• Nenhum resultado encontrado

O senso comum vem pensando que pinturas apresentam imagens estáticas. Por conseguinte, imagino que deve acreditar que essa expressão represente um único e particular instante. Esta tese discorda. Buscou experiências estéticas com pinturas de autoria do britânico John Constable para argumentar contrariamente. Valeu-se do paisagismo desse artista, sobretudo quando concentra energias na representação atmosférica, para propor uma outra forma de pensar a representação em arte.

Para tanto, esta investigação seguiu um longo percurso, exigindo que eu, enquanto pesquisador, lançasse rumo à outros campos do saber, e não apenas concentrasse esforços em minha área de formação original – as artes plásticas.

Inicialmente, um vasto estudo pela história da filosofia e da ciência sobre o tempo foi realizado. Essa bagagem de conteúdo culminou com a escolha de cinco pilares, marcos paradigmáticos das teorias acerca do tema. Dentre estes, dois aprioristas, Newton e Kant, e dois aposterioristas, Aristóteles e Einstein. O quinto, Bergson, indica que a duração percorre junto a toda a experiência. De posse desse conhecimento, a noção de tempo instituída por cada um desses pensadores veio a servir como base para a identificação de vertentes temporais sugeridas em experiências estéticas com a pintura de Constable.

Porém, senti necessidade de uma teoria que se voltasse diretamente para a arte. Eis que encontrei na filosofia da arte de Dewey conceitos que ajudam a perceber o fluxo das experiências estéticas e suas sensações temporais. Merecem destaque os exercícios de Dewey, que, aplicando sua teoria em experiências com pinturas, contribuiu sobremaneira com o que busquei afirmar nesta pesquisa.

Por se tratar de uma investigação multidisciplinar, apresentei citações de posicionamentos de críticos de arte, historiadores e pesquisadores, inclusive da área meteorológica, todos referenciados, todos afirmando percepções sobre a temporalidade da natureza a partir da apreciação estética com pinturas de Constable. Esse cuidado visou evitar alegações de fragilidade na argumentação empírica e negar qualquer suspeita de ser uma tese centrada em minhas subjetividades.

Todavia, o que creio ser o trecho crucial da pesquisa encontra-se no sexto capítulo. Nele, tive a oportunidade de conjugar minha sensibilidade com os conhecimentos teóricos adquiridos, expressando minhas reflexões sobre as intuições temporais que nasceram de experiências

estéticas com sete pinturas de Constable. Trata-se da empiria máxima da investigação e o momento em que pude exercer meu pensar mais sensível, conjugado aos fundamentos dos seis referenciais teóricos.

Por fim, constatado o cumprimento dos objetivos específicos e alcançado o objetivo geral, a argumentação ressalta as duas frentes principais desta investigação e seus resultados. A primeira, baseada em citações referenciadas de experiências e pesquisas, assegura que a pintura de Constable sugere conhecimentos não apenas sobre o instante presente da representação da paisagem. A segunda, de acordo com as minhas experiências estéticas com as sete pinturas selecionadas, percebe que todas promoveram sensações temporais. Por conseguinte, esta tese defende que a pintura de John Constable é capaz de promover intuições de temporalidade, com destaque para a impermanência da natureza.

Ademais, aproveito para mencionar que as publicações generalistas da história da arte traduzidas para o idioma português, em sua maioria, citam a arte de Constable como muito relevante. No território europeu, suas pinturas circulam bastante em mostras expositivas e sua importância é muito exaltada. Com menor frequência, porém em atividade, obras de sua autoria são expostas em solo norte-americano. No ano de 2015, visitando uma livraria em Santiago do Chile, encontrei e adquiri um exemplar do extenso livro sobre a arte de Constable, no idioma espanhol, de autoria do arte historiador Jonathan Clarkson.

Entretanto, durante anos de dedicação e interesse a respeito da produção artística de Constable, notei que não existem pesquisas realizadas por brasileiros, nem publicações específicas sobre o artista em língua portuguesa. Nas referências desta tese, constam diversas publicações na língua inglesa, focadas na obra de Constable, as quais fazem parte da minha biblioteca, além do livro em espanhol, mencionado no parágrafo anterior. Ocorre que venho percebendo que muitos brasileiros não têm ideia do valor artístico de John Constable. No entanto, devo salientar que o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand tem, em seu acervo, uma pintura de sua autoria, a qual recomendo para experimentações estéticas. Trata-se da obra Salisbury Cathedral Seen from the Bishop’s Grounds, datada de 1821-1822.

