive os educacionais.

Segundo Aranha (1996), a repercussão na educação é sentida na “reestruturação da representação estudantil”. As organizações como a UNE (União Nacional dos Estudantes) são consideradas subversivas. A UNE é colocada pela ditadura na ilegalidade, com o objetivo de evitar representação no âmbito nacional (ARANHA,1996).

Mesmo assim, a UNE agiu clandestinamente, realizando um congresso, em outubro de 1968, na cidade de Ibiúna, interior de São Paulo, com a participação de 900 estudantes de todo o país, que foram presos e interrogados. Mas, mesmo com a repressão, o movimento estudantil reivindicou com urgência reforma universitária.

A ditadura militar desativou movimentos de educação e cultura popular e penalizou os seus lideres. Um desses lideres foi o educador Paulo Freire, que foi perseguido politicamente e obrigado a ficar fora do seu país por 16 anos.

Os centros populares de cultura (CPC), que surgiram em 1961 pela iniciativa da UNE, e o Movimento de Cultura Popular (MCP), criado no Recife, no ano de 1960, sendo pioneiro na mobilização política para reestruturação das campanhas de alfabetização e de defesa da cultura popular. Paulo Freire foi um dos integrantes do Movimento de Cultura Popular. A sede do MCP foi invadida, e seus materiais foram destruídos e apreendidos.

E a Câmara Municipal do Recife, que na época era presidida pelo vereador Wandenkolk Wanderley, aprovou a Lei 9297, que rescindia todos os contratos da prefeitura com os MCP, tendo como justificativa que as suas práticas foram consideradas, pelo governo, como subversivas.

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Esses movimentos apropriavam-se de expressões da cultura popular para o desenvolvimento dos programas de alfabetização e o diálogo com o povo, tendo como objetivo o desenvolvimento de uma educação para o enriquecimento cultural e conscientização política da população. Por esse fato, foram considerados subversivos, haja vista que suas propostas contrariavam a ideologia de dominação que o governo objetivava.

Três anos depois da instalação do governo militar, em 15 de dezembro de 1967, com a Lei 5.379, foi instituído o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), que surgiu com o propósito de minimizar o índice elevado de analfabetos no país.

Mas suas atividades só foram iniciadas em setembro de 1970, com proposta pedagógica de cunho ideológico totalmente diferente do que vinha sendo trabalhado por Paulo Freire e outros educadores, conforme ressalta Aranha (1996).

O programa de alfabetização utiliza o consagrado método de Paulo Freire, só que esvaziado do conteúdo ideológico considerado subversivo. Há, pois, uma adulteração indevida do método, impensável sem o processo de conscientização (ARANHA, 1996, p. 215).

Podemos inferir que o Mobral surgiu para contrapor as ideias de Paulo Freire, para contrapor a prática educativa libertadora, crítica e problematizadora, conscientizadora na educação de jovens e adultos.

Assim, o Mobral assumiu a alfabetização desses indivíduos de maneira funcionalista, apropriando-se de técnicas básicas de leitura, de escrita e de cálculos, com o objetivo de qualificar a mão de obra para o desenvolvimento da economia, de forma acrítica.

Com essa perspectiva de alfabetização, o conteúdo era transmitido ao aluno, e este era visto como sujeito passivo a observar os conteúdos transmitidos pelo professor, sem que os jovens e adultos tivessem liberdade de escolher o melhor caminho para sua aprendizagem.

No ano de 1970, devido ao índice elevado de analfabetismo no país, o governo deu início à campanha de Mobilização Nacional da Educação, liderada pelo

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deputado João Calmon, em face do lançamento do seu plano denominado “Década da Educação”1

. Tinha como objetivo principal criar, nos próximos dez anos,"um estado d’alma, uma ideia fixa, uma verdadeira obsessão nacional em torno da necessidade de resolvermos o único problema do Brasil”.

O grande índice de analfabetismo envergonhava o Brasil internacionalmente e colocava em risco o desenvolvimento econômico do país, tendo em vista que o objetivo do governo era atingir o desenvolvimento econômico no universo internacional. Em todo o país, houve uma grande mobilização em apoio à Década da Educação, inclusive em Pernambuco. Na cidade do Recife, os jornais locais vinculavam manchetes de instituições que se engajaram nesse projeto educacional.

