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O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO HERÁCLIO DO RÊGO

No capítulo anterior, foi feita uma breve apresentação do município de Limoeiro e um resumo das falas dos entrevistados, no intuito de compreendermos a contribuição que deram à história do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo.

Neste terceiro capítulo, o objetivo é analisar a documentação encontrada sobre o grupo, identificar os aspectos políticos e pedagógicos, bem como construir uma teia de relações que possa oferecer ao leitor uma representação do período de inauguração do Grupo Escolar e seu funcionamento entre 1968 e 1985.Aqui, falas, decretos e fotografias estão juntos para dar uma ideia geral sobre o grupo escolar.

As primeiras informações que encontrei sobre o grupo escolar foi por meio de um breve histórico feito pela professora Rita, moradora da Vila da Cohab.

Histórico 1- Histórico feito pela professora Rita.

Nessa perspectiva, tudo começa quando Adauto Heráclio Duarte morador da cidade de Limoeiro, é eleito prefeito, no ano de 1963, com 6.092 votos. Um dos

feitos da sua gestão foi doar um terreno para a construção de um conjunto habitacional denominado Vila da Cohab, no final da década de 1960.

Fotografia 3- A Vila da Cohab recém-inaugurada

Fonte: Arquivo pessoal do professor Carlos Eduardo Pereira

Após a inauguração da Vila da Cohab, atual Cohab Velha, sendo assim atualmente denominada pelo fato da inauguração, no ano de 1984, da Cohab Nova. O prefeito Adauto, devido à necessidade de uma escola para atender aos anseios educacionais dos moradores da Vila Cohab Velha adquire a posse de um terreno no bairro do Juá e constrói um grupo escolar no referido bairro.

De fato, consegui localizar no arquivo municipal de Limoeiro, fontes que comprovam a doação do referido terreno e a verba solicitada para a construção do Grupo Escolar. Refiro-me ao Decreto-Lei nº 827, de 18 de maio de 1968, e o Decreto-Lei nº 838 de 19 de julho de 1968. O documento corrobora a fala do próprio Adauto.

Decreto 1- Lei nº 827

No artigo 1º desse decreto, ao prefeito é autorizada a desapropriação de um terreno, com 900 metros quadrado, de propriedade do Sr. Antônio Ludugério da Cunha e sua esposa, Helena Laubertina da Cunha. No 2º artigo, consta que o terreno doado pelos seus proprietários destina-se à construção de um grupo escolar municipal.

Decreto 2- Lei nº838

Ainda no 1º artigo, ao prefeito Adauto é autorizada a abertura de crédito no valor de CrN$ 74.307,77 (setenta e quatro mil, trezentos e sete cruzeiros novos e sete centavos). No 2º artigo, consta a finalidade da importância solicitada, dizendo que ela será para a construção de um grupo escolar localizado no local onde foram construídas as casas da Vila da Cohab e que o grupo escolar será construído conforme a planta cedida pela prefeitura. (Nas minhas buscas por documentos, não tive êxito em relação à planta).

No 3º artigo, consta que a prefeitura contratou, para construir o grupo escolar, a firma Planejamento e Engenharia do Nordeste Limitada, e que a verba para sua construção foi proveniente do Fundo de Participação dos Municípios.

O prefeito, para homenagear seu avô, que nem chegou a conher, nomeou o grupo escolar de Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, conforme entrevista.

Porque Otaviano era meu avô. Eu era prefeito, foi quem doei aquele terreno para construir a Cohab, né? E precisava de um grupo escolar. Eu lutei e botei o nome do meu avô (Adauto, ex-prefeito).

Otaviano Basílio era filho de João Heráclio do Rêgo e Josefa Duarte do Rêgo. Natural do município de Belo Jardim, residia na Ffazenda Vertentes. Era agricultor e criador, tinha onze irmãos, entre eles Francisco Heráclio do Rêgo, mais conhecido como coronel Chico Heráclio, que foi um líder político no município de Limoeiro.

Curiosamente, todos os seus irmãos foram colocados por seus pais para estudarem nas escolas do Recife, porém Otaviano Basílio, não frequentou nenhuma escola da capital pernambucana, pois já estava casado com Teresa Farias Duarte, e não se sabe ao certo se havia mesmo frequentado alguma escola.