Portanto, nestas considerações finais, acredito que a reflexão multidisciplinar que esta tese estimula favorece a compreensão do campo expandido da pintura e é da minha intenção que o conteúdo desta investigação alcance visibilidade. Desse modo, penso que a importância desse extraordinário pintor seria mais divulgada em solo brasileiro. Todavia, pode-se pensar além, direcionando os resultados desta investigação para pinturas de outros artistas que não tenham as características de estilo e temática de John Constable. Creio que até mesmo as outras

linguagens artísticas poderiam ser submetidas à reflexões e à pesquisas com uma abordagem similar, em meio acadêmico ou não. Afinal, diante do apresentado nesta tese, sinto ter contribuído para ressaltar que a arte de Constable promove valiosas intuições estéticas, filosóficas e científicas.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. História da filosofia. Lisboa: Presença, 2000.

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução de Denise Bottmann e Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. ARNALDO, Javier (Org.). Johann Wolfgang von Goethe Paisajes. Madrid: Círculo de Bellas Artes, 2008.

ART UK. Cock Point, near Folkestone: John Constable (1776–1837). Gallery Oldham. Disponível em: <https://artuk.org/discover/artworks/cock-point-near-folkestone-232838>. Acesso em: 9 fev. 2018.

BADT, Kurt. John Constable’s Clouds. London: Routledge & Kegan Paul, 1950.

BANCROFT, Frederice (Ed.). Catálogo Constable Skies. Editado por Frederic Bancroft. New York: Salander Oreilly GALLERIESPub, 2004.

BERGSON, Henri. Duração e simultaneidade. Tradução de Cláudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

BERLIN, Isaiah. As raízes do romantismo. Tradução de Isa Mara Lando. São Paulo: Três Estrelas, 2015.

CLARKSON, Jonathan. Constable. Londres: Phaidon, 2010. CORMACK, Malcolm. Constable. Oxford: Phaidon, 1986.

DEWEY, John. Arte como experiência. Tradução de Vera Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

DEWEY, John. The Later works, 1925-1953: volume 1: 1925. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2008a.

DEWEY, John. The Later works, 1925-1953: volume 10: 1934. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2008b.

ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

EVANS, Mark. John Constable: the making of a master. Londres: V&A Publishing, 2014. FLEMING-WILLIAMS, Ian. Constable and His Drawings. London: Philip Wilson, 1990. FIGUEIREDO, Vinícius de. Kant & a crítica da razão pura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. Sete aulas sobre linguagem, memória e história. Rio de Janeiro: Imago, 2005.

GOMBRICH, Ernst Hans Josef. Art and Illusion: a study in the psychology of pictorial representation. Londres: Phaidon, 1977.

GONÇALVES, Márcia Cristina Ferreira. Filosofia da natureza. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. GUINSBURG, J. (Org.). O romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2011.

HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.

HEFFERNAN, James A. W. The Re-creation of Landscape: a study of wordsworth, Coleridge, Constable, and turner. Londres: Dartmouth College, 1985.

HEFFERNAN, James A. W. Space, Time, Image, Sign: Essays on Literature and the Visual Arts. New York: Peter Lang Publishing, 1987.

IVY, Judy Crosby. Constable and His Critics. Sunffolk: The Boydell Press, 1991. JAMME, Christoph (Org.). El Movimiento romântico. Madrid: Ediciones Akal, 1998. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Nova Cultural, 2005.

KAUFFMANN, Michael. Arthur Graham Reynolds 1914-2013. Biographical Memoirs of Fellows of the British Academy, Oxford, n. 13, p. 405-414, 2014. Disponível em:

<http://www.britac.ac.uk/sites/default/files/18%20Reynolds%201808.pdf>. Disponível em: 9 fev. 2018.

KLONK, Charlotte. Science and the Perception of Nature: British landscape art in the late eighteenth and early nineteenth century. London: Yale University Press, 1996.

LEGRAND, Gérard. A Arte Romântica. Tradução de Pedro Bernardo. Lisboa: Edições 70, 2001.

LESLIE, Charles R. Memoirs of the life of John Constable. Londres: Phaidon Press, 1951. LESSING, Gotthold Ephraim. Laocoonte ou sobre as fronteiras da pintura e da poesia. Tradução de Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Iluminuras, 2011.

LICHTENSTEIN, Jacqueline (Dir.). A pintura: textos essenciais: o mito da pintura. São Paulo: Editora 34, 2004a. (A pintura; v. 1).