Entre elas, a da Marinha do Brasil, cujo titulo era: “Marinha intensifica seus cursos de alfabetização”2

. O comando do 3º Distrito Naval, em nota divulgada à imprensa, expressa seu apoio à campanha afirmando que a alfabetização se tornou palavra de ordem em nosso país desde a campanha governamental para o desenvolvimento. E afirma que a Marinha, por meio de Portos e Costas, integrou-se no plano revolucionário da educação, tendo como uma das metas intensificar seus cursos de alfabetização.

Os jornais também destacam o apoio da ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra), com a manchete “Adesguianos debatem amanhã apoio à Década Educação”3

.

Em nota, o professor Eudes de Souza Leão Pinto, na época presidente da ADESG em Pernambuco, afirma que tem satisfação em expressar todo o empenho para participar dos esforços desprendidos, que visam alcançar os objetivos da Década da Educação. Diz ainda que há um estado de guerra declarado ao analfabetismo, e a ADESG e seus colaboradores encararam a campanha. (ADESGUIANOS, 1970).

Outra manchete que foi destaque nos jornais do Recife foi a que se referia às provas do supletivo: “Certe realizará provas do supletivo em todo o Estado”. Na manchete, constava que o Departamento de Recursos Tecnológicos para a

1

Diário de Pernambuco, 25/02/1979, p. 2. 2 Diário de Pernambuco, 02/10/1970, p. 9. 3 Diário de Pernambuco, 1º/09/1970, p. 6

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Educação que englobava, os antigos centros de educação pelo rádio e televisão e os de recursos audiovisuais, havia realizado provas do supletivo para as quatro primeiras séries do primeiro grau em 115 radiopostos distribuídos em 60 municípios de Pernambuco. No Recife, as provas foram realizadas nos radiopostos do Ibura e da Mustardinha (CERTE, 1974).

As provas foram aplicadas para mais de 3 mil candidatos, nas disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e Estudos Sociais. Nesta foram englobado conteúdos sobre saúde, moral e civismo.

O Curso Supletivo Dinâmico de Primeiro Grau, para as primeiras séries, havia sido ministrado pelo Projeto Minerva, que era integrado no Ministério da Educação e Cultura, teve duração de 9 meses, tendo sido utilizado o sistema de educação pelo rádio para sua execução.

Os cursos de supletivos foram instituídos para viabilizar os estudos às pessoas que não tiveram oportunidades de acesso à escola. Mas o objetivo adjacente era fazer com que esses indivíduos concluíssem o primeiro grau para se matricularem de imediato em algum curso profissionalizante ofertado pelo governo ou serem integrados imediatamente no mercado de trabalho, que carecia de mão de obra qualificada. Alienar os jovens para manipulá-los também fazia parte das intenções do governo, haja vista que no Curso Supletivo eram trabalhados conteúdos de moral e civismo.

Os conteúdos das disciplinas deveriam ser trabalhados de forma acrítica, sem o cunho ideológico de caráter conscientizador pelos professores, seja nas escolas ou nas universidades. Em todo o país o governo proibiu os professores, alunos e funcionários das escolas de promoverem ou participarem de qualquer manifestação de caráter político. E instalou o terrorismo nas universidades: professores eram demitidos ou aposentados mediante de processos arbitrários, e os que permaneceram trabalhavam sob forte vigilância.

Antes da instauração da ditadura, destacavam-se ainda vários projetos de renovação do ensino público, tais como os ginásios e colégios vocacionais, o Colégio de Aplicação da Universidade de São Paulo, os pluricurriculares, o Grupo Experimental, os ginásios e os colégios vocacionais.

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Segundo Aranha 1996, em linhas gerais esses projetos tinham como objetivo incluir o educando no mundo do trabalho e estimular a consciência crítica para compreensão da realidade. Porém os trabalhos nessas instituições foram interrompidos pelos ditadores por considera-las subversivas.

Foi proibida pelo governo qualquer tentativa de ação política. As escolas de grau médio também foram controladas, e seus grêmios transformaram-se em centros cívicos, tendo como orientadores professores de Educação Moral e Cívica, os quais teriam de ser de confiança da direção, ou seja, não ter passagem pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS).