O casal Otaviano Basílio e Josefa, teve três filhos, João, Josefa e Malu. A filha Josefa casou-se com Manoel Maximiano Duarte e tiveram11, filhos entre eles Adauto Heráclio Duarte, ex-prefeito de Limoeiro, e Otaviano Heráclio Duarte, famoso fazendeiro e industrial no referido município.

O fato de Otaviano Heráclio Duarte ter herdado o primeiro nome do seu avô fez com que a maioria dos entrevistados desse informações equivocadas sobre Otaviano Basílio.

Os informantes, com exceção da ex-diretora Isabel e do ex-prefeito Adauto, disseram que Otaviano Basílio Herdáclio do Rêgo era fazendeiro e empresário de Limoeiro. Entretanto na verdade quem era fazendeiro e empresário era seu neto, Otaviano Heráclio Duarte, informação confirmada pelo ex-prefeito. Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo morreu prematuramente aos vinte e um anos, de problemas cardíacos, conforme depoimento do seu neto, o ex-prefeito Adauto.

Fotografia 4- Ex-prefeito Adauto

Meu avô era agricultor e criador, morreu com vinte e um anos, morava em Vertente. Naquele tempo, foi derrame, mas ninguém sabia disso, né? Meu pai disse que ele deu um derrame e adoeceu (ex-prefeito Adauto).

O Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo foi construído e inaugurado no ano de 1968, no final da gestão do prefeito Adauto Heráclio Duarte. O seu funcionamento teve início no ano de 1969, na administração do prefeito José Antônio Correa de Paula, conhecido como José Barbosa por causa de seu pai, Barbosa.

O grupo escolar teve como finalidade atender às necessidades educacionais dos moradores da Vila da Cohab, atual Cohab Velha, comunidade fundada do outro lado do rio Capibaribe no final da década de 1960. Apelidada de “Cuba” pelo coronel e líder político da época, Chico Heráclio, devido ao grande número de oposicionistas que ali moravam. A construção do grupo acabou beneficiando, também, outras comunidades como a do Juá, Ladeira Vermelha e adjacências, conforme relatos das ex-diretoras Isabel e Sônia e do ex-estudante Romildo.

Desde que foi criada, a Cohab, hoje chamada de Cohab Velha, aí a necessidade de uma escola mais próxima para atender aquela clientela, acredito que foi isso aí que levou a ser fundada aquela escola construída. Ladeira Vermelha, Cumbi, Areias, Ribeiro Fundo, Juá. (ex-diretora Isabel). Para atender à necessidade da comunidade, como havia a Cohab assim há pouco inaugurada, a Cohab inaugurada, então havia o mutirão também ao lado, aí a comunidade cresceu e tinha uma necessidade.(Sônia, ex- diretora).

Pra dar suporte àquelas pessoas pobres que moravam ali naquelas redondezas, que eram muito pobres. Vila da Cohab e as redondezas, aquelas próximas, aqueles lugares próximos todo ele era beneficiados com o grupo (Romildo, ex-estudante).

Percebe-se por meio dos relatos que a construção do grupo foi viabilizada pela expansão do município com a construção da Vila da Cohab. A construção da Cohab, além beneficiar várias pessoas com casa própria, viabilizou o acesso à educação formal de muitos dos seus moradores e os dos bairros vizinhos por meio da construção do grupo escolar.

O grupo foi fundamental, haja vista que antes dele só havia escola no centro do município, e várias crianças e adultos da Vila da Cohab e bairros próximos não tinham acesso à escola. Foi o meu caso e da maioria dos meus irmãos, que antes do grupo éramos analfabetos, e com o grupo tivemos a oportunidade de acesso às primeiras letras e primeiras leituras. Por meio do grupo, várias crianças e adultos foram alfabetizados.

Nas falas da ex-estudante Silvina, da ex-professora Josefa e do ex-prefeito Adauto, observa-se a grande importância do grupo escolar para a maioria das pessoas que moravam naquela localidade.

Assim, ensinar os alunos. Porque era um meio de os alunos irem para escola, a confiança porque se uma criança de sete anos, o pai não queria levar pra rua e aqui pertinho da escola.( Silvina, ex-estudante).

Era porque só tinha ela, só tinha mesmo o grupo. Não tinha outra, só na cidade ou lá ou na cidade (Josefa, ex-professora).

