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Nesta dissertação buscamos discutir a concepção de justiça de Rawls e a educação. Procuramos, primeiramente, analisar questões que fundamentem a teoria da justiça, e em seguida, relacionamos estas concepções com as principais normas ou diretrizes que orientam o sistema nacional de educação em Moçambique.

Ao analisarmos a teoria da justiça como equidade, entendemos que Rawls não é um teórico feraz em educação, ou seja, não possui em sua obra textos específicos com essa temática, mas seus escritos podem de certa forma, ser útil para pesquisa e estudos na área educacional, uma vez que, suas ideias refletem a justiça social dentro de uma sociedade bem ordenada.

Assim sendo, entendemos que teoria de justiça é um instrumento ideal dirigido à sociedade de regimes democráticos e liberais, pois nela os consensos para o alcance de uma sociedade justa e bem ordenada são frutos de uma cooperação social. Estas e outras razões constituíram motivos para escolha de Moçambique como o nosso campo de pesquisa, uma vez que o país é considerado, segundo a carta constitucional de 1990, um Estado democrático e de direito, onde as pessoas professam varias doutrinas abrangentes e razoáveis ainda que conflitantes e incomensuráveis.

Assim, no capitulo referente à educação percebemos que Rawls considera a formação dos indivíduos como a condição primordial para a compreensão da importância dos princípios de justiça. Isto é através da aprendizagem moral os cidadãos adquirem o senso de justiça e agir segundo os padrões morais aceite dentro da sociedade. No entanto, nas discussões sobre a educação compreendemos que os dois princípios de justiça de Rawls tem uma relação direta com a educação, ou seja, a educação se relaciona com principio da liberdade e no segundo momento percebemos que a mesmo se relaciona com o principio de igualdade equitativa de oportunidade e principio de diferença. Apesar desta relação com a educação Rawls clarifica que esta relação é lexical em função do ordenamento dos princípios de justiça, ou seja, não se deve optar pelo oferecimento de mais recursos educativos em detrimentos das liberdades dos indivíduos.

Em relação à educação em Moçambique, entendemos que durante vários anos, desde a aprovação do Ato Colonial em 1930, o processo educativo passou por varias fases. No que concerne à educação colonial considerada por muitos como uma educação seletiva e discriminatória, ela foi ofertada num ambiente de injustiças políticas e sociais, pois o acesso a ela dependia de certo grau de pertença e de conhecimentos da cultura portuguesa. Aqui, percebemos que as linhas de orientação da educação colonial não se

encaixam aos princípios de Rawls, uma vez que não respeitavam o principio de liberdades iguais nem o principio de igualdade de oportunidades para todos. Ou seja, o ensino oficial estava apenas reservado aos colonos brancos e aqueles africanos que já tinha assimilados os hábitos e a cultura portuguesa.

No entanto, percebemos que a educação como um direito social publico sem distinção de raça, cor, religião, sexo, etnia, foi consagrada pela primeira vez na carta constitucional de 1975 com a proclamação da independência. Ao objetivar uma educação para todos e de igualdade equitativa de oportunidades, a constituição se encaixa perfeitamente às ideias de Rawls sobre a justiça, especialmente o principio relacionado com a igualdade equitativa de oportunidades para todos. Portanto, foi graças à carta constitucional de 1975 que foi aprovada pela primeira vez a lei do Sistema Nacional de Educação (SNE) 4/83, contendo princípios, fundamentos e objetivos da educação em Moçambique.

Desta forma, percebemos que a aprovação da lei 4/83 do SNE veio reforçar a ideia da educação como um direito e dever de todos moçambicanos, aproximando desde modo a lei ao segundo principio de justiça de Rawls. Apesar no texto da lei fazer menção a obrigatoriedade de ensino para todos, o mesmo se despenca as ideias de Rawls ao objetivar uma educação doutrinaria e política, assente na ideologia marxista, pois a aprovação da lei devia ter em conta a manifestação das varias doutrinas abrangentes razoáveis existente no país.

Ainda no escopo da nossa conclusão, entendemos que foi necessário imprimir um conjunto de reformas políticas (lei 6/92) para democratizar o setor educação. As reformas na educação foram antecedidas por aprovação da constituição de 1990, que consagrava pela primeira vez em seus textos o multipartidarismo, a lei de imprensa, a lei de greve, aproximando desta forma, a lei 6/92 do SNE as ideias de Rawls, uma vez que seus escritos são especificamente dirigidos a sociedade de democracias liberais. Um dos grandes ganhos desta reforma foi à inclusão de outras forças vivas (sociedade civil), no processo educativo, ou seja, o estado deixa de deter o monopólio no processo educativo, permitindo outras entidades privadas a missão de educar.

Portanto, defendemos que a teoria de Rawls é um instrumento importante para o entendimento de justiça social, ao permitir que os princípios de justiça sejam escolhidos por pessoas racionais num situação de liberdade equitativa. Defendemos igualmente que o estado, através de princípio igualdade equitativa de oportunidades, deve oferecer uma educação que permite os indivíduos tenham acesso aos bens primários, como

(autoestima) e que, desenvolvam suas capacidades e habilidades, em que suas ações reflitam os princípios de justiça escolhidos livremente como pessoas racionais e iguais.

Entendemos que a relação entre as ideias de Rawls e a educação em Moçambique, permite perceber o estagio da evolução social e política do país, uma vez que a aprovação de normas e diretrizes educativas sempre esteve assente nas inspirações do nacionalismo moçambicano, nas experiências de luta armada de libertação nacional, na orientação da política marxista e na aprovação da constituição de 1975 e 1990.

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