Por meio de decreto-lei, o regime militar torna obrigatório o ensino de Educação Moral Cívica nas escolas, em seus diversos graus e modalidades de ensino. Mas, no ensino secundário a nomenclatura é mudada, passando a se chamar Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e no curso superior, Estudos de Problemas Brasileiros (EPB).

A intenção dos ditadores com a inclusão dessas disciplinas no currículo era manipular e alienar os jovens, pois elas continham conteúdos de caráter ideológico manipulador.

Como podemos perceber, a ditadura militar interrompeu o desenvolvimento do processo educacional, que tinha como objetivo o enriquecimento cultural e a conscientização política do povo. Desse modo, Extinguiu movimentos educacionais e interrompeu trabalhos e experiências educacionais, cujo objetivo era instruir e educar o povo por meio de uma educação conscientizadora que estimulasse o censo crítico das pessoas, para que elas tivessem a compreensão da realidade a fim de poderem reivindicar seus direitos de cidadão e contribuir para a transformação da sociedade.

1.1. Reformas Educacionais na Ditadura Militar

Segundo Romanelli (2005), além de captar recursos mediante a criação de formas de arrecadação de fundos para expansão do ensino, como, por exemplo, o salário-educação, que foi instituído pela Lei 4.440, em 27 de outubro de 1964, o governo ditador tratou desde o início de tomar medidas para que o sistema de ensino superior se torna mais produtivo, sendo ele o mais oneroso. Para isso, a

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forma de organização desse sistema de ensino sofre modificações, tendo como objetivo a economia de recursos e sua maior produtividade.

No entanto, a pretensão do governo não era fazer reforma só no sistema de ensino superior, mas uma reforma na educação brasileira. E assim, o governo propõe a reforma universitária e a reforma do ensino de 1º e 2º graus, alicerçadas na Teoria do Capital Humano, colocando a educação a serviço do desenvolvimento econômico do país.

Para concretização da reforma educacional, o governo militar faz acordos com agências norte-americanas. São os acordos Mec-Usaid (Ministério da Educação e Cultura e United States Agency for International Development). Por meio deles, o Brasil recebe assistência técnica e investimento financeiro para reforma educacional.

Desde o início, esses acordos foram feitos, pois o governo percebia a necessidade de mudança no sistema educacional devido à crise que este passava. Ele não só percebe a necessidade de adotar medidas de imediato para amenizar a crise, mas também adequar o sistema ao modelo de desenvolvimento econômico.

Romanelli (2005) faz um relato desses acordos Mec-Usaid em ordem cronológica. Destacamos entre eles o de 1964, o primeiro a ser assinado, denominado Acordo para Aperfeiçoamento do Ensino Primário, que previa a contratação, por dois anos, de seis assessores americanos. Esse acordo também dava suplementação de recursos e de pessoal para o ensino primário.

Por sua vez, o acordo Mec-Contap-Usaid (Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso), de 1965, estabelecia a melhoria do ensino médio. Nesse acordo, havia o envolvimento da assessoria técnica americana para fazer o planejamento do ensino, e técnicos brasileiros iriam para os Estados Unidos para serem treinados.

Em 1966, o acordo Mec-Contap-Usaid, de Assessoria para Expansão e Aperfeiçoamento do Quadro de Professores do Ensino Médio no Brasil, mantinha assessoramento por técnicos americanos e treinamento de técnicos brasileiros nos Estados Unidos. Nesse acordo, também havia a proposta de reformulação da Faculdade de Filosofia do Brasil.

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Por outro lado, no acordo Mec-Inep-Contap-Usaid adicionado aos acordos para o aperfeiçoamento do Ensino Primário, dentre outros objetivos destacava-se o de “elaborar planos específicos para melhor entrosamento da educação primária com a secundária e a superior”. (ROMANELLI, 2005, p. 213).

Entre os acordos importantes, estava o do Mec-Sudene-Contap-Usaid, que criava o Centro de Treinamento Educacional de Pernambuco. E, no ano de 1967, foi assinadod o acordo Mec-Snel-Usaid de Cooperação para Publicações Técnicas, Científicas e Educacionais.

