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Para compreender a história do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, é fundamental conhecer um pouco da história do ensino primário no Brasil. Assim, esse tópico tem por objetivo apresentar alguns aspectos da legislação que embasava esse nível de ensino no país.

Por meio do Decreto-Lei n.º 8.529 promulgado em 2 de janeiro de 1946, também chamado de Lei Orgânica do Ensino Primário, o Governo Central traçava diretrizes para o ensino primário em todo o país.

A incumbência de cuidar do ensino primário era da administração estadual antes da promulgação daquele decreto-lei, não existindo diretrizes traçadas pelo Governo Federal para este tipo de ensino. Segundo Romanelli (2005) a ausência de diretrizes centrais ocasionava uma desordem no sistema, pois os Estados o inovavam ou o abandonavam de acordo com sua própria política. (ROMANIELLI, 2005, p.160).

O ensino primário estruturado pelos artigos 2º a 9º ficou subdividido em duas categorias:

a) o ensino primário fundamental, sendo dividido em elementar com duração de 4 anos, e complementar, de um ano, destinados a crianças de 7 a 12 anos; b) o ensino primário supletivo com duração de 2 anos destinado atender

adolescente e adultos que não tiveram oportunidade de acesso a esse nível de ensino na idade adequada.

O currículo para os cursos ficou estruturado dessa forma: 1 - Curso primário elementar:

I – leitura e linguagem oral e escrita; II- iniciação à Matemática;

III- Geografia e História;

IV- Conhecimentos gerais aplicados à vida social, à educação para saúde e ao trabalho;

V- Desenhos e trabalhos manuais; VI- Canto Orfeônico;

VII- Educação Física.

2- Curso primário complementar: neste foram acrescentadas ao currículo noções de Geografia Geral, História das Américas, Ciências Naturais e Higiene. E, aos alunos do sexo feminino, noções de economia doméstica e de puericultura.

3- Curso primário Supletivo:

I. Leitura e linguagem oral e escrita; II. Aritmética e Geometria;

III. Geografia e História do Brasil; IV. Ciências Naturais e Higiene;

V. Noções de direito usual (legislação do trabalho, obrigações da vida civil e militar).

VI. Desenho.

Aos alunos do sexo feminino acrescentem-se noções de economia doméstica e puericultura.

O ensino primário supletivo contribui com a diminuição da taxa de analfabetismo no final da década de 40 e de 50.

O ensino primário fundamental deverá ser norteado pelos seguintes princípios:

a) desenvolve-se de modo sistemático e graduado, segundo, os interesses da infância;

b) ter como fundamento didático as atividades dos próprios discípulos;

c) apoiar-se nas realidades do ambiente em que se exerça, para que sirva à sua melhor compreensão e mais proveitosa utilização;

d) desenvolver o espírito de cooperação e sentimento de solidariedade social;

e) revelar as tendências e aptidões dos alunos, cooperando para o seu melhor aproveitamento no sentido do bem-estar individual e coletivo;

f) inspira-se, em todos momentos, no sentido da unidade nacional e da fraternidade humana”.

A gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário são instituídas nos artigos 39 e 41. No artigo 25, é determinado aos Estados, Territórios e o Distrito Federal a organização dos seus respectivos sistemas de ensino primário.

Os estabelecimentos de ensino primário mantidos pelos poderes públicos serão designados desta forma:

I-Escola isolada (EI), quando possua uma só turma de alunos entregue a um só docente..

II-Escolas reunidas (ER.), quando houver de duas a quatro turmas de alunos e número correspondente de professores.

III-Grupo escolar (GE), quando possua cinco ou mais turmas de alunos e número igual ou superior de docentes.

IV-Escolas supletivas (ES), quando ministre ensino supletivo, qualquer que seja o número de turmas e de professores.

Aos grupos escolares era permitido ministrar o curso elementar e o curso complementar, segundo consta no artigo 29.

Na perspectiva de Romanelli (2005), apesar da vigência da lei orgânica, constatam-se as dificuldades para a aplicação da legislação do ensino, revelando sua inadequação diante da realidade. O poder de ação da lei é limitado ante as reais condições do contexto. E, assim, o ensino primário fundamental acabou sendo reduzido ao ensino elementar por falta de condições que objetivasse o funcionamento do ensino complementar.

Na prática, a lei do ensino primário que foi promulgada não vigorou por falta de condições reais concretas, ficando o ensino primário fundamental sujeito a modificações estruturais para o seu funcionamento. Nesse contexto, o ensino primário funcionou nas edificações dos grupos escolares.

Souza (2004) relata como surgiram os grupos escolares e faz um panorama de como se deram as instalações desses grupos em vários Estados do Brasil, destacando o de São Paulo como pioneiro. A autora faz referência aos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Pará, Rio Grande Norte, Mato Grosso e Santa Catarina. No entanto, não menciona Pernambuco, fazendo aumentar meu interesse em pesquisar o Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, onde estudei.

Segundo a autora, no final do século XIX, foi implantado pelos republicanos, no Estado de São Paulo, um sistema de ensino público moderno, cujos princípios, instituições e organização administrativa e pedagógica serviram de modelo e motivação para a reorganização do ensino público em vários Estados do Brasil.

Essa reforma teve inicio pela escola normal, em especial pela criação da escola-modelo que foi criada para que os professores-mestres da escola normal colocassem em prática seus conhecimentos. Servia também de centro de

propagação dos novos métodos de ensino, propriamente o método intuitivo ou lições de coisas, um tipo de ensino que orientava os professores a conduzir os alunos em sala de aula.