Uma Vila como a da Cohab, com o número de moradores que tinha, distante afastada da cidade, pra vir estudar na cidade era sacrificado (ex- prefeito Adauto).

Esses depoimentos permitem a compreensão de que o grupo foi construído praticamente dentro da Vila da Cohab. O grupo e a Vila da Cohab estão separados apenas pela PE- 50, que liga o município de Limoeiro ao de Vitória de Santo Antão. Inclusive, na Secretaria de Educação de Limoeiro consta que o endereço onde está localizado o grupo é a PE-50.

Até 1968, só havia escola no centro urbano, e as crianças dessas comunidades tinham que percorrer um longo e difícil caminho para chegar às escolas do centro. Por esse fato, muitas delas ficavam fora da escola, vindo a ingressar numa instituição escolar com idade incompatível com a série, ou seja, fora da faixa etária ideal para a série.

O Decreto-Lei n.º 8.529, promulgado no ano de 1946, também chamado Lei Orgânica do Ensino Primário, estabelece que o ensino primário fundamental elementar, com duração de quatro anos, seria destinado às crianças de 7 a 12 anos. Algumas crianças da Vila da Cohab e suas redondezas ingressaram no grupo escolar com idades incompatíveis com a idade estabelecida pela lei, conforme observamos por meio das falas que se seguem:

Tinha de doze, quatorze, quinze, tinha de todo tipo. Numa Cohab que o povo... nunca tava dentro da faixa etária, sempre tava fora, tinha que dar assistência mesmo (Diva, ex-diretora e ex-professora).

Aluno a partir de sete anos até adulto, porque à noite tinha as turmas. Naquele tempo, não existia faixa etária pra determinar não, quem quisesse estudava com qualquer idade (Isabel, ex-diretora).

Percebe-se nas afirmações que a Lei Orgânica do Ensino Primário, no aspecto que se refere à idade estabelecida para as crianças se matricularem no

ensino primário, não era levada em consideração no grupo escolar. Acredito que esse fato se deu pela necessidade educacional que a comunidade da Cohab tinha e suas redondezas, haja vista que havia muita criança fora da escola, pois antes do grupo não havia escolas na Cohab e nas redondezas. Independentemente da faixa etária, o que importava era proporcionar às crianças e aos jovens acesso à educação.

A professora Josefa, moradora da Vila da Cohab Velha, foi a primeira educadora do grupo escolar. As primeiras matrículas foram realizadas por ela, que saiu de casa em casa para efetuá-las. Essas primeiras matrículas deram origem à formação das primeiras turmas da 1ª à 3ª série, pois no seu 1º ano de funcionamento o grupo escolar não ofereceu a 4ª série, vindo a fazê-lo no ano seguinte.

A professora Josefa lembra com orgulho suas primeiras ações, antes mesmo das atividades pedagógicas em sala de aula em que atuou durante vários anos.

(...) eu fui a primeira professora, e a primeira matrícula foi feita por mim. Eu saí de casa em casa, porque ele (o grupo escolar) não funcionava ainda. Então, eu saí de casa para fazer a matrícula, em 69 (Josefa, ex- professora).

Ela ministrou aulas para as turmas da 2ª e 3ª séries juntas, numa mesma sala, no turno da noite, pois não havia professor suficiente para que as turmas fossem separadas. A faixa etária variava; os alunos tinham entre 6 e 15 anos, no mínimo. O grupo escolar, depois de alguns anos de funcionamento, passou a oferecer o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização).

No grupo escolar, só havia quatro salas de aula, a secretaria, a sala da diretora e a dos professores, que eram num só ambiente, um banheiro e uma cantina e o grupo funcionava em três turnos, manhã, tarde e noite.

A instituição oferecia à população a alfabetização, o ensino primário (1ª a 4ª série) e o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização). As turmas eram formadas, em média, por 20 à 40 alunos, o que nos leva a concluir que a quantidade de alunos matriculados no grupo era bem significativa.

O grupo escolar teve como primeira diretora Dona Benedita, que nem chegou a assumir o cargo, sendo substituída por Dona Consinha Heráclio, mulher do coronel Chico Heráclio.