Por meio desse contrato, seriam colocados na escola 51 milhões de livros no prazo de três anos, a contar do ano 1967. Esses livros foram elaborados, ilustrados, editados e distribuídos pelos técnicos do Usaid.

Nesse contexto, em meio a tantos acordos, o sistema educacional brasileiro é entregue aos técnicos americanos, que ficam responsáveis por sua reorganização. Alicerçada por princípios políticos e ideológicos, a reorganização do sistema educacional visava sua adequação ao modelo de desenvolvimento econômico e à ideologia de dominação.

A educação, portanto, estava a serviço do desenvolvimento da economia e da disseminação da ideologia dominante, de caráter manipulador e alienante, ferramenta usada pelos ditadores para a manutenção no poder.

A crise do sistema educacional serviu de argumento para governo justificar os acordos Mec-Usaid devido às críticas feitas por alguns segmentos da sociedade civil. E, para a implantação do projeto educacional proposto pelos tecnocratas, o governo militar alterou e atualizou a LDB de 1961. Criou a Lei 5.540/68 (referente ao ensino superior) e a Lei 5.692/71 (referente ao 1º e 2º graus) (ARANHA, 1996).

O projeto de reforma educacional tinha como base os relatórios de Atcon (Rudolph Atcon, teórico americano) e Meira Matos (coronel da Escola Superior de Guerra), e não apenas atendia ao ensino primário e médio, mas também ao ensino superior.

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Assim, um Grupo de Trabalho da Reforma Universitária (GTRU) foi criado, e seus componentes eram pessoas designadas pelo Presidente da República, o general Costa e Silva, para a condução da reforma universitária.

Essa reforma extinguiu a Cátedra (cargo de professor universitário, titular em determinada disciplina), e unificou o vestibular e as faculdades, aglomerando-as em universidades. Foi instituído, nas faculdades, o curso básico, assim como os cursos de curta e longa duração e o curso de pós- graduação.

Nessa perspectiva, o sistema de crédito foi instituído devido à nova composição do currículo, que permitia a matrícula por disciplina. Na análise de Aranha (2006), as matrículas por disciplina desfez grupos “relativamente estáveis”, rompendo a interação entre pessoas e grupos, pois o objetivo era diminuir a conscientização politica dos estudantes.

A reforma também atingiu os setores administrativos das universidades, porque para a nomeação de reitores e diretores de unidades não havia mais a exigência que a pessoa pertencesse ao corpo docente universitário. Com isso, elas seriam administradas por pessoas que não tinham nenhum compromisso com o processo educacional, “bastando possuir “alto tirocínio da vida pública ou empresarial” (ARANHA, 2006, p. 214).

Para a reforma do ensino de 1º e 2º graus ocorrida no governo Médici, os membros do grupo de estudo foram escolhidos pelo ministro da Educação da época, coronel Jarbas Passarinho. A reforma ampliava a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos e aglutinava o primário com o ginasial, suprimindo o exame admissional.

O ensino profissionalizante foi integrado no ensino de 1º e 2º graus, visavando a qualificação profissional, vez que, ao concluí-lo, o aluno teria uma profissão e poderia ser inserido no mercado de trabalho, um dos objetivos do governo no contexto das reformas. E, para as pessoas que não concluíam os estudos regulares, o ensino supletivo foi oportunizado.

As integrações de primário com ginásio e secundário com o técnico obedeceram aos princípios de continuidade e terminalidade (ARANHA, 2006). A continuidade representava a passagem de uma série a outra e a terminalidade. Ao

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concluír os níveis de ensino, era esperado que o aluno estivesse capacitado para ser inserido no mercado de trabalho.

Novas disciplinas foram criadas nas alterações dos currículos, Educação Física, Educação Moral e Cívica, Educação Artística, Programa de Saúde e Estudos Religiosos. História e Geografia são fundidas e se transformam em estudos sociais. Filosofia e Sociologia foram extintas. E a Escola Normal de formação de professores também foi igualmente extinta, passando a ter uma nova denominação “Habilitação para o Magistério” (ARANHA, 1996, p 215). E foi criado o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), com o intuito de amenizar os índices precários de analfabetismo no país.