LICHTENSTEIN, Jacqueline (Dir.). A pintura: textos essenciais: a ideia e as partes da pintura. São Paulo: Editora 34, 2004b. (A pintura; v. 3).

LICHTENSTEIN, Jacqueline (Dir.). A pintura: textos essenciais: da imitação à expressão. São Paulo: Editora 34, 2004c. (A pintura; v. 5).

MONTEIRO, Geovana da Paz. A medida do tempo: intuição e inteligência em Bergson. Salvador: Quarteto, 2012.

MORRIS, Edward (Ed.). Constable clouds: paintings and cloud studies by John Constable. Edinburgh: National Galleries of Scotland; Liverpool : National Museums & Galleries on Merseysid, 2000.

NOVAK, Barbara. Nature and Culture. London: Thames and Hudson, 1980.

PARRIS, Leslie; FLEMING-WILLIAMS, Ian. Constable. London: Tate Gallery, 1991. PIETTRE, Bernard. Filosofia e ciência do tempo. Tradução de Maria Antonia Pires de Carvalho Figueiredo. Bauru: EDUSC, 1997.

PONCZEK, Roberto Leon. Deus ou seja a natureza: Spinoza e os novos paradigmas da física. Salvador: EDUFBA, 2009.

REIS, José. Sobre o tempo: Aristóteles, Plotino, Sto. Agostinho, Kant, Bergson, Husserl, Heidegger, conclusões. Porto: Afrontamento, 2007.

REYNOLDS, Graham. Constable: The Natural painter. Londres: McGraw-Hill Book Company, 1965.

REYNOLDS, Graham. Constable’s England. New York: Metropolitan Museam of Art, 1983.

RITCHIE, Andrew C. English painters, Hogarth to Constable. Londres: Forgotten Books, 2015.

ROSENTHAL, Michael. Constable. London: Yale University Press, 1983. ROSENTHAL, Michael. Constable. London: Thames and Hudson Ltd., 1987.

RUSKIN, John. The Collected Complete Works of John Ruskin. London: Library Edition, 1903-1912.

SCHELLING, Friedrich Wilhelm Joseph von. Filosofia da arte. Tradução, introdução e notas de Márcio Suzuki. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010.

SCHELLING, Friedrich Wilhelm Joseph von. Ideias para uma filosofia da natureza. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001.

SCHELLING, Friedrich Wilhelm Joseph von. Obras escolhidas. Seleção, tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1989.

SHIELDS, Conal; PARRIS, Leslie. John Constable. London: Tate Gallery, 1969. SUNDERLAND, John. Constable. London: Phaidon, 1981.

THE ROYAL ACADEMY OF ARTS. Collection Royal Academy of Arts. Seascape Study: Boat and Stormy Sky, ca. 1824-1828: John Constable RA (1776-1837). Ra250. Londres, [20-?]. Disponível em: <https://www.royalacademy.org.uk/art-artists/work-of-art/seascape-study- boat-and-stormy-sky>. Acesso em: 9 fev. 2018.

THORNES, John E. John Constable’s Skies: A fusion of art and science. Birmingham: The University of Birmingham Press, 1999.

TATE GALLERY. A paisagem na arte: 1690-1998: artistas britânicos na Coleção Tate. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2015.

VAUGHAN, William. John Constable. Londres: Tate Publishing, 2015. VIERA, Leonardo Alves. Schelling. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.

WANNER, Maria Celeste de Almeida. Paisagens sígnicas: uma reflexão sobre as artes visuais contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2010.

APÊNDICE A – Dimensões das pinturas citadas nesta tese, impressas a partir de reproduções fotográficas