Para isso, elaboram-se manuais segundo uma diretriz que modificou o papel pedagógico do livro didático que, de material didático utilizado pelos alunos, se converte em material didático essencial do professor. Dentre esses manuais, destaca-se como sendo o mais famoso o do americano Norman Allison Calkins, denominado Primeiras Lições de Coisas. Sua primeira edição é datada de 1861, reformulado e ampliado no ano de 1870.

Esse manual foi traduzido por Rui Barbosa, no ano de 1881, e teve sua publicação no Brasil em 1886. Além disso, serviu de referência para organização da escola primária.

Segundo Souza (2004), os grupos escolares foram criados no Estado de São Paulo em 1893, a partir da reunião de escolas isoladas agrupadas pela proximidade, ficando obrigados a adotar o tipo de organização e método de ensino das escolas- modelos de São Paulo.

Os grupos escolares começaram a funcionar nos centros urbanos, diferenciando-se de outras escolas primárias existentes no Estado de São Paulo. Os grupos tinham características da escola graduada, organização escolar que configurou o final do século XIX, sendo implantada em vários países da Europa e dos Estados Unidos, tendo como objetivo difundir a educação popular.

A escola graduada fundamentava-se essencialmente na classificação dos alunos pelo nível de conhecimento em agrupamentos supostamente homogêneos, implicando a constituição das classes. Pressupunha, também, a adoção do ensino simultâneo, a racionalização curricular, controle e distribuição ordenada dos conteúdos e do tempo (graduação dos programas e estabelecimento de horários). E mais a introdução do sistema de avaliação, a divisão do trabalho docente e um edifício escolar compreendendo várias salas de aula e vários professores (SOUZA, 2004, p.114).

Nesse modelo de organização escolar, os alunos eram classificados em grupos homogêneos, o currículo era fragmentado em graus e havia divisão do

trabalho docente, além da construção de prédios com várias salas de aula e, para cada uma delas, uma classe referida a uma série e, para cada série, um professor, que era supervisionado por um diretor.

A escola graduada pressupôs a organização metódica e sistemática do conhecimento a ser transmitido na escola primária. O estabelecimento de um programa uniforme e de exames padronizados converteu as primeiras aprendizagens e outros saberes em matérias de ensino, e a lógica dos conteúdos passou a presidir a organização das escolas (SOUZA, 2004, p.116).

Os primeiros grupos escolares foram instalados em São Paulo, no final do século XIX e início do século XX. Diversos edifícios foram construídos com estilos arquitetônicos neoclássicos e ecléticos. Muitos se destacavam pela sua beleza e comodidade de suas instalações.

Eles localizavam-se nos centros urbanos e ofereciam melhores condições de trabalho. O ensino oferecido era o primário completo, ministrado em quatro anos. Esses grupos escolares tinham prestígio social estendendo-se este a seus professores.

A primeira constituição republicana promulgada em fevereiro de 1891, delegou aos Estados legislar e prover o ensino primário. Os Estados, por sua vez, enfrentaram a questão da difusão da instrução por intermédio da propagação das escolas primárias.

Ao Estado de São Paulo coube iniciar o processo de organização e implantação da instrução pública, por ele deter hegemonia econômica e, com a república, alcançar hegemonia política. A organização e implantação da instrução pública foram empreendidas mediante uma reforma ampla da instrução herdada do império. Nesse sentido

[...] embora a reforma promulgada em 1892 abrangesse a totalidade da instrução pública, seu centro localizava-se na escola primária. E a grande inovação consistiu na instituição dos grupos escolares (SAVIANI, 2004, p.24).

As escolas primárias também eram chamadas de primeiras letras. Nessas escolas, as classes eram isoladas e havia. Um só professor, uma escola

compreendia uma classe, e um professor ministrava o ensino a um grupo de alunos de níveis diferentes de aprendizagem. A reunião dessas escolas isoladas deu origem aos grupos escolares e foram substituídas por eles, conforme afirma Saviani (2004).

Os grupos escolares reuniam, em um só prédio, de quatro a dez escolas. Cada grupo escolar tinha seu diretor, e o número de professores era proporcional à quantidade de escolas que haviam sido reunidas para compor o grupo escolar.

A reunião dessas escolas originou, dentro dos grupos escolares, as classes que correspondiam às séries anuais. Segundo Saviani (2004), os grupos escolares eram seriados, enquanto as escolas isoladas eram não-seriadas. Os grupos escolares, mediante a origem dessas classes no seu interior, eram também denominados escolas graduadas.

Como afirma Saviani 2004:

[...] o agrupamento dos alunos se dava de acordo com o grau ou série em que se situavam, o que implicava uma progressividade da aprendizagem, isto é, os alunos passavam, gradativamente, da primeira à segunda série e desta à terceira até concluir última série(no quarto ano no caso da instrução pública paulista),com o que concluíam o ensino primário (2004 p.25).

Esse modelo foi disseminado em todo o país com a implantação dos grupos escolares, permanecendo até os dias atuais na organização pedagógica da escola elementar, ou seja, nas séries iniciais do ensino fundamental.

O objetivo deste capítulo foi abordar, ainda que de forma sucinta, a educação nos anos de 1968 a 1985 e de que maneira foram implementadas reformas durante o regime militar. O próximo capitulo tem por objetivo apresentar aspectos gerais do município de Limoeiro, bem como o resumo das falas dos entrevistados.

CAPÍTULO 2