Para adequar a escola ao modelo empresarial, o governo adota a tendência pedagógica tecnicista, que tem como princípio a reprodução do conhecimento e a centralização em aspectos objetivos e operacionais relacionados ao trabalho pedagógico. Por meio de treinamento, visava obter mudança de comportamento e o desenvolvimento de habilidades do educando. “Por isso, privilegiava os recursos da tecnologia educacional, encontrando no behaviorismo as técnicas de condicionamento” (ARANHA, 2006, 316).

Sendo assim, a educação alicerçada na tendência pedagógica tecnicista possibilitaria o desenvolvimento da economia, pois por meio dessa educação seria possível a formação do capital humano necessário para ser inserido no mercado em expansão. Essa visão tecnicista da educação desvinculava-a da sua verdadeira missão, que é a formação integral do homem para o exercício da cidadania.

Segundo Aranha (2006), o ensino foi adaptado ao modelo empresarial tecnocrático, exigindo o planejamento e a organização racional do trabalho pedagógico, a operacionalização dos objetivos, divisão do trabalho segundo a especialidade de funções e a burocratização.

Aos técnicos é dada responsabilidade de planejar e controlar o processo educativo, submetendo o plano pedagógico ao administrativo. Desse modo, os diretores escolares passaram a exercer papel de intermediário entre os técnicos e os professores, e estes passaram a exercerem a função de instrutores, treinadores e

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agentes de controle, que buscam a formação profissional do aluno, por meio de conteúdos, técnicas, regras e valores estabelecidos pelos acadêmicos especialistas. Segundo Firmino (2010), a escola foi adaptada as metas do setor empresarial, que se baseiam em “racionalidade e tecnologia”. O objetivo era alcançar padrão de qualidade e aumento da produtividade com economia de tempo, custo e esforço.

A função da escola era preparar a mão de obra qualificada para atender às necessidades do mercado em expansão e servir de instrumento de propagação da ideologia do governo militar. Para isso, era necessário que os professores se tornassem agentes de controle, reprodutores da ideologia dos ditadores e reprodutores da concepção de escola-empresa.

Assim, de acordo com Firmino (2010), a ação pedagógica docente é determinista e racionalista, que busca a “performance” enfatizando a repetição, as cópias, os exercícios mecânicos e a premiação que é oferecida no momento da avaliação. Sendo assim, aos professores cabia serem agentes de transmissão e reprodução do conhecimento e aos alunos meros agentes passivos que absorvem o conhecimento transmitido pelo professor sem questioná-los. Reforçando esse entendimento Firmino afirma que

A tendência tecnicista em educação ocupa o rol dos paradigmas conservadores que tem como função precípua reproduzir o conhecimento e, por isso, está fadada à repetição e a visão mecanicista do processo de ensino e da aprendizagem (2010, p.60).

Para implantação da reforma educacional baseada na tendência pedagógica tecnicista, foram criados os ginásios de orientação para o trabalho (GOT). Nas duas primeiras séries do ginásio, havia as disciplinas de caráter geral e as vocacionais. Por meio das disciplinas vocacionais buscava-se sondar as aptidões dos alunos.

As disciplinas de artes industriais e de técnicas agrícolas eram ofertadas de acordo com a economia da região onde estava localizado o ginásio. Nas duas últimas séries, a carga horária das disciplinas vocacionais aumentava. Os alunos podiam escolher entre as de artes industriais, técnicas agrícolas, técnicas comerciais e educação para o lar ou aprofundar-se nos estudos gerais.

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Por meio dessas disciplinas vocacionais, visava-se à sondagem vocacional dos estudantes bem como fundamentar as suas escolhas nos cursos profissionalizantes ou gerais no ensino do 2º graus para os que dessem continuidade aos estudos. E, para os que não fossem adiante, havia a iniciação profissional por meio de um rápido treinamento numa determinada ocupação, já em serviço.

Essa preocupação do governo em tornar o ensino do 2º grau profissionalizante, visando acabar com os cursos clássico científico, que preparavam para o vestibular, visava conter a procura de vagas nos cursos superiores, formar mão de obra especializada para ser inserida no mercado de trabalho em expansão e formar sujeitos alienados.

Para isso, transforma os grêmios das escolas de 2º grau em centros cívicos, orientados por professores de Moral e Cívica, sendo estes pessoas de confiança dos ditadores. E obriga todo o sistema de ensino a adotar a disciplina Moral e Cívica, pois seu conteúdo era de caráter ideológico manipulador.