Em uma de suas falas, a ex-professora Josefa relata esse fato:

Dona Consinha foi a primeira diretora, quer dizer não tinha uma coisa oficial não, porque quem primeiro disse que ia ser diretora era uma Benedita, mas ela nem chegou a assumir, saiu logo, chegou Dona Consinha, que era mulher do coronel Chico Heráclio. (Josefa, ex- professora).

Esse evento ocorreu devido à influência política do coronel. Apenas uma suposição nos primeiros passos da pesquisa, mas depois foi confirmado pela ex- professora e ex-diretora Maria Helena, que nos relatou:

Foi força política, né? Eu acredito que seja; se é a viúva do coronel, ela ainda não faleceu não, pelo menos eu não escutei. Naquela época, e ainda existe força política, imagine que ele era o último dos coronéis. Então o nome era Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo ele deveria ser parente dele pra ter esse nome, o nome dele Francisco Heráclio do Rêgo (Maria Helena, ex-diretora e ex-professora).

Na época estudada, em Limoeiro a prática de indicação política de profissionais para assumir cargos públicos era comum, pois não havia concurso público, e alguns cargos eram assumidos por pessoas que tinham um bom relacionamento com os políticos influentes da cidade ou os amigos e parentes dessas pessoas e dos próprios políticos. Essa nossa observação é percebida nas falas das ex-diretoras Isabel e Sônial.

Porque, quando eu me formei, meu pai tinha conhecimento, aí conseguiu esse trabalho pra mim (Isabel, ex-diretora).

Naquela época não existia eleição, então era por indicação. O prefeito Artur Correia, na época por amizade, essa questão política, eu lá recém- formada, então, ele havia me prometido uma cadeira (um cargo), e o que saiu foi a direção da escola (Sônia, ex-diretora).

Fotografia 5- Página da carteira profissional da ex-diretora Sônia Pereira assinada pelo ex-prefeito Adauto

Corrobora também essa narrativa a fala da ex-diretora e ex-professora Maria Helena

Porque, na época política, era indicada politicamente, nê!? E o cargo que tava desocupado no momento era esse (diretora), aí eu aceitei, nê!? Desafio. Foi o secretário de Educação. No caso era...oh...Jesus. O irmão do seu Artur Correia, Luizito não, Luís Correia era. Esqueci o nome dele, mas foi o secretário de Educação. (Maria Helena, ex-diretora e ex- professora).

Como podemos perceber na foto, na carteira está escrito que Sônia exerceria a função de professora. Entretanto, ela assumiu o cargo de diretora.

No grupo, a prática pedagógica era baseada nos fundamentos da concepção pedagógica tradicional, onde os conteúdos escolares transmitidos pelos professores são adquiridos por meio da memorização. Sendo assim, a prática pedagógica era baseada em exercícios repetitivos. Cabia ao aluno memorizar o conteúdo para mostrar sua capacidade de memorização por meio de prova e alcançar a média exigida para ser aprovado. Essa concepção tradicionalista é denominada, por Freire (2005), educação ”bancária.”

Nesse tipo de concepção, o aluno é visto pelo professor, que é o detentor do saber, como depósito onde são colocados os conhecimentos transmitidos por eles.

E os conhecimentos depositados devem ser memorizados e repetidos pelos alunos quando solicitados. Nessa concepção de educação, os educadores não estimulam a capacidade crítica do aluno, sua curiosidade epistemológica nem os ajuda a conscientizá-se de que eles são sujeitos da construção e da reconstrução do saber, e por isso são capazes de também construir o conhecimento e intervir no mundo.

Os alunos eram avaliados pela sua capacidade de reproduzir o conhecimento transmitido pelo professor por meio de prova, e àquele que tivesse mais desempenho a ele era atribuída a maior nota. Podemos observara prática pedagógica tradicionalista adotado no grupo escolar nas falas que se seguem:

Quadro negro pra gente escrever, explicar, a tarefa pra ele levar pra casa, ditado, cópia tinha tudo. Os meninos desenhavam, menino escrever, fazer a prova, usar o caderno de caligrafia pra melhorar a letra (Diva, ex-diretora e ex- professora).

Era muito diferente desse tempo de agora. Porque, assim, agente quando vai dar uma aula hoje prepara uma música, a gente não era muito assim. Muito técnico, chegava lá na frente, colocava a letrinha no quadro e dava o sonzinho da letrinha e já passava atividade e ler (Silvina, ex-estudante).