Self-portrait (lápis e pastel sobre papel, 1799-1804) ...24,8 x 19,4 cm A Windmill and Gleaners at Brighton (óleo sobre papel, fixado em tela, 1824)..15,9 x 30,2 cm A Windmill near Brighton (óleo sobre papel, 1824) ...16,1 x 30,7 cm Winter Landscape (óleo sobre tela, de Jacob van Ruisdael, 1660) ………….….52,2 x 66,6 cm Winter, after Jacob van Ruisdael (óleo sobre tela, 1832) ...58,1 x 70,8 cm Thunderstorm over Dordrecht (óleo sobre tela, de Aelbert Cuyp, 1645)...77,5 x 107 cm Flatford Mill (Scene on a Navigable River) (óleo sobre tela, 1817)…………...101,7 x 127 cm Derwentwater (aquarela sobre papel, 1806) ...20,8 x 34,5 cm Borrowdale, Twilight (aquarela sobre papel, 1806)...13,5 x 37,8 cm Malvern Hall from the Lake (óleo sobre tela, 1809)……….……51,5 x 76,9 cm Boat-building near Flatford Mill (óleo sobre tela, 1815)……….…50,8 x 61,6 cm Weymouth Bay with Jordan Hill (óleo sobre tela, 1816)……….………...53 x 75 cm Weymouth Bay (óleo sobre madeira, 1816) ...20,3 x 24,7 cm Wivenhoe Park, Essex (óleo sobre tela, 1817) ...56,1 x 101,2 cm The White Horse (óleo sobre tela, 1819) ……….…….131,4 x 188,3 cm Branch Hill Pond (óleo sobre tela, 1819) ...25,4 x 30 cm Stratford Mill (Óleo sobre tela, 1820) ...127 x 183 cm A Cottage in a Cornfield (óleo sobre tela, 1817) ……….31,4 x 26,4 cm A Cottage in a Cornfield (óleo sobre tela, 1833)………...62 x 51,5 cm Branch Hill Pond, Hampstead (óleo sobre tela, 1821)………...24,5 x 39,4 cm Study of Clouds with Birds (óleo sobre papel, 1821) ……….21,2 x 29 cm Cloud Study (óleo sobre papel, 1822) ...37 x 49 cm Cloud Study, Evening (óleo sobre papel, 1822) ...47 x 58 cm Cloud Study (óleo sobre papel, fixado em madeira, 1822) ...47,5 x 57,5 cm Study of Cumulus Clouds (óleo sobre papel, fixado em tela, 1822) ...30,5 x 50,8 cm Study of Cirrus Clouds (óleo sobre papel, 1822) ...11,4 x 17,8 cm View on the Stour near Dedham (óleo sobre tela, 1822)……….…129,5 x 188 cm The Hay Wain (óleo sobre tela, 1821) ……….…130,5 x 185,5 cm Sketch for The Hay Wain (óleo sobre tela, 1821) ………..137 x 188 cm Salisbury Cathedral from the Bishop’s Grounds (óleo sobre tela, 1823) …….87,6 x 111,8 cm Salisbury Cathedral (óleo sobre tela, 1823) ...63,5 x 76,2 cm The Chain Pier Brighton (óleo sobre tela, 1827) ……….….127 x 183 cm

Branch Hill Pond, Hampstead Heath (óleo sobre tela, 1824-1825) ….…….…..62,2 x 78,1 cm Malthouse Field, East Bergholt (óleo sobre tela, 1814) ………..54,6 x 77,2 cm The Leaping Horse (óleo sobre tela, 1825)……….………..142,2 x 187,3 cm Sketch for Leaping Horse (óleo sobre tela, 1824-1825) ……….129,4 x 188 cm The Cornfield (óleo sobre tela, 1826) ...143 x 122 cm Vale of Dedham (óleo sobre tela, 1828) ...145 x 122 cm A Boat Passing a Lock (óleo sobre tela, 1825) ...101,6 x 127 cm Hadleigh Castle (óleo sobre tela, 1829) ...122 x 164,5 cm Old Sarum (óleo sobre cartão, 1829) ...14,3 x 21 cm Cock Point, near Folkestone (aquarela sobre papel, 1833) ...12 x 20,5 cm Salisbury Cathedral from the Meadows (óleo sobre tela, 1831) ...151,8 x 189,9 cm Old Sarum (aquarela sobre papel, 1834) ...30,2 x 48,3 cm Hampstead Heath with a Rainbow (óleo sobre tela, 1836)……….…..50,8 x 76,2 cm Cottage, East Bergholt (óleo sobre tela, 1836) ………..…87,6 x 111,8 cm Stonehenge (aquarela sobre papel, 1836) …...……38,7 x 59,1 cm Barges on the Stour at Flatford Lock (óleo s/ papel, fix. em tela, 1810-1811)...…26 x 31,1 cm Harwich Lighthouse (óleo sobre tela, 1820)………32,7 x 50,2 cm Rain Storm over the Sea (óleo sobre papel, 1824-1828) ………....22,2 x 31 cm Seascape Study: Boat and Stormy Sky (óleo s/ papel, s/ madeira, 1824-1828)....18,5 x 15,5 cm