A alienação da população fortalecia o regime militar e a política ideológica de manipulação e dominação dos ditadores, que almejavam manter-se no poder. “Portanto, essa reforma, aparentemente apolítica, foi, de fato, política” (ARANHA,1996,p 216).

O governo acreditava que a educação deveria estar a serviço do desenvolvimento econômico, devendo esta ser adequada às exigências da sociedade industrial e tecnocrata, pois havia uma defasagem de mão de obra qualificada para aquecer o mercado em expansão, devido à industrialização e o avanço tecnológico, colocando-se, assim a serviço da disseminação da política ideológica do governo ditador.

Mas, no início da década de 1980, o regime da ditadura militar começa a perder suas forças, dando sinais de enfraquecimento, possibilitando, assim, de forma lenta, o processo de redemocratização. Tentando recuperar os espaços perdidos, a sociedade civil, as representações estudantis e a classe política pronunciam-se contra as arbitrariedades, dando início ao surgimento de algumas mudanças.

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Em termos educacionais, se reconhecia o fracasso da implantação da reforma feita na LDB, e por meio da Lei 7.044/82 foram dispensadas às escolas a obrigatoriedade do ensino profissionalizante, mediante do Parecer nº 342/82 do Conselho Nacional de Educação, a disciplina de Filosofia ressurgiu como optativa. Os professores reivindicavam, além da reposição das perdas salariais, a regulamentação da carreira do magistério e melhores condições de trabalho.

No ano de 1985, ainda com resquícios da fase autoritária, tivemos o primeiro governo civil, o presidente da República, Tancredo Neves, foi eleito de forma indireta, mesmo com as campanhas dos movimentos populares por diretas- já. Mas, com a sua morte antes da posse, quem assumiu foi o Presidente José Sarney, eleito vice-presidente.

A partir dessa abertura política, os partidos que foram extintos pelo governo voltam à legalidade, bem como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e outras representações estudantis. O debate político volta às ruas e às salas de aula.

1.2.O Ensino Primário

Para compreender a história do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, é fundamental conhecer um pouco da história do ensino primário no Brasil. Assim, esse tópico tem por objetivo apresentar alguns aspectos da legislação que embasava esse nível de ensino no país.

Por meio do Decreto-Lei n.º 8.529 promulgado em 2 de janeiro de 1946, também chamado de Lei Orgânica do Ensino Primário, o Governo Central traçava diretrizes para o ensino primário em todo o país.

A incumbência de cuidar do ensino primário era da administração estadual antes da promulgação daquele decreto-lei, não existindo diretrizes traçadas pelo Governo Federal para este tipo de ensino. Segundo Romanelli (2005) a ausência de diretrizes centrais ocasionava uma desordem no sistema, pois os Estados o inovavam ou o abandonavam de acordo com sua própria política. (ROMANIELLI, 2005, p.160).

O ensino primário estruturado pelos artigos 2º a 9º ficou subdividido em duas categorias:

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a) o ensino primário fundamental, sendo dividido em elementar com duração de 4 anos, e complementar, de um ano, destinados a crianças de 7 a 12 anos; b) o ensino primário supletivo com duração de 2 anos destinado atender

adolescente e adultos que não tiveram oportunidade de acesso a esse nível de ensino na idade adequada.

O currículo para os cursos ficou estruturado dessa forma: 1 - Curso primário elementar:

I – leitura e linguagem oral e escrita; II- iniciação à Matemática;

III- Geografia e História;

IV- Conhecimentos gerais aplicados à vida social, à educação para saúde e ao trabalho;

V- Desenhos e trabalhos manuais; VI- Canto Orfeônico;

VII- Educação Física.

2- Curso primário complementar: neste foram acrescentadas ao currículo noções de Geografia Geral, História das Américas, Ciências Naturais e Higiene. E, aos alunos do sexo feminino, noções de economia doméstica e de puericultura.

3- Curso primário Supletivo:

I. Leitura e linguagem oral e escrita; II. Aritmética e Geometria;

III. Geografia e História do Brasil; IV. Ciências Naturais e Higiene;

V. Noções de direito usual (legislação do trabalho, obrigações da vida civil e militar).

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