O ex-estudante Romildo e a ex-diretora e ex-professora Maria Helena acrescentam:

Ditado, questionário, só não tinha aquela chamada oral. Tinha. Só que eu nunca cheguei a ir (Romildo, ex-estudante).

Na época eram as quatro operações, saber ler e escrever e dissertar, fazer ditado era o normal e saber as coisas do município (Maria Helena, ex- diretora e ex- professora).

O material didático usado para o desenvolvimento da prática pedagógica era a cartilha, livro, tabuada e caderno de caligrafia. A régua também fazia parte desse material. No entanto, muitas vezes era usada para punir e castigar o aluno, ou seja, a pedagogia do castigo também fazia parte da prática pedagógica de alguns professores do grupo escolar.

Essas afirmações são confirmadas nas falas dos ex-estudantes Romildo e Silvina.

Caderno e tinha cartilha. Ela trabalhava as letrinhas e tinha a tarefinha e tinha um quadrinho de palavras, pra gente estudar, chegava em casa a gente tinha que estudar essas palavras e quando chegasse o outro dia a gente tinha que ler essas palavras e fazer o ditado. Eu tinha medo de ler em voz alta, me dava um nervoso, dava vontade de chorar, de tremer. Antigamente o aluno respeitava o professor, tinha medo. O jeito de falar, o olhar! (Silvina, ex-estudante).

Tinha um livro da Editora Ática, tinha a cartilha do abc, tabuada. Tinha uma delas(professora)que era bem rude, puxão de cabelo e até muitas vezes na tapa, primeiro era à base da reguada (Romildo, ex-aluno).

A pedagogia do castigo adotada por muitos professores possivelmente pode ter influenciado o comportamento dos alunos, fazendo com que a maioria se comportasse de maneira exemplar. E também porque essa prática autoritária do professor era apoiada por alguns pais, que transferiam para os professores a responsabilidade de educar seus filhos. Isso podemos ver nas falas da ex-diretora ex-professora Diva e os ex-estudantes Romildo e Silvina:

O comportamento dos meus, era bom, tinha que ser bom! (Diva, ex- diretora ex-professora).

Naquela época, tinha os costumes, os professores eram iguais a uma mãe pra gente, os pais autorizavam elas a cuidar dos alunos. Se errou era na base da lei, mas em parte foi bom que educou muita gente através desses atos delas (Romildo, ex-estudante).

Sempre teve alunos danados, e assim é, antigamente, o aluno respeitava o professor, tinha medo (Silvina, ex-estudante).

Reforçando nossa afirmação, a ex-diretora e ex-professora Maria Helena, ressalta:

A figura do professor em casa, olha! O professor é mesmo que uma mãe, o que ele fizer tá feito (Maria Helena, ex-diretora e ex-professora).

Essas falas nos permitem concluir que a prática de punição de alguns professores era legitimada pelos pais. Acreditavam que dessa forma os filhos, além de aprender o conteúdo transmitido, também aprendiam a ser pessoas de bom caráter. Os pais confiavam a educação dos seus filhos aos professores talvez por acreditarem que eles eram mais capazes por terem uma formação escolar. Haja vista, também, que muitos pais eram analfabetos ou semianalfabetos.

As disciplinas que faziam parte do currículo escolar eram as de Comunicação e Expressão, Integração Social, Matemática e Ciências, conforme consta na Ata de Resultados Finais do Rendimento Escolar de Alunos do Grupo Escola:

Fotografia 6- Ata de Resultados Finais do Rendimento Escolar de Alunos do Grupo, da 3ª série, no ano de1976

Fonte: Arquivo da Secretaria de Educação de Limoeiro

A ata referente-se aos resultados finais do rendimento escolar de alunos da 3ª série, no ano de 1976. Nela constam as disciplinas que faziam parte do currículo do ensino primário, as notas dos alunos em cada disciplina e sua aprovação ou reprovação na série. E ainda o nome da professora e da diretora. O nome da diretora que consta nessa ata é de Sônia Pereira.

Basicamente, os conteúdos trabalhados por meio dessas disciplinas eram leitura, escrita das palavras e produção de texto, as quatro operações divisão, subtração, multiplicação e adição, as dezenas, centenas, História do Brasil, seres